terça-feira, 27 de outubro de 2009

Política económica: Alemanha e Portugal com opções antagónicas, quem está certo?

1. Foi notícia de grande destaque ontem em diversos jornais (F. Times por exemplo), a decisão anunciada pelo novo Governo alemão de baixar significativamente os impostos sobre o rendimento, tanto das Famílias como das Empresas, a partir já de 2010.
2. Esse alívio fiscal, que tinha sido assumido em parte pela CDU/CSU vencedora das eleições, viria a ser melhorado no acordo de governo com os Liberais, parceiro da coligação governamental, que pretendiam uma redução fiscal ainda maior – a redução atingirá € 24 mil milhões/ano a contar de 2011, sendo que em 2010 o impacto da redução será parcial talvez não mais do que € 15 mil milhões.
3. Os € 24 mil milhões representam cerca de 1% do PIB alemão de 2009 e constituem segundo os analistas um ambicioso programa de estímulo à economia em tempos de crise, sobretudo às empresas que se situam nos sectores concorrenciais – a Alemanha vive muito da exportação de bens de equipamento que certamente vão aproveitar este estímulo para reforçar a sua capacidade competitiva.
4. Este ambicioso plano de desagravamento fiscal é assumido quando o défice do orçamento federal estimado para 2010 deverá atingir um valor elevado, de € 86 mil milhões ou seja mais de 3,5% do PIB.
5. A Alemanha não esteve com hesitações: a economia precisa de ser estimulada e para isso nada melhor do que reduzir impostos...estimulando o crescimento na sua perspectiva.
6. Por cá, temos o “dejà vu”...na edição de hoje do F.Times lá vem em honroso destaque a “infalível” receita:” Sócrates makes pledge on public investment” - mais obras públicas, mais despesa do Estado são a receita para “combater” a crise...
7. E, para que o Mundo tenha bem a noção de quanto é ambicioso este plano “anti- crise”, o F. Times esclarece que no seu discurso inaugural o PM deixou bem claro não estar disposto a ceder nos seus planos para investir mais de € 60 mil milhões (37,5% do PIB de 2009) durante os próximos 10 anos (temos Governo para 10 anos...) num novo aeroporto de Lisboa, ligações ferroviárias de alta velocidade, auto-estradas, hospitais, renovação de escolas...
8. Quanto a redução de impostos...nada a não ser a implícita promessa (entendi eu) de que, se necessário for, os impostos serão agravados para assegurar os meios financeiros que viabilizem este programa...
9. Quanto ao problema do excesso de endividamento, de que falou o PR (fora de moda, claro está...), também nada a não ser a implícita promessa (entendi eu) de que será "esticado" até onde for preciso para viabilizar o mesmo programa...
10. Que diferença abissal entre políticas económicas! Quem estará certo? A resposta é quase óbvia – a Alemanha está errada, profundamente errada! Os economistas do regime em Portugal não tardarão a demonstrar que assim é.

7 comentários:

  1. Há muito lobby a alimentar!

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  2. Se virmos bem, caro Dr. Tavares Moreira, qualquer investimento do estado com obras públicas é bem visto na europa, na medida que resulta numa maior hipoteca do país.
    Agora nós (eu)que não somos tolinhos e sabemos que esse endividamento tera de ser cobrado, dê lá por onde der, pensamos: Como e quando irá o país saldar a sua dívida externa? Como e quê iremos satisfazer as nossas dívidas?
    Ora bem, com o dinheiro dos contribuintes não será certamente, a menos que todos os bens privados, venham a ser nacionalizados. De resto, sobra-nos o território, o chão e o mar. Será que "alguem" está a pensar aluga-los como depósito e lixeira dos produtos tóxicos produzidos pela europa fora e que não são passíveis de reciclagem?
    Por outro lado e, perdoe-me a franqueza, não vejo de que forma a realidade alemã possa servir de exemplo para o nosso governo, tanto a nível financeiro, como qualquer outro.
    É que, daquilo que conheço, desde o social ao político e empresarial, as diferenças são abissais, sendo que nós (portugal) já nos encontramos lá nas profundezas mais profundas, completamente em apneia.

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  3. Mas se baixarmos os impostos, deixamos a recuperação ao consumo privado? (eheheh, isto dito com uma pose de estado, já faz de mim meio-ministro!)

    Na realidade estão os dois certos. A Alemanha está certa porque causa da política económica. Portugal está certo porque não tem dessas mariquices. Tudo depende do objectivo que se persegue que é o mesmo, a Alemanha a prosperidade da Alemanha e Portugal a prosperidade da Alemanha.

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  4. Caro Tavres Moreira

    O efeito prático das medidas alemãs é estimular o investimento SEM QUALQUER CONDICIONANTE, ou LIMITAÇÃO, por outras palavras, as medidas do governo alemão vai inveitavelmente, ATRAIR CAPITAIS ESTRANGEIROS.
    Repare que, de repente, a Alemanha passa a ser um destino muito atractivo para aplicações de capitais e para investimento: a maior economia da zona euro, uma taxa de poupança invejável, uma "malha" de competências inegualável e, ao contrário do que o (anterior) senso comum afirma; a sociedade alemã possui um elevado grau de abertura cultural. (Nâo nos podemos esqueçer que se trata do país com a maior comunidade imigrante ( representa mais de 10% do total da população) e com uma história de sucesso na integração de culturas não europeias); acresce uma localização ímpar....

    O efeito prático das medidas do actual governo (português) será de restringir o acesso aos fundos disponíveis a um número limitado de fornecedores, sem que as condições para uma maior capacidade de atracção de investimento sejam, significativamente, melhoradas; ficarão criadas as condições para Portugal se transformar numa placa giratória de mercadorias e serviços, sem que isso represente melhores capacidades para "fixar" investimento diversificado;
    A carga fiscal é elevada e as condições de acesso aos sectores pouco transparentes ou "amigáveis" para o investimento; neste quadro e com uma concorrência como a Alemanha, não vejo como a opção do governo seja a mais adequada...
    É que isto de "estar na europa" não se resume a "sacar" os fundos ou a "ajoelharmo-nos" ao amo de turno (Alemanha), convêm perceber que, se não seguirmos o que os outros praticam, arriscamo-nos a ficar de fora.

    Arrisco-me a "discordar" da formulação da sua pergunta e "quem tem razão?" e da sua resposta; porque a pergunta ´"correcta" é: "como vamos competir com a Alemanha? e "se as políticas que vamos prosseguir", vão atrair investimento?

    É verdade que podemos sempre escolher o curso de línguas em detrimento do de engenharia; o problema é que em épocas de escassez, o primeiro não ajuda a criar instrumentos que nos permitam alimentar, mas que fica bem fica....

    Cumprimentos
    joão

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  5. Está quente, caro Fartinho da Silva, está quente...mais um bocadinho e acerta na "mouche"!

    Caro Bartolomeu,

    Eu diria mesmo apneia, dispneia e outras formas de sufoco que muitos portugueses menos prevenidos já sentem e de que maneira, meu caro!
    É um pouco como um vírus gripal, que vai alastrando progressivamente, acabando com um crescente número de actvidades expostas à concorrência, asfixiando gradualmente a base competitiva da economia.
    E não há vacina para combater este vírus, só mesmo discursos que nada adiantm!

    Caro Tonibler,

    Essa superior convergência de interesses entre Portugal e a Alemanha, para além de por em evidência a visão rasgada e internacionalista dos "nossos" dirigentes, é mesmo uma descoberta de génio...parabéns, meu Caro!

    Caro João,

    Meu amigo pode discordar à sua inteira vontade da minha pergunta e da resposta que eu próprio engendrei...é que eu também não concordo!
    Não se surpreenda...só por não concordar é que ousei exprimir tais juízos...como terá percebido, admito...

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  6. Caro Tavares Moreira,

    Ainda no outro dia fiquei estupefacto quando o Presidente da CIP aceitou com naturalidade e sem grande preocupação um agravemento dos impostos, para fazer face ao défice que nos vamos deparar. Mas chocado ainda, fico quando ele depois de ter proferido estas declarações, venha todo preocupado e indignado atacar que se aumente quem recebe 450€ mês. Ou seja, mais dinheiro para quem o investe mal tudo muito bem. Dar um pouco de desafogo a quem tem de contar todos os tostões e não raras vezes estes não chegam, isso é que não!

    Vi ontem que 379 mil pessoas recebem o rendimento social de inserção. Ou seja, perto de 4% do país recebe rendimento social de inserção!!! Com isto não se indigna Van Zeller. Incompreensível.

    Quanto ao caso português, começo a acreditar que mais tarde ou mais cedo, algo vai correr mal. Sobrecarrega-se quem trabalha, aumenta-se impostos. Pergunto se não seria mais prudente, por exemplo, ao invés de fazer menos uns inúteis troços de auto-estrada, não portajar a SCUT do Grande Porto, onde existe um grande e importante fluxo.
    Ao invés de gastar dinheiro, cobrando depois aos contribuintes, não faria sentido estimular a economia pelo lado do crescimento privado, criando desafogo financeiro? Já chega de betão! Já chega de obra. É altura de parar e pensar no longo-prazo! Porque mais tarde ou mais cedo, alguém terá de pagar...

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  7. Caro André,

    Quanto as declarações do presidente da CIP, talvez ele quisesse referir-se aos impostos que incidem sobre os extra-terrestres...
    Não estou a vê-lo defender o agravamento da tributação sobre residentes na crosta terrestre e muito menos sobre o rendimento das empresas...
    No que se refere à "política do betão", se alguma coisa ficou provado nestas últimas eleições legislativas é que essa política ainda rende votos, por muito danosa que seja para o objectivo de correcção dos desequilíbrios estruturais da economia portuguesa...
    E, enquanto assim for, nada a fazer...

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