terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A informação como mercadoria

Para aumentar os lucros, a Banca criou novos produtos, estruturou-os de forma a alindar-lhes o risco e vendeu-os à clientela como artigo de grande respeitabilidade e rentabilidade.
Similarmente, a comunicação social também vai criando novos produtos informativos, estruturando-os de forma a encher espaço e concitar audiências.
É o caso da entrevista da SIC ao 1º Ministro. Emitida, ficava preenchido o acto de informar, mas ficava também esgotado o produto, pelo que havia que transformá-lo em mercadoria que permitisse a continuação das vendas.
Nasceu assim um produto estruturado, composto de entrevista, comentário de jornalistas, sínteses nos telejornais, fóruns e espaços de debate.
E se em muitos produtos estruturados bancários não se conhece a sua verdadeira substância, também na mercadoria informativa em que se transformou a entrevista de Sócrates já ninguém sabe o que Sócrates disse, tanta foi a interpretação “autêntica” do seu pensamento.
E se para os Bancos pouca importância tinham os produtos estruturados que impingiam, já que o risco era dos clientes, para a comunicação social nula importância tem o conteúdo informativo, mas a ocupação de espaço que dele resulta.
No final, Sócrates acabou por dizer o que os comentadores quiseram que dissesse. Como os clientes bancários que ficaram, não com o produto que queriam, mas com o produto que os Bancos quiseram destinar-lhes.
Os produtos de risco transformaram-se em aplicação segura. A informação em pura mercadoria.
Eticamente, comportamento semelhante!...

7 comentários:

  1. Caro Pinho Cardão

    Um Bom Ano para si.
    O produto estruturadado informação, como o financeiro tem o mesmo mal de raiz: apresenta a realidade(no caso do de informação) ou o risco (no caso do financeiro) em fatias.
    Já reparou na porcaria que um risco fatiado e uma realidade fatiada podem fazer no mundo real?
    Cumprimentos
    João

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  2. Que grande ausência caro Dr. Pinho Cardão. Se existisse uma alta autoridade para a assiduidade bloguistica, eu apresentave de imediato uma petição.
    ;)
    Calculo que tenha estado de quarentena, devido à sobrecarga de filhós natalícias...
    A propósito... Do you remember "os tolinhos do jardim" e a sua lemon tree?
    http://www.youtube.com/watch?v=PWa6uz1ayME

    ... and all than i can see just the yellow lemon tree...

    ;))))

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  3. O eleitor, tal como o investidor, tem que ter muito cuidado com os produtos tóxicos...

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  4. Caro João:
    Também um Bom 2009 para si.
    Claro que é um perigo: realidade fatiada é realidade virtual...
    E cada vez mais a realidade se torna virtual.

    Caro Bartolomeu:
    Mas que privilégio começar o ano com tão amável comentário!...

    Caro Lusitânea:

    Pois é, a informação transformada em propaganda ou em artigo mecadejável é dos produtos mais tóxicos que há!...

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  5. Eu não vi a entrevista porque não consigo olhar para aquela cara de aldrabão, com uma licenciatura a martelo, sem correr o risco de partir o televisor mediante o arremesso de um sapato. Em Portugal há muito que praticamos este desporto. Não começou no Iraque.

    Mas indo ao ponto. Ele disse o que os comentadores quiseram que ele dissesse, ou os comentadores perguntaram o que ele quis que eles perguntassem?

    Faz toda a diferença. Para além de que a segunda hipótese é a que costuma verificar-se.

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  6. Caro Jorge oliveira:
    Referia-me ao pós-entrevista.
    Os comentadores chamados a analisar a entrevista interpretaram-na cada um a seu modo. O resultado dessa interpretação é que Sócrates não disse o que disse, mas o que cada comentador quis que ele dissesse.
    Gostando-se ou não de Sócrates, as suas palavras acabaram por levar trato de polé. O mesmo acontece com as palavras em grandes entrevistas de qualquer dirigente político. Algumas são destruídas imediatamente pelos comentadores de serviço.

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  7. Ah, bom, caro Pinho Cardão. Assim já faz sentido. Na verdade, eu estava a pensar nos entrevistadores. Mas não vi nada daquilo. O fulano provoca-me urticária.

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