Ao longo da vida cruzei-me com muitas pessoas, simples, humildes, arrogantes, vaidosas, mesquinhas, amorosas, ambiciosas, trapaceiras, honestas, simpáticas, só para falar de alguns tipos. Os que me incomodam, e incomodaram mais, são os estruturalmente viciados em não aceitarem e compreenderem as qualidades, virtudes e competências dos outros, talvez por utilizarem como aferidor as suas próprias características, deficientes, limitadas e preconceituosas. Quem ficar sob a sua alçada ou campo de observação depressa sentirá os seus efeitos como qualquer pardalito que, ao levantar voo, e julgando que ninguém o vê, acaba por ser alvo de mortais tiros.
Este mundo não é propriamente o mais indicado para as pessoas de bem, digam o que disserem, prometam o que prometerem e ensinem o que ensinarem. A história do homem é mais do que ilustrativa desta impossibilidade em conseguir criar condições para que o prometido por várias doutrinas se possa concretizar. Até o conceito do pecado se pode tornar ele próprio num pecado. O facto de serem sujeitos a lavagem, expiação, faz-me lembrar certos branqueamentos tão característicos da nossa sociedade e se por um lado alimentam o lado negativo de certas pessoas, ao permitir que os repitam incessantemente, por outro até traumatizam os que não tendo tido qualquer intencionalidade ainda são acusados de tamanho abuso.
Ao ler “Ah, Ledos, Ledos Dias” de G. Orwell, este autor, que só permitiu a sua publicação após a sua morte, dado que se auto retratava na mesma, conta que sofria de enurese noturna em criança. Como estava num colégio foi alvo de castigos e ofensas morais e físicas que o marcaram. Diziam-lhe que urinar na cama era um ato de maldade, mas era algo que não conseguia controlar, e tinha consciência disso, aceitando com naturalidade a primeira, não a questionando. “Era possível, portanto, cometer um pecado sem sabermos que o estávamos a cometer, sem o querermos cometer, e sem sermos capazes de o evitar”. Afinal era possível cometer um pecado sem saber, ou seja, um pecado podia “acontecer”, mesmo contra a nossa vontade. Terá sido a lição mais importante da sua vida, já que constituiu o momento em que soube que não lhe era possível ser bom. A vida não lhe prometia nem garantia nada de bom além de que as atitudes dos educadores e responsáveis conseguem transmutar uma criança no ser mais malvado do mundo.
Um pequeno e curioso episódio que merece alguma reflexão. O melhor é tentar passar pela vida meio despercebido, longe dos juízos críticos de quem não tem capacidade para julgar ou apreciar, não obstante os créditos que orgulhosamente ostentam e se possível não urinar na cama. Não despertar a atenção ou, caso não se consiga, evitar a todo o transe qualquer forma de mediatismo, optando por uma atitude nómada, não no sentido literal do termo, mas na sua forma poética, não se é conhecido não se aproximam com facilidade e, a partir do momento em que se começa a estabelecer pontes ou conhecimentos mais profundos, afastar-se airosamente à procura de novos espaços e de novas gentes, talvez deste modo se consiga manter amizades fugindo a muitos atropelos e a tentativas de assassinato da alma, porque muitas pessoas necessitam de alimentar-se da seiva da vida dos outros, sem se importunarem com as consequências das suas ferozes e injustas mordidelas.
Este mundo não é um bom local para pessoas de bem. Nem nunca será. Vimos do nada e mergulharemos um dia no esquecimento. Uma fugaz e triste existência que apenas serve para apreciar a beleza da poesia, a única que se pode apreciar em qualquer circunstância seja ela qual for, longe das honras, das placas douradas e das frias lápides de mármore que, por muito que representem, nunca irão sobrepor-se ou eternizar-se nem cumprir o verso “se vão da lei da morte libertando”, antes pelo contrário, através da lei da morte regressarão ao tempo de onde saíram, o eterno esquecimento.
Ao ler “Ah, Ledos, Ledos Dias” de G. Orwell, este autor, que só permitiu a sua publicação após a sua morte, dado que se auto retratava na mesma, conta que sofria de enurese noturna em criança. Como estava num colégio foi alvo de castigos e ofensas morais e físicas que o marcaram. Diziam-lhe que urinar na cama era um ato de maldade, mas era algo que não conseguia controlar, e tinha consciência disso, aceitando com naturalidade a primeira, não a questionando. “Era possível, portanto, cometer um pecado sem sabermos que o estávamos a cometer, sem o querermos cometer, e sem sermos capazes de o evitar”. Afinal era possível cometer um pecado sem saber, ou seja, um pecado podia “acontecer”, mesmo contra a nossa vontade. Terá sido a lição mais importante da sua vida, já que constituiu o momento em que soube que não lhe era possível ser bom. A vida não lhe prometia nem garantia nada de bom além de que as atitudes dos educadores e responsáveis conseguem transmutar uma criança no ser mais malvado do mundo.
Um pequeno e curioso episódio que merece alguma reflexão. O melhor é tentar passar pela vida meio despercebido, longe dos juízos críticos de quem não tem capacidade para julgar ou apreciar, não obstante os créditos que orgulhosamente ostentam e se possível não urinar na cama. Não despertar a atenção ou, caso não se consiga, evitar a todo o transe qualquer forma de mediatismo, optando por uma atitude nómada, não no sentido literal do termo, mas na sua forma poética, não se é conhecido não se aproximam com facilidade e, a partir do momento em que se começa a estabelecer pontes ou conhecimentos mais profundos, afastar-se airosamente à procura de novos espaços e de novas gentes, talvez deste modo se consiga manter amizades fugindo a muitos atropelos e a tentativas de assassinato da alma, porque muitas pessoas necessitam de alimentar-se da seiva da vida dos outros, sem se importunarem com as consequências das suas ferozes e injustas mordidelas.
Este mundo não é um bom local para pessoas de bem. Nem nunca será. Vimos do nada e mergulharemos um dia no esquecimento. Uma fugaz e triste existência que apenas serve para apreciar a beleza da poesia, a única que se pode apreciar em qualquer circunstância seja ela qual for, longe das honras, das placas douradas e das frias lápides de mármore que, por muito que representem, nunca irão sobrepor-se ou eternizar-se nem cumprir o verso “se vão da lei da morte libertando”, antes pelo contrário, através da lei da morte regressarão ao tempo de onde saíram, o eterno esquecimento.
No passado sábado, publicava o meu caríssimo Amigo um post com o título «Palavras Cruzadas», onde demonstrou passar algum tempo, observando as pessoas que o rodeávam.
ResponderEliminarEsse é um exercício que adoro fazer também, porém, numa prespectiva ligeiramente diferente.
"Dedico-me" a observar as semelhanças fisionómicas, em determinadas pessoas muito evidentes, com animais. No caso das pessoas que melhor conheço, divirto-me a verificar que, para além da semelhança fisionómica, determinados aspectos da personalidade, são também comuns.
Partindo do princípio que me não engano nestas conclusões, é fácil concluir que dado essas diferenças de personalidade, cada um de nós, será compelido a comportar-se instintivamente, num misto de reacções entere o humano e o animal.
;))))
Pode parecer que estou na brincadeira, mas não.
Ha muito poucos dias dizia-me a minha mulher, em ar de reflexão, que lhe fazia muita confusão verificar que algumas pessoas que se encontram em estado de doença muito grave, resistem, apesar de muito fracas, à morte, enquanto que outras, aparentemente no mesmo estado de debilidade, mas aparentemente mais fortes, socumbem muito mais fácilmente.
Dei-lhe o exemplo do porco e do javali e do cavalo. O primeiro porque é doméstico, deixa-se apanhar, espetam-lhe a faca e o bicho luta durante bastante tempo com uma força indomável, até acabar por morrer, o segundo porque é selvagem, leva um tiro e se o caçador não se "meter a fancarelos" acaba vítima do bicho, o cavalo, um animal enorme e com uma força descomunal, morre como um passarinho.
Já me coloquei em frente ao espelho, tentando descortinar através do meu prefil, qual será o animal com que me possa identificar.
As observações têm-se revelado infrutíferas. No entanto, reconheço na minha personalidade alguns traços que casam com algumas das constatações que o caro Professor aqui apresenta. A mais definida:"O melhor é tentar passar pela vida meio despercebido, longe dos juízos críticos de quem não tem capacidade para julgar ou apreciar"
Não me recordo de alguma vez ter urinado na cama, mas recordo-me de em criança, me mandarem sempre urinar antes de entrar para a cama... talvez para evitar que esse contratempo pudesse suceder...
Não ha nada como prevenir...
;)))
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarMas que belo texto, caro Professor!
ResponderEliminarE a que subtis recantos de uma filosofia de vida nos transporta!
Ao lê-lo, recordei a velha máxima latina "sic transit gloria mundi", que intersecta na perfeição a sua mensagem...
Excelente! Eu a comentar apenas com um parágrafo?!!! É que estou mesmo sem palavras! : )
ResponderEliminarCaro Massano Cardoso, o que seria deste mundo sem as pessoas de bem?
ResponderEliminarE um dia, todos nós seremos
ResponderEliminarum desses esquecidos, mas sempre com a ilusão de continuarmos lembrados...