Houve hoje um pequeno documentário sobre anorexia no canal 1, a seguir ao telejornal.
Sei bem como é bom que se fale, que se aprenda com outros, ao menos na medida em que é possível apreender sintomas e reacções semelhantes.
É bom que se fale disso de uma forma simples, se comparem casos, que se sublinhem as dúvidas e mostre o absurdo a que um jovem pode chegar determinada e lentamente, por suas próprias mãos. Só porque sim.
É bom que se mostre, não só pelos próprios, mas também pelos que sofrem com eles, os que os amam e assistem impotentes, revoltados, numa angústia de quem se sente duramente punido sem saber porquê.
É bom que se mostre porque é difícil de acreditar, porque mesmo quando a terrível doença está à frente dos nossos olhos, sentada à mesa connosco, todos os dias, não a vemos, ou recusamos ver porque é tão, mas tão injusta.
A atitude que leva à anorexia é contrária à lógica, à sensatez e à natureza, talvez por isso passe despercebida mesmo ao amor mais atento e dedicado.
É profundamente cruel, porque é uma revolta manhosa, insidiosa, calada mas obstinada. O motivo pode ser um qualquer, e o que quer que seja parece sempre tão fútil ao pé da acção destrutiva de si próprio, que se vai sempre à procura do motivo “verdadeiro”. No desespero de o encontrar, todos são culpados, todos são acusadores, acabam todos a ser vítimas de um algoz por quem daríamos a vida se preciso fosse.
É bom que se fale nisso. Que se diga aos pais que haverá sempre uma culpa qualquer, real ou inventada, não interessa confessar, emendar isso e tudo o resto, atrás de um pretexto vem outro, e outro, numa acusação tenaz, dramática, sempre muda, num labirinto infernal em que se tacteia, gritando, suplicando, exigindo, no desespero de encontrar o caminho.
Sei bem como é bom que se fale, que se aprenda com outros, ao menos na medida em que é possível apreender sintomas e reacções semelhantes.
É bom que se fale disso de uma forma simples, se comparem casos, que se sublinhem as dúvidas e mostre o absurdo a que um jovem pode chegar determinada e lentamente, por suas próprias mãos. Só porque sim.
É bom que se mostre, não só pelos próprios, mas também pelos que sofrem com eles, os que os amam e assistem impotentes, revoltados, numa angústia de quem se sente duramente punido sem saber porquê.
É bom que se mostre porque é difícil de acreditar, porque mesmo quando a terrível doença está à frente dos nossos olhos, sentada à mesa connosco, todos os dias, não a vemos, ou recusamos ver porque é tão, mas tão injusta.
A atitude que leva à anorexia é contrária à lógica, à sensatez e à natureza, talvez por isso passe despercebida mesmo ao amor mais atento e dedicado.
É profundamente cruel, porque é uma revolta manhosa, insidiosa, calada mas obstinada. O motivo pode ser um qualquer, e o que quer que seja parece sempre tão fútil ao pé da acção destrutiva de si próprio, que se vai sempre à procura do motivo “verdadeiro”. No desespero de o encontrar, todos são culpados, todos são acusadores, acabam todos a ser vítimas de um algoz por quem daríamos a vida se preciso fosse.
É bom que se fale nisso. Que se diga aos pais que haverá sempre uma culpa qualquer, real ou inventada, não interessa confessar, emendar isso e tudo o resto, atrás de um pretexto vem outro, e outro, numa acusação tenaz, dramática, sempre muda, num labirinto infernal em que se tacteia, gritando, suplicando, exigindo, no desespero de encontrar o caminho.
A anorexia alimenta-se desse desafio, é uma arrogância perante as fraquezas ou os limites da condição humana, físicas ou outras, e os jovens querem medir-se com o que os domina, querem provar que, para se libertar, são capazes de ir tão longe que ninguém imagina. Nem eles. Por isso perdem o controle, por isso deixam-se definhar, sozinhos, isolados, agressivos, numa metamorfose dolorosa que pode ditar a morte, ou o renascimento na forma já adulta, porque o que lhes pesa é a consciência de si próprios, que descobrem no dia em que deixam de ser crianças. Tenham lá que idade tiverem nessa altura.
Bom texto cara Suzana, é muito complicado. Muito complicado.
ResponderEliminarÉ verdade!
ResponderEliminarProblema tanto mais complicado por estar relacionado com o foro psicológico e não depender únicamente de acções de imposição, acompanhamento, tão pouco de racionalismos dietéticos, ou outros.
Tão preocupante e desgastente pelo sentimento de impotência que abrange pacientes, familiares e amigos.
Outro flagê-lo social, onde a acção da medicina se deseja que obtenha com urgência formas rápidas e eficazes de combater.
Aproveito, com o pedido de desculpas pelo abuso do espaço, para notificar os caros autores do 4R, assim como os caros comentadores, que, a partir de dia 3 até dia 11 de Novembro, irá realizar-se em Arruda dos Vinhos, no pavilhão multiusos, o festival da vinha e do vinho, com a tradicional apresentação nas "tasquinhas" dos "petiscos" típicos da região.
ResponderEliminarEspero que o caro Dr. Pinho Cardão já se encontre totalmente recuperado do seu tendão d'aquiles.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarConheci o caso duma rapariga de 18 anos, que entrou num processo grave de anorexia, por virtude de querer ser modelo.
ResponderEliminarA mãe, conhecendo o desejo da filha, estimulava-a de todas as formas, chegando a seleccionar os anúncios dos castings onde deveria comparecer.
Com este comportamento, a mãe, durante muito tempo, alimentou a obsessão da filha que inevitavelmente a conduziu a um estado de anorexia. Por isto, quero crer: os factores externos, neste caso - os estímulos dos familiares, ao alimentarem de forma irreal os desejos dos adolescentes e jovens, podem contribuir muitas vezes, a situações de doença-.
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarMuito apropriada a divulgação do evento das "Tasquinhas" e "Petiscos". Gostei.
Caro invisivel,
Nem sempre são factores externos que conduzem a um estado de anorexia, no entanto, fornecem sempre uma boa justificação para quem sofre da doença. Há pessoas para quem a simples ideia de engordar constitui uma fobia, logo tudo o que possa contribuir para alimentar e sustentar essa fobia é bem vindo porque anula a responsabilidade do próprio na situação em que se encontra. Como diz a Suzana Toscano, trata-se - acima de tudo - de um processo de auto-destruição com o qual é muito dificil de lidar e que gera um sentimento de impotência muito grande nos outros que observam.
Por outro lado, quem está nesse processo, na maior parte das vezes nem se apercebe que está em auto-destruição porque a vontade de «ser magrinho» é mais forte do que qualquer outra coisa e merece todo e qualquer sacrificio seja qual for o preço.
É muito complicado.
Caro Antrhax, registei com todo o agrado o seu comentário, melhor dito, o seu esclarecimento.
ResponderEliminarCaro Anthrax, após o terrível terremoto ocorrido em 1 de Novembro de 1755, irá fazer 252 anos no próximo dia 1 de Novembro, o ministro do reino, Sebastião José de Carvalho e Melo, proferiu a célebre frase "É urgente que se enterrem os mortos e se tratem os feridos". Em relação ao enorme e actual problema da anorexia, é importante que todos tenhamos consciência dele, das formas possíveis de o diagnosticar e do modo de actuar em relação ao mesmo.
ResponderEliminarNo entanto, penso que não será psicológicamente equilibrado evitar frequentar e deixar de apreciar os pratos tradicionais da nossa gastronomia, inclusivamente por quem possa estar a sofrer de anorexia.
Suzana
ResponderEliminarDepois da leitura do seu texto fiquei a conhecer um pouco mais sobre a anorexia. É um daqueles assuntos de que se fala e conhece pouco. São muito impressionantes os relatos de famílias que viveram a anorexia das suas filhas. É uma doença que avança pela calada, que vai destruindo lentamente, sem se dar por isso, nem por quem dela sofre nem por quem está ao seu lado, e que muitas vezes acaba da pior maneira.
Recentemente uma campanha publicitária em Itália, que gerou grande polémica, teve o "condão" de pelo menos alertar para a anorexia. Tratava-se de uma fotografia em grandes cartazes publicitários de uma rapariga jovem com anorexia que pesava apenas 31 quilos. Parecia uma velha, muito velha! A fotografia verdadeiramente chocante originou um coro de protestos que acabou, se bem me lembro, com a sua retirada por ordem de um tribunal.
Certo é que a brutalidade da fotografia impressionou e sensibilizou muita gente!
Susana, gostei muito do seu texto.
ResponderEliminarDe facto há que falar e ensinar mais, a televisão é o local por excelência e cumpre mto pouco esta tarefa.
Infelizmente não pude ver o programa.
Sei que, nos serviços de psiquiatria dos hospitais, de entre as patologias de mais difícil resolução estão as anorexias; qdo a anorexia obriga a internamento, os anoréticos acham-se "não doentes", sentem que foram "presos", a terapêutica é de eficácia reservada e não provoca aquela vertente de alheamento que é comum à terapêutica do foro psíquico.
As situações são verdadeiramente dramáticas e de poucos sucessos clínicos.
Pois, caro Bartolomeu, essa sugestão das tasquinhas parece-me muito apropriada, nada como o gosto por um petisco para nos mostrar o prazer de estar vivo e com saúde!
ResponderEliminarCaros Todos, é como diz o Anthrax, é muito, mas mesmo muito complicado. Não bastam as fotografias, margarida, os anoréticos não se impressionam com isso porque não se vêem assim, mesmo que estejam tal e qual. É antes do mais umproblema mental, um raio de um fusível que se queima, sei lá, é impossível de entender, quando muito, na mekhor das hipóteses, consegue ser contornado e a vida continua sem esse fusível. Mas até chego a duvidar se alguma vez se cura completamente, nos casos que conheço, uns piores outros, felizmente, menos graves, lá fica o vestígio, uma outra mania qualquer a lembrar a cicatriz. O diabo de uma não doença, é o que é.E esta praga começa por se confundir com a mania das magrezas, com o brio da beleza adolescente, mas logo passa a outro grau, o da paranóia, quase sem se dar por isso.E há vergonha de falar, o que agrava tudo, porque o que é moda é a alimentação saudável, por isso os que ultrapassam as marcas não querem que se dê por isso.