É extraordinária a força ou a
fraqueza das palavras. Podemos utilizá-las para dar um significado rigoroso ao
que pretendemos expressar, mas também as podemos utilizar para causar dúvidas, interpretações
várias porque a ideia é essa mesma, poder significar qualquer coisa ou o seu
contrário. Assim têm sido os últimos tempos no palco da política. Nunca se viu
tanta criatividade, tantas palavras ou expressões novas que inesperadamente, embora pertencendo ao
mundo do simples e do banal que o comum dos mortais entende, são promovidas ao
mundo complexo da política que o comum dos cidadãos não consegue atingir. Palavras
que têm direito a primeiras páginas, noticiadas horas sem fim nas televisões,
que ficam para a memória dos acontecimentos futuros. Palavras que querem dizer
tudo e que não querem dizer nada. Não importa o seu alcance, importa o efeito
mediático ou outros efeitos ocultos de difícil descodificação. É uma
questão de conveniência. Vem isto tudo a propósito de mais uma expressão que
hoje ou ontem, não interessa, encaixa que nem uma luva neste novo estilo.
Chama-se low cost. É mais uma que se
junta à colecção, com António José Seguro a avisar o primeiro-ministro que o seu
partido não será cúmplice na criação de um Estado low cost para os portugueses. Low cost!
Mas parece-me que desta vez Seguro utilizou o termo low-cost de modo canhestro. A este propósido escrevi no meu blog:
ResponderEliminar«António José Seguro afirmou que o Governo não pode contar com o PS para criar o Estado low-cost. Por consequência, defende um Estado high-cost, o que não é novidade, aliás no seguimento do very high-cost de Sócrates. Só não sei onde vai Seguro arranjar dinheiro para este elevado cost»
É para o que dá 5 segundos de atenção, um microfone posto á frente, umas ideias no ar, falsas "discussões", ou "debates", tudo na praça pública, no meio da confusão, a encher horas e horas de coisa nenhuma. Tudo low cost, o que quer? O mediático não dá para muito mais, esperemos que longe das televisões haja mais reflexão sobre temas que se agendam como "estruturantes".
ResponderEliminarHa bastante tempo que não passeio numa feira. A partir de certa altura, mesmo na província, comecei a acha-las descaracterizadas, porque comecei a notar o desaparecimento das bancas que vendiam os produtos característicos das regiões, produzidos pelos naturais, das formas tradicionais.
ResponderEliminarParece-me que essa perda está a começar a recuperar-se, talvez pelo efeito da crise, tanto os vendedores como os compradores, notaram a necessidade de voltar ao que era d'antes.
Uma figura típica das feiras que cativava e detinha a minha atenção durante uma boa dezena de minutos, eram os/as vendedores de atoalhados. Aquela figura típica muito desembaraçada, de microfone armado-ao-peito, empoleirada em cima de uma camionete carregada dos mais diversos artigos para a casa, "debulhava" palavras e números numa cadeia ininterrupta, impressionante; verdadeiras cascatas de frases curtas a puxar ao sentimento popular «e a senhora aí, que tem uma filha para casar... não vai levar só este belíssimo atoalhado, mas vai levar também este jogo de banho em turco irlandês e mais esta belíssima colcha que vai tornar ainda mais bonita a sua cama, e pelos mesmos 5 euros, ofereço-lhe mais este par de pegas bordadas à mão...»
Uma feira autêntica, cara Dr. Margarida. Mas não uma feira típica. Uma feira sofisticada, em que os feirantes vendem nada e os clientes, compram menos ainda.
Cara Margarida:
ResponderEliminarMentes vazias é o que mais vai proliferando nos nossos políticos. Umas ensaboadelas de jota, umas assessorias de coisa nenhuma, uns fumos de deputados e aí está um político low cost. Para ele prório, que para nós é caríssimo!
Margarida
ResponderEliminar"Os novos media dominam a comunicação, reduzindo a duração das
imagens para 7 segundos e o tempo oficial permitido para as respostas
para15 segundos."
Michel Serres dixit em "Pequeno polegar, ou os humanos digitais: como
ensiná-los" (ver post de 27.08.2012).
Assim, só mesmo com soundbites...mas é muito redutor e será difícil fazer o caminho inverso: só acontecerá quando as pessoas quiserem realmente explicações a sério e os media perceberem isso mesmo.
É a política reduzida ao nihilismo do soundbyte, Margarida. Rende notoriedade, apesar de em nada contribuir para aquilo que é o desígnio da política: a felicidade das pessoas concretas por via da gestão do que é condominial.
ResponderEliminarEstamos assim, condenados a viver a política da frase bombástica...
Carro Freire de Andrade
ResponderEliminarMas alguém sabe o que é o Estado Social low cost ou high cost?
A palavra low cost que até tem um sentido comercial positivo, foi usada para conferir uma carga negativa à "reforma" ou à "refundação" ou ao "nada" como comentou o Professor Marcelo Rebelo de Sousa. "Canhestro" ?!
Suzana
O espectáculo é super low cost (será que existe esta expressão?!). Quero acreditar que alguém esteja a trabalhar a sério e já há muito tempo, porque não se decidem reformas em dois ou três meses.
Caro Bartolomeu
Como conheci bem as feiras que tão bem descreveu, tudo se vendia, tudo se comprava, com meia dúzia de palavras bem gritadas, mas bem medidas, com toda a naturalidade.
Agora são as feiras do nada, mas ainda há quem se deixe comprar e se deite a adivinhar o que os feirantes querem dizer. São enganados, pagam caro e depois queixam-se.
Dr. Pinho Cardão
O barato sai caro, já diz a sabedoria popular.
Caro Impaciente
É preciso ter muita paciência para este estilo low cost, quando se esgotar inventam outra coisa qualquer. O problema é que ficam a falar para eles próprios porque ninguém os quer ouvir. Pedir explicações é uma mudança demasiado qualitativa para termos esperança que vai acontecer. Além disso, as explicações deixam pouco espaço para manobras mediáticas.