Há poucos momentos um dos nossos clarividentes comentadores políticos, exímios em dissecar estratégias, propósitos e entendimentos de bastidor que talvez-tivesse-havido-mas-se-não-houve-foi-pena, terminava a sua alocução sobre os candidatos à liderança do PSD dizendo “não sei dizer imediatamente quem é que vai ficar em segundo ou em terceiro lugar…”, ditando com displicência a vitória do que “já partiu com avanço”. Dizia-se perplexo com a candidatura de Paulo Rangel e de Aguiar Branco porque se dirigiam "ao mesmo eleitorado", como se os eleitores de todos os que se candidatam não fossem todos os militantes do Partido. E antecipava divisões, calculava os pesos relativos dos apoios e concluia, em resumo, que estava baralhado com as estratégias...
É interessante fazer zapping logo a seguir a uma notícia que sai um pouco do que tinha sido previsto ou decretado pelos cálculos dos nossos analistas de serviço. A quantidade de palpites, de previsões e de subtilezas reveladas por segundo é fascinante e em poucos minutos são descritos cenários, intrigas e conluios que logo fazem esquecer a realidade. Mas há um traço comum que me parece poder identificar-se e esse é o de que tudo tem que passar-se de acordo com um código qualquer que eles adoptaram, um código de regras monótonas e secas, de tácticas insinuadas para os espertos desvendarem. Um código que lhes serve de guião e que ignora que a politica é feita de imprevisibilidade e não de controlos e de acordos de secretaria, que cada situação exige uma resposta, que a ambição dita impulsos, exige riscos e, com sorte, que nem tudo é calculado ao milímetro porque quem arrisca sabe e aceita que pode ganhar ou perder no terreno democrático. Nesse tal código já não existem ideais, esperança ou desejo de combater por uma causa em que se acredita. Nesse código clama-se pela renovação, pela capacidade de surpreender e de seduzir, mas só se admite o engano, o malabarismo ou a jogada de bastidor. Nesse código viciado não existe lugar para o pleno exercício democrático, já só existe lugar para jogos de poder, no sentido da apropriação e não no sentido de serviço.
Por mim, que acredito nas virtudes da democracia e do debate aceso de ideias sem insultos nem insinuações, que acredito que há quem queira pôr as suas capacidades ao serviço de todos e se sujeite à escolha em liberdade, por mim espero bem que esse código seja banido e dê espaço a uma vivência democrática em que seja o voto esclarecido a decidir quem é o melhor candidato entre todos os que se apresentarem.
É interessante fazer zapping logo a seguir a uma notícia que sai um pouco do que tinha sido previsto ou decretado pelos cálculos dos nossos analistas de serviço. A quantidade de palpites, de previsões e de subtilezas reveladas por segundo é fascinante e em poucos minutos são descritos cenários, intrigas e conluios que logo fazem esquecer a realidade. Mas há um traço comum que me parece poder identificar-se e esse é o de que tudo tem que passar-se de acordo com um código qualquer que eles adoptaram, um código de regras monótonas e secas, de tácticas insinuadas para os espertos desvendarem. Um código que lhes serve de guião e que ignora que a politica é feita de imprevisibilidade e não de controlos e de acordos de secretaria, que cada situação exige uma resposta, que a ambição dita impulsos, exige riscos e, com sorte, que nem tudo é calculado ao milímetro porque quem arrisca sabe e aceita que pode ganhar ou perder no terreno democrático. Nesse tal código já não existem ideais, esperança ou desejo de combater por uma causa em que se acredita. Nesse código clama-se pela renovação, pela capacidade de surpreender e de seduzir, mas só se admite o engano, o malabarismo ou a jogada de bastidor. Nesse código viciado não existe lugar para o pleno exercício democrático, já só existe lugar para jogos de poder, no sentido da apropriação e não no sentido de serviço.
Por mim, que acredito nas virtudes da democracia e do debate aceso de ideias sem insultos nem insinuações, que acredito que há quem queira pôr as suas capacidades ao serviço de todos e se sujeite à escolha em liberdade, por mim espero bem que esse código seja banido e dê espaço a uma vivência democrática em que seja o voto esclarecido a decidir quem é o melhor candidato entre todos os que se apresentarem.
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ResponderEliminar… ou cidadãs… : )
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ResponderEliminarEis, cara Drª. Suzana, um resumo muitíssimo sensato, das "regras" mais elementares que devem ser adoptadas por todos quantos desejam exercer o seu direito de opinião... antes de abrirem a boca, ou premir as teclas.
ResponderEliminarCaro Paulo:
ResponderEliminarTem toda a razão. A grande maioria dos "comentadores" oficiais não traz, nem tem, qualquer valor acrescentado.
Conseguiram, de uma maneira ou de outra, tornar-se conhecidos. Mas o ser conhecido não traz qualquer autoridade no que quer que seja.
E muitos tornaram-se arrogantes, ao ponto de julgarem o seu pensamento é o do país. Ainda há dias, dois desses pensadores referiam que a política orçamental de "despejar dinheiro na economia" estava correcta, porque todos os comentadores no ano passado o tinham dito...
Observações oportunas, Suzana.
ResponderEliminarOs media favorecem a expressão destas "opiniões" e "análises" porque elas seguem o perfil dos programas mais vistos nas TV: as telenovelas.
Ouvi ontem a "análise" do analista-jornalista-cronista-oráculo a que se refere. E ficou-me a nítida sensação que aqueles "cenários" estavam estudados há muitos dias, fazem parte de um guião escrito há tempos aguardando a oportunidade que surgiu ontem.
Continua a não importar o debate das ideias, mas o espectáculo. Vejo com tristeza, porém, que a grande maioria dos políticos se aproveita disso. Um dia estes os que se apresentam a disputar a ribalta e se aproveitam deste artificilismo, arrepender-se-ão do poder que conferem a estes opinadores profissionais. Tal como alguns dos que o fizeram no passado se arrependem hoje.
Obrigada, Paulo. Um assunto que me interessa.
ResponderEliminarAlgo a considerar.
Caro Paulo, o que nos vale é que somos um povo de marinheiros, que este mar não é para marinheiros de água doce!
ResponderEliminarCaro bartolomeu, os que querem exercer o seu direito é que têm que ter a sensatez de distinguir quem é que cumpre as regras ou não, é pedir demais que quem fala e escreve as tenha sempre em conta :)
caros Pinho cardão e ferreira d'Almeida, por isso mesmo os ditos comentadores e analistas proliferam como cogumelos!