Aí está mais uma marcha lenta dos motoristas de táxis a exigirem melhores condições de trabalho. E porque não? Estamos em maré de greves de serviços de transportes públicos. Estão em causa, argumentam, ilegalidades no transporte de doentes, aumentos das tarifas e questões administrativas relativas ao registo de horas de trabalho. É mais uma marcha de reclamação de direitos. Dos deveres nem uma palavra.
Tenho até simpatia pelos senhores taxistas, com quem às vezes se pode fazer uma conversa bem simpática. Às vezes têm histórias pitorescas para contar, muito à portuguesa. São educados e respeitadores. Mas estas experiências pessoais não podem iludir o que não está bem.
Lembrei-me de um episódio que aconteceu na semana passada, no dia em fizeram 40 graus à hora do almoço. Muitos outros haveria para contar, alguns envolvendo motoristas de táxis que fazem o serviço do aeroporto, especialmente no terminal das chegadas. Mas regressando à semana passada. Foi num daqueles dias em que tinha um almoço num local de Lisboa sem parqueamento. Qual era a alternativa, ir e vir de táxi. E foi o que fiz.
À ida fiz sinal a um táxi, depois de uma boa espera, que circulava com as janelas todas abertas. Apercebi-me que se tratava de um carro muito antigo, naquele tempo não havia ar condicionado. A ventilação do ar estava avariada. Soprava um bafo tórrido quando o táxi estava parado, para logo de seguida se transformar num vendaval com o táxi em movimento. Pedi ao motorista para fechar as janelas, pois a ventania era de tal ordem que incomodava. Não tive sorte, declarou-me que o calor era muito, ele que andava ali o dia inteiro, precisava de ar fresco. Sujeitei-me às ordens, não tinha maneira de o contrariar, e quando cheguei ao meu destino não tinha um cabelo que fosse alinhado na cabeça. Parecia que tinha visto o diabo. Estive lá perto.
À vinda, pensei que teria que esperar por um táxi moderno com matrícula recente, seria a garantia de que não se voltaria a repetir a cena das janelas desbragadas. Esperei algum tempo até que avistei um desses táxis e logo fiz sinal para parar. Sim, tinha ar condicionado, fresco até de mais para meu gosto, com um nível de temperatura de fazer congelar quem nele circulasse por mais de vinte minutos. O motorista fazia parte daqueles que presenteiam os clientes com a música aos altos berros, ainda por cima com a telefonia sintonizada num daqueles canais que até parece que existem para entreter os senhores taxistas. Ainda lhe fiz sinal que precisava de fazer um telefonema - foi a mesma coisa que nada - desisti imediatamente de tal peregrina ideia, pois não havia qualquer hipótese de manter uma conversa. Tive que aguentar. Nem por um segundo aquele vozeirão se reduziu, também eu gritei para fazer contas quando cheguei ao meu destino para solicitar ao motorista um recibo, pedido que foi mal encarado, com umas palavras ditas entre dentes, que felizmente o rádio não me permitiu ouvir.
Os clientes (ou utentes!) dos táxis é que deveriam fazer uma manifestação de protesto pela falta de profissionalismo dos muitos taxistas que por aí circulam, expressa nas mais básicas condições que deveriam observar, desde a forma como se apresentam e a linguagem que utilizam, passando pela limpeza das viaturas, até ao cumprimento das regras de trânsito e à qualidade do serviço que prestam. Com efeito, trata-se de um serviço pouco focado na satisfação do cliente. A qualidade não parece ser um objectivo. Porquê? Porque evoluiu tão pouco? Não há concorrência. Explica muita coisa, mas não tudo. Queixam-se que são muitos e que não há trabalho para todos. Mas é razão para não terem investido a sério na profissionalização da actividade? Não será antes uma consequência? Depois admiram-se. Enfim, aqui temos mais um sector a precisar de ser reformado…
Concordo. Se há sector que deveria ser liberalizado era este.
ResponderEliminarCada um que fizesse o preço que desejasse... à partida.
O que não se compreende é a liberalização em sectores sem concorrência como o que se posiciona a EDP (a tal empresa que tem lucros de 1000M€ em tempo de crise) e que a muitos de nós já faz pensar se não é melhor comprar velas aos Chineses.
Cara Margarida, os problemas que aponta, janelas abertas, rádio demasiado alto, incumprimento das regras de trânsito, não precisam de mais regras. Isso está tudo devidamente legislado. As janelas vão à vontade do passageiro tal como a telefonia vai ligada, desligada ou no volume que o passageiro quer, não o motorista. É precisamente isto o que está legislado e há uma série de anos. Agora, claro, os passageiros não estão para aborrecer-se com mandar parar imediatamente o carro e chamar a PSP para queixar-se do assunto.
ResponderEliminarJá por saber como são as coisas e como uso bastante os carros de praça desenvolvi algumas regrazinhas para o uso de carros de praça em Lisboa. Por exemplo, apanhar carros que vão a passar na rua? Não, nunca. Se não estiver nas proximidades das praças que reputo de decentes, chamo por telefone. E as praças que reputo de decentes não são assim tantas. No aeroporto, por exemplo, jamais pela cabeça me passa tomar um carro nas chegadas. Subo às partidas e tomo aí. Muito mais pacífico. No centro de Lisboa, Principe Real, Hotel Altis, Hotel Sheraton, Saldanha e muito pouco mais.
É incrivel que numa cidade Europeia tenha que ter-se cuidado com que carros de praça se apanham mas infelizmente é verdade...
Caro Pedro Almeida Sande
ResponderEliminarA regulação do sector poderia ser, ainda assim, melhorada.
No caso do sector da energia há um problema de concorrência, mas há também custos políticos que se foram acumulando e que pesam na factura da electricidade entre 45% e 50%, isto é, apenas metade da factura diz respeito ao consumo (energia e redes). Por outro lado, os custos da componente de energia são determinados pelos custos internacionais de matérias-primas dos quais estamos dependentes. Estes custos não mostram tendência para baixar.
Caro Zuricher
Está tudo legislado, é verdade, mas duvido que com o nível de exigência que deveria ter. Porque é que o sector não cumpre? Apenas porque os passageiros não reclamam?
Não é fácil ir num táxi, mandar parar, encontrar um polícia, fazer queixa. A que acresce o facto de depois nada acontecer.
O sector deveria fazer auto-regulação e institucionalizar um canal através do qual os passageiros pudessem reclamar, com mecanismos que efectivamente penalizassem os motoristas incumpridores.
Há aqui muita falta de educação e civismo. Os táxis são um cartão-de-visita das cidades, especialmente para quem as visita. Ainda recentemente estive no Japão. Os motoristas de táxis andam fardados, os carros estão limpos e bem tratados, não há janelas abertas e o rádio está off, quem não cumpre o código de conduta e as regras do funcionamento do serviço é sancionado. Mas tão importante como as regras, é o profissionalismo que fazem questão de exibir e o gosto pelo trabalho, a vontade de bem servir.
Creio que ainda subsiste um pouco a ideia de que andar de táxi é "invadir" a propriedade alheia, o taxista deixa-nos entrar e leva-nos onde precisamos, a ideia de que é um transporte de "luxo" também ajuda a que os passageiros adotem aquele comportamento de quem quase pede desculpa por ir ali. Enfim, é uma tentativa de explicação para este fenómeno tão nacional de ser um verdadeiro totoloto entrar num táxi e ser bem atendido, tanto mais estranho quanto eles se queixam realmente de que há muita oferta e pouca procura, isso implicaria melhor atendimento, ou não?
ResponderEliminarSuzana
ResponderEliminarÉ mesmo uma lotaria!