terça-feira, 17 de junho de 2008

Mas onde é que está a novidade?

“Médicos regressam a Espanha e começam a faltar nos hospitais”! Foi hoje chamada de primeira página do Público. Mas qual é a novidade? O que é que está a acontecer de novo? Nada. O problema da falta de médicos do SNS em determinadas especialidades há muito que está diagnosticado, assim como também é um problema, que se tem vindo a acentuar, a desequilibrada distribuição territorial dos médicos em função das necessidades existentes. Também neste sector, à semelhança do que aconteceu noutros sectores estratégicos, não fomos capazes de antecipar a evolução da demografia e das necessidades ou se fomos negligenciámos as medidas políticas que se impunham no sentido de corrigir as assimetrias que inevitavelmente ocorreriam se nada fosse feito.
A verdade é que estamos hoje a pagar um défice preocupante de falta de médicos que dados mais recentes apontam se venha a agravar nos próximos anos. Para além dos problemas endógenos ao próprio funcionamento do SNS que contribuem para a transferência de profissionais para a actividade privada, a política seguida durante muitos anos, e que creio continua, do estabelecimento de um apertado número de vagas para ingresso nos cursos de medicina hipotecou o futuro. Sempre me questionei sobre o sentido de se exigirem notas de 19 valores para o acesso aos cursos de medicina, conduzindo os jovens rejeitados pelo sistema, com vontade e vocação para a profissão, a optarem - aqueles que dispõem de recursos financeiros para o fazer - por realizar os seus estudos de medicina em universidades no estrangeiro. Que políticas foram efectivamente adoptadas pelo governo para corrigir, agora e no futuro, a falta de médicos do SNS? Que planos consistentes foram lançados? Que resultados são esperados?
A propósito das nossas omissões estratégicas começamos também a constatar que é tempo de os governos desenvolverem programas estruturantes para incentivar a especialidade médica de geriatria. Somos um país que está a envelhecer muito rapidamente e que deveria estar preocupado em formar médicos especializados para lidar com a saúde dos velhos. Este é um domínio em que estamos muito atrasados sem que se compreenda porque é que, ao contrário do que estão a fazer muitos países europeus, não nos preparamos para lidar com o aumento da esperança de vida de modo a assegurar elevados níveis de bem estar na velhice? Porque é que nos estamos a atrasar? Enfim, perguntas que podem encontrar resposta na falta de visão, de vontade, de sensibilidade...Qualquer que seja, sem razão!

6 comentários:

  1. O facto de o curso de Medicina ser muito caro, implicando custos elevados a suportar pelo sistema educativo, condicionou durante decénios a abertura de novas faculdades. Temos aqui o resultado. Não se justificariam medidas de emergência, não apenas na importação de médicos mas também no aumento da formação?

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  2. O curso de Medicina pode ser muito caro, mas se por exemplo as três públicas de Lisboa se juntassem e criassem uma faculdade conjunta, por exemplo, isso permitiria uma gestão dos recursos. Não é nada de novo! A Nova e a Católica já se juntaram para o MBA ser mais conhecido além-fronteiras. Não se compreende é que alunos brilhantes fiquei às portas de serem doutores e ser perca aí capital humano que já vai escasseando...

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  3. Pergunta:

    Para quê ficar cá dentro, quando há um mundo inteiro lá fora e à nossa espera?

    Esqueçam o cá dentro.

    O cá dentro não presta. Está rançoso e inquinado. Não vale a pena.

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  4. Obviamente que Anthrax não sente o que deixou escrito, a prova-lo está o facto de nos honrar com as suas visitas e os seus comentários.
    Mas lá que a paciência já nos falta demasiadas vezes para aturar tantos desmandos e absurdos, é um facto. A agravar a dor da incompreensão e incompetência (já ultrapassou a anarquia) que nos tolhe, está a verdade perseguida, que nos escapa ao entendimento e nos foge por entre os dedos.
    Lembra-nos e muito bem, a cara Margarida, que a continuar este estado de coisas... espera-nos uma velhice, provavelmente muito triste.

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  5. Os médicos de família no ambulatório, e os internistas nos hospitais aquando dos internamentos, têm competência para acompanhar e tratar os mais idosos.

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  6. Caro Manuel
    Tenho dúvidas que a explicação dos "custos elevados a suportar pelo sistema educativo" com a formação em medicina tenha sido a justificação para os défices de médicos que temos hoje.
    Em relação às suas questões penso que há muito que são necessárias medidas de fundo para alterar o panorama a médio prazo. Mas no curto prazo é preciso, no entanto, resolver o problema com medidas muito concretas. Não conheço nenhum plano do governo neste domínio.

    Caro Tiago Moreira Ramalho
    Levanta muito bem o problema. Com que direito desperdiçamos talentos quando deles precisamos?

    Caro Anthrax
    Se não ficar cá dentro não deixe de nos visitar porque gostamos muito de o ter por cá.

    Caro Bartolomeu
    Tanto tempo perdido sem resolvermos os problemas! Tenhamos alguma esperança, mas que a velhice para alguns não vai ser (já não é!) feliz é uma certeza.

    Caro O Reformista
    Segundo sei, nenhum dos cursos de medicina ministrados em Portugal tem formação obrigatória em geriatria. Segundo li, apenas uma faculdade de medicina em Portugal tem uma cadeira opcional de geriatria, com uma carga de 20 horas.
    Esta situação não dá resposta à necessidade de dispormos de médicos com formação específica na "medicina dos velhos". Num país em que o envelhecimento está acontecer teremos problemas muito graves se não cuidarmos de investir nesta especialidade.

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