1. As notícias mais recentes dão conta de que a economia portuguesa parece ter “resolvido” abraçar o modelo de crescimento ZERO, na melhor das hipóteses: começa a dizer-se que mesmo o crescimento de 0,7% do PIB para 2010, pressuposto na proposta de OE que hoje vai ser votada, será optimista...depois de se ter sabido que o comportamento no 4º trimestre de 2009 voltou a ser negativo...
2. Com as restrições orçamentais que impendem sobre o Estado e as financeiras que se colocam ao resto da economia, as perspectivas para os próximos anos não consentem que se fale em crescimento muito acima de ZERO...
3. À volta de ZERO parece ser a nova bandeira do nosso modelo de crescimento económico...
4. Recordo-me de ter lido há alguns bons anos (em 2000, salvo erro) um estudo de dois (muito) prestigiados economistas portugueses, Sérgio Rebelo e João César das Neves, encomendado pela AIP, tendo por tema a análise dos factores de competitividade da economia portuguesa.
4. Nesse estudo revelavam-se algumas conclusões que hoje nos devem deixar no mínimo perplexos e profundamente entristecidos:
- Num período de 30 anos, 1963-1992, a economia portuguesa figurava entre as 10 economias mais dinâmicas do Mundo...7 asiáticas, uma outra europeia (Malta) e uma africana (Botswana);
- Num período mais recente, 1986-1995, a economia portuguesa tinha crescido 3,4%, mais 1% em média do que as suas congéneres europeias...
5. Não deixa de ser curioso notar que o primeiro destes períodos foi cortado praticamente a meio pela revolução de 25/04/74...o que significa que apesar das perturbações sérias no funcionamento do aparelho produtivo, a economia aguentou e foi capaz de superar os traumas daí resultantes...voltando a crescer bem, passados poucos anos...
6. Que aconteceu a esta economia entretanto, para chegar à lástima que hoje vemos?
- Desaprendeu de criar riqueza, não sabe produzir?
- Deixou que um Estado (em sentido amplo) gordo e gastador – aliado ao peso dos sectores protegidos da concorrência – passasse a consumir excessivos recursos, anulando a capacidade competitiva dos outros sectores?
- Perdeu, desmotivou ou afastou muita gente qualificada?
- Deixou de ser atractiva para o investimento privado (e porquê)?
- Paga impostos em excesso, desincentivando a produção e o investimento?
- Foi anestesiada pelo Euro, não entendendo o que significava a adesão a uma zona de moeda forte e ainda não recuperou desse estado anestésico?
7. Quaisquer que sejam as razões – provavelmente todas as indicadas e mais algumas – é extraordinário que uma economia (e um País, por ela arrastado) tenha conseguido degradar-se tanto precisamente quando os responsáveis políticos mais promessas de bem-estar anunciaram...
8. Um Livro Branco esclarecendo as razões deste fracasso e apontando caminhos de renovação seria recomendável.
A questão é quem escreveria o livro, caro Tavares Moreira.
ResponderEliminarPorque, se fossem os Grandes Economistas e os Grandes Pensadores do costume, a receita seria mesma.
Uma colecção dos textos publicados desde o início no 4R e a aplicação do que neles vem referido resolvia o problema.
Aprisionada, sufocada, policiada?
ResponderEliminarTalvez haja ainda muito para ser escrito... pelos poetas do mundo...
ResponderEliminarQuem for picado pela curiosidade, ouça o clip, sem ligar à imagem. Se o não fizer, corre o risco de hipnose...
http://www.youtube.com/watch?v=lee6ndsGu6w&feature=channel
;)))
"A questão é quem escreveria o livro, caro Tavares Moreira."
ResponderEliminarClaro. Mas a coisa ainda é pior: Mesmo que o livro fosse escrito pelas pessoas "certas", chegaria ao público sob uma saraivada de críticas das pessoas "erradas". E o público eleitor escolheria ... o que tem escolhido. Não há volta a dar: o nosso Povo tem o que merece. Neste ponto, Medina Carreira não tem razão: não é líquido que a "verdade" dele, quando confrontada com a "verdade" dos políticos que generalizadamente despreza recolhesse apoio maioritário.
Caro Tavares Moreira, o seu post fez-me pensar em algo colateral mas intimamente relacionado com o que escreve.
ResponderEliminarPortugal é uma democracia. Os cidadãos eleitores podem fazer as suas escolhas. Não apenas no momento do voto mas entre eleições com o seu pulsar enquanto sociedade civil. E o que é facto é que os cidadãos vão optando pela continuação da receita seguida pelo actual governo. Por muito que se ache que é uma receita errada e leva a efeitos nefastos a maioria quer segui-la. Ora, respeitando o regime democrático eu, por mim, respeito o direito da maioria escolher jogar-se dum penhasco se tal lhe aprouver. Ficarem esborrachados no fundo da ravina é a mera consequência de atirarem-se do penhasco mas da mesma forma que cada cidadão tem que ser responsavel pelas suas decisões e opções colhendo delas os frutos aplicaveis, também as sociedades colectivamente recebem os benefícios das escolhas e opções que tomam.
Portugal estagnará e será o parente pobre da Europa. Tudo bem, a maioria escolheu esse rumo. Acatarão as consequências.
O único problema é a seriedade e a honestidade de quem nos desgoverna. Se tívessemos pessoas sérias, honestas e competentes na administração pública não estaríamos a discutir percentagens de crescimento e divergências.
ResponderEliminarCump.
JGG
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarÉ um bom ponto,esse...
Só encontro uma solução, que consistirá em incumbir os mesmos autores do estudo que referi, conhecidos pela sua total independência intelectual e política, de actualizar o seu estudo, procurando identificar os factores explicativos deste formidável retrocesso económico
Caro Bartolomeu,
Que há muito para escrever, estamos com certeza de acordo...resta saber o quê...
Caros Zuricher e JMG,
Com a devida vénia, cumpre-me discordar do vosso ponto...as pessoas aparentemente suportam o plano inclinado em que nos encontramos por três motivos fundamentais:(i) resignação perante a ausência de alternativas que lhes sejam apresentadas com suficiente vigor e clareza;(ii) bombardeamento diário e sistemático por parte de uma comunicação social domesticada e regimentalizada; (iii) desinteresse alimentado por discursos "nihilistas" que, transmitindo a noção de que "não há nada a fazer", "isto já não tem solução", acabam por ser cumplices dos incumbentes ajudando-os a manter-se indefinidamente...
Ora isto não é imutável, meus Caros, nem é uma fatalidade...
Pelo menos é o que penso, veremos em breve se assim é ou não...
Caro Gagliardini Graça,
Bem vindo a este blog, com seu interessante comentário...se for, como penso, familiar de meu velho amigo e Colega Mário G. Graça, ilustre economista, peço que lhe faça chegar um forte abraço deste velho condiscípulo!
É muito interessante o comentário que o caro Dr. Tavares Moreira, dedica aos comentadores Zuricher e JMG, pela precisão dos motivos que evoca.
ResponderEliminarConcordo inteiramente com a sua análise, não descurando porém a hipotese de estarmos a deixar-nos absorver por uma corrente, ou um remoinho que nos puxa cada vez mais para o fundo.
Os procedimentos aconselhados no caso dos remoinhos, são:
Suster a respiração, e ao atingir o fundo, impulsionar o corpo com a máxima força para fora, voltando a nadar até à superfície. Isto porque, claro está, o remoinho tem forma cónica e um movimento concêntrico.
São vários os elementos que formam este enorme remoinho em que nos vemos envolvidos e contra os quais nos parece impossível lutar.
Mas... será que este remoinho tem um ponto fraco?
Um ponto onde seja possível ataca-lo, enfraquecê-lo e vencê-lo... antes que seja ele a vencer-nos?
Eu penso que sim. Estou certo!
Os diagnósticos estão todos feitos, os problemas, completamente identificados, resta-nos estabelecer o plano de acção.
Vamos suster o fôlego e esperar bater no fundo?
Ou vamos encontrar conjuntamente o ponto frago do remoinho e sair dele?
Interessatíssima e inspiradora sua exegese do fenómeno do remoinho aplicada aos movimentos no plano socio-político...
ResponderEliminarAdmito que a linguagem metafórica que utiliza tenha virtualidade para expliocar o fenómeno político em Portugal- abrindo-nos uma janela, ainda que pequena, de esperança...
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarPermita-me divergir neste ponto. Não me pareçe que se possa "sair" da crise com um Livro Branco.
Deixe-me ilustrar com uma história antiga.
Entre 800 e 1200 da nossa era existiu uma colónia de vikings na Gronelândia.
A Pequena Idade do Gelo, tornaram as condições de existência dos colonos impraticáveis: a agricultura tornou-se impossível e a criação de gado também.
No final, para os que não fugiram, as condições levaram à morte pela fome. (Existem bastos vestígios arquelógicos desses últimos tempos).
Os vikings podiam ter adoptado as estratégias de sobrevivência que o esquimós utilizavam; conheciam e conviviam com estes mas, não o fizeram....
Desde que o PORDATA ficou disponível, consulto-o diariamente o nosso saldo de natalidade: estmos (ao dia de hoje 14/03/10) com um défice (nascimentos/mortes) é de +/- 600. Provavelmente, este ano, teremos o terceiro ano com mais óbitos que nascimentos.
Nenhuma decisão de investimento deixa de ter em conta o factor natalidade e isso ainda é mais importante, quando se investe no espaço europeu.
Não existe qualquer lei que impeça os povos e as nações de morrerem...já deveríamos ter percebido que, a pertença à União Europeia, não vai impedir que desaparecamos; 900 anos de história não garantem o futuro, apenas atestam a resilência, o mal é confundirmos estes dois conceitos....
Cumprimentos
joão
Caro João,
ResponderEliminarCom a devida vénia, permita-me duas breves observações:
a) Eu não disse que um Livro Branco resolveria os nossos problemas...a maior virtude de um Livro Branco seria clarifcar as razões pelas quais chegamos a este estado de lástima...muito trabalho teríamos de fazer depois...
b) A questão do saldo fisiológico ser negativo não será uma fatalidade se tivermos dirigentes com a clarividência necessária para ultrapassar essa indesejável evolução...não é o caso vertente, com certeza, mas pode bem acontecer que os próximos ou os próximos dos próximos percebam o problema e adoptem medidas de fomento da natalidade, o que nem é asssim tão difícil.
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarFica o esclarecimento e a devida desculpa.
Apenas não acredito no futuro, daí o meu comentário.
A nossa situação já é irreversível:tanto no plano económico e político, como no demográfico.
No económico o conjunturalismo em que vivemos, apenas adia os problemas com isso, destroí as alternativas, ao exaurir as capacidades de financiamento de novas estratégias;
No político, a captura do espaço por interesses egoístas, impede a estruturação de estratégias de saída;
No demográfico, estamos próximo de entrarmos num caminho irreversível, note que, qualquer política de fomento de natalidade, terá efeitos apenas daqui a 30 anos e, teríamos que começar já...
As sociedades morrem, como morrem os indíviduos que as compõem....em dmocracia a diferença reside no facto de sermos todos responsáveis...
Cumprimentos
joão
Caro João,
ResponderEliminarAnoto seus esclarecimentos.
Relativamente ao problema económico, compreendo e subscrevo a sua perplexidade: quando se ouve ou lê os comentaristas do costume (para já não falar dos políticos, que não vale a pena) referir que este OE ou o PEC intentam resolver os problemas económicos com que o País se defronta,...a perplexidade é total...
O que vai ser o nosso futuro, quando temos "opinion-makers" sem a menor noção quanto ao essencial do nosso problema económico?
Será transferindo ainda mais recursos para o Estado - seja com que pretexto for - que esse problema se resolve?
Quanto à questão da natalidade, parece-me que uma boa política de fomento se impõe, começando com um arrojado programa de incentivos fiscais...não me parece que a nova lei do casamento dê qualquer ajuda para a resolução do problema, não sei se concorda...
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarCompletamente de acordo; aliás, estas últimas inovações matrimoniais são uma estratégia, inovadora é certo, de aumento da natalidade........
Cumprimentos
joão