quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Desemprego é culpa da crise internacional...e PIB é obra nossa?

1. Numa sucessão algo desconcertante, foram na semana passada e já nesta divulgados dados característicos do andamento da conjuntura económica doméstica:
- O PIB, embora mantendo uma variação homóloga bastante negativa (-2,7%) cresceu 0,9% do 2º para o 3º trimestre, acima do ritmo médio observado na União Europeia que foi de 0,4%;
- O desemprego registou forte subida no 3º trimestre, para 9,8% da população activa, o valor mais elevado desde a mega-crise de 1983.
2. Como é habitual nestas conjunturas, logo que os números aparentemente favoráveis do PIB forma divulgados, assistimos a um coro de auto-congratulações por parte de alguns prestimosos comentadores e de responsáveis governamentais, revisitando falsa ideia de que esta melhor performance de um trimestre se deve a “trabalho de casa”, a sinalizar que estaremos no bom caminho...
3. Entretanto chegaram os dados muito comprometedores do desemprego e a reacção oficial não se fez esperar: esses são consequência da crise internacional...as reacções da oposição também não destoaram do habitual responsabilizando as políticas do Governo pelo forte aumento do desemprego.
4. Sempre que aparecem dados um pouco mais favoráveis os responsáveis governamentais não resistem à tentação propagandística de reclamar méritos que não são seus...e depois, como é natural, têm a maior dificuldade em explicar porque é que os dados desfavoráveis como este do desemprego são alheios à sua acção...
5. Por sua vez a oposição, em contra-ciclo, costuma desvalorizar as boas notícias e acentuar as más...
6. Já por várias vezes aqui tenho procurado exprimir a opinião de que o desempenho no curto prazo de uma economia tão aberta e dependente do exterior como é a nossa, em que os decisores se encontram quase desprovidos de instrumentos de actuação sobre a procura, nada ou quase nada tem a ver com políticas do Governo.
7. Assim, a evolução mais favorável do PIB no 3º trimestre é tanto obra do Governo como é sua responsabilidade o aumento do desemprego no mesmo período...
8. Parece-me todavia que estou pregando no deserto, pois a cada vaga de novos dados, melhores ou piores, a cena do auto-elogio ou da exclusão de responsabilidades repete-se invariavelmente...com a oposição em contra-ciclo.
9. Na nossa específica situação os Governos terão influência no desempenho das variáveis económicas no longo prazo, assumindo políticas que estimulem o investimento nos sectores mais competitivos...nós optamos pelo investimento em sectores pouco competitivos, comprometendo nesse esforço os escassos recursos de que ainda dispomos e atirando para as futuras gerações encargos cada vez maiores decorrentes desse esforço – o que podemos esperar nesse futuro?

12 comentários:

  1. Caro Tavares Moreira

    Para complementar o seu post, aqui vão as conclusões de um "paper" pelas Profas. Silvia Sgherri e Edda Zolli, publicado no dia 17/11/09 no blog www.voxeu.org sob o Título "Euro Area Sovereign Risk during the crisis"

    Quote
    Conclusions
    There is evidence that financial markets are increasingly sensitive to country-specific solvency concerns, and that has important implications for policymaking. In particular, it seems to support the position that restoring trust in the financial system is key – not only to shape the recovery, but also to increase the effectiveness of fiscal stimulus measures while reducing future governments’ financing costs. At the same time, it strengthens the argument for a credible commitment to long-run fiscal discipline and a clear exit strategy from a supportive policy stance as the crisis abates. Casting short-term fiscal expansion within a credible medium-term framework and envisaging fiscal adjustments as economic conditions improve could conceivably help euro area governments curb solvency concerns in financial markets. Structural reforms – enhancing potential growth and, thereby, medium-term revenue prospects – are also likely to work in the same direction. Together, these measures may be able to ensure that yesterday’s global financial crisis does not sow the seeds of tomorrow’s vicious domestic debt dynamics.
    Unquote

    Cumprimentos
    joão

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  2. O "crescimento" havido é explicado sobretudo pelas exportações. E não pelas medidas que o governo tomou ou diz que tomou a nível interno.
    Donde, o nosso Governo, mais do que Governo de Portugal, é um Governo global. Que actua a nível mundial, dinamizando a economia lá fora, para depois fazer crescer a nossa.
    Não tardará, Sócrates e Teixeira dos Santos estarão aí a dizer que a política foi essa. E vão prosseguir nela, com o TGV, em que a componente importada é relevante. A política genial é essa: fazer crescer as outras economias num primeiro tempo, para, depois, estas fazerem crescer a nossa. Temos pois génios à solta, aqui no quintal.

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  3. Uma economia arrasada
    por tanta incompetência,
    esta política arrevesada
    feita de muita prepotência.

    São fracos os indicadores
    sobre a nossa realidade,
    totalmente reveladores
    de solícita bestialidade.

    É uma dura realidade
    neste país desgovernado,
    revelando a bestialidade
    deste regime tisnado.

    Com Portugal a avançar
    conforme foi prometido
    não há como desenlaçar
    tanto engodo incontido.

    Epílogo

    É tal a quadratura
    de um círculo vicioso,
    desvendando a estatura
    de um discurso falacioso.

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  4. Caro Tavares Moreira,

    Quase que faz lembrar a situação do miúdo da escola. Quando tira melhor nota que o melhor da turma compara-se com ele. Quando tira uma má nota compara-se com o pior e diz que a culpa é dos professores.

    É uma característica bastante portuguesa a exclusão da culpa e da responsabilidade. Por exemplo, até hoje não conheci ninguém que tenha tido um acidente e tenha dito que foi culpa sua. Ou foi do outro, ou foi do carro, ou do pára-brisas....

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  5. Um verdadeiro cantinho da má-língua! Mas alguém duvida que a taxa de desemprego se deve especialmente à crise internacional? E que as medidas tomdas pelo Governo para combater a mesma crise não foram as adequadas? Pois, como o pior já passou, está agora "muita gente" preocupada pela coisa estar ainda muito longe!!!

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  6. Só o Trantagano para trazer um pedaço de comédia ao fim do dia. Bem-haja, sempre nos faz sorrir com a sua fantasia...

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  7. Caro João,

    Muito interessante a conclusão do "paper" que cita no seu comentário...a OCDE, em análise ontem divulgada, coloca forte ênfase no mesmo tipo de recomendações...mas quer uns quer outros mais não fazem do que pregar no deserto - na parte que nos respeita pelo menos.

    Caro Pinho Cardão,

    Nem mais, creio estarmos perante uma estratégia de crescimento longo alcance, que dá a volta ao Mundo até chegar até nós...
    Genial, sem dúvida, próprio de mentes sobre-iluminadas, mas de efeitos muito retardados temos de reconhecer...

    Caro Manuel Brás,

    Já sentia falta da sua poesia de intervenção, verdadeiro padrão de boa crítica sócio-política, só lhe faltando as imagens para configurar um Bordallo Pinheiro!

    Caro André,

    Aqui nem será tanto a exclusão da culpa, será mais a apropriação propagandística do mérito alieno...
    Concorda?

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Se ao menos contribuír com um sorriso no fim do dia, já não é mau. Com tanta azia e tanto sofrimento por que passam estes tão queridos patriotas e devotos da causa pública, ao menos que esqueçam por momentos as agruras de ser oposição! E ficará na memória de todos que lêm os vossos postais este tão denotado Serviço Público da Blogosfera, verdadeiramente gratuito e desinteressado e que a História não deixará de recordar com os incompreendidos da política portuguesa...

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  10. Caro Tavares Moreira,

    Concordo e subscrevo.

    Caro António Transtagano,

    "Ver José Sócrates apelar à moral na política é tão convincente quanto a defesa da monogamia por parte de Cicciolina."... "Partindo invariavelmente da premissa de que todas as notícias negativas que são escritas sobre a sua excelentíssima pessoa não passam de uma campanha negra - feitas as contas, já vamos em cinco: licenciatura, projectos, Freeport, apartamento e Cova da Beira -, José Sócrates foi mais longe: "Não podemos consentir que a democracia se torne o terreno propício para as campanhas negras." By João Miguel Tavares

    Será o desemprego a sexta campanha negra contra Sócrates?

    PS: Decidi responder-lhe por pena. É triste ver alguém esforçar-se tanto para dizer algo que nem próprio acredita, e nem sequer lhe respondem. Hehehe

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  11. concordo com o diz sr. Tavares moreira, somos um pequeno País com poucos recursos.
    Penso que a situação de desemprego se vai agravar muito mais e que as medidas que eventualmente irão se tomadas de nada valerão se a enconomia a nivel mundial não melhorar a passos largos.
    tivemos ao longo destes anos, deste a entrada do País para a CEE, todas as vantagens que mais nenhum país da união teve, mas desperdiçamos as ajudas comunitárias em politicas erradas, que agora estamos a sofrer as consequencias. Apenas que em portugal não se responsabiliza os politicos, que são eles que dirigem o país. Por isso continuam a esbanjar os parcos recursos que o país tem.

    - Somos o País na união europeia com mas espaço maritimo ,no entanto não temos uma frota de pescas com dimensão mundial.
    - Somos um pais com bons portos e com bons acessos, no entanto só recentemente se está a investir nos portos.
    - o Pais tinha uma industria naval forte, que ao longo dos anos de nacionalizações, e de desenvestimento ficaram obsoletos e foram desmantelados.
    e mais exemplos havia, mas as politicas que foram postas para a aplicação do dinheiro comunitário foram uma lástima, estando agora o pais que não fez o devido trabalho de casa, muito fragilizado.
    como bons portugueses esperamos sempre por algum milagre, nos salve de afundar esta nau, espero sinceramente que consigamos resistir a esta crise que será a pior crise que á memória em Portugal

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  12. Mas olhe, caro André, por aqui não há depressões. Apesar disso, a caravana...passa!
    E hão-de ver-se "danados" para o retirarem do poder!

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