Há um abismo entre o custo de uma coisa e o valor dessa mesma coisa. O facto de, cada vez mais, no determos no custo, porque a isso correspondem problemas ou vantagens de curto prazo, leva a que se ignore, ou subverta, o valor intrínseco que lhe está associado e que, em regra, levou à decisão de investir. Quando um jovem casal decide comprar uma casa, empenhando os seus salários futuros por muitos anos, não avalia só o “quanto”, mede as vantagens de canalizar para aí as suas poupanças, mede a segurança de ter casa própria, imagina que os seus filhos ficarão com esse capital. Quando se decide a educação de um filho, não se avalia só o custo das propinas, ou do sustento dele até acabar o curso. Mede-se o valor que terá o conhecimento, a maior capacidade de enfrentar o futuro, o benefício para a sociedade de ter cidadãos mais esclarecidos. Até quando se compra uma roupa nova, uns sapatos mais caros mas que não fazem bolhas nos pés, ou não provocam distorções na coluna, até aí medimos o valor e não apenas o custo, arriscando um cálculo do imaterial. Ser consumista será talvez isso mesmo, ignorar o valor das coisas e a razoabilidade do seu custo, essa proporção virtuosa que permite ver para al+em do impulso ou da necessidade do momento. Há até uma forma simplista de resumir isto, o velho ditado “o barato sai caro”, olhar só o custo dá origem a más opções. Fica resolvido o problema do momento mas, mais tarde, lamentaremos a estreiteza da avaliação. O risco maior está no valor, ou na ausência dele, e não no custo. E o valor de muitas opções passa também pela existência de critérios de natureza ética, ou moral, as quais se projectam mais tarde em modelos de coexistência que se tornam insuportáveis, por ausência deles, ou muito reprodutivos, se gerarem confiança, afectos ou ambição. Nenhuma sociedade digna desse nome, por pequena que seja, subsiste apenas com base em análises de custos, o que não significa, de modo algum, que estes devam ser ignorados ou subvalorizados, significa que não se podem equacionar em vez de, ou sobretudo, dispensando o critério exigente da ponderação desse cimento agregador que distingue uma empresa predadora que gera ódios e ressentimentos de uma empresa que se orgulha de servir de exemplo a outras e que constitui uma referência de respeitabilidade e decência para os seus e para os de fora. Nenhuma sociedade subsiste sem valores morais que guiem e se reflictam nas decisões, que não se quantificam nas parcelas dos custos mas que, se foram sacrificados, se tornarão em factura pesada na destruição de valor. A aceitação do custo depende do compromisso com o valor que esse custo aportará, se não se souber qual é nem se acreditar que venha a cumprir-se, tudo dependerá da disponibilidade do momento. Sem que estes “imateriais”sejam reconhecidos e abraçados, todos os rumos são fugazes, incertos e facilmente contestados e destruídos.
Cara Drª. Suzana,
ResponderEliminaracabo de ler este post pela 3ª vez e, apesar de compreender aquilo que li, uma pequenina intuição não deixa de pairar acima do meu entendimento. diz-me essa intuição, que a minha compreensão, está aquém do seu significado.
Mas como não atinjo aquilo que suspeito ser o verdadeiro significado do texto, fico-me pelo comentário ao que julgo ter compreendido. Daquilo que me parece ser o sentido linear; a diferença entre custo e valor e o critério de avaliação desse custo, face ao valor que se pode retirar do bem, fica a faltar a especulação face à carência do bem no mercado, ou a sobrevalorização, face ao excesso de bens.
A medida justa, é para mim a que vigorava na aldeia gaulesa do Asterix, onde, quando o preço das coisas excedia o seu valor, acabava tudo à "batatada".
;)
VIVA O 25 de NOVEMBRO 75, o verdadeiro dia da Liberdade
ResponderEliminarBrilhante esta reflexão, servindo-se da analogia, entre produtos que não incorporam “valor”, e por isso não fazem a diferença, e as políticas que, também por ausência de “valor” nas opções, tendem a sonegar a esperança no futuro, arrastando as sociedades para o pior, seja isso o que for…
ResponderEliminarMuito bom, mesmo.
Caro bartolomeu, o risco de tomar o custo pelo valor é o de considerar que se perder esse bem só perde o que gastou e "poupa" o que deixa de gastar quando, de facto, corre o risco de perder muito mais e de poupar muito menos.
ResponderEliminarCaro jotac, precisamente.