A determinada altura falei do erro médico, algo a que nenhum
clínico consegue fugir, uma fatalidade marcada pela imprevisibilidade de
inúmeros acontecimentos que nos fogem ao controlo. Nem os deuses conseguem
dominar a natureza humana quanto mais um ser humano. Expliquei-lhes que ninguém
consegue evitá-lo, mas podemos minimizá-lo, facto que está ao nosso alcance,
desde que dominemos algumas técnicas, técnicas e princípios que me compete
descrever e ensinar. Olharam-me em silêncio. Todos os que estão neste auditório
irão cometer erros, todos, afirmei com solenidade. Para vivermos com eles temos
de compreender as razões do mesmo, evitando que nos acusem de negligência ou
que o remorso corroa a nossa alma, porque uma alma corroída procura sempre novos
erros.
Erro é diferente de negligência, erro é diferente de má
conduta médica. O erro é previsível, é aceitável e com alguma frequência
impossível de evitar. Não é a falta de sabedoria ou de honestidade que o faz
emergir dentro do oceano turbulento das probabilidades. Faz parte da vida. O
mesmo não acontece com a má conduta científica, um fenómeno em crescendo, que
revela desonestidade, mau caráter e que pode estar na base de decisões erradas
por parte de quem tem necessidade de absorver conhecimentos científicos. A
história da ciência está repleta de inúmeros e interessantíssimos casos de
erros, de fraudes e má conduta científica. Quando descobertos, têm de vir a
terreiro para se retratarem. No caso de erros, as explicações dadas são mais do
que suficientes para proteger as verdadeiras intenções do investigador, que,
tal como um clínico ou outra pessoa, sabe que errou. O pior são as outras duas
situações.
Um estudo recente revelou que dois terços das retratações
foram devidos a má conduta científica, que sofreu um aumento significativo
desde 1975, dez vezes mais. Alguns foram mesmo acusados de fraude, outros de
plágio e duplicação de publicações. São as publicações mais famosas as
“vítimas” deste comportamento. As razões são várias, quem publica mais e “melhor”
acaba por ter proventos substanciais, fama, fortuna e respeito. A ciência
deveria estar imune a estes fenómenos, e até sabe criar mecanismos para os
evitar, mas, mesmo assim, conseguem iludir e “inundar” o mundo da ciência com
erros “propositados” revelando a essência da natureza humana, propensa,
inequivocamente, para a má conduta.
O erro, a má conduta e a fraude estão presentes em todas as
circunstâncias, na religião, na política, na economia, na comunicação social,
em todas as áreas da vida humana. O erro é aceitável, porque ajuda a
colocar-nos na devida posição de humildade face ao desconhecido e à
imprevisibilidade de prever os acontecimentos em toda a sua extensão, mas a
fraude e a má conduta, não, constituem formas arrogantes e dominadoras de imposição
de dogmas, de regras, de ideologias, de soluções e de interesses que, fugindo
aos “divinos” objetivos da humanidade, se encarregam de lhe dar o seu
verdadeiro significado, o que interessa é sobreviver, nada mais do que isso.
Entretanto, a ciência, a “pureza” da verdade, vai-se deixando contaminar pela
verdadeira natureza humana. E assim irá continuar.
O melhor é ir aproveitar esta bela tarde de sol e ler
poesia...
Por isso é que no Direito, o erro tem diferentes valorações. Entre o erro, como ignorância, e o erro, como suposição, há um infinito de casos.
ResponderEliminarTambém há erros que o direito os deixa passar...um exemplo é o exagero de um produto cognoscível no tráfico entre pessoas dotadas de razão (p. ex. a publicidade não é crime de burla e em geral não é ilicito civil).
Em síntese, o Direito, e os homens que o fazem, sabem que o homem é um permanente "completar-se".