quinta-feira, 7 de julho de 2011

O rating, último bode expiatório

Políticos europeus, porque lhes convém, jornalistas e comentadores, porque estão disso convencidos ou por outras razões menos intelectuais, explicam o “downgrading” dos ratings como um ataque maciço ao euro, a benefício do dólar, ou como imoral especulação financeira, a benefício do “capital financeiro”. Ataque e especulação com origem nas agências de rating.
Claro que, se a oscilação cambial e o valor relativo das moedas têm a sua explicação básica na percepção dos mercados quanto às oscilações da actividade económica nas diversas zonas onde cada uma é predominante, a própria existência de moedas diferenciadas propicia sempre um certo grau de especulação. É uma consequência natural da economia de mercado, cuja regulação deve ser continuamente aperfeiçoada. Não há organizações económicas perfeitas. Todavia, nunca as agências de rating foram responsabilizadas por ataques concertados a qualquer moeda. Agora, está na moda.
1 de Janeiro de 1999: euro/dólar =1,16675 (nascimento do euro)
26 de Outubro de 2000: euro/dólar =0,8252
22 de Julho de 2008: euro/dólar =1,5919
30 de Junho de 2011: euro/dólar =1,4425
Em 2011, o euro já valorizou cerca de 8%. Movimento sumariamente "explicado" pela especulação das agências de rating. Mas contra o euro, como se diz, para o desvalorizar, mas se valorizou, e a favor do dólar, para o valorizar, mas se desvalorizou? Ou contra o dólar que se depreciou 8% no mesmo período e a favor do euro, para o valorizar, como aconteceu? As teses anulam-se na sua própria contradição.
Ou, não será essencialmente um ajustamento de poder relativo das moedas, medido pelo grau de confiança numa e noutra economia?
Vou mais nesta opinião.

4 comentários:

  1. Quando, os economistas do sistema contestam a decisão da Moody’s do corte de rating a Portugal, não será tanto pela lógica da decisão mas pela sua oportunidade. Argumenta-se que os técnicos da FMI, do BCE e da UE avaliaram o país e impuseram um “memorando” que está a ser cumprido pelo novo governo pelo que não faz sentido, neste preciso momento, avaliar tão negativamente as condições económicas e financeiras do país. Contudo, não existe contradição alguma entre a descida do rating e o previsível resultado da aplicação das medidas da Troika. A descida de rating traduz as consequências da aplicação futura do “memorando”, enquanto as avaliações dos técnicos do FMI, BCE e UE e as medidas por eles impostas, tiveram como única preocupação proteger os credores de Portugal.
    Na verdade, o que preocupa a UE, FMI e BCE não será a correcção ou incorrecção da classificação da Moody’s mas o entrave que tal classificação causa na aplicação do governo das medidas impostas pela Troika. Isto é, a perturbação que poderá causar na aplicação do seu plano de salvaguardar os interesses financeiros das instituições financeiras credoras. O que a Moody’s fez foi desmascarar, por a nu, esta estratégia da EU, FMI e do BCE - salvar as oligarquias financeiras e desprezar o desenvolvimento económico e financeiro dos países em dificuldades. Quando o governo, o presidente da república, os economistas do sistema e os demais comunicadores nos pretendem fazer crer que Portugal “está no bom caminho”, eis que a Moody’s nos vem alertar de que o nosso futuro é mais recessão, mais desemprego e mais drama social.

    ResponderEliminar
  2. Caro Dr. Pinho Cardão, pois em minha opinião, a onda de nostalgia que aos cortes da Moody's se fica a dever, só tem razão de ser, se não descortinarmos outra alternativa que não seja a de dependermos do crédito externo, para sobreviver.
    Em minha opinião também, muito se fica a dever de todo este circo, ao interesse americano de enfraquecer o euro. Mas, penso também que a questão não pode ser encarada do ponto de vista dos shows televisivos. Aliás, faz-me imensa confusão ver o "esterismo" que provoca nos orgãos económicos e financeirosestas oscilações caprichosas, ditadas pelas tais empresas de rating. Cá para mim, a banca América ainda vai acabar a chorar amargamente estes desiquilíbrios que gera.
    Agora, a Europa, que está a ser enfraquecida, economica e políticamente na sua União, por estas "jogadas maradas", precisa encontrar uma forma diferente das "engenharias financeiras", para fazer frente às pretensões americanas de desvalorização da economia e da fracturação do sistema, equilibrando a economia mundial.
    E muito importante é ter a consciência, que desta conflito, por hora somente a nível económico e financeiro, sairá a ganhar, em última análise, ós países asiáticos que muito provávelmente se unirão com os de leste.
    Esté, é a meu ver o cenário mais provável e que irá colocar a europa a ferro e fogo e irá fazer a américa chorar lágrimas muitíssimo amargas.

    ResponderEliminar
  3. Anónimo17:25

    Quer o meu caro Pinho Cardão dizer que as notações visam promover esse "ajustamento de poder relativo das moedas", isto é, que são elas a medida do "grau de confiança numa e noutra economia" (da UE e dos EUA)? Bom, é que se é este o propósito (ou o efeito, tanto faz) das últimas notações, então o meu Amigo não anda longe da explicação de outros que vêem as agências como instrumentos de um deliberado plano para o reequilibrio entre dolar e euro.
    Além de que o argumento do meu caro Pinho Cardão, no sentido de que, a despeito das notações das agências se vai cavando mais fundo a diferença de valor cambial entre as modas, parece-me, com todo o respeito, provar de mais no que à "inocência" das agências diz respeito. É que não se exclui a hipótese de ser exactamente por causa desta continuada desvalorização do dolar face ao euro que as notações se sucedem no sentido de contribuir para uma travagem deste movimento. Como? Fragilizando quem sabem que não tem grandes hipoteses de defesa (como infelizmente é o caso da Grécia e de Portugal que se puseram a jeito), sabendo que assim se fragiliza toda a zona monetária em que se inserem estas economias. E ignorando que a fraqueza do dolar e a robutez do euro refletem, porventura, a situação das duas economias. Crescimento frouxo nos EUA e forte crescimento nas locomotivas da Europa, a Alemanha e a França.
    Bom, cá estou eu a sentir-me a meter foice em seara alheia, mas expondo os meus pontos de vista vou obtendo sempre réplicas que me permitem satisfazer curiosidades e vencer algumas perplexidades.

    ResponderEliminar
  4. Talvez me tenha explicado mal, caro Ferreira de Almeida.
    Nunca quis dizer que " as notações visam promover esse "ajustamento de poder relativo das moedas"", antes pelo contrário. O que eu queria dizer, e digo, é que as notações reflectem os fundamentais das economias subjacentes às respectivas moedas e, assim, o grau de confiança numa ou noutra economia. Portanto, o meu distinto e preclaro amigo partiu de um pressuposto errado, referindo que a minha opinião nem se afastava muito da explicação de outros que vêem as agências como instrumentos de um deliberado plano para o reequilibrio entre dolar e euro.
    Independentemente de haver boas ou más análises e consequentes notações, não alinho da tese do inimigo externo. O nosso inimigo foi bem um inimigo interno.
    Mas, quanto a esse deliberado combate levado a cabo pelas agências contra o euro e a favor do dólar, aqui lhe deixo quatro referências sobre a avaliação da Moody`s e da Standard & POORS sobre o rating dos EUA:

    1. Moody's ameaça degradar rating de dívida pública dos EUA
    Terça, 14 Dezembro 2010
    http://www.optimize.pt/index.php/Fiscalidade/Moodys-ameaca-degradar-rating-de-divida-publica-dos-EUA.html
    2. EUA: Moody's baixa rating sem acordo sobre dívida pública
    23:59 Quinta feira, 2 de Jun de 2011
    http://aeiou.visao.pt/eua-moodys-baixa-rating-sem-acordo-sobre-divida-publica=f606042

    3. 19 abr. 2011 – Pela primeira vez, a Standard & Poor's rebaixou, na segunda-feira (18), a perspectiva de evolução de sua nota sobre a dívida dos Estados Unidos
    4. standard-and-poors-baixa-para-negativa-a-perspectiva-da-divida-dos-eua
    http://www.swissinfo.ch/por/reportagens/O_trabalho_ingrato_das_agencias_de_notacao.html?cid=30046042

    Ataque concertado ao dólar, caro ferreira de Almeida?
    Nem ao dólar, nem ao euro, digo eu.

    ResponderEliminar