segunda-feira, 6 de novembro de 2006

A cor da cultura

De salientar o artigo de João César das Neves no Diário de Notícias de hoje, sob o título "A cor predefinida da cultura".
"...Há décadas que as organizações de esquerda se instalaram nos canais orientadores da vida cultural oficial. Críticos, revistas, suplementos culturais, júris de prémios e bolsas foram dominados por cliques que enviesaram o sector. Promoções, opiniões, magazines e propagandas iam caindo sob o seu domínio. Mas nada disso tem a ver com a real cultura. Há muitos autores fora da esquerda, editores, expositores, produtores e festivais que não são de esquerda. Há excelentes obras religiosas, monárquicas ou simplesmente neutras. Mas não são publicitados e premiados, celebrados, entrevistados e subsidiados. Como o Nobel da Literatura há muito revelou a sua cor, também por cá uma pequena comunidade instalou-se e promove-se a si mesma..."
Tem toda a razão!...

3 comentários:

  1. Não sei se não será mais folclore que outra coisa. Estou-me a recordar da reconversão do teatro feita pelo Santana Lopes, por exemplo, onde empedernidos comunas se tornaram ferrenhos cavaquistas.
    Se pensarmos bem acho que a coisa andará ela por ela, sendo natural que existam algum pessoal do subsídio que esteja do lado do ...subsídio.

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  2. E se fosse só na Cultura!
    Estende-se aos valores, à solidariedade, às preocupações sociais, ao desemprego e ao trabalho, à saúde e à dignidade do ser humano, à verdade e à mentira, à lucidez e aos interesses...Exactamente esses discurso saía da boca do Sec Geral do BE, num dos jornais televisivos das 20 horas, de sábado o domingo!Exemplar!

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  3. Caro Pinho Cardão,

    A cultura não deve ser confundida com a ideologia. Esta, sim, tem cor ou, melhor, costumava ter, porque, de há uns anos para cá, as definições perderam rigor. Vê-se gente tida de Direita a defender pontos de vista avançados, modernos, mais racionais, enquanto outra, considerada da Esquerda, assume papel conservador, tendendo a opor-se à mudança, que dantes significava logo Esquerda, sem mais.

    Por isso a divisão se tornou difícil de estabelecer, podendo até originar erro grosseiro deduzir a filiação política de alguém a partir da utilização dos velhos termos herdados da Revolução Francesa. Em termos simplistas, há ainda uma vaga ideologia de Esquerda, como ainda é possível reconhecer contornos ideológicos de uma Direita mais tradicional. No geral, no entanto, quase tudo caminhou para um enorme Centro, que incorporou pedaços das duas ideologias. Cada vez menos as pessoas se identificarão dessa velha maneira simplista.

    A gente dos Espectáculos, do Teatro, do Cinema e das Artes julga-se ainda, grande parte, pelo menos, de Esquerda ou até da Extrema-Esquerda, mas, na realidade, não é nada disso. Pensa e age como a maioria ideologicamente indiferenciada. Em Portugal, sempre o PCP, hoje menos, e o PS tiveram bastante apoio entre as gentes das Artes e dos Espectáculos, que não devemos identificar com a Cultura. Estes dois partidos são mais habilidosos em lidar com este grupo social, são mais generosos para com eles, atribuindo-lhes subsídios e outros apoios, quando estão no Poder, ao mesmo tempo que os amedrontam com a brutal Direita, que só tem a carteira no sítio onde a Esquerda tem o coração.

    Por inépcia, o PSD, que não se deveria assumir como Partido da Direita, mas da Esquerda moderada ou do Centro-Esquerda, se quiserem, abandona voluntariamente este sensível grupo social aos Partidos à sua esquerda, entregando-o assim gratuitamente à propaganda destes, que o têm atraído sempre. No fundo, há aqui equívocos notórios quanto a pertenças a famílias ideológicas, agravados pela enorme erosão ou esbatimento verificado nas diferenciações ideológicas. Hoje, na vida política, quase só se discute o Orçamento de Estado, os temas do desemprego, da inflação e do crescimento económico, sendo as margens de diferenciação cada vez menores.

    Veja-se o actual Governo do PS : em que é que ele se distingue dos do PSD e do PSD/CDS ? No fundamental das matérias de governação, em nada, salvo em assuntos marginais, como o casamento dos homossexuais, o aborto e a cultura da ocupação do Estado, que, no PS, é claramente de colonização, segundo aquele clássico princípio de que dois corpos não podem ocupar simultaneamente o mesmo espaço. Assim, «onde estiver um dos nossos, não cabe um dos deles», aplicando o PS esta regra com muito maior desembaraço e naturalidade do que o PSD, que mantém algum prurido a este respeito, querendo, por vezes, escolher os melhores ou os mais aptos para os lugares, sem curar da sua identificação partidária.

    Diga-se, em abono da verdade, que o próprio PSD também não está isento deste pecado de povoar o Estado e as Empresas, hoje infelizmente já restam poucas para este propósito, com pessoal seu. No entanto, o PSD revela sempre alguma relutância nesta acção, hesita e, por ser um partido muito desorganizado, sem verdadeira estrutura de Partido Político, até se deixa confundir, chegando a nomear gente do PS em seu nome, para os cargos que tem à sua disposição, quando forma governos. Em todo o caso, sai sempre a perder, nesta tarefa distributiva, levando os demais a perceber que só se hão-de safar com o PS, razão por que este partido tende a tornar-se uma espécie de nova União Nacional, que se agrupa em torno do Chefe, ao qual cumpre prover a saciedade dos seus guerreiros.

    Por conseguinte, isto apenas revela a cultura dos Partidos e nunca a Cultura de uma Nação, que não pode ser confundida com aquela.

    Eis o que se me oferece dizer sobre a chamada cor da Cultura.

    Peço desculpa pela extensão do comentário.

    Um abraço.

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