quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Ainda a questão das políticas de obras públicas

Em comentário a este post Zuricher escreveu o que, com a devida vénia, se reproduz:
  • "Mas há uma coisa que ninguém se pergunta, no meio disto tudo e tem aplicabilidade a algumas das AE ora em concurso. Porque é que se faz a via a, b ou c? Quais os objectivos que se visa alcançar com a sua construção? E, depois de respondida esta questão, decidir-se que tipo de via fazer para atingir os objectivos propostos. Muitas das AE serviriam melhor as populações se não existissem e no seu lugar estivesse uma via férrea. Não essas coisas modernas de vias de alta velocidade, mas uma simples via férrea, vulgarissima de lineu, para velocidades de 120-160km/h com comboios convencionais e permitindo a passagem de comboios de mercadorias sem restrições".
Não posso estar mais de acordo com esta opinião e sobretudo com os seus fundamentos.
É certo que o Governo alega que procedeu a estudos de viabilidade económica para cada uma das concessões (em que se terá baseado a Resolução do Conselho de Ministros que definiu o "programão" rodoviário) os quais, segundo um comunicado do MOPTC ontem enviado às redacções na sequência da notícia do Jornal de Negócios, sustentarão as variações do VAL verificadas no desfecho dos concursos das subconcessões já adjudicadas. Mas a questão é como muito bem Zuricher a colocou. Saber se a decisão política de construir uma auto-estrada faz sentido não só quando aquilatada do ponto de vista da sua viabilidade económica intrinseca, mas sobretudo quando comparada com outras alternativas para promover a mobilidade de pessoas e bens, a coesão territorial pelo combate ao isolamento e ao despovoamento do interior, o desenvolvimento económico do País, no quadro de uma leitura prévia dos necessários sacrifícios ambientais e sociais (o caso da aldeia atravessada por duas AE de que fala Tonibler no mesmo post é só um exemplo da falta de uma visão integrada).
Desses estudos não há notícia. E custa-me a acreditar que alguma vez tenham sido feitos, porque isso pressuporia uma cultura de planeamento, um pensamento estrutural de desenvolvimento a longo termo, o que os factos desmentem que, nestes 35 anos de democracia, alguma vez tenha existido, ou pelo menos, prevalecido.
Deste pecado de omissão nenhum partido, no arco governativo, está isento de responsabilidades.
Espera-se, porém, que o futuro que começa em Outubro, traga a redenção. O País dos nossos filhos e netos agradeceria muito.

8 comentários:

  1. Olá Almeida! Sou ainda nova por aqui mas não resisto a participar...
    Vivo no Brasil e por cá os problemas são tão ou mais graves. O q vejo por cá é um total descaso. Não há antecipação ou planejamento simplesmente por falta de vontade de fazê-los. De modo geral o povo vive uma situação de urgência e abandono por parte do governo e nada lhe resta a não ser se virar como pode. A educação, que poderia em última instância redimir esse mesmo povo e levá-lo a reverter o quadro, anda há muito abandonada. O resultado é a alienação, más escolhas (ou não-escolha, vota-se em qualquer um já todos são ruins)nas urnas e a entrega dos governos em todos os níveis a pessoas cujo único interesse é cuidar do próprio bolso. Estimo que Portugal encontre a redenção. Para o Brasil não tenho essa mesma esperança. Infelizmente.

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  2. Anónimo15:05

    Seja muito bem vinda ao Quarta República, Kavê.
    Brincando com o seu comentário poderia dizer que no Brasil não poderia deixar de ser assim porque fomos nós que o descobrimos e colonizámos ;).

    Mas o assunto é sério e percebe-se que extravaza fronteiras, sendo mais sentido em países como Portugal e Brasil que ainda têm um longo caminho a percorrer no que respeita ao investimento na valorização individual e no crescimento social, para o que se torna fundamental apostar na educação e na formação.
    Por cá costuma dar-se como bons exemplos de desenvolvimento, os países do norte europeu, Suécia, Dinamarca ou Finlândia.
    Porém os mesmos políticos que apontam essas novas "pátrias-sol" ignoram que por lá se fizeram as auto-estradas indispensáveis e se apostou na inteligência. O resultado está à vista: menos massa betuminosa mas muita produção de massa cinzenta, sendo evidentes os reflexos na qualidade de vida.

    Volte sempre.

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  3. Erros infantis de planeamento está a IIIª República cheia.

    Não entendo como é que se pode dizer que Ferreira do Amaral foi um excelente ministro das obras públicas, quando o seu lugar podia ter sido desempenhado por um burro com palas, que os resultados seriam no mínimo os mesmos.
    As obras de renovação dos eixos ferroviários (Braga-Faro, Pampilhosa Vilar Formoso e Entroncamento - Guarda não contemplaram a montagem de dormentes bi-bitola. Se tivessem contemplado a mudança integral para a bitola europeia teria poucos custos e seria rápida.
    Agora há que fazer tudo de novo desde a raiz!

    Qual o motivo porque esta sumidade mandou fazer a Ponte Vasco da Gama?
    Porque embelezava a Expo.


    Fala-se muito no TGV, mas este foi anunciado com mais dois atravessamentos do Tejo, dos quais um está ainda em cima da mesa. Querem nos enganar dizendo que a ponte-chelas barreiro é fundamental para o novo aeroporto

    Se um analfabeto olhar para um mapa, vê que o TGV passa no Carregado, avançando para leste verificaria que o novo aeroporto se situa a 35 km do Carregado.
    O Burro analfabeto poderia proôr que se contruisse um eixo rodo-ferroviário entre o Carregado e o novo aeroporto, com seguimento para a fronteira.

    O perito em planeamento, que não é Burro nem analfabeto, proporia apenas uma ponte e uma auto-estrada.

    Há dois anos construiram o tal +ponte e a tal auto-estrada (que passa a 2 Km do proposto aeroporto) e que presentemente é a auto-estrada do "Lá vem um".

    Porque é que em Portugal se adoptam estas propostas de peritos em planeamento e não as propostas do Burro analfabeto?

    Porque o Burro analfabeto sabe mais que o perito em planeamento, mas desconhece o sistema de financiamento partidário!

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  4. Anónimo16:49

    Caro Ferreira de Almeida, muito obrigado pela gentileza da transcrição do meu comentário e pelo que disserta sobre ele.

    O facto a que aludi sucede em larga medida por outra coisa que vem sendo aqui falada também conjugada com uma questão cultural. Não se faz planeamento porque há em Portugal muito poucos engenheiros especializados em planeamento de transportes (nem uma dúzia)e, ao mesmo tempo, não existe enraizado na cultura o conceito de pensar primeiro, planear e agir depois. Ao mesmo tempo, não há em Portugal nenhum curso aprofundado de especialização em planeamento de transportes. O mais parecido é o ramo de planeamento e transportes de alguns cursos de Eng Civil ou alguns Mestrados em Transportes. Mas isto é curto, não chega. Precisa-se realmente formação mais aprofundada neste domínio para até mesmo os profissionais da área estarem despertos, conhecerem e saberem de forma aprofundada o que é o transporte, para que serve, como funciona, como se modela, como aderem os passageiros e transportadores à mudança desta ou daquela variaveis, etc, etc. Compare-se com Espanha onde existe, enraizadissimo e há muitos anos, o curso de Ingeniero de Caminos, Canales y Puertos que visa muito mais o planeamento e projecto do que a construção propriamente dita, embora também tenha a sua valência. E vários outros países com cursos aprofundados em transportes (vertentes da engenharia e da economia e mesmo as duas juntas), tanto de licenciatura como mais avançados. Nos últimos anos, com especial ênfase na última década, o projecto e planeamento de transportes têm evoluído muito. A evolução das capacidades de computação têm aberto portas até então fechadas ou apenas entre-abertas para o planeamento. Tudo isto tem-se complicado e é cada vez mais necessária a especialização para trabalhar com esta questão.

    É necessário um Engenheiro Civil para projectar uma estrada, uma via férrea, um porto marítimo. Mas a montante da sua actividade é necessário o profissional que estude as necessidades, decida que infra-estrutura vai ser construída, qual o dimensionamento necessário, qual o traçado para ela, enfim, uma série de factores dos quais dependerá em última análise o sucesso ou não do dinheiro investido.

    Há depois uma outra variavel, infelizmente com excessivissimo peso, nestas questões de transportes. É que a construção duma AE dá imensos votos. A mente popular continua a associar directamente ter uma AE na sua terra e progresso quando, de todo, não funciona assim directamente. Daqui os inerentes votos ao gentil progressista que trouxe a AE. Uma linha de caminho de ferro é grandemente ignorada pelas populações que, para mais, sentem os seus benefícios ao longo do tempo e não de forma imediata. Muitas das vezes nem associam uma certa benesse de que usufruem à existência da linha ferroviária. A construção duma ferrovia não dá votos. E esta dicotomia "AE igual a votos" versus "linha ferroviária irrelevante para votos" tem inquinado muito o desenvolvimento territorial Português.

    Enfim, coisas!

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  6. Almeida,

    obrigada pela acolhida. Cá no Brasil as referências são a Europa (de modo geral, a França em particular) e Estados Unidos. Penso que ganharíamos mais se buscássemos as nossas próprias soluções. O Brasil é grande como os EUA mas temos colonização e história muito diferentes daqueles e ao meu modo de ver não devíamos nos guiar pelos modelos estadunidenses. Quanto à "culpa" portuguesa... ora, mas o que é isso, somos tão maravilhosos quanto vocês certamente o são!!! ;)

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  7. Anónimo23:22

    Grande verdade, Kavê. Somos mesmo dois países e dois povos maravilhosos.
    Estive para escrever na resposta ao seu primeiro comentário que, apesar de não termos atingido os níveis de progresso e riqueza que outros atingiram, somos muito mais felizes que outros povos mais desenvolvidos.
    Talvez porque nos contentemos com pouco. Ou porque nos mais pequenos gestos damos vivas á vida.

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  8. Almeida,
    para não fugir completamente do assunto do seu post, no Brasil a malha ferroviária foi completamente desmantelada pela vontade politico-eleitoreira associada ao mundo de dinheiro fornecido pela indústria do petróleo. Hoje temos milhares e milhares de quilômetros de estradas muitíssimo mal conservadas e umas poucas estradas de ferro que não levam a lugar algum!
    Quanto aos nossos povos, Almeida, sem querer dar uma de Pollyanna, prefiro acreditar que somos pessoas que encontram a felicidade onde quer que ela esteja, até mesmo bem escondida. Cá no Brasil, lido com pessoas pobres (comunidade carente é o termo politicamente correto, mas ando cansada do PC porém ineficaz)e o que vejo quase diariamente é uma gente muito pobre, em estado de quase completo abandono político-social-econômico mas ainda cheias de esperança. O que elas esperam? Que seus filhos cresçam num mundo melhor que o delas, que tenham saúde, que não convivam com a violência crua do tráfico e das ruas, que tenham trabalho e recebam dignamente por isso, enfim, por mais que sejamos todos muito diferentes, humanamente somos iguais e desejamos o mesmo: a felicidade. E a felicidade se constitui de pequeninas conquistas, não é mesmo?
    Um abraço

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