sexta-feira, 27 de junho de 2008

Política no feminino ou no masculino, novo preconceito?

A propósito da eleição de Manuela Ferreira Leira como lider do PSD, o Expresso trata o tema "Política no Feminino".
Não sei se as mulheres têm ou não uma maneira diferente de fazer política, receio até que isso seja já um novo preconceito, alimentado mais para pôr em causa do que para estimular essa participação feminina.
De facto, quando se diz que haverá “uma maneira diferente” isso tem implícito que se está descontente com a actual maneira, protagonizada pelos homens, e que se fica à espera de ver como é que as mulheres vão dar a volta a esta crise de confiança e crédito na classe política. De certo modo, este aviso soa a ameaça, ou bem que elas vão corresponder a essa expectativa ou então não valia a pena terem-se metido a caminho.
É esta generalização com base no género que me incomoda imenso. O que se deve esperar das pessoas que se decidem por uma participação política activa é que tragam algo de positivo em relação ao que havia, não pelo facto de serem homens ou mulheres mas pelo facto de terem um propósito e um carácter que marque a diferença.
Não contemporizo com todos os que se preparam para juntar à lista dos argumentos que vão analisar, a cada momento, os respectivos comportamentos na política, o que se refere à condição feminina ou masculina das pessoas envolvidas. Recuso sem hesitar os comentários que queiram concluir pelas virtualidades ou defeitos da participação feminina, em geral e para o futuro, só porque passou a haver uma mulher como líder de um dos maiores partidos nacionais, ou porque há mais deputadas nas bancadas.
A actuação dos líderes políticos deve ser avaliada como tal, sem condescendências que ninguém pediu e sem exigências que são despropositadas. Só quando deixarmos de considerar que essa participação é, em si mesma, um tema, é que deixará de haver fundados receios quanto à existência de preconceitos.

6 comentários:

  1. Anónimo16:34

    Suzana, subscrevo sem reservas.
    Aliás, surgindo o artigo do Expresso a propósito da eleição da Dr.a Manuela Ferreira Leite para a presidência do PSD, não me parece, pelo resumo do artigo, que assinale um facto que transpareceu obvio: a investidura Dr. a Manuela não foi fruto nem do preconceito, nem da condescendência.
    Não percebi que alguém entendesse que a lider era a mais conveniente por ser mulher. Como também não me apercebi de quem, entre as críticas que se lhe dirigiram, estivesse um qualquer particular estilo de condução política que o género alegadamente induz.

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  2. Felizmente, caro Zé Mário, parece que na cabeça das pessoas essa questão não se pôs, ela é agendada na comunicação social com uma dimensão que já não corresponde aos padrões de actuação. A eleição da Dra. Manuela não prova coisa nenhuma nesse âmbito, nem que as mulheres estão a chegar à política - ela está na política há muitos anos - nem que passou a ser fácil que cheguem.

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  3. Suzana
    Partilho da sua análise.
    Mulheres e homens são diferentes e têm muitas coisas diferentes. Ainda bem que assim é! No exercício de cargos políticos, assim como no exercício de muitos outros cargos de responsabilidade, o que deve relevar são capacidades e qualidades, que homens e mulheres têm e também não têm. Carácter, formação, competência são aspectos fundamentais, incluindo no exercício de cargos políticos. Estes não são exclusivo nem de homens nem de mulheres.
    Questão diferente é a da acessibilidade aos cargos políticos. Aqui levantam-se outros problemas, que no fundo, impedem que muitas mulheres coloquem ao serviço da política e dos cidadãos o seu talento.

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  4. O pensamento explanado pela Dra. Margarida Aguiar no último parágrafo do seu comentário a esta estupenda análise da Dra. Suzana Toscano, “justifica”, de certo modo, os motivos pela qual se escreveu (neste caso), e se vai continuar a escrever no futuro próximo a - Política no Feminino.
    Podemos não contemporizar com esta criação virtual de políticas de género, mas, temos que entender as razões que lhe estão subjacentes, nomeadamente, as razões culturais.

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  5. Margarida, é verdade que podemos interrogar-nos sobre as razões que levam a que as mulheres não acedam a cargos políticos relevantes no nosso país. Mas, se noutros países há realmente inúmeras barreiras, culturais, religiosas, educativas ou que pura e simplesmente descriminam, não creio que em Portugal essas razões existam ou, pelo menos, que justifiquem a ausência quase absoluta de mulheres na área política. E digo isto porque não há essas barreiras em nenhum outro sector da vida nacional, pelo menos assumidas de modo a que possam ser directamente combatidas. Mesmo onde há apenas uma geração o acesso era vedado, como a diplomacia e a magistratura ou as forças armadas, ou mesmo cargos dirigentes na administração pública onde imperava uma "cultura masculina", em todos eles as mulheres se afirmaram e deixaram de ser notícia pelo facto de aparecerem. Só na política, e também, já agora, ao nível dos cargos de administração das empresas, é que ainda se nota essa ausência. Será a acessibilidade que é difícil, ou são as mulheres que não querem? As grandes dificuldades estão na conciliação da vida privada com esse tipo de vida profissional, os enormes custos que acarretam, a permanente disponibilidade, a exposição pública e - vá lá, não resisto a dizer - uma certa relutância em pôr em causa o "tradicional" equilíbrio do casal, quando é o caso.E, se a nossa geração ainda quer olhar a isso e deixa o palco do sucesso publicamente reconhecido ao elemento masculino do casal, duvido muito que a geração das nossas filhas se acomode a tal, não sei se não será mesmo um grande problema para os rapazes, terem que aprender a lidar com o sucesso das mulheres e achar que isso faz parte da vida... Mas creio que mesmo aí já se deram passos gigantescos,a muitos deles esta conversa toda já parece absurda e antiquada.

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  6. Caro Jotac, a resposta à Margarida também abrange o seu comentário, realmente é provável que se continue a falar do tem, até porque, para todos os efeitos, é novidade que as mulheres apareçam com este protagonismo na política, o que eu acho é que já ninguém se admira com isso ou avalia a obra com base nesse critério. É uma falsa questão, creio, por muito que se tente fazer disso um caso.

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