segunda-feira, 12 de março de 2007

O aviso

Dois anos de Governo e eis que o senhor Presidente da República, no seu estilo, avisa que a presidência da União que em breve caberá a Portugal, não pode desviar o País - entenda-se, o Governo - do rumo das reformas.
Já que toda a gente se dedica a decodificar o que o senhor Presidente quer dizer quando extorioriza um pensamento com evidente propósito político, eu, que não quero ser excepção, arrisco a minha análise. Previno que é daquelas que vai perscutar bem fundo, ali para os lados da alma, o verdadeiro sentido das palavras. Tipo analista político com tempo de antena em horário nobre.
O Professor Cavaco Silva, na sua interpretação dos poderes presidenciais (anuncia que vai até escrever um livro sobre isso, o que me surpreende já que pensava que esse livro tinha sido escrito em 1975/76, revisto em 1982 nessa parte, livro que foi perdendo o interesse mas a que alguém há muitos anos chamou Constituição), quis avisar o Governo de que, no final de 1997, não deixará de julgar a governação. E que a manterem-se os actuais resultados não deixará de tomar posição.
Julgo que Sócrates deve levar o aviso a sério, porque é hoje claro que só o Professor Cavaco Silva está em condições de impedir que o caminho para a renovação da maioria absoluta pelo PS nas eleições de 2009, seja assim uma espécie de "passeio pela Avenida da Liberdade", como diria o sábio Dr. Soares.
De facto, por mais que o Dr. Marques Mendes, ou o reaparecido Dr. Portas, suem pregando contra o Governo, está visto que o desgaste que provocam é nenhum. Tenho aliás a sensação que alguns ataques ao Engº Sócrates têm exactamente o efeito contrário...

Outra será a consequência se o Presidente da República vier a terreiro dizer o que os media omitem e a propaganda oficial se esforça por fazer obnubilar: que nestes dois anos aumentou a dívida pública, incrementou-se a despesa, cresceu o desemprego, agravou-se a divergência com a Europa, acentuaram-se as desigualdades territoriais, elevou-se a níveis insuportáveis a carga fiscal, não se restaurou a confiança para o investimento...

É este o saldo de dois anos de governação, a que se poderia somar o contributo para o desprestígio social de muitas profissões e o desmantelamento disparatado e irracional de muito do que no âmbito da máquina administrativa de prestação de serviços públicos provou funcionar. Por muito cúmplices que sejam os media, eficaz a central de comunicação governamental, obediente a maioria parlamentar e amorfas as oposições, não há forma de escamotear a verdade dos resultados. E se até aqui ainda existia o alibi dos governos anteriores, nenhum sentido faz continuar a encontrar neles a justificação para o insucesso. É por isso que faz todo o sentido o aviso do senhor Presidente da República: não venha o Governo dizer que exauriu as suas forças nesse telúrico esforço de carregar às costas, mesmo por escassos meses, o peso esmagador dos destinos da União.

3 comentários:

  1. Caro Ferreira de Almeida:
    Analista político em horário nobre não diz o que o meu amigo sabiamente explica.Analista político em horário nobre conserva o lugar, no mínimo, desde os governos de Guterres e tem aquela postura politicamente correcta de muito falar para nada dizer. A conversa de "chacha" é o grande princípio da conservação da sua espécie!...Tanto resulta, que os sujeitos não arredam pé!...

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  2. Anónimo21:41

    É verdade Pinho Cardão. Está longe de ser uma espécie em extinção!

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  3. Caro Pinho Cardão,

    Concordo com consigo e espero que o governo de Socrates não se "aborte" como o de Guterres.

    Pedro Sérgio (Palmela)

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