segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Eleições, celebrações e amiguismos

Ontem, não gostei do triunfalismo de Seguro perante a vitória retumbante, como também não gostei do conformismo de Passos Coelho, perante a derrota evidente. E as conclusões de Seguro, quanto à penalização do desgoverno ou a ausência de golpe de asa de Coelho para insuflar ânimo nos companheiros, transformaram os discursos em comentários de politólogo de terceira apanha, dizendo o óbvio, mas não falando no essencial.
De facto, o PS ganhou: ganhou em votos e no número da câmaras. Mas não de forma retumbante, pois quer a percentagem, quer o número de votantes foram inferiores aos valores de 2009. Mais relevante, não parece que o desgoverno tenha influenciado a transferência de votos para o PS. Nomeadamente, o eleitorado central do PSD decidiu-se maioritariamente ou pela abstenção ou pelo voto nas listas independentes próximas ou mesmo de militantes no partido, mas que foram preteridos pela liderança do PSD. Aliás, as coligações do PSD com o CDS ou com partidos minúsculos em termos de simpatizantes quase antigiram os 36% obtidos pelo PS. O voto de protesto em listas de independentes por parte do eleitorado social democrata em municípios  tão importantes como o Porto, Oeiras e Portalegre não foi um voto que se juntou ao do PS contra o Governo, mas, sim, um voto contra a nomenklatura do PSD. Exemplo claro de rejeição de candidatos mal escolhidos.   
Em Lisboa, por exemplo, a taxa de abstenção de 55,5% só é compreensível pelo “boicote” activo dos militantes social-democratas ao candidato que lhes foi imposto. O voto social-democrata ficou recolhido e não engrossou o resultado de António Costa. Já em Gaia e em Sintra, o voto social-democrata dividiu-se pelos maus candidatos do partido e pelos candidatos independentes da área social-democrata, com uma votação conjunta nos dois superior à votação no PS. De facto, o amiguismo descarado (com excepção do Porto onde não seria fácil vetar Luís Filipe Meneses) constituiu o pior critério de escolha dos candidatos
Ao contrário, em Braga e na Guarda, com candidatos bem aceites, a vitória do PSD ter-se-á devido a uma afluência significativa às urnas dos simpatizantes do PSD, já que a votação nestes distritos foi das mais elevadas do país.
Ganhando nos concelhos apontados, como podia ter ganho, com a escolha inteligente e óbvia para a liderança das suas listas dos nomes que vieram a formar as candidaturas independentes, e tendo conquistado capitais de distrito como Braga e Guarda, substancialmente diversa seria a imagem ontem dada pelo PSD. Os militantes e simpatizantes cumpriram. Os dirigentes, preferindo o amiguismo, deitaram tudo a perder.
O PSD foi assim penalizado por culpa própria. Mas, por isso mesmo,  apesar da vitória, o resultado não foi brilhante para o PS. Por isso, se eu fosse do PS, não embandeirava em arco. E, se fosse adepto do Seguro, segurava-me com toda a força.
Com a crise que atingiu os portugueses, o não ter o maior partido da oposição concitado uma viragem essencial no eleitorado e ficar até com uma percentagem inferior à que teve em 2009 constitui  motivo para alguma apreensão. E nunca para qualquer festejo. Apesar de ter ganho, como é óbvio. 

17 comentários:

  1. menezes e caa morreram afogados no Rio.

    como sempre ganharam os interesses instalados a devorar o MONSTRO, gordo e luzidio
    perderam os contribuintes

    'siga o funeral!'

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  2. Anónimo21:57

    Em votos e em relação a 2009 com Sócrates, o PS de Seguro obteve menos 250.379. Não é irrelevante para a análise uma vez que Sócrates já sofria de algum desgaste e Seguro, fruto da conjuntura que beneficia quem está na oposição, poderia ter uma cotação nacional bem diferente

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  3. Sejamos claros.
    PS ---------------------36,25%
    PSD---------------------16,69%
    CDS----------------------3,04%
    PSD/CDS------------------7,59%
    PSD/CDS/MPT--------------2,01%
    PSD/CDS/PPM--------------1,88%
    PSD/PPM------------------1,30%
    PSD/PPM/MPT--------------0,87%
    PSD/CDS/MPT/PPM----------0,47%
    PSD/MPT/PPM--------------0,40%

    Teremos então, PSD+CDS+MPT+PPM com uma votação de 34,25%.
    Verifica-se então, que todos juntos, ainda assim ficam a 2% da votação do PS sozinho.

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  4. Entendamo-nos:
    a) O PSD perdeu e bem. Foi uma derrota assombrosa. As vitórias na Guarda e em Braga justificam-se por cansaço: o PS sempre dominou aí (em Braga, então, o Mesquita... aleluia!).

    b) O PS cumpriu todos os seus objetivos. No final, empacotou 150 câmaras.

    c) O CDS disfarçou uma derrota.

    d) O BE... who???

    e) O PC regressou e em força.

    Para mim, porém, o mais significativo é a vitória do criminoso preso, de seu nome Isaltino, e isto no concelho com mais letrados do país. Querem ver que o Zé Povo é mais íntegro do que a malta com canudos e cultura?

    Por último, no concelho em que vivo e nos limítrofes, só num o PSD venceu. Nos outros, foi cilindrado. Isto vai ter maior significado, porém, no interior do PSD. As hostilidades estão abertas...

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  5. PSD+CDS = Menos 576.861 votos

    PS = Menos 274.674

    É preciso mostrar tudo, sem esconder nada...

    Passos Coelho está a destruir um partido em que votei até 2009... Aliás, o «meu» partido já não existe...

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  6. Concordo consigo, caro Pinho Cardão, sendo óbvio que o PS teve uma vitória clara no número de Câmaras (o PSD perdeu 33) não é nada óbvio que se tenha, por esta via, afirmado como alternativa nacional, também lhes deverá merecer pensar com calma depois de passado o compreensível entusiasmo. Por mim, fico à espera que o PSD não se contente com o argumento do desgaste governativo, seria mau sinal.

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  7. Continuamos a olhar para os resultados eleitorais como ha poucos séculos atrás se olhava para os resultados dos torneios em que dois cavaleiros, um de cada lado do recinto, lançavam as suas montadas a toda a brida e de lança em riste, tentavam derrobar o opositor. Cada um dos cavaleiros, ostentava as cores da casa a que pertencia. No final, regressavam a casa, uns para lamber as feridas, outros para despejar gomis de vinho pelas goelas abaixo, os cavalos para a estrebaria, remoer a palha e a fava...
    Entretanto, já evoluimos bastante desde esses tempos... até já sabemos usar um computador e um IPAD...

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  8. Anónimo14:49

    Concordo com Bartolomeu, a maioria das análises dos resultados simpliflicam-se numa espécie de maniqueísmo, dependendo das simpatias e convicções de cada identificar o lado do mal e o lado do bem. De resto, não admira que assim seja, as análise são todas iguais, deste ponto de vista, em qualquer parte do mundo.
    Independentemente dos resultados eleitorais e das interpretações, creio que os efeitos nos partidos depende mais do que se passar internamente do que de uma reflexão sobre qual foi a "mensagem" do eleitorado. Há muito que a verdadeira oposição está dentro dos partidos, essa é que faz cair governos.

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  9. Pois é, caro Dr. José Mário, conclui-se que esta espécie de maniqueísmo tão intrínseca ao ser humano, mas ao mesmo tempo em contradição com os ideais que deseja alcançar, dificilmente um dia se desvanecerá. O ser humano é simultâneamente volúvel e dualista, ou até, pluralista como últimamente se verifica com maior frequência e, circunstancialmente... acéfalo.

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  10. Meus caros, Bartolomeu, JF,
    Cada um olha para os resultados eleitorais da forma que as faculdades que Deus lhe deu o permite. Para alguns até, tais resultados dão-lhes a oportunidade para espraiar os seus dotes de filósofos de almanaque. E quem o faz são geralmente os perdedores, que encontram assim um meio para fugirem da realidade que lhes é adversa e lhes dói.
    Os números são o que são:
    PS --------------------------36,25%
    PSD-------------------------16,69%
    CDS--------------------------3,04%
    PSD/CDS--------------------7,59%
    PSD/CDS/MPT-------------2,01%
    PSD/CDS/PPM-------------1,88%
    PSD/PPM--------------------1.30%
    PSD/PPM/MPT-------------0,87%
    PSD/CDS/MPT/PPM-------0,47%
    PSD/MPT/PPM--------------0,40%

    Cada um que deles retire as conclusões que bem entenda.

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  11. E as conclusões que o Carlos Sério retira destes resultado, quais são?

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  12. Aquilo que sei é que se colocarem os vossos candidatos na Carregueira a vitória será garantida. Político preso terá sempre o meu voto face a político cá fora.

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  13. Caro Pinho Cardão,

    A estratégia da cúpula política do PSD funcionou quase na perfeição, nestas eleições: num considerável número de concelhos, essa estratégia consistiu em escolher candidaturas que minimizassem ou mesmo eliminassem, à partida, o risco de vitória...
    Pode discutir-se ou discordar-se dessa estratégia, o que não se pode é deixar de se reconhecer o seu sucesso...
    Uma excelente ilustração dessa estratégia foi o que se passou nos dois concelhos onde V. Exa reside grande parte do ano...

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  14. Sem dúvida, caro Tavares Moreira, esforçaram-se a serio.

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  15. E com os mais brilhantes resultados!

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  16. Caro Bartolomeu,
    Quanto às conclusões – Uma brutal e humilhante derrota de Passos Coelho e companhia, uma vitória moderada do PS, uma vitória do PCP e uma meia vitória/meia derrota do CDS, mas sobretudo uma grande vitória dos portugueses que se manifestaram inequivocamente contra esta austeridade, contra este “ir além da Troika” imposto pelo governo de Passos coelho.

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