1. Não deixei de notar que a notícia da revisão em baixa da previsão do PIB para o corrente ano, avançada na última 3ª Feira pelo BdeP no seu Boletim Económico do Inverno – de -1,6% na anterior previsão para -1,9% agora – foi recebida pela generalidade dos habituais comentadores, tanto laicos como de vínculo politico, com indisfarçável satisfação, a tanger um cântico de vitória...
2. Uma das maiores curiosas reacções foi a do bem conhecido (e até bastante simpático) líder de um importante partido da oposição, o qual lembrou, com assinalável dose de inspiração, que o Governo se tinha enganado mais uma vez...
3. Achei particularmente curiosa essa declaração, por duas razões: (i) que eu saiba o Governo ainda mantém a previsão de variação negativa do PIB de -1% para 2013, portanto, se vier a estar enganado – e até é provável que isso suceda – só poderá enganar-se uma vez...não me parece possível, mantendo a mesma previsão, enganar-se duas ou mais vezes...; (ii) estamos para já e apenas no domínio das previsões, o resultado final só será conhecido em 2014; assim sendo, falar em engano nesta altura parece não ter lógica - não é possível um engano de previsão enquanto o facto que é objecto da previsão ainda não se verificou...pode falar-se de um excesso de optimismo, se quiserem, mas nunca de um engano...
4. Mas a previsão do BdeP, para além desta tão “auspiciosa” revisão em baixa do PIB, mantém o cenário de retoma económica a partir do 3º trimestre do corrente ano – lamentavelmente partilhado pela OCDE – o que, a confirmar-se, significará o fim da recessão, notícia que seria verdadeiramente trágica para os nossos muito estimados Crescimentistas para quem, axiomaticamente, o crescimento e a actual política são totalmente incompatíveis...
5. Essa eventualidade, adicionada ao hipotético regresso da República Portuguesa aos mercados, seguindo o trilho da Irlanda, que os comentadores especializados começam a admitir como provável, equivaleria a um cenário de horror para os habituais comentadores de serviço e para as fileiras Crescimentistas.
6. Portanto e para já, a nossa (amiga) sugestão vai no sentido de que uns e outros aproveitem bem esta vuluptuosa fragrância da recessão, enquanto ela dura, pois pode acontecer que lá para o Verão a coisa comece a tornar-se mesmo feia...e aproveitar bem significa fazerem o máximo ruído possível, esticarem até ao limite a corda da crise política, tentando tudo para que aquele cenário se não verifique...
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarJá reparou que o BdP acha que o crescimento do PIB em 2014 virá em grande parte do aumento da despesa pública ?
Não é esquisito ?
Sobre a recessão de 1,9% do Bdp para 2013, parecem bastante razoáveis os pressupostos, até porque o deficit real deverá ser superior a 5% o que amortecerá a recessão.
Caro Tavares Moreira e restantes bloggers e demais comentadores, é de saudar o regresso aos mercados já este ano, esperando todos nós que seja à custa de entidades externas e não com o financiamento dos nossos bancos e dos fundos da Segurança Social, sob pena de ter de se cortar mais no Estado Social do aquilo que está previsto por manifesta insustentabilidade do mesmo.
ResponderEliminarA pergunta que se faz, aqui como noutras alturas é: "E se o Banco de Portugal tiver razão? E se a evolução do PIB for negativa em 1,9%?"
Aconselho a leitura atenta de um artigo que considero muito bem escrito e demais comentários num blog que sigo com bastante interesse.
Poderão ser lidos, quer o artigo, quer alguns comentários em:
http://quartarepublica.blogspot.pt/2012/12/2013-e-se-as-previsoes-do-bdep-baterem.html
Boas leituras!
O meu caro Tavares Moreira com esse seu eterno " para o ano é que é" deve ser do Sporting...
ResponderEliminarCaro Paulo Pereira,
ResponderEliminarÉ verdade, como diz, que um dos contributos para a variação positiva do PIB em 2014 vem de um crescimento de 1,5% do consumo público algo que,tal como ao ilustre comentador, me suscita algumas dúvidas.
Mas, como terá reparado, tb no investimento (FBCF) é prevista uma variação muito expressiva, passando de -8,4% em 2013 para +2,8% em 2014...e até o consumo privado passa a positivo.
E, por via dessas alterações, as importações crescerão 3,5%, depois de quedas sucessivas nos 3 anos anteriores.
Devo confessar-lhe que me inclino para um cenário com variação menos positiva da procura interna e das importações, resultando num contributo talvez nulo da procura interna para a variação do PIB, compensado, porventura, por um contributo um pouco maior da procura externa...
Mas tudo isto são meras conjecturas, tudo pode mudar até 2014...
Caro Carlos Miguel Praxedes,
Se o BdeP tiver razão, "in the end" ,poder-se-á então concluir que o Governo se enganou...mas, neste caso, enganou-se uma vez e não novamente...
E, provavelmente, a receita fiscal ilustrará essa realidade com um comportamento inferior ao esperado, etc,etc.
Caro Carlos Monteiro,
Esse "eterno para o ano é que vai ser" não será eterno, nem é meu: a previsão é do BdeP e a minha contribuição para a mesma é inexistente...
Quanto à analogia com o Sporting, acertou, sou desde sempre um adepto do velho Leão, mas, nesse caso, nem para o ano (2014)...
Ui... previsões....
ResponderEliminarMas vê, eu sabia que era do Sporting!
O banco de Portugal acertar numa previsão?? lOL!! Nem na de 2012, quanto mais na de 2014.....
ResponderEliminarAquilo que não entendo, mas isso devo ser eu que não percebo nada disto de finanças publicas é porque é que o governo se deve preocupar com as previsões de crescimento. Isso significa que o governo está à espera de saber quanto é que os seus cidadãos vão ganhar para lhes ir roubar o dinheiro. Na minha, certamente errada percepção de gestão, o estado deveria estar a ajustar a despesa aquilo que é de facto entregue pelo estado que não tem nada a ver com com previsões porque se o valor entregue for ajustado não vai haver défice, independentemente da previsão.
Mas a minha percepção deve estar errada. O que também é irrelevante porque o Cavaco se prepara para deitar o governo abaixo.
Caro Carlos Monteiro,
ResponderEliminarIsso mesmo, previsões, as quais de resto vão sendo ajustadas de trimestre em trimestre...o simpático político que citei esqueceu-se (não se lhe pode pedir tudo, é certo) de dizer que tb o BdeP se enganou por mais de uma vez, ao apresentar previsões diferentes das anteriores!
O dogma da infalibilidade tem que se lhe diga, nem todos os políticos - só muito poucos aliás -dele beneficiam...
Quanto ao SCP, é melhor não (tentar) bater mais no ceguinho...
Caro Tonibler,
O Governo não parece muito preocupado com esse tema, pois mantém, serenamente, a mesma previsão que apresentou com a proposta de OE para 2013...
E acho que faz bem pois, caso se engane, só se engana uma vez, ao contrário do que consta da proclamação do fogoso político...
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarConceptualmente, concordo com a sua análise.
Caso as previsões do BdeP para 2013 venham a confirmar-se, o governo só se terá enganado uma vez pois só fez uma previsão.
Acresce que não me lembro de qualquer governo, crescimentista ou austerista, ter acertado nas projeções.
Preocupa-me, no entanto e muito, a previsão relativa aos números do nosso desemprego (o governo prevê 16,4% no OE2013 e a taxa em Novembro já estava nos 16,3%, acho inacreditável como se prevê um acréscimo de 0,1 pontos percentuais para o ano que vem)e a perda abrupta do poder de compra da maioria dos portugueses.
No mais, penso que o Estado devia, mesmo!, cortar com gorduras que continuam a haver, nomeadamente, nos apoios excessivos ainda atribuídos a fundações, a institutos públicos, nas reformas duplas e triplas e, por especiais direitos adquiridos, altamente lesivas para o Estado (veja-se o recente caso da presidente da câmara de Palmela) e motivadoras de perceções de grande, grande injustiça social.
Faz falta um governo a sério, um governo à direita, se quiser até perto da sua ideologia neo-liberal (que respeito e a espaços até subscrevo), que corte a direito naqueles que mais podem contribuir para nos livrar da crise, que acabe com (pelo menos grande parte d)as sanguessugas do sistema, que, sem apelo nem agravo, se lixe para eleições e nos conduza “a uma terra onde jorra leite e mel”.
Faz falta um governo corajoso, socialmente respeitador e respeitado, protegendo as classes mais desfavorecidas, sem compadrios, sem amigos no poleiro. Um governo que conheça as empresas, que as auxilie ao invés de se virar contra elas. Um governo que regulamente e que disponha de reguladores de mercados verdadeiramente independentes e que não permaneça impávido e sereno perante as graves atrocidades que se cometem todos os dias.
Faz falta um Estado melhor, mais eficaz, mais eficiente. Não é todo o Estado Social que nos destrói, são algumas franjas do mesmo (nomeadamente pensões como a Dr. Jardim Gonçalves, 145.000 € por mês, coitado).
São as atribuições de valor do Orçamento de Estado com base nas despesas do ano anterior descontando uma percentagem. Não é assim que se governa! Não é assim que eu governo a minha casa. Faço previsões e gasto o que preciso. Tudo o resto, eu poupo.
Infelizmente, parece que em Portugal, os sucessivos Governos, e incluo este pois não me parece diferente, gerem os dinheiros públicos como o povo, erradamente, gere o seu: não sabe poupar, gasta o que tem (pelo que me dá a entender, a filosofia dos OE parece sempre ser “quanto é que eu vou buscar em receitas, ora, então a minha despesa será essa”… não me parece que haja verificação, sem lobbys, sem interesses, qual a utilidade de instituições públicas, de fundações públicas, e adequando a despesa pública mediante a utilidade. Isto nunca se viu! O que o povo diz é que atacam sempre o mais fraco e isso é verdade!
Até a refundação do Estado Social, claramente exigida!!!, [mantendo as pensões milionárias (acima de 2.000 € ficava tudo retido!), as subvenções vitalícias para titulares e ex-titulares de cargos políticos, as reformas após 8 anos de deputado, ou de 24 anos de presidentes de câmara, os dinheiros públicos para fundações, empresas estatais, institutos públicos, 24 especialistas no Governo de idade até 29 anos a ganhar entre 3.000 e 5.000], até essa refundação me parece um crime.
Haja coragem, caro Tavares Moreira! Haja coragem!!!
Caro Carlos Praxedes,
ResponderEliminarVamos por pontos:
1º) Quanto ao desemprego, concordo que a previsão do Governo parece excessivamente optimista...inclino-me mais para um valor entre os 17 e os 18% no final de 2013;
2º) Cortar nas chamadas "gorduras do Estado": 100% de acordo, tenho aliás referido isso repetidamente, em diversas circunstâncias;
3º) Ideologia neo-liberal: não professo, ao contrário do que diz. Mas sou, visceralmente mesmo,contra os desperdícios de fundos públicos nas múltiplas variedades que este despesismo apresenta, tanto ao nível das despesas correntes (algumas das quais o CP menciona) como ao nível de absurdas despesas de capital a que se tem chamado, erradamente de investimento pois são, de facto, uma fonte de despesa corrente futura sem qq sentido por não ter uma contrapartida social que as justifique...
E que mal têm feito à economia essas práticas despesistas, sem qualidade nem controlo!
Será isto ideologia neo-liberal ou antes o elementar bom-senso?
Hoje mesmo o Banco de Itália veio alterar as previsões do PIB para -1% em 2013 !!!
ResponderEliminarPor este andar , vamos ter mais de 2% de queda do PIB, com o aumento de impostos em Portugal mais a austeridade tonta no resto da UE.
Caro Paulo Pereira,
ResponderEliminarAcha que a previsão da Banca d'Ittalia é razão bastante para que o PIB em Portugal caia em 2013 mais do que a previsão do BdeP?
Suspeito que o ilustre Comentador se vai enganar nesta previsão, redondamente mesmo, mas por enquanto não é mais do que uma suspeita...