sábado, 25 de novembro de 2006

Violência sobre a Mulher, um comportamento ignóbil...

Assinala-se hoje o Dia Internacional para a Eliminação da Violência sobre a Mulher. O combate contra todas as formas de descriminação contra a mulher é um tema que está hoje mais presente na sociedade portuguesa, mas os números revelam que a violência contra a mulher continua a ser um flagelo em Portugal.
A Associação Portuguesa de Apoio à Vitima acompanhou em 2005 14.371 processos. Do respectivo Relatório extraem-se, em particular, as seguintes características:
89% dos crimes reportados são de violência doméstica, correspondendo, em cerca de 2/3, a maus tratos físicos e psicológicos;
88% das vítimas são mulheres com idades compreendidas entre os 26 e os 45 anos de idade (cerca de 35%);
89% dos autores da violência são homens;
24% dos autores são dependentes de álcool(1), 7 por cento de estupefacientes e 2 por cento de fármacos;
Em 60% dos casos, a vítima ou é cônjuge ou companheira(o) do autor.
Portugal terá que neste domínio de prosseguir com políticas públicas que apostem fortemente na prevenção e criminalização da violência contra a mulher e na sua reabilitação, através de uma rede de unidades de encaminhamento e acolhimento das mulheres violentadas e em situação de risco, bem como dos seus filhos, e de políticas de integração social e económica.
Por ocasião desta efeméride o Secretário Geral da ONU afirmou: “A violência persiste e é um fenómeno extremamente difícil de se combater. Existe de várias formas: sob a forma de violência física, psicológica, sexual, em casa, na rua, no local de trabalho, em nível global... Hoje uma das formas de violências que estão em crescimento, e que é terrível, é o tráfico de pessoas e de mulheres em particular para fins de exploração sexual. Portanto isso é um dado de fato do nosso tempo mas tem provado ser muito difícil de se combater".
A socialização da consciência da existência do fenómeno da violência sobre a mulher e da necessidade de com ele ter uma relação de repúdio é uma ajuda fundamental no combate a tão ignóbeis comportamentos.

1 comentário:

  1. Calçada de Carriche - António Gedeão


    Luísa sobe,
    sobe a calçada,
    sobe e não pode
    que vai cansada.

    Sobe, Luísa,
    Luísa, sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.

    Saiu de casa
    de madrugada,
    regressa a casa
    é já noite fechada.

    Na mão grosseira,
    de pele queimada,
    leva a lancheira
    desengonçada.

    Anda, Luísa,
    Luísa, sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.

    Luísa é nova,
    desenxovalhada,
    tem perna gorda,
    bem torneada.

    Ferve-lhe o sangue
    de afogueada,
    saltam-lhe os peitos
    na caminhada.

    Anda, Luísa,
    Luísa, sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.

    Passam magalas,
    rapaziada,
    palpam-lhe as coxas,
    não dá por nada.

    Anda, Luísa,
    Luísa, sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.

    Chegou a casa,
    não disse nada.
    Pegou na filha,
    deu-lhe a mamada,
    bebeu a sopa
    numa golada,
    lavou a loiça,
    varreu a escada,
    deu jeito à casa,
    desarranjada,
    coseu a roupa,
    já remendada,
    despiu-se à pressa,
    desinteressada,
    caiu na cama,
    de uma assentada,
    chegou o homem,
    viu-a deitada,
    serviu-se dela,
    não deu por nada.

    Anda, Luísa,
    Luísa, sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.

    Na manhã débil,
    sem alvorada,
    salta da cama,
    desembestada,
    puxa da filha,
    dá-lhe a mamada,
    veste-se à pressa,
    desengonçada,
    anda, ciranda,
    desaustinada,
    range o soalho
    a cada passada,
    salta para a rua,
    corre açodada,
    galga o passeio,
    desce o passeio,
    desce a calçada,
    chega à oficina
    à hora marcada,
    puxa que puxa,
    larga que larga,
    puxa que puxa,
    larga que larga,
    puxa que puxa,
    larga que larga,
    puxa que puxa,
    larga que larga,
    toca a sineta,
    na hora aprazada,
    corre à cantina,
    volta à toada,
    puxa que puxa,
    larga que larga,
    puxa que puxa,
    larga que larga,
    puxa que puxa,
    larga que larga.

    Regressa a casa,
    é já noite fechada.

    Luísa arqueja
    pela calçada.

    Anda, Luísa,
    Luísa, sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.

    Anda, Luísa,
    Luísa, sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.

    (António Gedeão)

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