Antes de ir ao tema de fundo, permitam-me um pequeno parêntesis, para contar algo de mais pessoal. Depois de ouvir vários discursos cuja estrutura descrevi com o rigor que é meu timbre, disse ao Miguel Frasquilho, meu Companheiro de Mesa, que me sentia com coragem e vontade de me inscrever para também falar. O Miguel foi um amigo, um verdadeiro amigo, pois animou-me e incentivou-me, dizendo que eu era perfeitamente capaz de fazer um discurso igual!...Fiquei tão desvanecido que até lhe ofereci o jantar!...
Passando adiante, irei abordar a estrutura oratória da casta Aspirantes a Notáveis. Estes discursos já fiam mais fino!... Para melhor se perceber o conteúdo, convém dar uns traços gerais sobre a casta. Os Aspirantes a Notáveis estão num limbo partidário. Segregados das castas inferiores, ainda não foram aceites pelas castas superiores. Se estas compreendem que os Aspirantes a Notáveis lhes podem dar algum apoio, sobretudo temem que o seu lugar possa ser usurpado por eles. O Aspirante sabe isso, pelo que o discurso é o discurso de uma vida e dirige-se directamente ao líder.
Assim, o Aspirante a Notável nunca inicia o seu discurso dirigindo-se aos diversos membros da Mesa, como os antecedentes. Isso nunca!...O Aspirante a Notável começa o seu discurso por uma saudação muito especial ao Presidente da Comissão Política Nacional, a que junta o nome para que ninguém tenha dúvidas, salientando que é um vencedor, face à grandiosa vitória nas recentes eleições directas no partido. Aí o Aspirante a Notável vê um acto premonitório para as Legislativas de 2009, em que as qualidades do líder e a desastrada governação socialista imporão a sua vitória e a vitória do Partido. Mas avisa que é preciso trabalhar e logo manifesta que se encontra totalmente disponível para ajudar. (Para melhor se entender esta parte, convém referir que a altura é oportuna, pois é o momento em que as negociações para os órgãos do Partido estão no auge…).
Só depois desta introdução é que o Aspirante a Notável saúda os outros órgãos do partido, mas com uma particularidade que deve ser notada e que consiste em aditar ao cargo o nome próprio do seu titular. Na saudação é integrado, pela primeira vez, o Presidente da Distrital, o Presidente da Concelhia e o Presidente da Câmara da terra que acolhe o Congresso, se é social-democrata, claro. Depois de uma palavra personalizada para os Convidados, Participantes e Observadores, inicia finalmente o seu discurso aos Companheiros, para expor duas ou três ideias, nãomais... Desgraçadamente, mal enunciada a primeira, soa o gong da Drª Manuela, lançando alguma perplexidade no orador. Ainda tenta mais três minutos, referindo cedências adicionais de tempos. Perante o olhar desconfiado da Sra. Presidente, que lhe pede para ser breve, deixa explicitada a sua mágoa por não ter podido iniciar verdadeiramente a sua intervenção e expor devidamente as suas ideias. Termina, agradecendo a atenção com que o ouviram, mas lamentavelmente esquece-se de dizer Viva o PSD. Mas nada que não tenha remédio!... Ainda mal tem saído do púlpito, logo um militante, num àparte oportuno, o substitui no grito Viva o PSD, logo correspondido após algum riso inicial!...
Enfim, o discurso de uma vida que, nas próprias palavras do orador, nem chegou a começar!...
Escalpelizarei seguidamente o discurso dos Notáveis, abordarei de forma independente o meu próprio discurso e, em tempo de códigos, lançarei alguma luz sobre os códigos do Congresso.
Passando adiante, irei abordar a estrutura oratória da casta Aspirantes a Notáveis. Estes discursos já fiam mais fino!... Para melhor se perceber o conteúdo, convém dar uns traços gerais sobre a casta. Os Aspirantes a Notáveis estão num limbo partidário. Segregados das castas inferiores, ainda não foram aceites pelas castas superiores. Se estas compreendem que os Aspirantes a Notáveis lhes podem dar algum apoio, sobretudo temem que o seu lugar possa ser usurpado por eles. O Aspirante sabe isso, pelo que o discurso é o discurso de uma vida e dirige-se directamente ao líder.
Assim, o Aspirante a Notável nunca inicia o seu discurso dirigindo-se aos diversos membros da Mesa, como os antecedentes. Isso nunca!...O Aspirante a Notável começa o seu discurso por uma saudação muito especial ao Presidente da Comissão Política Nacional, a que junta o nome para que ninguém tenha dúvidas, salientando que é um vencedor, face à grandiosa vitória nas recentes eleições directas no partido. Aí o Aspirante a Notável vê um acto premonitório para as Legislativas de 2009, em que as qualidades do líder e a desastrada governação socialista imporão a sua vitória e a vitória do Partido. Mas avisa que é preciso trabalhar e logo manifesta que se encontra totalmente disponível para ajudar. (Para melhor se entender esta parte, convém referir que a altura é oportuna, pois é o momento em que as negociações para os órgãos do Partido estão no auge…).
Só depois desta introdução é que o Aspirante a Notável saúda os outros órgãos do partido, mas com uma particularidade que deve ser notada e que consiste em aditar ao cargo o nome próprio do seu titular. Na saudação é integrado, pela primeira vez, o Presidente da Distrital, o Presidente da Concelhia e o Presidente da Câmara da terra que acolhe o Congresso, se é social-democrata, claro. Depois de uma palavra personalizada para os Convidados, Participantes e Observadores, inicia finalmente o seu discurso aos Companheiros, para expor duas ou três ideias, nãomais... Desgraçadamente, mal enunciada a primeira, soa o gong da Drª Manuela, lançando alguma perplexidade no orador. Ainda tenta mais três minutos, referindo cedências adicionais de tempos. Perante o olhar desconfiado da Sra. Presidente, que lhe pede para ser breve, deixa explicitada a sua mágoa por não ter podido iniciar verdadeiramente a sua intervenção e expor devidamente as suas ideias. Termina, agradecendo a atenção com que o ouviram, mas lamentavelmente esquece-se de dizer Viva o PSD. Mas nada que não tenha remédio!... Ainda mal tem saído do púlpito, logo um militante, num àparte oportuno, o substitui no grito Viva o PSD, logo correspondido após algum riso inicial!...
Enfim, o discurso de uma vida que, nas próprias palavras do orador, nem chegou a começar!...
Escalpelizarei seguidamente o discurso dos Notáveis, abordarei de forma independente o meu próprio discurso e, em tempo de códigos, lançarei alguma luz sobre os códigos do Congresso.
eheheheh! Eu sei que isto tem uma componente de crítica muito importante, mas não consigo deixar de imaginar o sujeito que está a ler isto e que fez exactamente o descrito...:))
ResponderEliminarE tenho a certeza que algum deles há-de ler!
ResponderEliminarNa verdade, estão os 4 posts muito bons e retratam de modo fiel e verdadeiro.
ResponderEliminarInfelizmente, quem mais fala, por vezes, mais falha, ou antes, menos acerta.
Continuo a ler estes interessantes folhetins, como talvez lessem os leitores das Revistas e Jornais do século XIX as crónicas e as novelas do Camilo e depois do Eça e do Ramalho, que as escreviam também dessa forma, em folhetins, na Imprensa diária ou semanal, certamente para fixar leitores e com o seu nome prestigiar as publicações. Tudo isto a troco de alguns proventos, porventura escassos, mas ainda assim não despiciendos, que sempre arredondavam as contas daqueles ilustres literatos, sobretudo para o Camilo não seriam elas mero acréscimo de renda para gastar em superfluidades, sabendo-se os apertos em que aquele desditoso homem de letras sempre viveu. Não será o seu caso, por certo, mas congratule-se com o mérito de ter já dado a lume um bom par de elegantes e divertidas crónicas, que não desmerecem as dos luzidos nomes aqui convocados. Aguardarei, pois, interessado as cenas dos próximos capítulos.
ResponderEliminarA arte de esculpir a ironia sem cair na vulgaridade não é fácil.
ResponderEliminarO amigo Pinho Cardão fá-lo com sábia destreza e oportuna singeleza.
Não sei porquê, lembrei-me deste famoso, embora algo contundente, texto doutrinário de um dos nossos grandes artistas plásticos e escritor multifacetado, da transição entre os séculos XIX e XX. Aqui vai uma leve fragrância do seu final:
“...
O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia – se é que a cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!
Morra o Dantas! Morra! - PIM!”
Almada Negreiros, Poeta d'Orpheu Futurista e Tudo
tambem quero um jantar de graça!afinal tambem compartilho da mesma ideia do miguel frasquilho!
ResponderEliminarEntão o Dr. PC está a oferecer "jantares" e ninguém me diz nada?!?!«Axo mal»!
ResponderEliminarEh eh eh eh!... e assim começam os rumores.
cá para mim anda a comprar os votos dos militantes..
ResponderEliminarchegou ao partido à meia duzia de dias e já quer "tomar" de assalto a sede da S.caetano à lapa.
Por outro lado, menino mau, cabe a cada um decidir o que faz com o seu voto, certo?
ResponderEliminarSe essa decisão passar por "vendê-lo" (ao voto, é claro), haverá algum problema?
é a lei do mercado.Quem der mais , leva!
ResponderEliminarOra, nem mais!
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