sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Lição magistral

O Ministério da Educação suspendeu o pagamento aos melhores alunos do Ensino Secundário dos prémios de mérito instituídos há 3 anos, no valor de 500 euros, e que deveriam ser hoje entregues.
Não conheço o Despacho justificativo do Ministro, mas notícias dizem que a distinção continua a fazer-se, sendo que os distinguidos deverão escolher uma instituição ou família carenciada a quem o dinheiro será entregue. Medida referida como sendo “para incentivar a solidariedade”.
Num Estado de direito, os fins não justificam os meios e a primeira obrigação do Estado é honrar os seus compromissos. E, se se tinha comprometido a dar um prémio pecuniário aos melhores alunos, deveria entregá-lo. Ponto final. Todavia, os alunos não recebem, o que já é mau. Mas, pior. O Ministério mantém a entrega, mas obriga os alunos a doá-lo para fins sociais.
Claro que os alunos deixarão de ter qualquer confiança no Estado, e também desconfiarão das solidariedades que se apregoam, mas feitas a expensas alheias e não à custa própria.
Nuno Crato, que admiro por aquilo que tem defendido para o ensino, cometeu um erro grave. Gravíssimo, mesmo. Mais uma vez, no melhor pano cai a nódoa. Bem suja.
A não ser que tivesse querido dar uma aula prática a todos os jovens de como o Estado não é confiável. Se assim foi, tratou-se de uma lição magistral. Os alunos com certeza que compreenderam tudo. Ou não se trate dos melhores alunos.

21 comentários:

  1. Dr. Pinho Cardão
    É uma lamentável lição de que o Estado não é uma pessoa de bem. Num momento da vida do país em que é necessário repor o rigor e dar o exemplo, eis que acontece o inconcebível.
    Nunca concordei com o sistema de distinção instituído: a entrega de um cheque de 500 euros aos melhores alunos. Há outras formas de incentivar e reconhecer o mérito.
    Mas nada justifica que a três dias das cerimónias de entrega dos prémios o Ministério da Educação tenha alterado as regras do jogo, defraudando as expectativas criadas aos alunos, dando destino diferente aos 500 euros.
    Não estão em causa os valores da solidariedade, mas sim a falta de palavra do Estado.

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  2. Concordo em muito, com o comentário da Drª Margarida.
    Em minha opinião, premiar monetáriamente a distinção académica, também não faz sentido.
    O que faz sentido, é um ensino que tenha como principal objectivo, encontrar as formas ideais que permitam aos alunos,adquirir os conhecimentos necessários para que o seu futuro possa ser o mais promissor possível. Esse será certamente o melhor prémio que o ministério poderá entregar aos seus alunos, aos alunos-cidadãos do país, aos futuros profissionais.
    ;)

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  3. So nao consigo entender como eh que o Sr. Dr. Pinho Cardao, "nesta fase do campeonato", ainda consegue achar que ha um Estado de direito ou Estado confiavel. A minha experiencia tem-me dito exactamente o contrario,infelizmente. A comecar na lei do arrendamento (o Estado condiciona as rendas, mas, na hora de cobrar o IMI, esquece o condicionalismo que criou e cobra de acordo com o valor do imovel:na maioria dos casos, o valor anual da renda nao chega para o IMI,claro!, mas isso nao tem importancia...)a acabar nas imensas alteracoes dos ultimos anos (ex alteracao da formula de calculo das reformas,CA, etc.). Sobretudo para quem actuou sempre de boa fe e cumpriu o seu dever, eh terrivel. Assim a "aula magistral" deve ser entendida de outra forma, sobretudo para os muito bons alunos: o pais nao os merece e devem tirar as consequencias disso. Muitos, certamente, ja o fizeram.Talvez por isso, va encontrando os melhores alunos das Universidades portuguesas (Nova e Catolica, sobretudo) em diversas capitais europeias e ate no FED... Talvez esta realidade, um dia, mude o sentido da "aula magistral", mas para os politicos...

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  4. Anónimo11:29

    Estou de acordo. Infeliz decisão.

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  5. Não te estou a reconhecer, António.

    Sempre te bateste pela redução da carga fiscal, e numa altura em que de cada vez que o Gaspar abre (ou é obrigado) a abrir a boca aumentam os impostos ou a ameaça de os aumentar, indiganas-te porque o ministro Crato cortou 500 euros aos melhores do secundário.

    Dizes: O Governo (referes o Estado, mas o Estado não existe enquanto entidade com capacidade volitiva) faltou à palavra e logo a jovens, supostamente os melhores das suas classes, demonstrando-lhes que não é pessoa de bem.

    Mas pareces esquecer que o Governo (este Governo) está inibido de cumprir tudo o que prometeu o Governo, mesmo que quisesse.

    Já tinha, aliás, decidido suspender, para reapreciação, o programa de entrega dos "Magalhães", por exemplo.

    Mas, para além disto, discordo totalmente com a atribuição de prémios pecuniários pagos pelo OE
    a estudantes como recompensa das suas classificações. Se os querem distinguir há formas mais honrosas de o fazer.

    Para além de uma questão inquietante: O que fizeram os premiados dos 500 euros que lhes colocaram nas mãos em anos anteriores? A alguns (poucos)servirão de reforço do orçamento familiar, a outros servirão de alimento de alguns vícios. Ouço dizer que todos os anos muitos se dirigem à Costa Brava (e não sei mais onde) para se dedicarem, além do mais, à bebedeira que chega, em alguns casos, ao coma alcoolico.

    Ou terei ouvido mal?

    Volto ao começo: Sempre foste (e presumo que continuas a ser) um adversário do aumento de impostos. Também sou.
    Mas com uma enorme diferença: prefiro o aumento de impostos (que é sentido) que o aumento anestesiante da dívida. Por uma razão simples: A reacção aos impostos é imediata, à dívida (como as doenças traiçoeiras e fatais) é silenciosa mas destruidora até ao tutano.

    Estou certo que, em consequência dos acontecimentos mais recentes e menos recentes) não deixarás de reconhecer que estavas errado.

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  6. Sff, considera:

    "INDIGNAS-TE porque o ministro Crato cortou 500 euros aos melhores do secundário."

    "Mas pareces esquecer que o Governo (este Governo) está inibido de cumprir tudo o que prometeu o Governo ANTERIOR, mesmo que quisesse."

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  7. Achei bem. Os miúdos não podiam passar o resto da vida a pensar que o estado somos todos nós, que o estado é uma pessoa de bem, que o estado existe por nossa causa e outras mentiras republicanas em que a minha geração foi mergulhada. Espero que agora passem filmes com secretários de partidos a receber "contribuições", que as escutas do Sócrates façam parte da mediotecas da escola, etc. para que a vida das crianças seja mergulhada em verdade.

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  8. Anónimo16:37

    Ahhh, a velha e relha história de fazer solidariedade com o dinheiro dos outros. Brilhante!

    O Estado pessoa de bem... tss tss

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  9. Apesar de acreditar no espírito do ideal republicano, admito que o Tonibler, acaba por ter razão na análise generalista e redutora que apresenta. O estado politico degradou-se e descredibilizou-se na objectividade da acção que lhe compete perante o estado civil.
    É obvio que para o estado (político e civil) ter chegado a este "estado", muitas vontades convergiram, ou melhor; muitas vontades e muitos "deixa-andar", que não têm origem unicamente, no lado repúblicano.

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  10. Estado, pessoa de bem? Boa piada :)

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  11. Generalista, caro Bartolomeu? O estado português é só um. Porta-se sempre da mesma maneira, em todo o lado, há décadas e décadas. Não é uma generalização, é uma verdade estatística.

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  12. Forgive me sir but, I disagree...
    O Estado é plural.
    O Estado é a convergência de acções.
    Nos tempos actuais, o Estado apresenta-se doente, porque as acções divergem. Aliás, todos os Estados do mundo, se encontram enfermos. Uns, num estado clínico terminal, outros, em estado crítico, outros em estado preocupante, outros em estado que não suscita preocupações de maior, outros em recuperação. Mas todos, todos, doentes.
    E tudo porque, a Humanidade deixou de acreditar em si mesma, ou, pelo menos, atravessa uma fase de descredibilidade.
    E porquê, caro Tonibler?!
    Porque o instinto nos diz que existe algo por trás daquilo que conseguimos ver e perceber, que nos está a atrofiar.
    Então, percebemos com facilidade que tudo aquilo que a humanidade possuía quando caminhava no sentido da prosperidade, mantém-se. No entanto, a progressão, para além de não se realizar, parece-nos que inverteu o sentido e vamos agora, a caminho da falência total.
    Mas digo-lhe, caro Tonibler; em minha opinião temos de ser nós, individua e socialmente, que teremos de encontrar a forma de contrariar essa tendência. E de que forma?
    Só concebo uma.
    Tudo a remar para o mesmo lado, com garra, e sem querer passar por cima de ninguém, reconhecendo e valorizando as capacidades de cada um, mesmo a daqueles que apresentam algum tipo de limitação, quer mental, como física, apoiados em princípios de sensatez e sem manias de grandezas nem de fantasiosas superioridades intelectuais ou pertidárias, ou religiosas.
    É fundamental que o Estado perceba com clareza o estado geral do país, do mundo e das sociedades e deixe de esperar que aconteçam milagres. O Milagre terá de ser feito por todos em conjunto... pelo Estado!
    ;)

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  14. É realmente uma grande lição, mas vai muito mais além que foi dito, e muito na linha da posição de MFL:
    -Não há duvida que interessava um canal publico - não há dinheiro, vende-se
    -Interessava manter a TAP - não há dinheiro, vende-se
    -Era justo atribuir prémios - não há dinheiro, chupem no dedo.
    -As pessoas têm os seus direitos adquiridos - não há dinheiro, não recebem.
    -O tribunal manda pagar - bem, aí há que ponderar bem se a ordem é para cumprir.

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  15. Caro Bartolomeu, "todos a remar para o mesmo lado" não se aplica à situação "vocês pagam nós recebemos e, se faltar alguma coisa, vocês pagam mais porque nós não podemos, nem receber menos, nem trabalhar mais". O problema é exactamente esse.

    Os estados estão a morrer porque são um objecto social obsoleto.

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  16. Sim, tem sido assim, é verdade, caro Tonibler, mas, neste momento impõe-se que assim seja.
    Quando me diz que os sacrifícios a fazer devem começar dentro (nos governos e nos organismos sob a sua tutela), não posso estar mais de acordo. No entento percebo que ao fim de tantos anos e tantos governos viciados em "esfolar o desgraçadinho", o pagante que não bufa, e quando bufa, é o mesmo que estivesse calado... não posso esperar que ao fim de meia-dúzias de meses, qualquer novo governo, já tenha emendado essa tendência.
    No entanto, mantenho o meu voto de confiança, apesar de todos os prejuízos sofridos e daqueles que estão anunciados. E mantenho, porque consigo perceber neste governo, a intenção de fazer mudar as coisas. Pode ser que esteja enganado, pode ser que não esteja e apesar de todas as vontades, o governo não consiga aquilo a que se propôe, mas para já, como cidadão do meu país, cumpre-me participar e acreditar, até ao limite do crível. A crise é enorme, a confiança tem de ser maior.
    Que lhe parece, Amigo Tonibler?

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  17. Caro Dr. PC,

    Estou perfeitamente de acordo consigo.

    O "Xô profexôre" enfiou a pata na poça.

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  18. O presidente da Associação das Misericórdias Portuguesas dizia ontem a Marcelo Rebelo de Sousa que estão à beira da ruptura porque os carenciados aumentam dramaticamente e o Governo não paga as comparticipações (já de si muito diminutas) desde Maio!

    Mas parece que os prémios aos estudantes apoquentam mais as consciências dos portugueses...

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  19. A questão dos prémios aos estudantes não é uma questão de dinheiro, mas sim de princípios, porque 500 euros * 1000 estudantes dá 500 000 euros, e isso é insignificante para aquilo que representa este prémio: premiar o esforço e o mérito, porque mais do que o dinheiro em si tem o significado de dizer que vale a pena o esforço para ser melhor.
    Faz-me lembrar a figura de roubar chupa-chupas a crianças. Bastava privatizar o buraco chamado RTP, e a poupança de um ano daria para pagar aí uns 1.000 anos de prémios a estudantes.

    E o que mais me irrita é terem retirado o prémio quando o ano terminou e os estudantes estavam prestes a recebê-lo. Se valesse só para o próximo ano, vá que não vá, agora nesta altura é indecente.

    Mas, tal como Pinho Cardão, também concordo que foi uma boa lição dada aos estudantes: o melhor é porem-se a andar daqui para fora que de cá não levam nada, só dívidas para pagar.

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  20. Caro Rui:
    Eu não disse que concordava com a atribuição do prémio. Apenas critico que, tendo sido prometido, não tenha sido atribuído.
    A palavra é para se cumprir. A posição do Ministro manter-se-ia caso decidisse não passar a atribuir mais o prémio. Mas devia honrar a promessa este ano.
    O que se dá não se deve tirar. E, muito menos, não se pode querer mandar no destino da dádiva.

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  21. Caríssimo António,

    Mas este Governo não prometeu este prémio.
    E todos sabemos que este Governo não vai poder cumprir tudo o que prometeu o Governo anterior. Provavelmente nem vai poder cumprir parte do que ele mesmo prometeu.
    Não precisas de exemplos,pois não?

    Leste a nota acerca do momento dramático que atravessam as Misericórdias e dos atrasos de pagamento deste Governo?

    Por que é que tanta gente se apoquenta com este caso do prémio sem se apoquentarem com casos de incumprimento bem mais chocantes?

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