Como comentário à excelente Nota de ontem do D.Justino sobre a eliminação do Português e da Filosofia do leque de disciplinas com exame obrigatório para conclusão do ensino secundário, vou repetir um post que escrevi em 19 de Maio passado.
“Fui, já lá vão bastantes anos, professor de Cálculo Financeiro, disciplina que exige uma sólida preparação matemática.Verificando as dificuldades dos alunos, procurei saber as causas. A Matemática, na sua formulação algébrica, é uma linguagem simbólica: traduz-se em transformar a linguagem corrente em símbolos e, depois, operar com eles. A transformação em símbolos algébricos da linguagem corrente, oral ou escrita, por exemplo, na equacionação de um problema, não é possível, se o aluno não compreender essa mesma linguagem, isto é, se não a souber decompor e distinguir nos seus diversos elementos. Sem isso, nunca conseguirá navegar na matemática. Concluí assim que a principal dificuldade dos alunos advinha, pasme-se, de não saberem ou dominarem mal o português!...Por isso, ao propor, oralmente ou por escrito, qualquer exercício, a primeira coisa que passei a exigir aos alunos era aquilo que, no tempo em que aprendi, se chamava divisão das orações. (Agora, se esta prática não for ainda anti-pedagógica, terá, pela certa, nome bem mais complexo!...) Dividida a oração, obrigava os alunos a saberem onde estava o sujeito, o predicado, os complementos, etc, etc. (Julgo que a esses conceitos correspondem agora outras palavras, como sintagma verbal para o predicado, entre muitas igualmente eruditas!...) Chegados a este ponto, mandava traduzir em símbolos matemáticos as diversas orações, ligando os elementos conhecidos com aqueles que se pretendia conhecer, as incógnitas. A colocação de um problema em equação, por exemplo, tornava-se assim razoavelmente simples. Às regras da operativa matemática dava semelhante tratamento. Confesso que os resultados me espantaram!...O problema não estava na Matemática, mas no Português.Por isso, não me causa qualquer espanto que os maus resultados de matemática andem associados aos de português. Sendo inevitável que assim seja, aqui deixo uma leve sugestão: aponte-se para o que é básico e ensine-se bem português, para que os alunos comecem por saber e compreender português, para poderem compreender e saber matemática!...
“Fui, já lá vão bastantes anos, professor de Cálculo Financeiro, disciplina que exige uma sólida preparação matemática.Verificando as dificuldades dos alunos, procurei saber as causas. A Matemática, na sua formulação algébrica, é uma linguagem simbólica: traduz-se em transformar a linguagem corrente em símbolos e, depois, operar com eles. A transformação em símbolos algébricos da linguagem corrente, oral ou escrita, por exemplo, na equacionação de um problema, não é possível, se o aluno não compreender essa mesma linguagem, isto é, se não a souber decompor e distinguir nos seus diversos elementos. Sem isso, nunca conseguirá navegar na matemática. Concluí assim que a principal dificuldade dos alunos advinha, pasme-se, de não saberem ou dominarem mal o português!...Por isso, ao propor, oralmente ou por escrito, qualquer exercício, a primeira coisa que passei a exigir aos alunos era aquilo que, no tempo em que aprendi, se chamava divisão das orações. (Agora, se esta prática não for ainda anti-pedagógica, terá, pela certa, nome bem mais complexo!...) Dividida a oração, obrigava os alunos a saberem onde estava o sujeito, o predicado, os complementos, etc, etc. (Julgo que a esses conceitos correspondem agora outras palavras, como sintagma verbal para o predicado, entre muitas igualmente eruditas!...) Chegados a este ponto, mandava traduzir em símbolos matemáticos as diversas orações, ligando os elementos conhecidos com aqueles que se pretendia conhecer, as incógnitas. A colocação de um problema em equação, por exemplo, tornava-se assim razoavelmente simples. Às regras da operativa matemática dava semelhante tratamento. Confesso que os resultados me espantaram!...O problema não estava na Matemática, mas no Português.Por isso, não me causa qualquer espanto que os maus resultados de matemática andem associados aos de português. Sendo inevitável que assim seja, aqui deixo uma leve sugestão: aponte-se para o que é básico e ensine-se bem português, para que os alunos comecem por saber e compreender português, para poderem compreender e saber matemática!...
A criação de novas "facilidades" para passar a Português(e a Filosofa...) é um crime contra a aquisição de conhecimento, que o Governo tanto diz prezar. É Governo contra Governo!...
«Prontos»!
ResponderEliminarLá tinha de vir a Matemática!
Caro PC, sabe o que é que eu fazia nos meus testes de Físico-Quimíca? Lia os problemas, colocava a formula correcta para os resolver e depois entregava os testes. Acho que nunca resolvi uma única formula daquelas, nem nunca me enganei na colocação formula certa por baixo do respectivo problema , mas nunca ninguém me perguntou porque é que eu só fazia aquilo.
Hoje, já não sei porque é que o fazia. Talvez porque na altura me parecesse uma boa ideia. Era bastante segura pelo menos, eu sabia que não sabia resolver as formulas e que ia dar no mesmo se as tentasse resolver - e estivessem erradas - ou se colocasse só a formula e não fizesse mais nada. Logo, acho que me poupei tempo e me poupei a ter desilusões (sempre levei esta história das notas muito a peito e chorava baba e ranho cada vez que as coisas não me corriam de feição). Assim friamente falando, creio que cortei o mal pela raíz.
Depois disso, todas as minhas opções incidiram sempre nas áreas que não tinham números, porquê? Pois se eu já sabia que não sabia fazer contas, não ia dar em masoquista certo? Certo.
Tudo correu bem até chegar à Pós-graduação. Depois de tantos anos ciente que não sabia fazer contas e escolhendo todo um percurso que só tinha era letras, inscrevi-me numa Pós-graduação de Técnicas avançadas de Gestão (sempre gostei muito do tema Gestão, então achei que como era uma Pós-graduação, não havia contas porque isso era para as licenciaturas e eu já estava muito à frente).
Fiquei para morrer quando apanhei pela frente uma cadeira que se chamava, qualquer coisa como, «Produtividade e Competetividade económica». Eu pensava que aquilo era só "paleio" e não tinha de resolver nada, um dia espetaram-me com um balanço à frente e mais formulas matemáticas e eu ia tendo uma coisa... mas se pensam que dei o braço a torcer, estão muito enganados. Não dei e até me saí muito bem (para quem não fazia contas desde o 9º ano, tive 15).
Nunca nenhum dos meus Professores, daquela Pós-graduação, percebeu o que é que eu tinha andado a fazer 4 anos noutro curso que não o curso de Gestão. E eu depois disto, também não (porque o 15 foi só a uma cadeira, as outras cadeiras andavam entre o 18 e o 16. Adorava fazer trabalhos para aquelas cadeiras, estava sempre a escrevinhar qualquer coisa e tinha sempre qualquer coisa para mostrar aqueles Professores. Só que como a minha formação base não é Gestão, não me parece viável vôos académicos mais altos nesta área).
Foi a única vez, até hoje, que me senti verdadeiramente enganado. Mas enganado em todo o esplendor da palavra. E o pior é que não sei quem é que me enganou! Se calhar fui eu.
Bom e então, o que é que esta minha experiência tem a ver com o assunto? Tudo. Porque eu podia não saber fazer contas, podia nunca ter visto um balanço à frente, etc, mas sabia ler, interpretar e relacionar muito bem. É claro que a adaptação à linguagem matemática não foi automática e eu demorava sempre um pouco mais de tempo - que os outros meus colegas que eram da área - para chegar aos mesmos resultados, mas ao menos estavam certos.
Por isso, neste assunto, creio que o Governo se prepara para dar um tiro no seu próprio pé.
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarA frase final nega todo o seu texto. Se, concordo consigo, o formalismo simbólico da matemática é apenas outra forma de escrever um raciocínio e o problema está na forma como as pessoas expressam o raciocínio, então necessitam de mais matemática para saber expressar e compreender os raciocínios. Não precisam de saber a alegoria da caverna, ou os passeios pelo Vale de Santarém. Certo? O que está a dizer é que sujeitos, predicados,etc..., não são só característicos da linguagem natural como o Português, O Inglês, o Francês(não entendo porque se ficou no Português...) como também do formalismo matemático. Logo, é precisa mais matemática!
Quod Erat Demonstrandum! ...;-)
Barato Pinho Cardão ( para não estar sempre a dizer caro...),já que ensinou calculo financeiro aqui fica um site muito bom. www.calculofinanceiro.com garanto que não tenho comissão na divulgação do mesmo! apenas como o saber não ocupa espaço , pensei dar esta achega a este blogger tão Carissimo.
ResponderEliminarLecciono apenas Matemática ao 3º Ciclo, mas como me soube bem ler uma opinião mais autorizada do que a minha! "Concluí assim que a principal dificuldade dos alunos advinha, pasme-se, de não saberem ou dominarem mal o português!..." Eu até já chego a propor de vez em quando , nas aulas e em testes, problemas que apenas requerem um cálculo aritmético, exclusicamente para que interpretem o português e para lhes chamar a atenção para como (não) o lêem!!!!
ResponderEliminarEstamos a falar do secundário, certo? Se não se sabem exprimir na língua pátria antes...bof!
ResponderEliminaré velhíssima questão:
ResponderEliminar"quem de vinte cinco tira quantos ficam ? ao invés de "quem de vinte, cinco tira, quantos ficam?"
David