1. Nesta crise mundial dos combustíveis – um choque económico cujas consequências ainda não somos capazes de avaliar em toda a sua extensão – achei curiosa a resposta encontrada pelo Governo da Coreia do Sul.
2. Entrará em vigor na Coreia, a partir de 1 de Julho próximo, um conjunto de medidas de apoio aos grupos de cidadãos e de empresas mais atingidos pela crise, num montante global estimado de USD 10 mil milhões (aprox/ € 6,6 mil milhões), a saber: (i) descontos na tributação do rendimento das famílias com rendimento anual inferior a Won 36 milhões (1 USD= 1023 Wons) e as empresas em nome individual com rendimento anual inferior a Won 24 milhões; (ii) pagamento de subsidio equivalente a 50% do agravamento do preço dos combustíveis a partir de uma determinada data aos autocarros de transportes de passageiros, aos transportadores rodoviários de mercadorias, aos agricultores e a outros grupos de mais baixos rendimentos; (iii) pagamento de indemnizações a duas companhias de electricidade e gás estatais pelas perdas sofridas com o congelamento dos preços da energia determinado desde o início do corrente ano.
3. Estas medidas serão aplicadas durante um ano - entretanto será feita uma reavaliação da situação - e o seu financiamento é assegurado por um excedente de receitas fiscais em relação ao que havia sido orçamentado e também pelo aumento das receitas do imposto sobre combustíveis que decorrem da subida dos respectivos preços.
4. O Governo coreano admite reduzir o imposto sobre os combustíveis, mas só no caso de o preço do barril do petróleo ultrapassar USD 170,00.
5. No caso da Europa, o choque petrolífero a que estamos assistindo é um violento choque assimétrico, aliás duplamente assimétrico:
- Afecta muito mais uns países do que outros - Portugal é, por diversas circunstâncias, dos mais duramente afectados;
- Dentro de cada País afecta mais uns sectores do que outros, o que é perceptível quanto mais não seja pelo ruído dos protestos que se vão ouvindo.
6. Devo confessar que me tem impressionado a falta de capacidade de resposta da
União Europeia face a um problema desta dimensão, que certamente teria
requerido já uma análise rápida e algumas medidas compensatórias, justificadas para os
países/sectores mais afectados.
7. A única mensagem que conhecemos a este respeito, de fontes mais ou menos
oficiais – em Portugal até da Oposição – é que não se deve baixar o imposto sobre os
combustíveis: isso seria transmitir um sinal errado ao mercado, alterando artificialmente os
preços relativos, para além de privar o Estado de receitas tão necessárias para...continuar a
desbaratar recursos!
8. O problema não é apenas nem principalmente de reduzir o imposto sobre
combustíveis, entendamo-nos - é o de definir e por em vigor uma resposta capaz, comum,
face a um problema muito grave, em vias de tornar-se ainda mais grave e cuja solução
pode acabar por ser a pior de todas – cedências atrás de cedências aos grupos
de interesses com maior capacidade de mobilização para provocar distúrbios
em locais públicos – será essa a "solução" que a União Europeia tem “na manga”?
9. Poderá servir para alguma coisa o exemplo da Coreia? Ou, com a habitual sobranceria
europeia, consideramos a Coreia, das economias mais avançadas do Mundo,
economicamente analfabeta?
Eu não sei não, mas...
ResponderEliminar"Aprender com a experiência dos outros é menos penoso do que aprender com a própria."
(José Saramago)
Quando as economias têm a dimensão da Coreana, o impacto energético é mais quantificável. Se perguntar qual vai ser um impacto em Portugal, se podemos contrair dívida pública, sem problemas, para financiar um ano de combustíveis altos e repensar a coisa depois, se calhar ninguém tem uma resposta. Nem para sim, nem para não.
ResponderEliminarCaro Tonibler,
ResponderEliminarO PIB da Coreia será 6 vezes o PIB português; apesar de a área do País ser pouco superior, a população será quase 5 vezes a portuguesa...
Sobre o impacto em Portugal, não é "vai ser", é...se não se importa, e é já extremamente adverso.
Quanto às medidas e seu financiamento, anote por favor que coloco esse tema no plano da União Europeia...não especìficamente no âmbito nacional.
É mesmo só curiosidade, não é provocação, mas como é que viu essa do "extremamente adverso"? É que a produção industrial portuguesa é tão pequena, que aquilo que se perde no consumo 'útil' deve estar ela por ela com a quebra do consumo 'inútil'. Mas isto é mesmo só curiosidade, não tenho dado nenhum.
ResponderEliminarUma boa medida para a Europa seria, numa dinâmica Bushiana, a invasão da Noruega. Tudo bem que não tem as reservas do Iraque, mas os exercitos europeus estão mais adaptados a combater louros sem jeito para jogar à bola que árabes esfomeados. E com vantagens no preço do bacalhau e do salmão fumado.
Perdão, caro Tonibler, eu disse extremamente adverso quando queria dizer extremamente benéfico.
ResponderEliminarÉ lapso meu, saiu ao correr da tecla...
É muito benéfico, com efeito, os juros subirem como têm subido - e continuam a subir - para travar o excesso de investimento e de consumo que tem aquecido até ao rubro a nossa economia...
É muito benéfico, com efeito, os preços dos combustíveis subirem como têm subido, para que o excesso de rendimento disponível das famílias portuguesas não pressione tanto a procura e os preços de outros bens e serviços...
É ainda benéfica a subida dos combustíveis, pois isso nos permite acumular ganhos em termos de troca que ajudam a reduzir a nossa dependência financeira do esterior...
E podia continuar por aí fora, mas não quero ser maçador.
Foi lapso meu, as minhas desculpas mais uma vez.
Quanto à crise dos combustíveis, gostei muito da verdade exposta pelo presidente do Irão. Pena ninguém o levar a sério...
ResponderEliminarQuanto às medidas Sul-Coreanas parecem-me bastante importantes, mas eu pergunto até que ponto este ganho nos combustívies não está a aumentar a receitas dos ISP.
Penso que seria altura, de o mundo dialogar esta questão e tomar uma decisão séria quanto Às energias alternativas, ao invés de proporem metas irreais que servem para aclamar ambientalistas.
Resta-me então desejar que saiam prpostas sérias e pensadas do governo portugues, com um programa estratégico ao invés de cedências pontuais que acabam por ser muito mais prejudiciais para o país.
caro André,
ResponderEliminar"Resta-me então desejar que saiam propostas sérias e pensadas do governo português..." - será ironia ou é mesmo uma proposta séria e pensada da sua parte?
Acha essa gloriosa entidade ainda capaz de produzir propostas sérias e pensadas?