sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Volta Mário Lino, tudo perdoado...

Estava tranquilamente em casa a assistir ao telejornal quando o pivot anunciou que o ministro das obras públicas tinha dito que a linha de TGV entre Lisboa e Madrid faria com que as praias lisboetas se transformassem em praias de Madrid. Um brincalhão este pivot, pensei.
Passaram a palavra ao ministro. Afinal o brincalhão era o dito. Ao pé desta tirada tenho de concordar que o ´jamé´ e 'o deserto da margem sul' foram coisas inocentes.
Tudo perdoado Lino. Podes regressar.

15 comentários:

  1. "Que da ocidental praia lusitana..."

    Em busca de escaldões
    nesta costa ocidental,
    virão vastas multidões
    para delírio total!

    Um TGV auspicioso
    para tamanhas aventuras,
    há que estar atencioso
    pois serão tantas as farturas…

    Real ou imaginada
    a crise está presente
    de forma iluminada
    e bastante reluzente.

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  2. E, justiça se faça, o Lino era bem mais divertido.
    Para mais, até parece que sabe cantar o fado!...

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  3. Ora, aqui está um ministro com prioridades e objectivos!...
    Já estou a ver os espanhóis a levantarem-se cedinho, não vá a lotação do tgv esgotar, toalha debaixo do braço, sandocha no saco plástico e até logo, vou à costa da caparica...
    Santa Paciência, não há "coiso" que aguente tanto!...

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  4. Parece (contaram-me) que o ministro alega que os "industriais da palha" eram contra o caminho de ferro aquando da sua origem porque iam perder com a alimentação dos animais que puxavam carroças. Nesta altura, a ouvirem isto, os ditos industriais devem estar com perspectivas mais positivas...

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  5. Vale a pena conhecer a transcrição de um excerto das declarações de A. Mendonça no "momento Lino" relativo à interacção do TGV com a "Ocidental Praia Lusitana":

    «Quando o comboio foi introduzido no século XIX, provavelmente as carroças que eram puxadas a cavalos caíram e se calhar na altura os agentes económicos que estavam ligados à exploração das carroças e que levavam as pessoas ficaram extremamente tristes. E todas as industrias que estavam associadas, a industria da palha por exemplo. Reparem, os industriais que estavam preocupados com o abastecimento da palha para os cavalos ficaram preocupadíssimos porque de facto a sua industria caiu.»

    Confesso faltar-me o adjectivo apropriado para classificar semelhante declaração(*).

    (*) - Desenvolvimento no blogue Fliscorno.

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  6. Tentando adivinhar a fonte de inspiração de tão ousada visão do futuro para as areias de Portugal como terras de Espanha, dei com a Nau Catrineta:

    Lá vem a nau Catrineta
    Que tem muito que contar!
    Ouvide, agora, senhores,
    Uma história de pasmar.
    Passava mais de ano e dia
    Que iam na volta do mar
    Já não tinham que comer,
    Já não tinham que manjar.
    Deitaram sola de molho
    Para o outro dia jantar;
    Mas a sola era tão rija
    Que a não puderam tragar.
    Deitaram sorte à ventura
    Qual se havia de matar;
    Logo foi cair a sorte
    No capitão general.
    -- Sobe, sobe, marujinho,
    Àquele mastro real,
    Vê se vês terras de Espanha,
    As praias de Portugal.
    "Não vejo terras de Espanha,
    Nem praias de Portugal;
    Vejo sete espadas nuas
    Que estão para te matar".
    -- Acima, acima gajeiro,
    Acima ao tope real!
    Olha se enxergas Espanha,
    Areias de Portugal
    "Avíçaras, capitão,
    Meu capitão general!
    Já vejo terra de Espanha,
    Areias de Portugal.
    Mais enxergo três meninas
    Debaixo de um laranjal:
    Uma sentada a coser,
    Outra na roca a fiar,
    A mais formosa de todas
    Está no meio a chorar".
    --Todas três são minhas filhas,
    Oh! quem mas dera abraçar!
    A mais formosa de todas
    Contigo a hei-de casar.
    "A vossa filha não quero,
    Que vos custou a criar".
    -- Dar-te-ei tanto dinheiro,
    Que o não possas contar.
    "Não quero o vosso dinheiro,
    pois vos custou a ganhar!
    -- Dou-te o meu cavalo branco,
    Que nunca houve outro igual.
    "Guardai o vosso cavalo,
    Que vos custou a ensinar".
    --Dar-te-ei a nau Catrineta
    Para nela navegar.
    "Não quero a nau Catrineta
    Que a não sei governar".
    -- Que queres tu, meu gajeiro,
    Que alvíçaras te hei-de dar?
    "Capitão, quero a tua alma
    Para comigo a levar".
    -- Renego de ti, demônio,
    Que me estavas a atentar!
    A minha alma é só de Deus,
    O corpo dou eu ao mar.
    Tomou-o um anjo nos braços,
    Não o deixou afogar.
    Deu um estouro o demônio,
    Acalmaram vento e mar;
    E à noite a nau Catrineta
    Estava em terra a varar.

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  7. Bom, se analisarmos bem, tendo em conta a geografia do país, o projecto do ministro até nem é tão “desasado” quanto o do ministro Lino.
    Agora, para ser efectivamente exequível, não tenhamos ilusões que basta construir a linha do TGV. É preciso também construir infra-estruturas de acesso, de apoio e de oferta hoteleira, em todo o riquíssimo património ambiental que se estende desde a Nazaré até Sines, nesta óptica do aproveitamento da existência do TGV para valorizar o nosso turismo.
    Como todos muito bem sabemos, a costa portuguesa é de uma riqueza imensa, tanto em paisagem natural, como em qualidade ambiental, as quais também sabemos perfeitamente que se encontra muitíssimo degradada e a necessitar de profundas intervenções a nível de ordenamento.
    Já que os “marotos” insistem na construção do TGV, então que o utilizem para valorizar aquilo que de bom ainda temos, usando de bom senso e de sentido real das potencialidades das diferentes áreas, respeitando os eco-sistemas e a salvaguardando os interesses do estado e das populações, conciliando com uma oferta de turismo, honesta e de qualidade, acessível aos de cá e atractiva para os de lá.

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  8. Bartolomeu,

    Pare lá de dar ideias ao homens! Já estou a ver o próximo grande desígnio nacional "Alargamento do Comboiozinho da Costa da Caparica de Caminha a V R e S. Atnónio" com os respectivos interfaceamentos em que se constrói, alternativamente, um eléctrico como o da Praia das Maças ou um elevador como o da Nazaré.


    Bem vistas as coisas, não é muito mais estúpido que o TGV...

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  9. Ui, ui caro Tonibler, sa vamos pelo carreiro do "já estou a ver"... rápidamente começamos "a ver" as caixas de robalos e os mercedes e tal, e tal, e tal, para as concessões das explorações d'isto e d'aquilo e para as autorizações de construção de mais aqueloutro...

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  10. A melhor, segundo me contaram, será o comentário de Miguel Beleza, no TVI-24: "Finalmente vamos ter o privilégio de encontrar a Família Real de Espanha a banhos na Caparica!"

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  11. A melhor, segundo me contaram, será o comentário de Miguel Beleza, no TVI-24: "Finalmente vamos ter o privilégio de encontrar a Família Real de Espanha a banhos na Caparica!"

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  12. Anónimo18:48

    Ouvi Miguel Beleza a dizer isso. Quase tão divertido como o ministro Mendoza.

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  13. Anónimo01:48

    Suponho, e espero, que Miguel Beleza tenha dito isso em tom do mais puro gozo com o que o ministro Mendonça tinha dito antes...

    Agora num tom mais sério, é claro que a existencia da AV induz procura e, no meio dessa, naturalmente mais procura turistica. Agora, será isto tão directo assim? Nem tanto e não pode ser dito dessa forma. A evolução das economias e o crescimento do PIB (e do RNB) tem impactos na evolução da geração de viagens por qualquer ponto. O valor exacto do incremento é obtido fazendo uma série longa na qual se relaciona a evolução do PIB com a geração de viagens. Tendo-se aqui as viagens geradas pelo ponto A vai fazer-se o mesmo para o ponto B e após isto conjugar os dados de ambas por forma a obter a influência do PIB de A na geração de viagens de A para B e do PIB de B na geraçao de viagens de B para A.

    Numa situação de regular e normal funcionamento das economias, mesmo sendo totalmente exagerado, ainda se poderia de alguma forma, dando vasto desconto e entendendo a expressão usada pelo ministro Mendonça como expressão de retórica e não textual, aceita-la. O problema é que não é esta a realidade, não estamos num cenário de regular funcionamento das economias e em larga medida por isso as previsões de passageiros sairão, quase certamente, furadas.

    Com um problema adicional, o para onde fluem as pessoas e os capitais quando há uma via de comunicação rápida e fácil entre quaisquer dois pontos sendo A rico e B pobre. Mostra-nos a experiencia que pessoas e capitais, havendo estas discrepâncias, fluem do mais pobre para o mais rico. Aplicando isto à AV Lisboa-Madrid temos que caso o fosso entre Portugal e Espanha se continue a agravar (ou, mais propriamente, o fosso entre Lisboa e Madrid) o que sucederá inevitavelmente é a fuga de empresas e pessoas de Lisboa para Madrid. Deixando as empresas de ter representação fixa em Lisboa e passando a ter meras representações feitas por terceiros ou nem isso o que leva a que o número de viagens de negócios diminua. E lá ficamos só com as viagens de turismo (de Madrilenos para a praia nos dizeres do ministro Mendonça)... que são fraco consolo para uma linha de AV.

    Claro que o problema pode ser posto ao contrário também: que compensações teria Portugal que pagar a Espanha se desistisse de construir a LAV de Lisboa ao Caia? Mas isto são contas doutro rosário.

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  14. Zuricher,

    Essa procura turística deduziu da pressão nos fluxos aéreos e rodoviários? Pois...

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  15. Anónimo15:01

    Não, Tonibler, e eu não falei em procura, apenas geração de viagens que era o que me interessava para fazer a relação com o crescimento económico. A relação directa é entre PIB e geração de viagens e a geração de viagens é a base do processo de avaliação da procura num dado transporte. Daqui parte-se para, uns passos adiante, ver os impactos de vários factores (entre os quais se introduz novamente o crescimento económico) na repartição modal e daí obtemos a procura de cada uma das opções para levar a cabo a viagem.

    Em condições normais há procura para o comboio que vem por transferência dos outros modos e há procurar criada pelo próprio comboio ao reduzir o tempo de viagem e aumentar a facilidade da viagem. Tudo isso está estudado e carcterizado em estudos das casas ATKearney, EPYPSA e Steer Davies Gleave.

    Unicamente o que tentei transmitir é que dado haver em todos eles uma premissa de base errada e que é fundamental para a geração de viagens (o crescimento económico) há uma elevada probabilidade dos cálculos de passageiros para o futuro comboio de AV sairem furadas e a procura não ser nem a que se espera inicialmente nem ter o crescimento previsto. Isto sem prejuízo de aumento do número de viagens turisticas junto com todas as outras, pelo menos numa primeira fase, mas aumento inferior ao esperado. Ao mesmo tempo enunciei o axioma do fluxo de gentes e dinheiros consoante as acessibilidades que não foi tido em conta e poderá ser algo que virá a contribuir, no futuro a médio e longo prazo, para diminuição da procura global de viagens entre Lisboa e Madrid.

    Apenas isto.

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