segunda-feira, 30 de março de 2009

A importância da imagem numa campanha em que decisivo foi o candidato

David Plouffe, o estratega da campanha de Obama, esteve hoje de manhã na Universidade Católica de Lisboa para a conferência "Building a Grassroots Movement in the 21st century". Impressão imediata e primeira nota: cativante o personagem, fez o auditório perceber quanto vale a inteligência posta ao serviço de uma campanha política.
Eleito o 44º Presidente dos EUA, os dados agora revelados merecem ser olhados como o study case que representa uma campanha duplamente vencedora (nas primárias contra H. Clinton e nas gerais contra o experiente senador John McCain) em condições tais que à partida todos prognosticavam um derrota certa (recorde-se que nas primeiras sondagens das primárias Obama surgia com 20 pontos de atraso em relação a Hillary Clinton).
Da torrente discursiva sem qualquer apoio em suporte (nem um powerpoint!), retive, em especial, duas mensagens. A primeira, a aposta nas novas tecnologias e numa imensa rede social que fez passar as mensagens certas, torneou a manipulação habitual nos media tradicionais e conseguiu uma recolha recorde de fundos junto dos apoiantes.
Os números são, com efeito, impressionantes mesmo à escala de uma Estado com a dimensão dos EUA: 6,5 milhões de dólares foram doados por apoiantes através da Internet, muitos deles jovens estudantes e reformados; foram coligidos 13 milhões e endereços electrónicos e 3 milhões de americanos inscreveram-se nos sites para receber informações. O site oficial recebeu 8,5 milhões de visitas por mês. Mais de 2 mil videos foram colocados no YouTube, visionados 80 milhões de vezes!
A segunda, foi a aposta na reabilitação da política para a qual se voltou o esforço da campanha. Partindo da ideia de que existe uma crise profunda das lideranças, a palavra certa era confiança, capitalizando o descrédito de Bush. Resultou.
Dei por bem empregue o par de horas que durou a conferência. Até porque, na resposta a questão colocada pela assistência, vi satisfeita a interrogação que se foi acentuando ao longo do discurso espontâneo do protagonista. No meio disto tudo, que papel terá desempenhado Obama? Acabou Plouffe por dizer que o grande trunfo foi afinal o candidato. Foi ele que fez com que a estratégia resultasse. Foi a confiança e credibilidade, o discurso de verdade que mobilizou as redes sociais, que dinamizou o mundo virtual onde muito da campanha se desenrolou, que fez com que jovens e reformados contribuissem financeiramente. Foi Obama que fez o sucesso de Plouffe e não o inverso.
.
Aproximam-se 3 eleições em Portugal. Vejo sinais, aqui e ali, que prenunciam que as campanhas vão ser influenciadas pelo fenómeno da campanha de Barack Obama. Independentemente do génio dos spin doctors de serviço, continuo na minha: não serão eles a criar credibilidade onde ela não existe ou se perdeu; nem a substituir-se aos candidatos na confiança que só eles podem transmitir ao eleitorado para que, como nos EUA, as pessoas concretas, aquelas que decidem eleições, voltem a acreditar.

3 comentários:

  1. Como diz o ditado " a luz alheia não te fará claro se luz própria não tiveres"...

    ResponderEliminar
  2. Anónimo09:38

    Ora aí está um dito que assenta como uma luva, Suzana.

    ResponderEliminar
  3. Vi há poucos dias um documentário sobre a subida ao poder de Hitler. As aulas de teatro deram-lhe um poder de oratória assinalável, a máquina de propaganda encarregou-se do resto...

    ResponderEliminar