Ficou conhecido por Teoria do Oásis o optimismo indestrutível do Ministro das Finanças, Braga de Macedo em 1992/3, perante a acumulação de sinais negativos do desempenho da economia portuguesa…que acabaria mesmo por cair numa fase de recessão em 1993 com uma quebra do PIB de cerca de 1,2% em relação ao ano anterior.
Neste início de 2008 estão a acumular-se sinais de abrandamento das economias europeias – com relevo para a economia espanhola, demasiadamente importante para nós – e mais ainda da economia americana.
O problema parece mais sério no caso dos USA, cujo Governo Federal anunciou ontem medidas fiscais de emergência com o objectivo de reanimar a actividade económica, traduzidas numa redução dos impostos sobre o rendimento e também em incentivos fiscais ao investimento das empresas.
Segundo a Administração americana, estas medidas deverão representar em 2008 um incentivo total de USD 140 mil milhões, podendo ter um impacto positivo de cerca de 1% sobre o PIB.
A este estímulo fiscal adiciona-se o estímulo monetário, admitindo-se como quase certo que o Banco de Reserva Federal reduza as suas taxas em 0,5 pp antes do final do corrente mês, com o que a descida de taxas (Fed Funds) nos últimos meses somará um total de 1,5 pp, de 5,25 para 3,75% - sendo provável que os juros voltem a baixar num prazo não muito longo.
Na Europa, os vários países têm vindo a anunciar correcções expressivas das previsões de crescimento para este ano – casos mais recentes da Itália, de 1,7 para 1% apenas e da Alemanha, de 2,4 para 2%.
O caso espanhol parece mais sério, dado o abrandamento muito forte que tem vindo a registar-se no sector da construção, com efeitos muito importantes sobre o emprego.
A Espanha atravessa uma fase de pessimismo quanto ao futuro da economia, que domina o debate pré-eleitoral e que pôs termo ao optimismo em que viveu bastantes anos.
A desaceleração económica pode vir a ser mesmo superior ao admitido na última previsão, que ainda apontava um crescimento de cerca de 3% no corrente ano.
Em Portugal, tudo parece ser diferente…apesar da divulgação ontem feita pelo BdeP que registou um significativo abrandamento da actividade no final de 2007, acentuando uma tendência que começou no início do segundo semestre.
A previsão de crescimento do PIB de 2,2% para 2008, afigurando-se neste momento uma miragem, mantém-se no entanto inamovível.
E a já famosa inflação, depois de ter conseguido desligar-se heroicamente da evolução dos preços, como aqui já salientei, não poderá ser mais do que 2,1% tal como oportunamente decretado…
Enfim, será que temos a Teoria do Oásis de volta e em versão bastante melhorada?
Como estaremos no final do ano? No oásis ou no deserto?
Penso ser de lembrar também os célebres comentários do "menino de ouro" do diário económico, Ricardo Reis que achava que não havia crise nenhuma e recessão, nem pensar. Pois bem. Hoje assistimos a um Mini-Crash bolsista, com perdas que no meu ponto de vista, mostram a ineficácia das medidas apresentadas por Bush. A crise é grave de mais para ser resolvida com um corte de impostos. Penso que está na hora dos Estados Unidos repensarem a economia de mercado que tanto falam. Vivem de bolhas e pouco ou nada fazem para evitar que estas rebentem, sem qualquer tipo de controle. Chegou a hora de mostrar um cartão amarelo ao sistema financeiro. Por muito liberal que seja a minha visão económica, começo cada vez mais a receber provas que o ideal é uma economia mista, na qual o Estado tem participações relevantes no sector energético, financeiro, telecomunicações e recursos naturais. Por muita simpatia que nutra pelos Estados Unidos, não se pode compactuar com este tipo de acções inconsequentes com vista ao lucro fácil e inseguro. E como dizia Samuelson num artigo, uma das grandes causas são CEOs exageradamente bem pagos atnes de mostrarem resultados. O resultado da competencia, ou melhor, falta dela, foi o despedimento dos CEOs dos grandes bancos.
ResponderEliminarEspero que com Hillary se criem entidades reguladoras com fortes poderes e que evitem este tipo de bolhas.
Saudações Republicanas
Caro André,
ResponderEliminarReflexão bastante interessante aquela que nos sugere.
Li com atenção as análises insuspeitas de Raghuram Rajan e de Martin Wolf, nas edições do F. Times de 9 e de 16 do corrente, e parece que algo vai mesmo muito mal no plano da lógica remunerativa dos executivos bancários, tanto nos USA como noutros continentes...
Não me parece, contudo, que a solução esteja num Estado-maisproprietário, mas mais no Estado-mais regulador...
Mas um regulador com critério e com exigência, não a in(fel/capac)icidade reguladora sem critério nem justiça que tem sido protagonizada pelo BdeP e a que temos desafortunadamente assistido...
Eu sugeri um controlo por parte por parte do estado, visto que as entidades reguladoras se tem mostrado ineficientes. Não quero aqui defender um socialismo, tampouco um comunismo ( regime por mim tão criticado).
ResponderEliminarJá agora, aguardos mais comentários radiofónicos à crise que se avizinha.
Saudações Republicanas
Caro André,
ResponderEliminarOs excessos e erros do mercado, que existem e por vezes são colossais, enfrentam um mecanismo auto-corrector no funcionamento do próprio mercado...que os outros sistemas não têm e por isso são infinitamente menos eficientes.
O mercado coloca permanentemente em causa as estruturas vigentes.
Mas para isso é preciso que exista mesmo mercado, não um simulacro de mercado que é infelizmente a norma entre nós em tantos sectores da nossa economia...
É sobretudo pela ausência ou insuficiência dos mercados que a nossa economia é tão pouco eficiente...e continuará assim, pelos anos mais próximos.
O que se passou nesta fase final da história do BCP é um vibrante e lamentável exemplo da falta de mecanismos de mercado na resolução de um problema empresarial...
A solução de mercado para o BCP passava por uma OPA competitiva, com vários players, internos e externos.
Assim, foi um arranjo político-social e vamos ver o seu resultado, não tarda...Aliás até já estamos a ver...