Recordar-se-ão, aquando das conclusões que aqui retirei do relatório Bruegel ( a propósito, alguém foi já consultar este relatório na fonte?), de ter “avisado” que nos deveríamos considerar em ALERTA VERMELHO.
Isto por causa da evolução recente, contrária a todas as recomendações, da inflação e da despesa pública.
Os últimos dados conhecidos, divulgados ontem pelo INE e hoje pela Direcção Geral do Orçamento (DGO), vêm reforçar aquele “aviso”.
Quanto ao INE, veio informar que:
- Os custos unitários do trabalho, no 1º trimestre de 2006, tinham aumentado 4,2% em relação ao período homólogo de 2005, acelerando bastante em relação ao ritmo observado no ano anterior;
- A inflação, em termos homólogos (Abril2006/Abril2005), está a aumentar a diferença em relação ao valor observado na União Europeia. A diferença é de 0,5% em Abril, era de 0,2% em Janeiro.
A DGO veio hoje dar conta da execução orçamental até Abril do corrente ano. De acordo com a informação divulgada, conclui-se o seguinte:
- A despesa do subsector Estado aumentou 10,1% sobre o período homólogo de 2005, sendo ainda mais rápida a progressão da despesa corrente, 11,5%, uma vez que as despesas de investimento até diminuíram 4%.
- A despesa corrente primária (excluindo encargos com a dívida publica) cresce 9%.
- Os encargos com a dívida aumentam 40%, embora representem apenas 29% do montante apurado em 2005.
É certo que a DGO se desdobra em explicações para esta evolução da despesa, referindo em especial que a elevada taxa de crescimento se explica pelo facto de no período homólogo (1º quadrimestre 2005) a despesa ter sido processada por referência ao orçamento inicial de 2005, não incorporando ainda os fortes aumentos que viriam a resultar do Orçamento Rectificativo desse ano.
Em termos meramente contabilísticos até se compreende a explicação da DGO.
Todavia, o problema é que a despesa de 2005, mesmo antes do Rectificativo, já era muito elevada, era excessiva.
Aumentar essa despesa, como fez o Rectificativo, agravando ainda mais os impostos – sobretudo o IVA, de 19 para 21% - foi uma opção profundamente errada, a meu ver ( e na opinião, bem mais respeitável que a minha, de muitas outras pessoas).
Esta combinação, de crescimento insustentável da despesa pública, de inflação mais elevada do que a da U.E., e de aceleração dos custos unitários do trabalho, é uma receita fatal.
Não há marketing político, por muito insistente, quase diário (hoje é notícia que os hospitais militares vão ser vendidos, qual será a de amanhã…), que possa obstar ao agravamento dos desequilíbrios, à perda adicional de competitividade, em suma ao declínio cada vez mais acentuado da economia, seguindo por este caminho.
ALERTA VERMELHO reforçado, pois.
O défice do subsector Estado nos primeiros quatro meses do ano ascendeu a 2.511,6 milhões de euros, mais 28,6% do que no mesmo período do ano anterior.
ResponderEliminarO que o executivo tem feito é iludir-se na redução da despesa pública à custa do aumento dos impostos e da quebra de direitos adquiridos de quem trabalha. A isto se tem limitado o “esforço e a coragem” do governo.
Coragem seria extinguir os 18 governos civis, diminuir vencimentos e regalias do governador do banco de Portugal e dos gestores públicos, extinguir Institutos e empresas municipais, reduzir para metade o numero de deputados, avaliar o contexto em que foram atribuídas as reformas milionárias da nossa classe politica e ajustá-las a valores sensatos, reduzir a frota de carros dos governantes e demais mordomias, aumentar o IRC das instituições bancárias, etc.
"Os custos unitários do trabalho, no 1º trimestre de 2006, tinham aumentado 4,2% em relação ao período homólogo de 2005"
ResponderEliminarIsto é mortífero para quem trabalha na economia de bens transacionáveis, como se pode ganhar quota de mercado na exportação?
Caro T. Moreira,
ResponderEliminarA questão, como já tínhamos falado, é que a despesa é ingerível. Podemos recuar aos tempos da MF Leite que os dados eram sensivelmente os mesmos, apesar da craveira mais apertada.
A solução vai surgir, de certeza absoluta, no dia em que não houver solução, que é quando não houver mais dinheiro.
Nos tempos de Ferreira Leite existiam menos 120.000 funcionários e menos 20% das estruturas do Estado que existem hoje, aumentos de funcionários e de estruturas sem qualquer vantagem em termos de melhorias de serviços prestado pelo Estado. Aumentos responsáveis por uma despesa correspondente a mais de 3% do PIB, crónica e desde o último governo de Guterres, que em nada melhoraram os serviços da Educação, Saude, Justiça,etc, pelo contrário há quem afirme que pioraram. O então falado pântano está aí com toda a sua pujança. Dinheiro haverá sempre, com aumento de impostos e perca de regalias sociais, único caminho que este governo enxerga.
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