O meu fraco, ou quase nulo entendimento, acerca de questões de economia, não me permite aventar grandes considerações ou opiniões sobre o teor do post. No entanto - talvez porque possua "bichos carpinteiros" na ponta dos dedos - acabo por "esboçar" uma ou duas observações sobre a intrepretação do gráfico que o caro Dr. José Maria Brandão de Brito, generosamente nos mostra. Começo pelo contraste que se demonstra entre o endividamento público dos países, as suas ecónomias e os seus regimes de governo, notando um aspecto engraçado: de todos os países, os 6 em que se verífica um menor endividamento público e privado, 3 deles possuem um regime monárquico parlamentarista e os restantes, uma república, sendo que, dois deles foram aliados da Alemanha, na segunda guerra mundial. Verifico, no entanto, e com estranhesa, que o maior endividamento das empresas, não corresponde em todos os casos, à melhor situação económica dos países. ;)
Se o importante fosse a dívida, sim. Mas como não é, nem faz sentido que um estado económico seja completamente caracterizado por duas variáveis, ainda por cima dependentes, nada se pode concluir disto. Certo?
caro bartolomeu, Extremamente interessante a sua observação sobre a relação entre endividamento estrutural e regime político.
Caro Tonibler, Na minha opinião, em tempos de paz, a dívida é a uma das mais importantes variáveis económicas. Mas o seu impacto só se sente no médio/longo prazo.
Mas repare, caro prof, que junta a primeira derivada do activo, o produto, e relaciona-a com o passivo. Parece-me complicado para tirar conclusões, seja qual for o domínio. E, se calhar por isso, a realidade mostra que não tem nada a ver, a Alemanha não é a Grécia.
Julgo haver algumas agravantes quando a dívida é pública.
A primeira tem a ver com a nacionalização da dificuldade no acesso ao capital. Os alocadores de capital (talvez erradamente e simplisticamente) tendem a estimar o custo de capital de um projecto como a soma entre a taxa de juro sem risco, o prémio de risco do país e um prémio de risco adicional idiossincrático do projecto. Se o estado de um país se encontra sobre-endividado, o prémio de risco do país tenderá a ser mais elevado aumentando o custo de capital à generalidade das empresas desse país de forma indiscriminada (ou pelo menos de forma menos discriminada). Por outro lado, nos países em que o endividamento está nas empresas e não no estado, tenderá a haver uma atribuição mais discriminada do prémio de risco, pois o que aumenta é o prémio de risco do projecto, fazendo com que de uma forma mais assimétrica e menos à base da média se privilegiem os bons projectos e se penalizem os maus projectos.
A segunda tem a ver com a dificuldade de abertura de falência ou de reestruturação da dívida de um estado. Uma empresa se não tiver capacidade de fazer crescer os seus lucros de forma suficiente para pagar a sua dívida, simplesmente fecha ou restrutura-se, que na verdade trata-se de um processo de limpeza da economia (limpeza das empresas que não são rentáveis), permitindo posteriormente uma mais rápida regeneração do tecido empresarial. No caso dos estados, como aliás temos vindo a ver, é uma estória bem diferente... pois uma falência ou uma restruturação de um estado tem impactos sociais muitíssimo maiores e muitíssimo mais generalizados, para além de que, pela concentração da dívida numa só instituição, os credores tem nas suas mãos um problema também muitíssimo maior, levando à contínua procrastinação.
A terceira tem a ver com o peso do estado na economia. Quanto maior é a dívida de um estado, maior tenderá a ser o peso do estado na economia, e consequentemente menor será o peso da iniciativa privada nessa mesma economia. E quanto maior é um estado, e menor a iniciativa privada, menor é a capacidade desse país se reajustar às alterações que se lhe impõem, já que gerir o dinheiro dos outros causa menos insónias...
Provavelmente haverá mais razões, mas estas foram as que me ocorreram numa primeira análise.
Não estou a dizer que o sobre-endividamento privado é bom, o que estou a dizer é que ter a economia sobre-endividada é mau, mas ter o estado sobre-endividado é pior...
O meu fraco, ou quase nulo entendimento, acerca de questões de economia, não me permite aventar grandes considerações ou opiniões sobre o teor do post.
ResponderEliminarNo entanto - talvez porque possua "bichos carpinteiros" na ponta dos dedos - acabo por "esboçar" uma ou duas observações sobre a intrepretação do gráfico que o caro Dr. José Maria Brandão de Brito, generosamente nos mostra.
Começo pelo contraste que se demonstra entre o endividamento público dos países, as suas ecónomias e os seus regimes de governo, notando um aspecto engraçado: de todos os países, os 6 em que se verífica um menor endividamento público e privado, 3 deles possuem um regime monárquico parlamentarista e os restantes, uma república, sendo que, dois deles foram aliados da Alemanha, na segunda guerra mundial.
Verifico, no entanto, e com estranhesa, que o maior endividamento das empresas, não corresponde em todos os casos, à melhor situação económica dos países.
;)
Se o importante fosse a dívida, sim. Mas como não é, nem faz sentido que um estado económico seja completamente caracterizado por duas variáveis, ainda por cima dependentes, nada se pode concluir disto. Certo?
ResponderEliminarcaro bartolomeu,
ResponderEliminarExtremamente interessante a sua observação sobre a relação entre endividamento estrutural e regime político.
Caro Tonibler,
Na minha opinião, em tempos de paz, a dívida é a uma das mais importantes variáveis económicas. Mas o seu impacto só se sente no médio/longo prazo.
Mas repare, caro prof, que junta a primeira derivada do activo, o produto, e relaciona-a com o passivo. Parece-me complicado para tirar conclusões, seja qual for o domínio. E, se calhar por isso, a realidade mostra que não tem nada a ver, a Alemanha não é a Grécia.
ResponderEliminarJulgo haver algumas agravantes quando a dívida é pública.
ResponderEliminarA primeira tem a ver com a nacionalização da dificuldade no acesso ao capital. Os alocadores de capital (talvez erradamente e simplisticamente) tendem a estimar o custo de capital de um projecto como a soma entre a taxa de juro sem risco, o prémio de risco do país e um prémio de risco adicional idiossincrático do projecto. Se o estado de um país se encontra sobre-endividado, o prémio de risco do país tenderá a ser mais elevado aumentando o custo de capital à generalidade das empresas desse país de forma indiscriminada (ou pelo menos de forma menos discriminada). Por outro lado, nos países em que o endividamento está nas empresas e não no estado, tenderá a haver uma atribuição mais discriminada do prémio de risco, pois o que aumenta é o prémio de risco do projecto, fazendo com que de uma forma mais assimétrica e menos à base da média se privilegiem os bons projectos e se penalizem os maus projectos.
A segunda tem a ver com a dificuldade de abertura de falência ou de reestruturação da dívida de um estado. Uma empresa se não tiver capacidade de fazer crescer os seus lucros de forma suficiente para pagar a sua dívida, simplesmente fecha ou restrutura-se, que na verdade trata-se de um processo de limpeza da economia (limpeza das empresas que não são rentáveis), permitindo posteriormente uma mais rápida regeneração do tecido empresarial. No caso dos estados, como aliás temos vindo a ver, é uma estória bem diferente... pois uma falência ou uma restruturação de um estado tem impactos sociais muitíssimo maiores e muitíssimo mais generalizados, para além de que, pela concentração da dívida numa só instituição, os credores tem nas suas mãos um problema também muitíssimo maior, levando à contínua procrastinação.
A terceira tem a ver com o peso do estado na economia. Quanto maior é a dívida de um estado, maior tenderá a ser o peso do estado na economia, e consequentemente menor será o peso da iniciativa privada nessa mesma economia. E quanto maior é um estado, e menor a iniciativa privada, menor é a capacidade desse país se reajustar às alterações que se lhe impõem, já que gerir o dinheiro dos outros causa menos insónias...
Provavelmente haverá mais razões, mas estas foram as que me ocorreram numa primeira análise.
Não estou a dizer que o sobre-endividamento privado é bom, o que estou a dizer é que ter a economia sobre-endividada é mau, mas ter o estado sobre-endividado é pior...
Fiz sentido?
Abraço
Miguel
Miguel Menezes Falcão