quarta-feira, 13 de junho de 2012

No bom caminho...

Temos visto demasiada intervenção do Estado, excessiva em muitos domínios sem que se compreenda a vantagem, tal tem sido a fúria de tudo controlar, introduzindo barreiras ao bom desempenho das instituições, retirando-lhes a flexibilidade e versatilidade de resposta às mudanças. Mas também temos visto demasiada omissão do Estado em domínios em que há “falhas de mercado” e é necessária a sua intervenção.
É muito bem-vinda a medida tomada pelo Ministério da Educação que visa adequar a formação superior às necessidades do mercado de trabalho. A empregabilidade passa a constituir o factor chave na definição do número total de vagas do ensino superior.
A necessidade, há muito sentida, de articular a oferta do ensino superior às necessidades do mercado de trabalho e à realidade sócio económica e a necessidade de justificar e rendibilizar os investimentos feitos no ensino superior com dinheiros públicos são boas razões para que o Ministério da Educação estabeleça um quadro regulador para a definição das vagas e sinalização de recomendações, não deixando contudo de conferir às instituições autonomia e responsabilidade na gestão do processo.
Foi publicado um despacho do Ministério da Educação que estabelece justamente este quadro regulatório e que basicamente vem dizer o seguinte:
- que não pode haver aumento do número total de vagas de cada instituição em relação ao ano lectivo de 2011-2012, podendo ser excedido se a instituição demonstrar a existência de procura na instituição e na respectiva área de formação sem a correspondente oferta no conjunto da rede pública;
- que na fixação de vagas por curso cada instituição deve ter em consideração a empregabilidade do curso e os níveis de desemprego existentes. O Ministério da Educação publicou um estudo sobre o desemprego para apoio da aplicação das novas regras.
Com vista à adequação da oferta à procura, há também um conjunto de recomendações que sinalizam às instituições os cursos em relação aos quais devem reforçar vagas, como é o caso das áreas de ciências, matemática, informática e engenharia, assim como há decisões de redução de vagas por haver excesso de oferta, como é o caso da educação de infância.
Há muito mais para fazer, mas o importante é que o Ministro da Educação está no bom caminho...

10 comentários:

  1. Muito oportuno e corajoso este post, já que a decisão do Ministro da Educação só merece aplauso (embora espere um mar de críticas...).

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  2. Não concordo de todo. A adequação da formação ao emprego dura menos, hoje em dia, que a duração do próprio curso. Acho a medida disparatada.

    Há, no entanto, a questão de se andar a gastar dinheiro em pseudociências que nunca terão empregabilidade ou terão sempre uma empregabilidade conjuntural (veja-se a empregabilidade de um curso de Economia hoje em dia, próximo de zero, quando era próxima dos 100% há 15 anos). Se me mostrarem que as pessoas que deixam de frequentar esses cursos passam a frequentar outros, concordo com a sua eliminação da rede pública. Mas não estou certo disso e, na incerteza, é sempre bom investimento fazer as pessoas passar pelos cursos universitários. Gosto sempre de dizer que prefiro ter varredores licenciados em Medicina que Médicos com curso de varredor...

    Posso dar o exemplo da Física, que conheço bem, cuja empregabilidade directa é próxima de zero mas não existem físicos no desemprego porque a sua capacidade é estrutural e válida ao longo dos anos. Penso que o fenómeno está a passar-se agora com o Direito em que as capacidades das pessoas estão a ser usadas fora da advogacia, porque são estruturais.

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  3. Nos curriculos europeus não se pergunta qual é o curso que se tem ou, pelo menos, essa é a informação que apenas confirma o grau de habilitações,salvo em profissões muito técnicas, é claro, e em todas s epergunta em que escola se obteve a habilitação. O que interessa é que se saiba definir as competências e as capacidades, os "skils" que se tem para o cargo a que se candidata a pessoa. É difícil preenchê-los e obriga a uma reflexão sobre o que realmente se sabe e pode fazer. A Reforma de Bolonha tem nos seus princípios a possibilidade de se alargar cada vez mais a formação depois de 3 anos de aprendizagem nuclaer, os alunos podem escolher acabar o curso noutras escolas, até mesmo noutros cursos diferentes e assim "compor" a sua formação.Há actualmente uma tendência internacional para se reconhecer a valia dos filósofos, dos historiadores, dos sociólogos ou dos psicólogos em empresas, não só nas áreas de recursos humanos mas também como contributos importantes para ajudar a desenhar estratégias, a avaliar o clima laboral, os rumos dos mercados pela tendência dos consumidores, etc. É muito difícl, a meu ver, "prever" o que é que dá empregabilidade ou não, tal como diz o caro Tonibler, mas também é certo que muitos dos cursos que cresceram em Portugal o foram a coberto de uma pretensa empregabilidade garantida, muitas vezes mantida artificialmente, talvez seja pricipalmente este o sentido da decisão e, em qualquer caso, é positivo que se dê informação sobre a empregabilidade de cada curso, pelo menos a escolha deverá ter essa consciência actualizada.

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  4. Cara Suzana,

    Mas o ponto do ministério está errado exactamente por isso. Eu assisti a um caso que vou descrever sem querer de forma alguma fazer juízos sobre os responsáveis. Numa faculdade da U Lisboa um dos departamentos viu-se, depois do processo de Bolonha, com um BSc e vários Mestrados. O facto do BSc só ter o nome de uma ciência fundamental deu a percepção (errada) aos candidatos de que a empregabilidade era baixa e o número de candidatos reduziu-se. Como o ministério colocou sempre o foco no número de alunos o departamento resolveu fazer um "Mestrado Integrado em Engenharia" com o qual reuniu o triplo dos candidatos do ano anterior. Curiosamente, a percepção dos candidatos era a mesma do ministério, que teceu rasgados elogios à faculdade pelo esforço de transformação... Na realidade, o "Mestrado Integrado" terá uma empregabilidade reduzida face ao BSc com um mestrado adicional porque é uma especialização.

    Mais que tentar definir que cursos deve a rede pública proporcionar, o ministério deveria fazer um esforço na divulgação, a vontade dos alunos faz o resto. Por exemplo, na Universidade de Lisboa havia um estudo de empregabilidade com 5 ou 6 anos que mostrava que o 1º era Medicina, 2º Física, o 3º Química, o 4º Matemáticas Puras, o 5º Informática... Conhecia?? Eu não! Imagino que mais ninguém conheça, mas sei que nos 4 primeiros, estão 100% empregados.

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  5. Neste assunto, também é minha opinião, tratar-se de uma boa decisão.
    O que tem sucedido até agora, não responde às necessidades do país, nem aos interesses dos alunos e de quem lhes sustenta as despesas, só as universidades saem a ganhar deste negócio.
    A medida governamental, está ainda longe de atingir um bom objectivo, penso. São necessárias mais medidas complementares, reguladoras e também, estimuladoras, capazes de ser uma alternativa aliciante para os estudantes e resultar numa maisvalia que lhes facilite a entrada no mercado de trabalho.
    à dois dias, comentava esta medida com um amigo que me respondeu de imediato: estamos a voltar ao fascismo, pá. Isto é uma medida sectária. O ensino tem de estar disponível para todos igualmente e gratuitamente.
    Ri-me.
    Ainda me apeteceu não lhe responder, mas acabei por lhe perguntar se ele achava que era preferível o estado, os pais e os alunos fazerem esforços de vária ordem, para no final o doutorado conseguir somente emprego num call center, ou num caixa de supermercado...
    A par de tudo isto, é necessário que se dê uma revolução de mentalidades e que as pessoas percebam que não temos todos de possuir cursos superiores e que cada um de nós, possui competências que serão de muita utilidade, se potenciadas, aprefeiçoadas e utilizadas no contexo correcto.
    Temos de nos deixar de bacoquices saloias, esquecer os canudos em massa e pensar em dar a melhor utilidade às nossas aptidões, optando por formações profissionais e aprovando legislações laborais justas, que permitam ao empresário e ao empregado, olhar-se com honestidade e, cada um no seu posto e na sua tarefa, rentabilizar-se, tornando-se sustentável, criando sustentabilidade.

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  6. Caro Bartolomeu,

    Isso é outra forma de "canudismo". É o canudismo "Novas Oportunidades".

    As pessoas devem levar tanta educação quanto aquela que for possível e durante tanto tempo quanto aquele que for possível. A forma de o fazer para as pessoas é meter-lhes um canudo à frente a servir de cenoura e, por isso, tomara que nós tivéssemos todos 200 canudos.

    Nesta perspectiva, a empregabilidade do curso é um problema do estudante, não é um problema nosso. A forma mais optimizada de o fazer é não limitar à partida os cursos.

    Claro que há sempre o argumento dos custos, mas como sempre gosto de dizer, amanhã posso investir o dobro em educação: passo o ordenado dos professores para metade!

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  7. Ahhhh, bem... visto por esse ângulo, caro Tonibler, daqui a dois séculos, se ainda houver Portugal, vamos ter a coisa resolvida.
    ;))

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  8. Cara MM
    Também há boas notícias. Esta é uma delas e não é coisa pouca.
    Caro Tonibler
    Concorda então com o sistema em vigor. Com dezenas de cursos ou licenciaturas que dão canudo sem trabalho? Não vejo como um licenciado em economia possa ser médico, nem como um médico possa construir pontes. A versatilidade de uma licenciatura tem limites.
    Caro Bartolomeu
    Cada vez que o Ministro da Educação decide no sentido de por ordem na casa logo aparecem as vozes do PREC a acusarem as medidas de fascistas, capitalistas e muitas outras qualificações terminadas em "istas". Têm que fazer algum barulho!
    Concordo que é preciso mudar a mentalidade completamente errada que se instalou que só tem sucesso quem tiver um canudo. É preciso criar novas vias profissionais, dignificando-as e qualificando-as. As empresas não vivem apenas de licenciados, há falta de quadros intermédios qualificados.
    Suzana
    A decisão faz a meu ver todo o sentido, em nada prejudica a outra abordagem muito interessante do seu comentário. Mas há profissões que pela sua tecnicidade não podem ser desempenhadas por pessoas que não dispõe dos ensinamentos de base. Há depois toda uma panóplia de disciplinas que permitem uma versatilidade na sua utilização, sobretudo se pensarmos que hoje em dia as decisões precisam de inputs multidisciplinares, visões complementares e sensibilidades diversas que dependem por exemplo da inteligência emocional.

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  9. Caro Tonibler, concordo consigo mas, como vê, o marketing dos nomes funciona e funciona precisamente em função da expectativa que as pessoas têm da empregabilidade no momento em que escolhem e esse factor é tudo menos estático. Há muitos anos, talvez 20, houve uma proliferação de cursos de "engenharia" porque era o que dava acesso a ser professor, veio mais tarde a exigir-se que tal nome deveria ter um múmero mínimo de créditos de matemática, porque alguns nem tinham nada. Há formações que valem para muitas profissões, como muito bem diz e, a meu ver, são todas úteis se forem formações de qualidade, também temos que deixar de funcionar por rótulos e desperdiçar assim muitas pessoas capazes de se desempenharem em diferentes funções da que a sua formação indica.

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  10. Cara Suzana,

    as universidades fizeram aquilo que lhes pediam, o estado é que não. Informar, informar, é a única coisa que falha.

    Cara Margarida,

    o sistema tem várias componentes e vários intervenientes. Não vamos condenar aqueles que cumprem com o seu papel por causa dos outros que não cumprem. A forma óptima de formar é ter uma diversidade grande porque, se é verdade que as universidades não conhecem a empregabilidade, nós também não e o ministério também não. O processo de Bolonha foi fundamental também noutro factor que é a formação ao longo da vida. Hoje em dia as pessoas não podem tirar um curso, isso é coisa do passado. Têm que tirar três, quatro, aqueles que forem precisos para serem os melhores do mundo. Até neste aspecto a medida do ministério vem estragar aquele que é o fundamento da reforma que encetou há uns anos.

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