1. Num últmo Post salientei que o elevadíssimo défice externo de 2008 - 10,6% do PIB, quando o BdeP menos de um mês antes tinha previsto 9% - constituia um sinal claríssimo de direcção proibida para a política económica ainda vigente.
2. É hoje notícia o forte aumento do “spread” da dívida pública portuguesa em relação à dívida alemã na maturidade mais significativa, 10 anos – temos agora que pagar mais 1,856% que a dívida alemã, quando há menos de um ano esta diferença era inferior a 0,5%.
3. É tema corrente nos mercados as dificuldades cada vez maiores que os países mais endividados da zona Euro e com mais elevados défices externos irão sentir para se financiarem no futuro próximo, no curto e no médio prazo.
4. Ainda ontem meu velho amigo Karl Otto Pohel, durante muitos anos Presidente do Bundesbank e ainda hoje uma voz muito respeitada na Europa alertava para a provável necessidade de a zona Euro ter de adoptar programas tipo FMI para acorrer às economias mais frágeis e com dificuldades de se financiar.
5. Entre nós, no entanto, o autismo perante estes sinais parece ser a palavra de ordem – mais dívida, mais despesa, mais impostos é o que os responsáveis pela política económica sabem prometer a um País extremamente confundido e sem rumo.
6. Torna-se cada vez mais visível o equívoco das opções desta política, nomeadamente do desenho das medidas do programa anti-crise. Não é com mais despesa pública, ainda por cima de muito má qualidade ou de qualidade duvidosa pelo menos, que se diminuem as dificuldades que assoberbam a economia – pelo contrário, este aumento da despesa pública vai agravar as dificuldades tornando cada vez mais problemático o acesso a financiamento.
7. Outro sinal vem da queda abrupta da receita fiscal em Janeiro – por este andar podemos arriscar um défice de 7 ou 8% do PIB em 2009, ultrapassando as previsões mais pessimistas...não esquecer que a Irlanda por exemplo espera um défice acima de 10% do PIB e a financeiramente disciplinada Holanda, de cerca de 6%...
8. Se isso vier a acontecer as necessidades de financiamento do Sector Público Administrativo irão disparar e o “spread” acima mencionado disparará com elas...
9. Até quando este autismo que nos arrasta para uma tão dolorosa experiência colectiva?
A nossa responsabilidade social sempre foi nula, dependemos do nosso proprio desleixo e deixa andar como metodo de vida. Somos hipercriticos em relacao aos outros mas confrangedoramente tolerantes connosco.
ResponderEliminarFalta nos maturidade no assumir da cidadania.
O mercado está a olhar para o spread com as "bund's" como um "proxy" para a probabilidade de desagregação do euro. Para mim é um indicador do caminho para a união europeia, aquela que foi vista por Mário Soares e Adolf Hitler, em que vamos ser todos alemães de terceira. Por isso acho que não há autismo nenhum em tudo isto. Um povo que, recorrendo ao sufrágio livre, comete repetidamente o mesmo erro (há quantos anos escolhe - essencialamente - a mesma política??) é porque o quer mesmo cometer.
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira,
ResponderEliminarHá alguns dias atrás debatia com um amigo meu, qual o futuro de Portugal. Ele julgava que Portugal ia ser expulso do euro. Por outro lado, eu julgava que isso seria um cenário utópico porque nesse caso o escudo não valeria nada e aí nunca mais receberiam os créditos. Receio muito que venhamos a perder num futuro próximo, a soberania financeira...