quinta-feira, 13 de maio de 2010

Morrer de “primavera”...


O tema “elixir da juventude” é recorrente e não há maneira de o travar. Se durante muito tempo foi considerado como utópico ou fonte de lucro para muitos charlatães, agora, graças à ciência, verificamos que está ao nosso alcance e, em breve, será uma realidade. Muitos estudos apontam para o papel da genética e dos estilos de vida no prolongamento da nossa existência. Mutações favoráveis, e a presença de genes que favorecem a síntese de certas substâncias, têm como consequência estender a nossa existência. Inibir certos fatores e hormonas que aceleram o metabolismo, assim como determinadas enzimas que dificultam a proteção das artérias e estimular o crescimento dos telómeros, estarão a breve trecho ao nosso dispor. Desta forma, preventivamente, talvez a partir dos quarenta anos, os indivíduos, no futuro, passarão a tomar uma “pílula” que lhes garantem chegar ou ultrapassar os 100 anos na plenitude das suas funções. Não é só viver mais, é viver com mais saúde e, ao contrário do que poderíamos esperar, essas mesmas pessoas, um dia, serão responsáveis por muito menos despesas em matéria de saúde dos que morrem aos 70 ou 80 anos. Ou seja, os centenários viverão com mais saúde e os gastos ocorrerão num período muito mais curto dos que têm a mesma patologia na atualidade. Os idosos dos nossos dias, pessoas com mais de 70 ou 80 anos, passam mais tempo doentes e, por este motivo, ficam mais caros à sociedade. As patologias não serão muito diferentes, praticamente irão ser as mesmas, só que aparecerão décadas mais tarde, evoluindo mais rapidamente. Aqui está uma boa perspetiva para investirmos nesta nova época que se avizinha. Mas há muitos pontos que merecem ser analisados. O envelhecimento deverá deixar de ser considerado como coisa “natural” e passar a ser “doença” de forma a ser alvo de tratamento. Neste caso, doença é a mesma coisa que arranjar clientes para a indústria e "sobrecarregar" os serviços de saúde, reduzindo-nos a cidadãos-doentes. Não é que em termos práticos não sejamos considerados como tal, pois a prevalência das doenças crónicas está a aumentar assustadoramente, de tal forma que, a partir de certa idade, poucos se podem considerar como saudáveis. O tema não é mera retórica, é muito mais complexo. Tenho muitas dúvidas se neste preciso momento deveremos considerar como “natural” (para mim é mais uma exceção) o envelhecimento humano, porque sem os devidos cuidados higiénicos, alimentares e médicos ainda andaríamos pelos 30 a 40 anos de esperança de vida. Não duvido da relevância destes fatores, mas os genes constituem os principais responsáveis pelo envelhecimento, desde que consigam expressar as suas “vontades” em ambientes favoráveis. Nestas circunstâncias, uma alimentação frugal e equilibrada chega a ser tão poderosa como a força dos genes.
É muito provável que neste momento já tenham nascido os primeiros seres humanos que irão viver 150 anos. Entretanto, os que atingem idades provectas deverão agradecer aos seus genes e, quando morrem, morrem de “primavera”, como hoje um doente me contou a propósito da morte de uma tia.
– Oh senhor doutor, podia ver-me mais cedo? É que morreu uma tia minha e tenho que ir ao funeral. – Morreu de quê? – Morreu de primavera. – De primavera?! – Sim. Já tinha 93 primaveras...

5 comentários:

  1. O que hoje parece muito difícil é que, a partir de certa idade e sobretudo quando as pessoas se tornam dependentes, cada um encontre algum sentido nessa vida. A sucessão de Primaveras não pode parecer um Inverno prolongado e rigoroso, até aos 150 anos. Safa!

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  2. Pessoalmente, não acho nada sedutora a ideia de se poder viver até aos 100 ou 150 anos. A menos que, aquilo que hoje é a sociedade e a forma como se comporta, dê uma enorme cambalhota.
    Hoje, alguns de nós vivem mais tempo, uns com maior, outros com menor qualidade mas, tanto para a família, como para o resto da sociedade, aqueles que não têm a sorte de se aguentar melhor, são vistos na sua maioria como lixo humano, alguns, nem sequer humano, só lixo.
    Lembro-me de ter assistido ha muitos anos a um filme Hoody Allen, de que não me recordo o título, mas cujo tema circulava a vida no futuro e, em que ao chegar a uma idade determinada, pulsava uma luz na palma da mão e voluntáriamente, ou por indução, a pessoa dirigia-se a uma câmara, acompanhada por uma música "Zen", e era desintegrada, ou algo do género.
    Um processo limpo e simples, tipo aqueles sistemas electrónicos que avisam o condutor ter chegado a altura de levar o carro à revisão.
    Naquele caso... ao desmantelamento.

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  3. Poder chegar às cento e tal primaveras, com qualidade de vida e poder gozar os anos de aposentação durante 40 ou mais anos? Eu quero essa pílula!

    Esperemos que, entretanto, a idade da reforma não se altere muito...

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  4. Ó Catarina, isso já é pedir muito, alguém tem que pagar a pilula.

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  5. Pagamento?! Nem me tinha passado pelo pensamento!
    Talvez porque hoje esteja muito “pedinchona”: quero os pastéis de Belém e quero a pílula!

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