sexta-feira, 16 de julho de 2010

Reformas estruturais: contradição...ou não?

1. “Também analisamos as perspectivas de crescimento em Portugal, não apenas no curto prazo e concluímos que não há provas reais de que as reformas estruturais que o Governo introduziu, gerem uma maior dinâmica de crescimento”.
2. Esta frase “assassina” é de Antthony Thomas, Senior Vice-President da Moody’s, tendo sido extraída das suas declarações a propósito do (duplo) “downgrade” imposto pela agência ao “rating” da dívida pública portuguesa – uma boa notícia, segundo a reacção oficial cá do burgo...
3. Esta frase, para além de outras considerações, parece ser de um inaudito atrevimento, depois de o PM ter afirmado – em princípio para todo o Mundo ouvir/ler – que Portugal foi o País que mais reformas efectuou, nestes últimos 5 anos, no âmbito da União Europeia...
4. À primeira vista, pois, temos aqui uma insanável contradição, entre as proposições de um PM ultra reformador e inabalável optimista e uma agência de rating que parece atrever-se, sem pudor, a negar essas proposições.
5. Mas pode ser que aquilo que à primeira vista parece uma contradição insanável, afinal não seja tão insanável assim ou nem sequer seja contradição. Senão, vejamos.
6. O que Thomas diz é que “não há provas reais de que as reformas estruturais que o Governo introduziu gerem maior dinâmica...”, portanto ele não nega que as reformas tenham sido introduzidas, limita-se a dizer que não há provas dos seus efeitos em sede de crescimento económico...e não só no curto prazo (para que não nos iludamos).
7. Por outro lado, o PM, no seu típico estilo de incontido auto-elogio, apenas se reclama do estatuto de grande reformador, não curando de avaliar os impactos das suas reformas – seria aliás muito arriscado prolongar o auto-elogio para esse terreno...pois teria que acrescentar “vejam o nosso défice externo a cair”, “vejam como a despesa pública não cresce”, “notem como o investimento privado aumenta”, “reparem na saúde financeira das nossas empresas” ,etc,etc...
8. Em última análise, pois, não há contradição entre estas duas declarações, podem ambas conviver alegremente e por muito tempo.
9. De resto bem sabemos que assim é: as reformas estruturais andam por aí a saltitar, quase todos os dias as agências de comunicação se encarregam de as proclamar para gáudio da esquadra “armani”. Quanto aos seus impactos na economia, isso é tema para os habituais pessimistas...

8 comentários:

  1. Tem inteira razão Tavares Moreira.
    Os auto-elogios do PM relevam de um quadro psicótico evidente (corte com a realidade).
    Mas como é possível que Sua Excelência o Presidente da República assista passivamente a esta deterioração do clima económico-político português?
    Não tem também ele responsabilidades?
    Dizem os seu próceres que Cavaco é um institucionalista. Um institucionalista? Não tem poderes?
    Por menos do que se está a passar, Sampaio mandou embora Santana Lopes.
    Ah, Sua Excelência pensa primeiro na reeleição, depois na reeleição e, por fim, na reeleição...
    Vinte e um milhões de euros anuais para isto? Um desperdício a acrescentar a tantos, tantos outros.

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  2. Caro Fartíssimo dos Silvas,

    Compreendo até certo ponto o seu comentário, aliás partilhado por muita gente com quem falo habitualmente.
    Habituado a lidar com realidades muito mais do que apenas mergulhado na discussão política, gostaria de lhe lembrar o elevado poder de fogo da "esquadra armani" e dos seus infindáveis sequazes (na comunicação social sobretudo)...
    Bem como a artilharia venenosa e quase mortífera que utilizam quando a individualidade que menciona se atravessa na sua frente...

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  3. Caro Tavares Moreira

    O comportamento do PM foi considerado aceitável pelo eleitorado, numa primeira vez absoluta, uma segunda relativo, mas sempre maioria.
    Não mudou, o mundo é que (para ele) mudou; o comprtamento é o mesmo.
    Se continuar no mesmo lugar dentro de um anos, iremos assistir a louvar os anos de 2007 e 2006....
    Cumprimentos
    joão

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  4. Caro dr. Tavares Moreira

    Mas o Presidente não pode estar preocupado com o poder de fogo da "esquadra armani". Tem, antes de tudo, de evitar a degradação da situação político-económica e agir de acordo com a Constituição e os poderes que esta lhe confere. Não é um ser passivo, mas parece. Palavra aqui, palavra além, mas...nada! Tem de ser responsabilizado por não agir. Não pode ser um cúmplice.

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  5. Caro João,

    Juízo certeiro, esse...cumprirá então lembrar o que invariavelmente acontece, a quem não é capaz de mudar - é ser mudado, se necessário de forma compulsiva!
    Parece que é a isso que vamos assistir e, ou me engano muito, ou isso vai acontecer dentro dos próximos 9 meses...

    Caro Fartíssimo dos Silvas,

    É sua opinião, não vou tratar de o desmentir, limito-me a chamar a sua atenção para realidades da "vida" - neste caso a capacidade destruidora da esquadra "armani"!
    Quando sentirem o terreno a fugir-lhes debaixo dos pés, o que já deve estar a acontecer, são capazes das maiores atrocidades, pode crer!
    E as extensíssimas cumplicidades que souberam criar torna-os especialmente letais quando toca a destruir...

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  6. Confesso que cada vez que oiço falar nas grandes reformas que este governo tem feito, e oiço-o com enorme frequência, fico duvidoso se é ignorância ou distracção minha ou se estão todos enganados. A única reforma que foi para mim evidente foi a da Segurança Social, e mesmo esta limitada ao sistema de pensões e à nossa custa: Se há pouco dinheiro para distribuir, arranjam-se fórmulas que permitam baixar as pensões. Foi o que se fez. Quanto ao resto, que se reformou? A justiça? A saúde? A educação? Esta só se foi para muito pior. O Estado? Dos cento e tal institutos da lista que Pina Moura elaborou para acabar, quantos acabaram mesmo? A sério que gostava que me explicassem que reformas foram essas de que Sócrates e não só andam sempre a falar.

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  7. Caro
    Tavares Moreira,
    Mais uma vez de acordo com os seus comentários.
    Sendo eu um hmem com pouca cultura, normalmente não estou habilitado a fazer comentários aos seus interessantes artigos, mas neste caso, como tenho no entanto, quase 6 décadas de vida, o que me é dado a observar, tem sido a quase total destruição da industria pesada, o mesmo com a outra mais "ligeira", por outro lado, o que vemos crescer como cogumelos, são grandes superfícies e centros comerciais, já num absoluto excesso de oferta.
    Ora, ao que saiba, normalmente, são tidos como principais criadores de riqueza dum país os sectores primários e secundários, nós, pelo que assisto, apenas nos baseamos no sector terciário, comércio e serviços,mas será que isso é ou pode ser o principal factor de equillibrio e sustentação económica do país???
    Com uma agricultura de vão-de-escada, com uma pesca pouco mais do que inexistente e por certo pouco eficaz (compare-se com as pescas de Espanha, por exemplo), só com supers e hipers como é que, por mais reformas que se façam, conseguimos sair deste atoleiro, ou se calhar, pantâno, tal como Guterres definiu???
    Gostaria de ter uma ideia, eu não consigo lá chegar, assim, peço-lhe que o Sr., como especialista na matéria, tenha a bondade de apontar um caminho, isto, numa resposta curta obviamente, pois, certamente tem mais que fazer do que me aturar.
    Com os meus cumprimentos

    LUSITANO

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  8. Caro Freire de Andrade,

    Como bem diz, a reforma que terá sido feita foi precisamente essa - a reforma das reformas - aumentando a idade mínima de passagem à reforma com direito a reforma integral, baixando a "taxa de subsbtituição" e adoptando outras medidas que têm por efeito reduzir, a longo prazo, o custo das pensões para o Estado e para a Segurança Social...
    O efeito a curto prazo destas medidas é, provavelmente, inverso do pretendido devido à onda de reformas antecipadas que gera.
    Quanto ao resto, não existem sinais visíveis de medidas verdadeiramente reformadoras, o discurso oficial é, nesta matéria, muitíssimo empolado e bastante enganador!

    Caro Lusitano,

    Compreendo a sua angústia e partilho em parte das suas opiniões acreca das fontes de riqueza de um País como Portugal.
    Como economia aberta, não podemos fugir ao movimento que atravessou todas as economias desenvolvidas, traduzido numa perda de importância relativa dos sectores primário e secundário - aqui em especial da industria transformadora - a benefício do sector dos serviços.
    Mas admito que no nosso caso se foi longe demais, tendo sido criada uma estrutura produtiva muito desiquilibrada que não vai ser possível corrigir a não ser com enormes sacrifícios para muita gente.
    O pior, nisto tudo, como tenho repetidamente afirmado neste espaço de opinião, foi o excessivo desenvolvimento de um sector público - ou de diversos sectores públicos, administrativos e produtivos - que consomem uma enormidade de recursos e que estão a matar a economia mais produtiva...
    Isso é uma verdadeira tragédia que a classe política tem imensa dificuldade em enxergar!

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