terça-feira, 31 de julho de 2012
AUSTER IDADE
Mal ou bem, cresci no seio de uma família em que a austeridade era um valor superior, uma qualidade, um princípio de vida em comum que não se confundia nem com a avareza, nem com a ostentação.
Por isso, é com alguma incomodidade que vejo transformado o termo num sinónimo de punição, de empobrecimento, de asfixia do crescimento, de quase retrocesso civilizacional.
Esta inversão semântica diz muito da profunda e consolidada alteração do sistema de valores nas sociedade ocidentais que parecem ter sucumbido perante o materialismo consumista que uma mal entendida modernidade promoveu.
A fé iluminista do século XVIII num progresso incessante, inevitável e irreversível moldou essa ideia de modernidade em que as crises económicas tenderiam a desaparecer pela planificação ou pela acção reguladora do Estado, em que à sociedade assente no trabalho, se sucederia a "sociedade do ócio e dos lazeres", em que as desigualdades sociais seriam progressivamente atenuadas e convergentes numa omnipresente classe média.
Foi essa ilusão do progresso que nos fez esquecer e abdicar de alguns valores sociais estruturantes da vida em comum. Isso retirou-nos capacidade de lidar com a adversidade e de compreender que a riqueza colectiva e o bem-estar não são conquistas irreversíveis, principalmente quando esquecemos os seus fundamentos.
Já há quem anuncie uma nova "Era da Austeridade". Não sendo tão pessimista, subscrevo a preocupação do articulista do NYT, quando fala da necessidade de encontrarmos alternativas inovadoras ao catastrofismo conservador.
Gostei e revejo-me muito neste post. Embora duma geração mais recente do que a do autor (precisamente a geração mais esbanjadora) tive a Graça de ser educado por meus avós que me inculcaram os valores da poupança e da sobriedade. Vejo com algum agrado (e até orgulho, não escondo) vários amigos lançarem-me, desde sempre, os epítetos de sovina, forreta e semelhantes.
ResponderEliminarNunca entendi o consumismo, enfim...
Eu gosto mais de separar frugalidade de austeridade. Austeridade tem um carácter mais irracional que a frugalidade, mais "teimoso" que "virtuoso". E quando pensamos que já não há muito mais para descobrir sobre a organização humana, não me parece que exista muito mais a inovar que sermos frugais. Ser poupado nada tem a ver com aquilo que são os valores fundamentais do homo social, pelo contrário. Se calhar se estivéssemos a projectar uma era de frugalidade na nossa sociedade, da mesma forma que o exigimos ao nosso condomínio, por exemplo, não estaríamos a falar de inovação.
ResponderEliminarCaro Tonibler, austeridade de hábitos, frugalidade de vida, não são impeditivos de inovação. Uma coisa é o gasto em consumo, outra totalmente diferente o investimento e a inovação é filha do investimento, não do consumo.
ResponderEliminarNão vejo nada de irracional na austeridade, sendo-lhe sincero. Ora repare e apenas como exemplo, os meus telemoveis são usados até deixarem de funcionar. Não preciso comprar o mais moderno e que tem funcionalidades que eu nunca iria usar. Podia comprar sempre o melhor, mais moderno, último grito da moda? Sim, podia. Mas para quê? O antigo serve-me, uso até morrer. E saudades tenho eu dum Nokia 6310i que me durou 8 ou 9 anos e dum Nokia 6150 que já ia com mais de 10 anos (12, parece-me, quando morreu) e era ainda onde eu tinha o meu cartão Português. Isto é frugalidade ou austeridade?
Por acaso nestas questões comparo a forma como sou visto em Portugal e em Espanha. Em Portugal a generalidade dos meus amigos vê o meu hábito de usar transportes públicos como mais uma das minhas excentricidades. Em Espanha é perfeitamente normal usar o Metro. Isto para não falar da Suíça, enfim...
Austeridade, possui um significado adequado que se resume na observação do rigor escrupuloso em não se deixar dominar pelo que agrada aos sentidos ou deleita a concupiscência.
ResponderEliminarOu seja: ser-se austero, ou observar os princípios de austeridade, nada tem a ver com as dificuldades económicas por que o país e os seus cidadãos, passam, mas sim, complementar outras medidas, as quais carecem de disciplina e rigor. Austeridade, tem mais a ver com um princípio moral ou ético, que propriamente com as condições ou a ausência delas, para o levar a cabo.
Não faço a menor ideia de quais terão sido as condições de vida no seio familiar do caro Professor David Justino, no entanto, depois de ter passado pela Liga Comunista Internacional, nada me admira que os valores éticos agora demonstrados neste post, se fiquem a dever a uma visão humanista voltada para as causas da sociedade, uma sociedade enganada vilipendiada, que acreditou na promessa de prosperança que lhe foi apresentada pelo capitalismo e que resultou em última análise, como bem sabemos, no proveito obesceno de alguns... aqueles que detinham nas mãos, o poder.
A fé iluminista do séc. XVIII, assim como outras subsequentes, visaram também acabar com as crises económicas, sob a acção reguladora do estado, é inteiramente verdade, só que, o estado é composto por pessoas e as pessoas, colocadas em frente ao capital, deixam-se corromper, perdem os princípios, esquecem-se das origens e sobretudo, dos ideais.
Austeridade é algo para que temos de tender, não é possível impor, nem esperar que seja entendida e adoptaga pela totalidade das pessoas. aliás, o ser humano, por natureza, aspira a possuir e a dominar, muitas vezes, usando o meio da ostentação. Tudo porque o ser humano, também, tende a sectarizar, a excluir, a eliminar os mais fracos.
Assim... podem chover austeridades, caro Professor David Justino.
;)
É frugalidade. Austeridade seria não ter telemóvel.
ResponderEliminarPelos vistos, para o David Justino a luta do homem e das sociedades pela “atenuação progressiva das desigualdades sociais” foi, é uma ilusão. Mais, para este ilustre político, “a riqueza colectiva e o bem-estar não são conquistas irreversíveis” e, no seu entender, deverão antes ser encaradas como uma ocorrência normal em regimes democráticos.
ResponderEliminarEu não sei que noção de democracia tem o David Justino, mas que é difícil conciliar os princípios democráticos e sociais democratas com o seu pensamento, lá isso é seguramente.
Aceitar o agravamento das desigualdades sociais como algo “positivo e redentor” é um pensamento reaccionário, absurdo e ousado que traduz com grande clareza a arrogância, o atrevimento, a impunidade de uma ultra direita disposta a tudo “custe o que custar”.
Caro Professor David Justino,
ResponderEliminarExcelente post, também, pela pertinência do tema, a criar aqui uma tertúlia sem fim à vista...
Eu não faço ideia se há 60 anos atrás havia padrões para se aferir a pobreza, mas estou em crer que não. Do que eu me lembro, muito bem, é de a austeridade ser tão natural como a própria água da fonte. Por isso, de austeridade sabemos tudo, provam-no os milhares de emigrantes portugueses da década de 60, e também aqueles que embora sendo criados na “riqueza”, comiam bife apenas às quintas-feiras…
Há dias dizia-me um trabalhador a viver na Suécia há 28 anos, o seguinte: - A Suécia não é país pare se enriquecer, é um país para se trabalhar e viver bem. Trabalha-se muito, mas não se enriquece, os impostos levam tudo, mas todos têm o que necessitam… E foi este sonho que prosseguimos!...
Difícil é, com certeza, a austeridade que se advinha imperativa à escala global…se calhar só fazendo um "reset", e depois riniciar...
UPS: reiniciar*
ResponderEliminarMeus caros amigos, onde incluo os aparentes "inimigos", vamos lá por partes:
ResponderEliminar1. frugalidade ou austeridade - eu prefiro o termo austeridade, dado que a frugalidade é uma conceito mais limitado ao usufruto de um determinado bem. Os valores da austeridade, sugerem uma particular conduta social e mesmo uma ética. É por isso que falo de austeridade enquanto valores e ética social. Mas tem uma outra dimensão: o da disciplina e da responsabilidade perante os restantes membros de uma comunidade ou de uma sociedade em que estamos integrados.
2. Da "Era da Abundância" para a "Era da Austeridade" - Respondendo a Bartolomeu. Julgo que o homem nas sociedades ocidentais se tornou escravo da abundância que criou, daí falar do "materialismo consumista". Para mim - tentei sugerir no texto - a austeridade deveria ser, antes de mais, uma ética social que em nada contraria o progresso, o crescimento ou a modernidade. O que anseio é que se possa encontrar formas de superar as actuais dificuldades recuperando alguns dos valores básicos, mas também muito esquecidos, das sociedades livres e democráticas.
3. O Carlos Sério parece que me quer "tirar do sério", mas aviso-o que não vai conseguir. Não sou nada daquilo que o Carlos pensa que eu sou ou pensa que eu penso. Diga lá onde é que eu escrevi que "o agravamento das desigualdades sociais" é algo "positivo e redentor". Por favor ajude-me a encontrar essa afirmação que eu não consigo. O resto do último parágrafo do seu comentário então é o máximo da deselegância e da deturpação. Meu caro, assim não é possível discutir. Objectivamente o Carlos Sério não me conhece e decerto que não gosta de mim. Vá-se lá saber porquê ...
Com os melhores cumprimentos
Os caros comentadores acertaram na mouche. Mas eu sou mais ousado: é necessário fazer um reset às gerações sociais democratas que adoptaram o partido de seu nome mas não a sua ideologia e muito menos o exemplo da social democracia sueca.
ResponderEliminarO drama, hoje, é que pagamos mais impostos do que os suecos, mas vemos a tendência para uma sociedade não iniquia e em agregação por um canudo.
E, de caminho, acabar com todas as juventudes partidárias que são lugares pouco frugais de más aprendizagens, relacionamentos e de uma cegueira que raia qualquer coisa que não quero mencionar.
Alguns sociais democratas querem-nos fazer crer que isto é tudo uma questão de pecado popular consumista, em que não há responsabilidades éticas de uma geração de políticos, banqueiros e algumas elites acomodadas e corruptas - independentemente dos partidos.
Mas há e a história e por mais que alguns tentem branquear a sua responsabilidade não é assim tão maleável!
De acordo, caro Professor David Justino.
ResponderEliminarMas, antes de continuar este comentário deixe-me sossega-lo quanto à suspeita da existência inimigos na caixa de comentários... tudo não passa da expressão de opiniões diferentes.
;)
Caro Professor, em minha opinião, a adopção de uma atitude ou de uma forma de vida austera, tem na sua origem uma opção individual, a qual poderá perfeitamente encontrar-se adicta a um ideal, a uma ideologia, ou até, a uma inspiração divina.
No momento actual e pelo motivo que o caro Professor evoca, ou seja; estarmos a sair de uma "Era da Abundância" e porque não vislumbramos forma de retornar-mos a ela, poderá dar-se o caso de uma boa parte da sociedade, começar a adoptar normas de austeridade, como recurso para sobreviver, até que alguma recuperação se venha a verificar, ou então que aquela estrela da sorta que tantas vezes tem salvo este povo da terra da VeraCruz, se venha a manifestar.
Ha dias, escutei o Sr. Primeiro Ministro afirmar que o desemprego e por conseguinte, a perca das escassas capacidades de fazer frente ao custo de vida, não têm de ser forçosamente entendidas como uma catástrofe, que é possível tirar partido dessa situação.
Confesso que no primeiro momento, me vieram à ideia uns livros de auto-ajuda, editados por um escritor, Paulo Coelho, e segredei com os meus botões... estes coelhos sem cartola, parece que são peritos em fazer omeletes sem ovos. Mas depois de pensar um pouco mais acerca deste assunto e confiando nas grandes capacidades que os portugueses reunem e os fazem sobrevier a periodos de crise bastante profundos, concluí: é só uma questão de tenacidade... uma tenacidade ancorada no rochedo da austeridade.
;)
Meu caro Bartolomeu,
ResponderEliminarestou sossegado e a sua resposta mais sossegado me deixou.
Lembro-me das afirmações do PM e é claro para mim que há uma distância enorme entre a boa intenção da declaração e aquilo que é a realidade do desemprego. Ora essa boa intenção assenta num equívoco: o desemprego só pode constituir uma "oportunidade", como queria expressar o PM, numa sociedade que gera oportunidades. E o problema da sociedade portuguesa nos últimos anos é que não consegue gerar oportunidades. Não é só gerar novos postos de trabalho e gerar emprego, é propiciar condições de afirmação àqueles que estando disponíveis para criar riqueza e contribuir para a saída da crise não o conseguem, porque não deixam, fazer. Em Portugal, cada vez mais, o problema das desigualdades sociais é o problema das desigualdades de acesso às oportunidades de criação de riqueza e de valor.
Há um sociólogo português (Manuel Carlos Silva) que traduz muito bem a atitude dominante do povo português em situações de adversidade: resistir e adaptar! Só que nos últimos anos há uma outra realidade: resistir e fugir!
Cumprimentos
Afirmou o David Justino,
ResponderEliminar"…em que as desigualdades sociais seriam progressivamente atenuadas e convergentes numa omnipresente classe média. Foi essa ilusão do progresso que nos fez esquecer e abdicar de alguns valores sociais estruturantes da vida em comum. Isso retirou-nos capacidade de lidar com a adversidade e de compreender que a riqueza colectiva e o bem-estar não são conquistas irreversíveis…”
Que outra ilação se pode retirar quando se afirma ser a atenuação das desigualdades sociais uma ilusão do progresso?
Na verdade, não o conheço pessoalmente, mas engana-se quando diz que não simpatizo consigo. Sou munícipe de Oeiras há muitos anos e apreciei o seu trabalho quer como vereador quer como ministro da Educação, veja lá!
Relativamente ao propagandeado “necessário ajustamento” com a argumentação de que os portugueses vivem acima das suas possibilidades, trata-se de uma falácia (fácil de demonstrar) emoldurada numa cínica postura moralista, que tem unicamente por objectivo fazer aceitar passivamente as medidas de austeridade presentes e futuras.
Ignora-se que dois milhões de portugueses vivem abaixo do nível de pobreza, que milhão e meio de cidadãos vivem com pensões inferiores a 330 euros, que mais de 660 mil portugueses estão desempregados, que mais de 1,4 milhões de trabalhadores recebem um salário inferior a 600 euros ou ainda que a média salarial dos 3,8 milhões de trabalhadores por conta de outrem não chega aos 780 euros mensais. Pouco importa a miserável situação económica em que vivem 85% dos cidadãos portugueses.
Em 1999, a dívida pública do Estado, não ultrapassava os 51,4% do PIB (abaixo dos 60% recomendados pela UE) e a dívida externa líquida não ia alem dos 33,1% do PIB. O que mudou então tão radicalmente na economia portuguesa para que tais dívidas tivessem um incremento tão abrupto, crescendo a dívida pública e a dívida externa líquida para valores incomportáveis, superiores a 115% e 130% respectivamente, e que condicionam, por imposições externas (UE), toda a nossa vida social e económica? Será que nestes 10 últimos anos a população portuguesa usufruiu de toda esta riqueza e numa tal proporção? Será que os salários ou as pensões dos trabalhadores duplicaram? Será que as benfeitorias do Estado duplicaram? Será que o “estado social” duplicou os seus apoios sociais numa tal proporção? Não parece que tal tenha acontecido. Pelo contrário, os aumentos salariais e os apoios sociais foram superiores na década de 80 e 90 sem que tenha havido semelhante descontrolo financeiro.
Algo duplicou ou triplicou contudo nesta última década – os lucros dos bancos e das empresas monopolistas nacionais, o número dos órgãos parasitários do Estado e a corrupção institucional. E, nestes dois últimos anos, com a crise financeira internacional, uma outra situação se apresentou - dinheiro do erário público oferecido às instituições financeiras.
É possível descrever muitos fenómenos da natureza usando leis que minimizam quantidades. Se esta minimização ou austeridade é intrínseca à natureza ou humano artifício não sei. Mas que dá uma dimensão universal à austeridade lá isso dá.
ResponderEliminarÉ interessante esta diferença que aqui se debate entre frugalidade e austeridade, sem ir ver ao dicionário eu diria que a frugalidade é a moderação, é não precisar de ir além daquilo de que se pode tirar benefício, uma pessoa frugal não aceita o desperdício, o uso abusivo das coisas, não compra mais do que necessita, não é exibicionista,tira proveito do que tem e pode ter. Mas uma pessoa austera, ou educada na austerida, rejeita mesmo o que lhe podia dar algum conforto, contenta-se com pouco, não deseja sequer ter porque tem essa disciplina de vida. Conheci pessoas austeras por educação, passaram privaçãoes e habituaram-se a viver com pouco e a ver com muito maus olhos quem sacrificava o futuro ou as condições de vida da família só por querer ter mais bens materiais, conheço muitas pessoas frugais, que sabem tirar proveito do que têm e que sabem desejar ter mais com moderação, medindo o que vale a pena o esforço e o risco do que não vale. Austeridade estará mais ligada à privação, à disciplina rígida,Á falta voluntária ou necessária do que podia fazer uma vida melhor e a frugalidade à moderação e à sensataz, por isso é sem dúvida uma palavra muito menos agreste e ameaçadora.
ResponderEliminarMeu caro Carlos Sério
ResponderEliminaro facto de ser munícipe de Oeiras fá-lo subir de imediato na minha consideração. Agora só falta ser do Benfica, então aí, esqueço tudo aquilo que me acusou.
Bom, deixemo-nos de mimos. Vamos lá ao conteúdo do seu comentário.
Quanto às desigualdades sociais eu apenas confronto a ilusão da progressiva e sustentada diminuição das desigualdades sociais que a esquerda igualitarista construiu em torno da ideia de progresso social, com a dura realidade de um sustentado agravamento dessas desigualdades desde o século XIX. Estamos a falar da desigualdade de distribuição do rendimento, porque a igualdade de distribuição de património (activos) é ainda maior.
Nem de propósito, o que a investigação sobre estas temáticas tem revelado é que as últimas décadas assistiram a uma atenuação de algumas dessas desigualdades, exceptuando os anos da crise que agora vivemos, para os quais ainda não existem dados seguros.
Ora, não sendo eu nem de esquerda nem igualistarista, considero que as profundas desigualdades de distribuição de rendimento e de património na sociedade portuguesa, tem sido um entrave ao crescimento económico e à coesão social. E repare que eu considero que nenhuma sociedade democrática mais ou menos liberal pode dispensar esse requisito da organização social.
O que eu critico é que o discurso político da esquerda só se lembra de falar da pobreza e das desigualdades quando existem governos do centro ou da direita, esquecendo que muitas das suas políticas "progressistas" contribuiram para a consolidação da oligarquia reinante e para um aumento das desigualdades sociais.
Tem dúvidas que os últimos anos de governação socialista se saldaram em machadadas profundas na classe média, sem que os "mais desfavorecidos" tenham lucrado alguma coisa com isso?
Olhe para o Concelho onde mora: os executivos de direita fizeram mais pelo combate à pobreza e pela coesão social que qualquer outro executivo camarário da área metropolitana de Lisboa. Compare agora com o que se passa na Amadora: lá continuam as barracas, os guetos, as bolsas de pobreza e de exclusão social.
Pode sempre dizer que Oeiras é excepção e não é exemplo. Admito.
Mas já reparou que com mais republicanos ou mais democratas, mais Tories ou mais 3º via, os Estados Unidos e o Uk são dos países onde a riqueza é maior e as desigualdades são também maiores?
E no caso Português, onde está a nossa vulnerabilidade? No baixo nível de escolarização da população portuguesa. Uma parte significativa da pobreza e da desigualdade social tem única e simplesmente a ver com isso.
Os seus argumentos sobre a dívida pública e o rendimento das famílias e dos trabalhadores tem muito de sofisma. Nomeadamente porque uma parte desse dinheiro que representa a dívida pública foi direitinho para o estrangeiro através do serviço da dívida e do deficit da balança de pagamentos.
Concordo consigo: não foram os pobres que de forma significativa beneficiaram com a dívida pública.
Bom conversa vai longa e eu não consigo responder a tudo, mas sempre retomarei algumas das suas ideias em posts futuros. Não vou esquecer. Cumprimentos
David Justino
Caro Prof. David Justino; se o facto de ser de Oeoras e do Benfica, me pode conferir privilégios (por exemplo, senhas de desconto em hipermercados, ou em gasolineiras) declaro-me já (e posso apresentar credenciais comprovativas) nascido e criado em Oeiras e adepto do Benfica, desde anteriormente à vinda do Eusébio.
ResponderEliminarAliás, mantenho-me Benfiquista da área do desporto, não da SAD.
Passando ao assunto do comentário, versus o do post, que nos leva também aos assuntos colocador pelos restantes comentadores, parece-me que, sem sairmos do essêncial, continuamos a dar excessiva importância ao assessório. E continuamos a permitir que valores parasitários intrefiram na plena compreensão e adaptação à realidade do valor principal.
Um bocadinho mal comparado, atrevo-me a entrar num aspecto de carácter pessoal, íntimo, se bem que público. O caro professor fuma. Fuma muitíssimo, fuma para além daquilo que podería ser considerado "inofensivo" para a sua saúde. Muito provávelmente, o caro amigo, dentro de algum tempo irá ver-se a braços com um problema de saúde indesejável, uma sequela do usu do tabaco. No entanto, está na posse de todas as condições para imprimir a si próprio uma acção austera quanto ao consumo de cigarros. Não o faz.
Ora bem, o seu nível de informação, a sua capacidade intelectual, o seu coeficiente de inteligência, deveriam ser imperativos nessa decisão, contudo, revelam-se impotentes para o lograr atingir, porque a existir, a ter lugar, ela terá de partir de uma tomada de decisão, despoletada por algo que ainda não se manifestou e que o caro professor, aguarda que suceda.
Do mesmo modo, é inocuo pedirmos às pessoas que pratiquem a austeridade em todos os planos das suas vidas privadas, familiares e sociais. Se olharmos para a história mais recente, para a segunda guerra mundial, podemos perceber pelos testemunhos da época, esse fenómeno.
;)
Caro David Justino
ResponderEliminarTambém o conheci, caro David Justino, numa célebre reunião camarária, ladeado pelo grande populista e amigo do seu povo, Isaltino, que muito fez por Oeiras e não só: a lei dos homens pode ser manipulada, o grande olho de deus, não! Já no anterior regime português havia quem votasse no deus, pátria e autoridade, e esquecesse que tudo se sabe na informalidade da cidadania: os canais informais são uma chatice para o poder! E, Oeiras, caro David Justino, entre a destruição de uma agradável vila e um actual dormitório de betão, é um case study para o futuro. Verdade, seja, caro David Justino, que muitas coisas se fizeram bem e comparam bem na generalidade do país das rotundas e dos pavilhões sem utilizadores... que o provincianismo arrogante e inchado que chegou há umas décadas à capital pela mão dos partidos políticos em geral, fez desta o deserto que conhecemos atirado para os subúrbios.
Aqui não há inimigos, nem adversários, caro David Justino, apenas cidadãos que debatem e concordam com muito do que diz, mas também se permitem discordar, porque discordar não é social democrata, é bolchevique, e demonstra uma tendência para o envelhecimento do espírito, incapaz da tolerância e de aceitar o outro: faz-me lembrar todos aqueles que nostalgicamente acham que no seu tempo é que era bom e exigente. E isto é uma crítica implícita ao bom do Nuno Crato, para quem a exigência não combinava com calculadoras e já percebeu que a realidade é bem mais complexa e o mundo da assumpção do conhecimento mudou e já não é igual ao que era no seu tempo de estudante de económicas. Há sempre outros que vale a pena ouvir e esse é um grande defeito português: fala-se de mais querendo impor, ouve-se de menos...e, assim, aprende-se pouco, pensando-se saber tudo, desvalorizando o que os outros dizem. As visões de um ponto são sempre mais enriquecedoras que a visão de um ponto. A vista, engana-se, sobremaneira, porque muitas vezes estamos demasiadamente pouco distendidos.
E o que é certo é que há uma responsabilidade intrínseca das ditas elites de Gaetano Mosca, mas há também asneiras brutais com este governo...e acima de tudo, sistema político corrupto que vive na cama (sem a alexandra de outros tempos) com interesses que não são nem populares nem portugueses. E estas, caro David Justino, os partidários de Portugal, não a podem calar, porque ameaçam a crispação quase doentia de uma política idiota em geral que diz branco sempre que o outro diz preto. Portugal tem sido sujeito a políticas erradas há muito tempo? Com certeza! Mas a crispação do miserável jogo político, não pode ocasionar cegueira nos seus agentes, que tem que ouvir e fazer participar todos os cidadãos nas medidas! Sob pena de irmos substituindo Portugal por reinos, sejam eles laranjas, rosas de outras colorações!
Meu caro Bartolomeu,
ResponderEliminartocou-me em dois pontos fracos: benfiquista e fumador.
É bom que conheçamos os nossos vícios, nomeadamente futebolísticos para acabarmos com o suposto domínio tripeiro que o Pinho Cardão vai tentando passar a propósito deste blogue. A época está a começar e há que começar a fazer marcação cerrada.
O problema está em saber se os meus vícios privados colidem ou não com o valor da austeridade.
Julgo que ainda não consegui fazer passar a mensagem deste post sobre a austeridade. O meu objecto de análise não está privilegiadamente nos comportamentos individuais, mas antes na ética social, que melhor ou pior pode orientar as condutas individuais.
É essa dimensão sociológica que me interessa, não a dos costumes ou hábitos de consumo. Ou seja, pretendo responder a uma questão simples: porque é que um valor social tradicionalmente considerado positivo e digno de reconhecimento, se transformou em algo socialmente demonizado? É essa alteração que me interessa perceber.
Isto terá relação com a forma como o actual problema da união monetária tem dividido os países do norte de tradição luterana e calvinista, em que o valor da austeridade é algo de positivo, dos países de tradição católica e ortodoxa do sul, em que a ideia de austeridade é entendida como punição.
Julgo que na actual crise não são só interesses estratégicos e económicos que estão em causa, não é só dívida e especulação financeira. A crise mais não fez do que destapar as profundas divisões culturais e políticas de que esta Europa não consegue libertar-se.
Cumprimentos
David Justino
Meu caro Pedro Almeida Sande
ResponderEliminarcompletamente de acordo com a sua posição, especialmente quando escreve que aqui não há inimigos nem adversários, apenas cidadãos de debatem, concordando ou discordando. TOUCHÉ!!!
Os melhores cumprimentos
David Justino
PS: está na altura de mudar de IDADE, já estou a trabalhar sobre o próximo post: PRODUTIV IDADE
Eu,um simples operário emigrante na Holanda desde 1964 e já velhote (88anos),digo que gostei de ler êste artigo e os vários comentários e mesmo sem cultura académica para opinar,todavia atrevo-me a dizer que austeridade,segundo indica o Dicionário de sinónimos também quer dizer severidade,rigor,aspereza, rispidez,e estas qualidades morais sempre foram apanágio dos Poderosos detentores do Poder económico e financeiro os quais DITAM as Leis e
ResponderEliminara Política a seguir e isto desde há séculos com a bênção da biblico-judaico-cristã Religião para manter o Povo crente,submisso e frugal sob a mão austera,ríspida,áspera,dura da Autoridade,pois segundo ensina
a Igreja,toda a Autoridade vem de
de Deus e quem desobedece à Autoridade,desobedece a Deus.
Quanto ao domínio tripeiro, poderá o meu caro Professor ficar descansado; o recente resultado do jogo como Real Madrid, é claramente elucidativo do estado de preparação do Glorioso... aos monárquicos dragões, até os comemos!
ResponderEliminarQuanto ao valor da austeridade, em minha opinião ela emerge de um conjunto de opções individuais, aplicáveis em campos deiferentes das nossas vidas, sociais, familiares, privadas, profissionais e religiosas. Não podemos sequer imaginar a hipotese de uma consciÊncia social se formar, com base na perca de abundância em uma determinada conjuntura política, social e económica, e adoptar uma forma generalista de austeridade.
Teríamos de pertir do princípio que algo de muito profundo na sociedade se haveria de transformar, para que tal fenómeno pudesse ocorrer.
Permita-me recordar-lhe que em décadas de extrema pobreza social, motivadas por guerras, epidemias e a consequente degradação humana, a austeridade nunca foi uma opção generalista, social. Destes flagelos, emergiram posteriormente comportamentos austeros, que por sua vez, foram paresentados como exemplares, mas que mesmo assim não acompanharam nem justificaram a evolução que as sociedades conheceram posteriormente.
Quanto ao sucesso das organizações sociais nos paises nordicos, sinto que seja fruto de um plano fundamentado na valorização do individuo, na ética e no rigor em tudo o que é público, ao contrário dos países de sul, onde, precisamente porque os valores religiosos se confundem promíscuamente com o poder do capital, resultando na desvalorização do ser humano, a falsa austeridade, apresenta-se como uma forma de punição... pelo acto de existir e ser cidadão de um país em que a igreja e o capital, se unem para explorar o povo, aprovando as restrições impostas pelos governos.
Uma tragédia grega, caro Professor.
Caro David Justino
ResponderEliminarDeixe-me clarificar a minha posição
1) o problema do mundo actual é um problema de valores e de exemplos
2) as elites, são elites, não para se apropriarem dos bens públicos, mas para ser um exemplo.
3) a alteração do conceito de elites para elites do poder, trouxe a Portugal elites não forjadas nas artes, ciências...mas nos partidos políticos - falsas elites, portanto, no exemplo. Os seus exemplos de subida no elevador social através do poder, o tal que frodo sentiu pelo anel, foi confundido pelo ter e não pelo ser. O povo de que eles provinham, seguiu-o, enebriado e não frugalmente, confundindo valores. O povo que somos todos, quis sentir-se inclusivo, mas da pior forma através do consumismo induzido para além eventualmente do que o país lhe podia dar. A formação foi vista não como um enriquecimento, mas como um botão para a próxima paragem do elevador social.
4) só que o povo manteve-se em patamares baixos de rendimento e consumo, perfeitamente compreensíveis, não indo muito para além do essencial numa sociedade contemporânea - com as devidas excepções (ter uma habitação condigna não é pela certa ambição desmedida: desmedido foi o mercado que pendeu para a oferta com as margens excessivas para alguma indústria).
5) no meio de tudo isto a fraca democracia que temos, pouco participativa e completamente fosca, fez o resto. Os abusos do costume à mesa do orçamento, com políticos, jornalistas, grandes empresários, fez o resto que não é uma novidade mas uma réplica e a imagem da nossa história.
6) o ideal era um país com igualdade de oportunidades à partida, sem deixar ninguém para trás; com um sistema político transparente e participação dos cidadãos nas decisões (para que é que servem hoje as novas tecnologias senão para diluir a representatividade, indo à fonte da democracia?); com o fim de todas as mordomias (reformas em duplicado, vitalícias, uso de bens públicos, contratação pública completamente transparente, orçamentos de base zero e totalmente justificados, combate sem tréguas à corrupção,sistema de justiça à inglesa, sistema de justiça escrutinado ...)
Talvez, assim, a cidadania já não precisava dos carolas, que mais não querem do que ser carolas e que lutam pela justiça, equidade mínima e liberdade...
Caro David Justino,
ResponderEliminarNão posso deixar de concordar consigo quando afirma: “tem dúvidas que os últimos anos de governação socialista se saldaram em machadadas profundas na classe média, sem que os "mais desfavorecidos" tenham lucrado alguma coisa com isso?” Não tenho dúvidas absolutamente nenhumas. Mas acrescento.
O projecto político do socialismo europeu, em seus princípios fundamentais, identifica-se com o projecto político dos partidos conservadores europeus. É um projecto comum, uniforme, único. Uma uniformização politica que não distingue os social democratas dos democratas cristãos na Alemanha, nem os trabalhistas dos conservadores no Reino Unido, nem os populares dos socialistas em Espanha, nem os Prodis dos Berluskonis em Itália, nem os social democratas dos socialistas em Portugal. Nem os democratas dos republicanos nos USA. Todos usam o mesmo figurino político.
Este figurino é o chamado neoliberalismo. O seu fundamento ideológico reside em considerar o indivíduo como factor único e determinante no desenvolvimento das sociedades. O ser social não existe, é uma abstracção criada por esquerdistas e marxistas. Para tal doutrina apenas o ser individual faz girar o mundo. O individualismo é erguido ao seu mais elevado expoente. A solidariedade, fraternidade, abnegação, tolerância, benevolência, indulgência, são conceitos riscados da cartilha neoliberal. Os cidadãos são vistos só e apenas como consumidores. Para o neoliberalismo os direitos do consumidor são mais importantes do que as liberdades democráticas.
O neoliberalismo representa um retrocesso Social e Politico e corresponde a um mundo desprovido de valores éticos.
Atribui à participação do Estado em políticas sociais a fonte de todos os males da situação económica, como o défice público, a fraca produtividade da economia, a inflação, a ineficiência dos serviços devido aos privilégios dos funcionários. Defende reformas na Administração Pública, fala em reengenharia do Estado para criar um "Estado mínimo", afirmando que sem essas reformas o país corre o risco de não ingressar na "nova ordem mundial". Contudo, ele apresenta-se como o paladino da Democracia, da distribuição da riqueza e da redução das desigualdades sociais, embora promova activamente o contrário.
É um projecto que não tem provocado crescimento económico -segundo o relatório da Unctad (United Nations Conference on Trade and Development) de 1997, o crescimento mundial, reduziu-se de cerca de 4% ao ano nos anos 70, para cerca de 3% nos anos 80, e 2% nos anos 90) e tem provocado as maiores desigualdades sociais – “a parcela de riqueza que é destinada aos salários é actualmente a mais baixa desde, pelo menos, 1960 (o primeiro ano com dados conhecidos), em contrapartida, a riqueza que se traduz em lucros, que remuneram os detentores do capital, é cada vez mais alta “Relatório da UE”. Não é verdade portanto que “o que a investigação sobre estas temáticas tem revelado é que as últimas décadas assistiram a uma atenuação de algumas dessas desigualdades … estamos a falar da desigualdade de distribuição do rendimento” como o David Justino afirma.
Nas muitas outras questões suscitadas no seu comentário, procurarei intervir numa nova ocasião, se assim me permitir,
cumprimentos
Ora aqui está o que se pode chamar de bom regresso. Pela qualidade do post e do interessante debate que provocou.
ResponderEliminarMuito obrigado Ferreira de Almeida, mas há que reconhecer que os comentários é que deram maior animação ao debate.
ResponderEliminarO Carlos Sério, o Pedro Sande e o Bartolomeu colocaram algumas questões que merecem desenvolvimento, nomeadamente o problema das desigualdades sociais e o neoliberalismo.
Já estão registadas na minha agenda para posts futuros. Um deles de certeza que vai ser sobre as DESIGUAL(I)DADES. :)