Em artigo publicado recentemente, o investigador Anders Aslund , do Peterson Institute (EUA), sumaria as principais conclusões do seu livro “The Last Shall Be the First: The East European Financial Crisis” onde descreve a queda e ascensão das economias bálticas na crise de 2007-2009. Rendido à eficácia do plano de superação da crise dos países bálticos, Aslund retira algumas lições da experiência do Báltico para os países da “periferia” da UEM. Pela relevância que o tema tem para Portugal, achei interessante sumariar o referido artigo.
Os países bálticos foram os mais afectados pela crise financeira, com quedas do PIB acumuladas de 25%, no caso da Letónia e de 17%, nos casos da Estónia e da Lituânia. Em 2010, os três países exibiram crescimento económico robusto, alicerçado nas exportações. Todos eles procederam a cortes salariais transversais à economia, que no caso da Lituânia, em 2009, ascenderam a 28%; todos eles aplicaram violentos cortes na despesa pública sem grande perda aparente na qualidade final dos serviços públicos. A sua estrutura fiscal sui generis - de impostos sobre o rendimento baixos e de taxa única - foi mantida. Nenhum deles efectuou qualquer desvalorização cambial, o que para pequenas economias abertas que são, implicaria um aumento intolerável dos custos de produção. A vital recuperação da competitividade foi garantida pela “depreciação interna” que resultou da redução dos salários, manutenção de impostos baixos e do aumento da produtividade promovido pelas reformas estruturais. Segundo Aslund, a instabilidade política (na acepção eleitoral e não social do termo) que abundou nos países bálticos no apogeu da crise, foi fundamental para encontrar e promover os executivos mais bem preparados para implementar a políticas necessárias – por mais “radicais” que estas fossem considerados pelo status quo. As tensões sociais foram mínimas, pelo que o autor conclui que os eleitores, uma vez convencidos da seriedade da situação, percebem a necessidade de mudança – por custosa que se venha a revelar – e que a “crise” política pode ser uma benção no sentido em que possibilita a mudança.
Admitindo como boas as “lições” dos países bálticos, como é que elas se aplicariam à realidade portuguesa?
i) Forte redução da despesa pública, com particular incidência sobre a massa salarial de todos os níveis do estado, incluindo o seu sector empresarial. Como a redução dos vencimentos já foi implementada, faltava “somente” proceder a uma racionalização rigorosa da máquina do estado, o que certamente libertaria muitos “postos de trabalho” - amiúde muito onerosos mas pouco úteis (a não ser aos seus detentores) -, para além de promover um aumento da eficiência da máquina do estado;
ii) Flexibilização do mercado de trabalho e do sistema fiscal por forma permitir fechar o hiato entre custos de trabalho e produtividade das empresas portuguesas; hiato que, variando imensamente de sector para sector, no agregado não deverá exceder os 10%;
iii) Last but not least, mudança de governo, de políticas, de estilo, reflectindo a incapacidade da equipa governativa que nos trouxe até esta situação, dela nos retirar. Neste ângulo, os desenvolvimentos mais recentes da vida política nacional são animadores.
Nota: A Estónia integrou o clube do euro, no princípio do ano e a Letónia, depois da intervenção do FMI, viu a notação da sua dívida pública ser, esta semana, melhorada por duas agências de ratings: S&P e Fitch.
As pessoas são desalocadas de trabalho sem utilidade para trabalho com utilidade, sendo esta avaliada por quem o consome. Porque é que isto não é óbvio para toda a gente? Não sei...Tudo o que Portugal fizesse baseando-se neste princípio seria favorável ao crescimento.
ResponderEliminarCaro José Maria Brandão de Brito (memo to self: arranjar um nome mais curto),
ResponderEliminarJá imaginou a quantidade de "boyszzzz" e "girlszzz" que iam ficar chateados/as com a implementação de medidas como essas?
Nós temos uma mentalidade muito na onda do "Eu é que sou o presidente da junta", a nossa quintinha, o nosso pequeno poder. Todos os directores têm de ter carro com motorista, têm de ter isto e aquilo. Olhe só aqui no parque deste edificio estão estacionados 6 Lexus (pertencentes à Administração Pública), são de directores, acham-se mais do que os outros e o sistema permite. Isso não acontece nos países do norte da europa, por exemplo.
Assino por baixo o que escreveu Anthrax.
ResponderEliminarA única diferença entre nós e os "nórdicos" é a educação e a informação. Quando a opinião pública perceber que os "boyssss" e as "girlzzz" alimentam-se do sangue do "povão", uma classe profssional muito sofrerá: os motoristas
ResponderEliminarCaro JM2B (memo to self: este fica bem),
ResponderEliminarDo not make my olhinho tremer!
A educação e a informação não são as únicas diferenças. O clima é diferente e isso também tem consequências em várias outras coisas.
Olhe, o pobrezito do meu marido (é nórdico) está cá há dois anos e ainda não consegue perceber a razão pela qual o homem do café, ou o farmacêutico, ou o caixa de supermercado tem de conversar com os clientes enquanto o resto das pessoas está à espera. E também não consegue perceber porque é que, simplesmente, não fazemos as coisas emm vez de falar tanto.
No último emprego onde esteve, uma empresa portuguesa, quiseram dar-lhe mais tarefas a acrescentar ao trabalho dele, a primeira coisa que ele perguntou foi se lhe pagavam mais. Como os moços disseram que não, ele respondeu "então façam vocês". Eles fazem exactamente aquilo para o qual são contratados, dentro do horário estabelecido. Não fazem mais, nem fazem menos, mas se quiserem mais, têm de pagar mais e esta é a filosofia.
É como se estivessem balizados por uma série de regras e cumprem-nas.
Cara Anthrax,
ResponderEliminarPeço desculpa pela grosseira simplicação. Concordo consigo no ponto do clima...é aliás um argumento defendido por David Landes na Riqueza e Pobreza das Nações. O ponto que queria fazer neste post é a natureza parasitária do aparelho económico montado em cima do estado.
E ponha paletes de parasitário nisso. ;-)
ResponderEliminarGostaria de chamar a atenção do caro autor e comentadores, para a diferença entre países nórdicos e países bálticos.
ResponderEliminarOs segundos estiveram até á bem pouco tempo, sujeitos a um regime político ditatorial, as populações viveram durante muitos anos num nível económico muito baixo, os sindicatos, não gozam ainda de grande poder reivindicativo. Assim, os governos destes países podem com facilidade reduzir salários e pensões, sem que a população, habituada a viver com pouco e percebendo as vantagens da sua entrada para a união europeia, recorram a greves e a manifestações de rua.
Nos países bálticos não se verificou uma corrida ao crédito, como na maioria dos países da europa. Naqueles países, os bancos não cresceram desmesuradamente alicerçados no endividamento público. Naqueles países, não se tem notícia da existência de BPN's, nem de reformas milionárias múltiplas, nem de fundações, nem de empresas públicas deficitárias amamentadas pelo estado, nem que os cargos de dirigentes do estado se desloquem em viaturas topo de gama, nem que os deputados tenham direito a reforma ao fim de poucos anos.
Enfim, parecem-me que pouca utilidade se poderá retirar das lições que a rapaziada que habita a nordeste da Europa, tenha para nos oferecer.
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarObrigado pelo apontamento, ainda que, na verdade, não saiba bem o que são "nórdicos"; conseguimos delimitar os "escandinavos" e os "bálticos"...
Que medidas tão draconianas de austeridade sejam mais fáceis de implementar em países que viveram muitos anos em ditadura, é um ponto válido, pese embora não ache que essa "teoria" se possa aplicar a Portugal, tendo em vista o que aconteceu (e acontece) no pós-1974.
Quanto ao percurso dos bálticos, lamento contrariá-lo. Foi lá que ocorreram as maiores bolhas imobiliárias (e não só) à custa de crédito concedido de forma totalmente irresponsável; foi lá que vários bancos foram dizimados, foi lá que o endividamento externo atingiu níveis quase tão malsãos como em Portugal.
Também nesse aspecto é necessário proceder a uma certa "separação das águas", caro Dr. Brandão de Brito.
ResponderEliminarPorque foram os bancos austríacos e suecos que injectaram capital a rodos, numa econimia frágil. E depois... a bolha imobiliária que estoirou, não era bem uma bolha, mas sim... uma bolhinha. Note que os estados Bálticos, são pouco populacionais, comparativamente.
Apesar disso os estados Bálticos, começaram a combater a crise em "muito boas condições", pois tinham apenas 20% do PIb hipotecado.
caro Bartolomeu,
ResponderEliminarDe acordo