quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

A propósito do artigo de Pedro Lomba, intitulado "A apologia da ignorância", publicado no jornal Público de ontem, lembrei-me do poema de Luis de Camões que, já no séc. XVI, constatava com tristeza como as circunstâncias levam a que se mude de opinião com toda a facilidade e como isso muda também a confiança.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

10 comentários:

  1. Cara Suzana:
    De facto, um exemplo perfeito de mudança, de acordo com as circunstância de tempo e as oportunidades de lugar...

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  2. ;)
    ... e "as" oportunidade(s)de (o) lugar... precisamente, caro Dr. Pinho Cardão!
    ;)

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  3. Anónimo15:34

    Grandes artistas. O eterno Camões, que, como se percebe pelo poema que a Suzana recorda, com um só olho viu séculos para além do seu! E alguns músicos vitais ao regime que tocam a música ao gosto dos auditórios que os aplaudem.

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  4. Como nos versos seculares de Camões...

    A sabedoria secular
    em palavras versejadas
    numa visão monocular
    sobre vontades adejadas.

    A vontade circunstancial
    esvoaça facilmente,
    com seu choro artificial
    de fragor deprimente.

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  6. De cada vez que me lembro do assessor Fernando Lima, concluo logo que há quem seja de uma coerência a toda a prova. É que não muda mesmo nada... Ou melhor, mudar muda: muda é de baixo para cima!

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  8. É curioso como tanto deste artigo reflecte, hoje como nunca, a forma comezinha e oportunista de uns tantos estarem na política. Provavelmente é congénito, e já vem do século XVI…
    Seja para onde for que nos viremos, na esperança de que de ali venha algo de bom que nos conforte, acabámos por ficar ainda mais decepcionados e estupefactos, cada atitude revela uma mente tonta e caduca, gente que pensa viver num mundo feito à sua imagem...

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  10. Caro Paulo:
    Concordo absolutamente consigo! Mas o meu amigo sabe que não me referia a este horizonte de onde, graças a esta tertúlia altruísta se produz e troca conhecimento, se interage na análise, o que muito contribui para o enriquecimento de todos os que por aqui passam.

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