quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Sabedoria

Dizem que o diabo sabe muito porque é velho. Mas será que a idade torna as pessoas mais sábias? É do conhecimento geral que muitas pessoas de idade perdem a sabedoria e, em contrapartida, muitos jovens podem ser considerados como já sendo sábios.

Afinal o que é a sabedoria? Não há uma definição concreta, mas associa a inteligência, o conhecimento, a compreensão da natureza humana, a resiliência emocional, a humildade, a capacidade de aprender com a própria experiência, a abertura, o julgamento superior e as capacidades para resolver problemas.

De acordo com o Projecto de Sabedoria de Berlim, verificou-se que há um plateau para uma sabedoria óptima na média idade e na velhice. Outros autores afirmam que a sabedoria começa a declinar a partir dos 75 anos. O declínio das capacidades cognitivas e a perda de memória condicionam, e muito, a sabedoria. Há um aspecto muito importante que tem a ver com os factores emocionais. As pessoas de mais idade controlam melhor as respostas emocionais, o que lhes confere, à partida, mais vantagens.

A sabedoria pode ocorrer em qualquer idade, mas quando começam a surgir rugas na face as “rugas” do cérebro começam a desaparecer. E sabemos hoje que a atrofia do córtex se acompanha de perdas e dificuldades cognitivas que interferem na sabedoria, não obstante a melhoria do controlo emocional que se verifica nas pessoas mais idosas.

Para se ter sabedoria é preciso que o ser humano vença as lutas próprias de cada idade, oito, segundo Erik Erikson. Os dois extremos são paradigmáticos. Na infância a luta oscila entre a verdade e a mentira. Quando as crianças sentem que estão protegidas pela verdade sentem-se mais seguras e aptas para avançar para a etapa seguinte. Na última idade a luta faz-se entre o sentido pessoal da integridade e a derrota face à desintegração física. Se a integridade vencer o resultado será a sabedoria.

Começo a reparar que algumas decisões tomadas por pessoas responsáveis deixam muito a desejar no que toca à sabedoria. Seria de esperar que a idade contribuísse para aquela. Mas não parece! É certo que começo a apresentar algumas rugas e, por isso, questiono até que ponto é que as minhas circunvoluções cerebrais não estão a ficar mais lisas, condicionando as minhas opiniões! Espero ter ainda algumas “rugas” cerebrais. Agora o que eu vejo por aí são atitudes não consentâneas com a ideia clássica de que a idade traz sabedoria. Tamanhas e requintadas burrices. Se olharmos para a cara dos autores ficamos surpresos. Têm idade para serem “sábios” e não apresentam rugas faciais. Sendo assim, as suas magníficas decisões deviam ter origem em cérebros cheios de sulcos. Mas estou convicto de que não será assim. Os seus sulcos deverão ter desaparecido e as rugas faciais também, quem sabe se não foram à custa do botox...

As “evidências políticas” e as “evidências económicas” reveladas por responsáveis pertencentes a grupos etários em que a sabedoria deveria ser a marca revelam-nos que, afinal, nem sempre melhora com a idade. Era bom, era!

Esperemos que cheguem o mais rapidamente a velhos, a velhinhos de forma a transformarem-se em homens de bem, mesmo que tenham perdido grande parte da sabedoria imitando o “diabo que se fez homem de bem quando ficou velho”...

3 comentários:

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  2. Sempre brilhante, caro Professor, sempre incisivo!...

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  3. Muito agradável de ler e aprender...

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