Estive a semana passada no Rio de Janeiro. No meio dos afazeres do trabalho tive tempo para ir tomar um chá à Confeitaria Colombo, localizada no centro histórico. Trata-se de uma confeitaria fundada em 1894 por dois emigrantes portugueses – Joaquim Borges de Meireles e Manuel José Lebrão – ao estilo de arquitectura art nouveau, decorada com esplêndidos espelhos de cristal, que mais tarde li foram trazidos de Antuérpia, por elegantes vitrinas adornando as paredes e recheadas de loiças e cristais antigos e por belos vitrais e bonitos candeeiros rendilhados suspensos em tectos trabalhados em madeira. A grande sala é polvilhada de mobiliário do mesmo estilo e o serviço irrepreensível é prestado por empregados impecavelmente fardados, solícitos e simpáticos que convidam o visitante a sentir-se em casa. A gastronomia requintada é irresistível, com uma selecção fantástica de chás e uma variedade infindável de bolos, muitos deles portugueses, a proporcionar momentos de tudo querer saborear.
Visitar a Confeitaria Colombo é uma verdadeira viagem no tempo, um momento de alegria de ser português em terras brasileiras. A sensação é como que a de estar em Portugal.
A lindíssima Confeitaria Colombo fez-me recordar com saudade a elegante pastelaria Colombo de Lisboa, situada na Av. da República, da mesma época, com uma arquitectura de interiores ao mesmo estilo art nouveau, um ambiente artístico e cultural muito semelhante e, mais ainda, com uma ementa doceira em tudo idêntica à Confeitaria Colombo. Um espaço menor, é certo, mas em tudo o mais idêntico. Requintado e charmoso.
Ao contrário dos brasileiros, que carinhosamente preservaram a obra “portuguesa” e dela se orgulham, Lisboa deixou fechar, já lá vão muitos anos, a sua Colombo para dar lugar a um MacDonalds. Como aliás aconteceu com muitas outros espaços característicos de Lisboa. Trocou um espaço clássico por um fast food, trocou um valor artístico e cultural por um símbolo moderno, enfim, trocou um pedaço de identidade pela fama de uma marca internacional.
Lisboa ficou do meu ponto de vista mais pobre. A harmonia entre a tradição e o moderno é com certeza um exercício muitas vezes difícil de fazer, mas esquecer que a identidade própria de uma cidade ou de um local é um bem que deve ser protegido, significa descaracterizar o seu “código genético” em desrespeito pela memória daqueles que no passado a fizeram viver e reviver e comprometer o seu futuro.
Falta-nos sensibilidade. O caso da pastelaria Colombo não é, infelizmente, excepção. Esta preocupação estende-se obviamente a muitos outros valores culturais e artísticos das nossas cidades, designadamente a bairros, ruas, edifícios ou fachadas, espaços públicos, actividades culturais, profissões, comércio tradicional, etc.
Continuamos a privilegiar o “betão”. Fazemos mal. Vai sendo tarde para preservarmos o que de bom ainda temos...
A lindíssima Confeitaria Colombo fez-me recordar com saudade a elegante pastelaria Colombo de Lisboa, situada na Av. da República, da mesma época, com uma arquitectura de interiores ao mesmo estilo art nouveau, um ambiente artístico e cultural muito semelhante e, mais ainda, com uma ementa doceira em tudo idêntica à Confeitaria Colombo. Um espaço menor, é certo, mas em tudo o mais idêntico. Requintado e charmoso.
Ao contrário dos brasileiros, que carinhosamente preservaram a obra “portuguesa” e dela se orgulham, Lisboa deixou fechar, já lá vão muitos anos, a sua Colombo para dar lugar a um MacDonalds. Como aliás aconteceu com muitas outros espaços característicos de Lisboa. Trocou um espaço clássico por um fast food, trocou um valor artístico e cultural por um símbolo moderno, enfim, trocou um pedaço de identidade pela fama de uma marca internacional.
Lisboa ficou do meu ponto de vista mais pobre. A harmonia entre a tradição e o moderno é com certeza um exercício muitas vezes difícil de fazer, mas esquecer que a identidade própria de uma cidade ou de um local é um bem que deve ser protegido, significa descaracterizar o seu “código genético” em desrespeito pela memória daqueles que no passado a fizeram viver e reviver e comprometer o seu futuro.
Falta-nos sensibilidade. O caso da pastelaria Colombo não é, infelizmente, excepção. Esta preocupação estende-se obviamente a muitos outros valores culturais e artísticos das nossas cidades, designadamente a bairros, ruas, edifícios ou fachadas, espaços públicos, actividades culturais, profissões, comércio tradicional, etc.
Continuamos a privilegiar o “betão”. Fazemos mal. Vai sendo tarde para preservarmos o que de bom ainda temos...
Não se conhece completamente Portugal se não se entrar na Colombo do Rio de Janeiro. Completamente de acordo. Aliás, compreendo perfeitamente que tenha sentido a descrição que fez como incompleta, cara Suzana, porque é daqueles sítios....fantasticamente portugueses.
ResponderEliminarE já estou a dever uns anos a Ipanema, à feira hippie e à lagoa....Bolas, que inveja!
Sem dúvida cara Margarida, a Confeitaria Colombo é de muito boa memória, e tal como afirma, naquele espaço temos o já raro privilégio de respirar o ambiente das confeitarias "tradicionais" portuguesas.
ResponderEliminarEstive lá ainda este ano, almocei e tive oportunidade de debicar os variadíssimos, sugestivos e maravilhosos doces.
Espero que tenha reparado num outro pormenor da "decoração"... Aqueles grupos de senhoras e cavalheiros ainda reluzentes de um brilho de épocas passadas, que por lá pontuam ... ;)
Caro Bartolomeu, reparei pois! Lá estavam algumas senhoras acompanhadas de cavalheiros a lembrar uma certa "belle epoque". Tomar chá na Confeitaria Colombo é uma viagem no tempo em todos os sentidos.
ResponderEliminarPor cá as confeitarias daquela época foram desaparecendo. Temos uma ou outra, como por exemplo, em Lisboa a Versailles. Inaugurada em 1922 resistiu até agora ao betão e ao fast food que desalojaram muitas salas de chá da cidade.
É uma pena não conservarmos o que realmente poderiam ser verdadeiros "ex-libris". Porque será que tem de ser assim?
Gostaríamos que tudo fosse diferente cara Margarida, é certo. A nostalgia que alguns locais têm o poder de nos inspirar, faz com que a sua questão final tenha todo o sentido, inclusivé porque não encontramos justificação suficientemente forte para que deixe de ser.
ResponderEliminarNada é incompatível, desde que se tenha o gosto pelo gosto, tudo cabe em tudo se não for vão.
Contudo a realidade com que nos defrontamos é díspar, lembro-me ainda daquele texto colocado pela Drª Suzana, onde era transcrita precisamente a diferença de olhares e entendimentos, reflexo de mudanças que não possuímos a capacidade suficiente para entender. Como diria a mãe da Dr. Suzana; sentimos aos poucos que deixamos de fazer parte deste mundo.
Porém, enquanto houver memória, tudo será mantido vivo, será esse o conceito de eternidade!?
Caro Bartolomeu
ResponderEliminarNão é tanto uma questão de nostalgia ou de desadaptação à evolução dos tempos! Às vezes também tenho nostalgias e sinto uma certa incapacidade para me adaptar a certas coisas. Mas quando falo das “Confeitarias Colombo” sinto que os portugueses deviam, como fazem os nossos vizinhos europeus, para não ir mais longe, preservar e dar vida à sua história, cultura e tradições. São as "Confeitarias Colombo" que fazem a diferença. Temos coisas fantásticas que estão esquecidas porque andamos muito entretidos com os futuros tecnológicos esquecendo que o futuro também se constrói com o que de bom o passado nos concedeu. Conservar a memória apenas na cabeça não é suficiente...
Caro Tonibler
Totalmente acordo. Parece exagero mas não é. É mesmo como disse: "Não se conhece completamente Portugal se não se entrar na Colombo do Rio de Janeiro". Um desabafo que quer dizer muita coisa!
Ao ler este artigo,relembro a minha infância passada na Pastelaria Colombo em Lisboa, que foi fundada pelo meu avô em 13/10/35 um grande Senhor da Pastelaria & Cozinha Nacional/Internacional, reconhecido nessa época com uns dos Melhores, e guardo com grande carinho essas menções honrosas. Ao meu saudoso Avô José da Silva Coito em que tive o privilégio de privar a sua sabedoria/criatividade/Técnica e seguidor fiel da sua arte e inovação.
ResponderEliminarE nesses anos de vida por lá passou meia -Lisboa, uns a provarem os seus deliciosos pasteis de nata e bolos , e outros a saborearem o seu bacalhau no forno , bife à café ou famoso bolo rei.
Tornou-se quase uma instituição na Avenida República, em Portugal e conhecida a nível Internacional.A sua Clientela doutros tempos permaneceu-lhe fiel e conquistou novas camadas e ainda hoje continua nas memórias da cidade de Lisboa, como a eterna Colombo.
A Colombo conservou e preservou o ambiente original em que as pessoas
gostavam de conversar à mesa em atmosfera serena e cosmopolita da sociedade Lisboeta.... e ali permanecia fiel ao velho estilo décot que foi concebida e oferecida
a Lisboa pelo meu Avô.
A Colombo era assim, o lugar disponível, onde nos poderíamos encontrar connosco próprios por uns momentos, sejam eles de simples pausa ou de resolução rápida e difícil, tomada com um chá ou uma simples bica, também esta, vitoriosa sobre as zurrapas e as chicórias que inundavam a cidade, como um flagelo...
... Mas o requinte dos eu tradicional de refeições, de banquete tradicional e catering, a Colombo aliava um serviço rápido de refeições para a satisfação dos que não tinham vagar ou dinheiro para uma refeição calma e sentada e que continuava a fabricar com o requinte e o esmero que só trabalho manual que permitiu , a Colombo era um ex-libris de Lisboa, que garantia uma qualidade e uma variedade que valia a pena experimentar.
Pois ela tem continuidade e testemunho vivo e que preserva o receituário do Saudoso José Coito.
Á memória do meu AVÓ.
Do teu neto Cândido Gonçalves
http://www.facebook.com/pages/Rota-do-Colombo/138609362889397?sk=wall
ResponderEliminarCaro Cândido Gonçalves,
Li o seu comentário na diagonal. É o chamado esfregar chagas com urtigas e pouco me interessam as recordações. O que passou a ser relevante desde que a Pastelaria Colombo foi destruída, é o novo flagelo das marcas internacionais e dos fast-foods que destroem a identidade da cidade o que a torna mais pobre do que já é. Aliás deve ser por ser justamente por ser pobre que cede mais facilmente às grandes marcas. É o ciclo vicioso da pobreza que podia ser contrabalançado com uma riqueza de espírito que também não existe.