segunda-feira, 2 de outubro de 2006

Reporte dos défices excessivos: um sinal negativo e preocupante

No reporte dos défices excessivos enviado na semana passada para Bruxelas, o défice público projectado para este ano pelo Governo deverá situar-se em 4.62% do PIB. No anterior reporte, enviado no final de Março, o mesmo défice devia situar-se em 4.59%.

Claro que, como Bruxelas “lê” o défice às décimas, 4.59% ou 4.62% do PIB é indiferente: ambos significam 4.6%. E, portanto, o objectivo será cumprido. Mas a verdade é que o anterior valor é, agora, ultrapassado em quase EUR 46 milhões. Sem dúvida uma má notícia, até porque, de acordo com a Execução Orçamental até Agosto, a receita tem vindo a registar um comportamento mais positivo do que tinha sido previsto. Assim sendo, é óbvio que o Executivo está a ter problemas em controlar a despesa – no caso contrário, o défice agora reportado a Bruxelas deveria até ser inferior aos 4.59% anteriores. Mas todas as "campainhas de alarme" tocam quando observamos que, agora, as despesas de investimento previstas para este ano são de EUR 3.75 mil milhões – contra a estimativa de Março, que apontava para EUR 4.4 mil milhões. Ou seja, o “controlo” da despesa está a ser feito pela via do investimento (que sofre uma “machadada” de mais de EUR 650 milhões), quando devia estar a acontecer nas despesas correntes. Está, pois, a percorrer­-se – e até prova em contrário – uma trajectória insustentável: sem esta descida do investimento, o défice seria de 5.05% do PIB.

Assim, apesar de nos mantermos dentro da casa dos 4.6%, o resultado agora enviado para as instâncias comunitárias não deixa, pois, de ser um mau sinal, pois há um agravamento do défice estimado, apesar do corte no investimento e da evolução mais positiva do que o esperado na receita.

Espero que os meses que ainda faltam até chegarmos ao final do ano – que, como se sabe, são mais pródigos do que os anteriores em pagamentos e despesas – não tragam nenhum dissabor adicional. Seria muito negativo e preocupante que, mesmo com ajuda da receita fiscal, os 4.62% acabassem por não ser cumpridos.

Mas, afinal, como se constata pelo reporte agora conhecido, é o próprio Governo que nos mostra que as coisas podiam estar a correr bem melhor na área orçamental…

3 comentários:

  1. Eu, que concordo com o caro Pinho Cardão nesta matéria de achar politiqueiros estes posts, só me vem à cabeça "6,8%" quando os leio.

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  2. Ói! «Num percebi nada»!

    Eu sei que sou eu que não estou a perceber nada mas, parece-me que vocês estão todos a querer tapar buracos numa manta com o tecido da própria, que não estica, nem tem mais baínhas por onde cortar e então estão a coser tudo assim à beirinha. O que nestes casos costuma acontecer é que ao mínimo de pressão, o buraco volta a abrir e fica tudo desfiado.

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  3. Mais um exelente post, do Dr.Miguel Frasquilho. Um agradecimento, pela forma inteligente e verdadeira com que coloca a descoberto as trapalhadas e as propagandas falaciosas deste governo.

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