Assinala-se hoje o Dia Internacional para a Eliminação da Violência sobre a Mulher. O combate contra todas as formas de descriminação contra a mulher é um tema que está hoje mais presente na sociedade portuguesa, mas os números revelam que a violência contra a mulher continua a ser um flagelo em Portugal.
A Associação Portuguesa de Apoio à Vitima acompanhou em 2005 14.371 processos. Do respectivo Relatório extraem-se, em particular, as seguintes características:
89% dos crimes reportados são de violência doméstica, correspondendo, em cerca de 2/3, a maus tratos físicos e psicológicos;
88% das vítimas são mulheres com idades compreendidas entre os 26 e os 45 anos de idade (cerca de 35%);
89% dos autores da violência são homens;
24% dos autores são dependentes de álcool(1), 7 por cento de estupefacientes e 2 por cento de fármacos;
Em 60% dos casos, a vítima ou é cônjuge ou companheira(o) do autor.
Portugal terá que neste domínio de prosseguir com políticas públicas que apostem fortemente na prevenção e criminalização da violência contra a mulher e na sua reabilitação, através de uma rede de unidades de encaminhamento e acolhimento das mulheres violentadas e em situação de risco, bem como dos seus filhos, e de políticas de integração social e económica.
Por ocasião desta efeméride o Secretário Geral da ONU afirmou: “A violência persiste e é um fenómeno extremamente difícil de se combater. Existe de várias formas: sob a forma de violência física, psicológica, sexual, em casa, na rua, no local de trabalho, em nível global... Hoje uma das formas de violências que estão em crescimento, e que é terrível, é o tráfico de pessoas e de mulheres em particular para fins de exploração sexual. Portanto isso é um dado de fato do nosso tempo mas tem provado ser muito difícil de se combater".
A socialização da consciência da existência do fenómeno da violência sobre a mulher e da necessidade de com ele ter uma relação de repúdio é uma ajuda fundamental no combate a tão ignóbeis comportamentos.
Calçada de Carriche - António Gedeão
ResponderEliminarLuísa sobe,
sobe a calçada,
sobe e não pode
que vai cansada.
Sobe, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Saiu de casa
de madrugada,
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada,
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas,
não dá por nada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Chegou a casa,
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada,
bebeu a sopa
numa golada,
lavou a loiça,
varreu a escada,
deu jeito à casa,
desarranjada,
coseu a roupa,
já remendada,
despiu-se à pressa,
desinteressada,
caiu na cama,
de uma assentada,
chegou o homem,
viu-a deitada,
serviu-se dela,
não deu por nada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada,
puxa da filha,
dá-lhe a mamada,
veste-se à pressa,
desengonçada,
anda, ciranda,
desaustinada,
range o soalho
a cada passada,
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
toca a sineta,
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga.
Regressa a casa,
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
(António Gedeão)