O pivot de serviço dá, no telejornal, a notícia de que a notícia era, afinal, outra. "Afinal pode não ter passado de um acidente...". Referia-se ao homem de 28 anos que no sábado passado foi hospitalizado por apresentar queimaduras graves no corpo. Durante 48 horas apresentou-se o caso como expressão máxima do sofrimento, do desespero, da horrível desistência de um jovem. Assim, cruamente. Um jovem que se dispunha à imolação pelo fogo. Não apareceu então uma só alma condenando a loucura do gesto para que tal fogo não se propagasse por espíritos mais fracos que os há por aí aos montes. Somente os opinadores do costume, explorando à exaustão o caso do jovem desistente.
Afinal o jovem, diz agora o locutor, preparava-se para cuspir fogo quando alguma coisa correu mal. "...pode não ter passado de um acidente", diz de sorriso nos lábios. Coisa menor, para justificar o "...pode não ter passado...". "Afinal"?! Mas quem criou a ideia de que se tratou de um ato voluntário e desesperado não foi a comunicação social, sedenta como sempre está de acontecimentos dramáticos e da sua exibição?
Está visto, mesmo na TV de serviço público a notícia não é o produto de um exame sério e atento de factos e circuntâncias, mas quase sempre o apelo às emoções mais primárias, exercício no qual não se reserva qualquer papel para a verdade.
Dramático é o facto de poucos se aperceberem do efeito destrutivo deste "jornalismo"...
Tem toda a razão José Maria. Eu próprio me manifestei contra a publicação de uma foto de um imolado a querer comprovar o que tinha ocorrido em Aveiro. Também critiquei a atitude de muitos "indignados", e sobretudo fui confrontado com a atitude superior e respeitador do seu sofrimento pelos fotojornalistqs portugueses. Tudo na perspetiva de alguns profissionais da comunicação social. Na altura desejei as melhoras ao jovem e agora reitero-as com a mesma vivacidade.
ResponderEliminarBoa e rápida recuperação.
José Mário, claro!
ResponderEliminar"Está visto, mesmo na TV de serviço público a notícia não é o produto de um exame sério e atento de factos e circuntâncias, mas quase sempre o apelo às emoções mais primárias, exercício no qual não se reserva qualquer papel para a verdade."
ResponderEliminarInfelizmente isto é cada vez mais verdade!
MAS...é verdade tanto para o caso do "pseudo imolado"...
como é tambem verdade para noticias que nos dizem : "se não for assim...a Troika foge!" ou "...tem de ser assim, pq os portugueses viveram alem das possibilidades" ou "se não perdermos os 2 subsidios isto não tem safa" ou "Relvas absolviido pela ERC" ou etc etc.
Ou seja, infelizmente, a falta de rigor das noticias é a mesmissima, seja nas coberturas dádas a manifestantes e extremistas...seja na cobertura dáda ás medidas e justificações apresentadas pelos governos!
Muitos de nós se apercebem "do efeito destrutivo deste jornalismo" simplesmente não temos oportunidade de o denunciar em tempo útil e não sei para que servem as autoridades que deveriam auditar a qualidade da informação.
ResponderEliminarNo Domingo passado (16/09/2012)quando todas as estações de TV transmitiam a manifestação frente à Assembleia da República, não sei se alguma se referiu (perante a força das imagens) às provocações de que estavam a ser alvo as forças de segurança e à sua estóica passividade. No entanto, de cada vez que essas forças se mexiam para retirar ou recolocar uma barreira ou até mesmo para acalmar algum manifestante, pelo menos numa estação houve,eu ouvi,uma jornalista que reportava imediatamente "uma carga policial".
É assim...
Eu ouvi um repórter a dizer que o rapaz estava pertíssimo de si e que ele o viu a regar-se com um líquido e a (auto)incinerar-se.
ResponderEliminarCaro Ferreira de Almeida:
ResponderEliminarServiço público de televisão? Claro que não.
O objectivo, agora comprovado, era que assimilar as manifestações em Portugal às violentas manifestações gregas. E arranjar pasto para notícias chocantes. Aliás, na manhã da manifestação foram vários os "apelos" da televisão pública para a manifestação. A RTP tinha o dever de relatar o acontecimento, mas devia abster-se de o promover. A RTP não pode ser co-produtora de eventos.
No que respeita ao caso em apreço, ouvi e desconfiei, porque não vi imagens nenhumas. Não era curial que o homem se imolasse em privado, mas publicamente. E, naquele caso, não haveria uma imagem de amador a comprovar o feito?
Também li relato circunstanciado num jornal. Mas nem entrevistado foi qualquer espectador, nem nada que, pelos meios habituais, comprovasse o incidente e a motivação.
Caímos no domínio do que, não há muito, era considerado improvável ou impossível: ser a televisão pública a criar produto informativo falso para melhor informar. Serviço público do melhor!...
Ainda bem que assim é. Quando ouvi a notícia achei estranho porque não está na nossa tradição a imolação voluntária. Somos mais pelo suicídio...
ResponderEliminar
ResponderEliminarÉ a liberdade, Srs Liberais. Aguentem-se!
É realmente inacreditável o que se passa no fervor noticioso em cima do acontecimento, portam-se como autênticos incendiários (passe o trocadilho sem ironia)sem respeito por quem tem que assegurar a ordem e conter a violência. Foi um incitamento a outros desvarios, um cheiro a drama inventado que se quis real, um falta de decoro e de sensibilidade. Uma irresponsabilidade grave, custa a crer.
ResponderEliminarTenho notado ultimamente um certo rancor da TV publica em relação ao governo.
ResponderEliminarNão compreendi a ideia de fazer um directo alargado da manifestação do ultimo fim de semana.
Os trabalhadores não estão a resistir ao poder que têm. Não lhes chamo jornalistas porque me parece que estão longe da isenção e rigor necessários.
Caro Zé Mário
ResponderEliminarOs jornais de hoje confirmam a tese de que o jovem se tentou imolar...
Veremos as edições de amanhã...
ResponderEliminarÓ José Constantino, não me diga? Como é isso possível? Então em Portugal não há essas tradições...
ResponderEliminarO outro acima nota um certo rancor da TV pública pelo governo... bem, a ser verdade, sempre é uma novidade - vá, não recuemos ao Sal + Azar - em tempos de democracia.