terça-feira, 7 de agosto de 2012

Crise do Euro: também de férias em Agosto?

1. São notícias bem frescas, de hoje: (i) Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) emite dívida com taxa de juro negativa, (ii) Grécia emite dívida a juros mais baixos, (iii) juros (implícitos na cotação) da dívida portuguesa mantêm descida acentuada.
2. O FEEF emitiu e 1.431 milhões de dívida ao prazo de 3 meses, com taxa média negativa de -0,0217%, o que quer dizer que os investidores subscreveram os títulos a um preço superior ao do valor que vão receber reembolso, sendo essa diferença superior aos juros a receber...segurança, quanto vales...
3. A Grécia emitiu dívida no montante de € 812,5 milhões, pelo prazo de 6 meses (vai vencer-se só em Fev/2013...), a uma taxa média de 4,68% (4,7% em leilão anterior).
4. Os juros da dívida portuguesa, em função da cotação desta no mercado secundário, continuam a descer de forma acentuada, mostrando na maioria das maturidades nível inferior ao que se verificava na altura em que Portugal, sujeito a uma situação de sufoco financeiro, se viu na necessidade de recorrer à ajuda dos credores internacionais...
5. ...concretamente os juros da dívida a 2 anos estão bastante abaixo de 7% (6,67%), da dívida a 5 anos em 8,689% e da dívida a 10 anos em 10,222% (na semana passada superiores a 11%).
6. Quererá isto dizer que os mercados, convencidos finalmente pelo verbo do Presidente do BCE, estarão acreditando de novo na solvabilidade dos países do Euro e, em particular, na capacidade dos responsáveis em encontrar soluções para a decantada “crise do Euro”?
7. Em movimento condizente, a cotação Euro/USD tem recuperado nos últimos dias, aproximando-se de 1,25 (aqui já não serão notícias muito agradáveis...).
8. A confirmar-se esta recuperação, ficará em sério risco a tese ultimamente sustentada pelo Pinho Cardão neste Blog - com extraordinário denodo e coragem deve referir-se - a qual imputa aos funestos mercados e às teses neo-liberais (?) a origem última da crise do Euro...
9. Ou será que a crise resolveu mais singelamente meter férias em Agosto, regressando no início de Setembro com renovada intensidade, para voltar a dar razão à proclamada tese do Pinho Cardão?

5 comentários:

  1. Ironia excessiva, caro Tavares Moreira, a dos pontos oito e nove!...
    Todavia, há que dizê-lo, o governo de Sócrates controlou de forma absoluta a despesa pública, foi altamente restritivo,e não a deixou, porventura com enorme mágoa, ultrapassar os 52% do PIB; também as dívida pública nem cresceu por aí além no consulado socrático, apenas duplicou. Para pagar os próprios juros da dívida o Governo teve que recorrer ao crédito. Neste quadro prometedor, as finanças públicas estavam perfeitamente sãs. Assim sendo, é perfeitamente plausível a tese de que os grandes culpados da crise foram, isolada ou conjuntamente, o capitalismo financeiro, os grandes especuladores internacionais e a pérfida doutrina neoliberal. Porque, cá por casa, estava tudo bem. Tanto estava que nem foi preciso pedir o apoio da Troyca. Esses verdadeiros malfeitores invadiram Portugal, sem licença ou autorização. Merecem ser expulsos, mesmo que se deva a eles, e ao dinheiro que legitimam vir, ainda termos serviços públicos com qualidade. E vencimentos dos funcionários pagos no fim do mês.

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  2. Mas uma vez o governo português mantém-se impávido a mais este ataque dos especuladores da economia de casino às poupanças dos pequenos investidores que contavam com as altas taxas de juro para compensar as suas pensões de miséria. É um governo de calças na mão a pedir favores à Merkel e a aplaudir mais este ataque do imperialismo capitalista!

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  3. Inacreditável, caro Tonibler!
    E verdadeiramente insuportável.

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  4. se calhar os funestos mercados e os perigosos neo liberais não dispensam uma pausa para ganhar fôlego, pode ser que se habituem ao ritmo doce dos preguiçosos do sul e fiquem uns tempos sossegados :)Mas que não consigo tirar nenhuma conclusão destes números, não consigo, os investidores perdem dinheiro ao investir no FEFF porque perderiam muito mais nos países que, aparentemente, recuperam a confiança dos mercados! Quanto á descida das taxas de juro, será que são significativas, 10,2%, 8,6%? Que significado tem se na próxima emissão aumentarem ou pouco descerem, conseguimos vir a pagar melhor do que se fosse 11%?

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  5. Caro Pinho Cardão,

    Ora aí está, apresentado pelo meu Amigo, o retrato fiel, embora muito resumido, do que se passou em Portugal: a política económica e financeira prosseguida com invejável talento até aos alvores de 2011 era modelar, o PAEF foi uma imposição externa de cariz conspirativo promovida pelos neo-liberais - acolitados pelas tenebrosas agências de rating e usando como cães de fila os especuladores de casino - a quem muito incomodava o socialismo charlatanista mas de enorme sucesso que grandes estadistas como Chavez tanto gabavam...
    O facto de termos acumulado uma dívida pública que não conseguiríamos jamais reembolsar era um detalhe sem especial importância, os credores tinham a estricta obrigação de continuar a financiar-nos pois essa é a função de qq credor que tenha um mínimo sentido de responsabilidade social.

    Caro Tonibler,

    Sim, não se compreende como o Governo luso não reage a mais este ataque especulativo que agora faz baixar, sem qq decoro, as taxas de juro implícitas na cotação de mercado da dívida pública portuguesa...
    E também não compreendo a passividade, perante esta nova arremetida neo-liberal, daquele punhado de herois que em 2011, desafiando todos os novos poderes neo-liberais, correndo riscos incalculáveis, cometeram a ousadia de apresentar na PGR uma queixa-crime contra as agências de rating...
    Será que ficaram esgotados com essa iniciativa, que aliás tanto sucesso fez?

    Cara suzana,

    Tem razão em observar que parece haver nestes números, ou melhor nesta corrente de acontecimentos, alguma falta de lógica, uma vez que a percepção da melhoria do risco das dívidas pos países do sul deveria tornar os títulos emitidos pelo FEEF menos atractivos, não justificando a taxa de juro negativa que vão suportar...
    Mas devo admitir que caso tivessem sido emitidos há 1 ou 2 semanas a taxa de juro não tivesse sido de -0,02% mas de -0,08%...assim a lógica fica reposta.

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