quinta-feira, 1 de outubro de 2015

PARVALOREM: um "Very light" na campanha?


  1. Embora quase totalmente desligado dos temas referentes à campanha eleitoral que nos entra pela casa dentro, em enxurradas, nos canais de TV, um houve, despoletado nos últimos dias, que despertou a minha atenção: as supostas divergências entre a então Secretária de Estado do Tesouro (SET, hoje Ministra das Finanças) e os gestores da Parvalorem quanto à expressão mais adequada do montante das imparidades a reconhecer numa carteira de créditos em incumprimento (Non Performing Loans ou NPL’s como agora se usa dizer): se € 575 milhões ou € 425 milhões.
  2. Comecei por achar curiosíssima a forma como a notícia apareceu, pela mão caridosa da Antena 1: alguém, por trás dos bastidores, bem escondido, lançando um “Very light” sobre a campanha; e também achei muito curiosa, mas neste caso pelo extremo grau de ridículo, a forma como a notícia animou a mesma campanha.
  3. O episódio teria ocorrido em 2012, numa reunião entre a SET e o CA da Parvalorem; este último, herdeiro de uma famosa carteira de NPL’s dos 2 BPN’S (o de antes e o de depois da nacionalização), entenderia  ser adequado o reconhecimento, desde logo, de € 575 milhões de perdas nessa carteira, como imparidades.
  4. A SET, segundo o relato divulgado, entendeu, e esse entendimento teria prevalecido, que seriam suficientes € 425 milhões, o que evitaria acrescentar, nesse ano, mais € 150 milhões ao défice público, ou seja qq coisa como 0,09% do PIB.
  5. Limitando-se o meu conhecimento do tema ao que foi esta semana divulgado, considero perfeitamente natural que a SET tenha colocado os gestores da Parvalorem perante este cenário: a vossa função é recuperar esses créditos na máxima medida do possível, desenvolvam os vossos melhores esforços para que o montante de perdas não exceda € 425 milhões.
  6. E até se poderia colocar aqui uma razão de “moral hazard”: quanto mais elevadas fossem as imparidades reconhecidas, menor seria o incentivo para recuperar aqueles créditos - já que aquele montante se considerava perdido, valeria a pena um esforço especial para o reduzir? (com o devido respeito pelo profissionalismo dos gestores da Parvalorem, é simplesmente uma questão da natureza humana…).
  7. E até pode, por esta altura, estar a suceder uma coisa curiosa: com as melhorias registadas no mercado imobiliário em 2014 e no corrente ano, tendo uma boa parte dos NPL’s em causa ligação a esse mercado, não é de excluir que mesmo os € 425 milhões de imparidades venham a revelar-se, no final, excessivos…
  8. …ao fazer esta última observação limito-me a especular, pois não tenho qq informação sobre o andamento da recuperação daqueles créditos…mas tenho informação de que estão a ser recuperados outros créditos, relacionados com o mercado imobiliário, que há 3 ou 4 anos seria impensável recuperar.
  9. Em conclusão, transformar este assunto em tema central de campanha eleitoral é revelador do grau de indigência ou insanidade que pode atingir a classe política por estas alturas…
  10. Este episódio parece ter todas as características do lançamento de um “Very light” na campanha, segundo a definição de “Very light” do dicionário Oxford:  “A bright coloured light that is fired from a gun as a signal from a ship that it needs help”…

 

6 comentários:

  1. Li algures, mas não sei confirmar, que o jornalista que fez a notícia é um antigo assessor para a comunicação do grupo parlamentar do BE. É uma questão lateral, mas não deixa de ser uma curiosidades curiosa.

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  2. Caro Henrique Pereira dos Santos,

    Confesso-lhe que desconheço esse apontamento, mas, a confirmar-se, só reforçará a índole caritativa da obra noticiosa da Antena 1 bem como a tese do "Very light"...

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  3. O que li foi isto, mas não fui verificar e acho que é preciso cuidado com este tipo de informação: "Frederico Pinheiro, jornalista da Antena 1, "dispara" hoje contra Mª Luis Albuquerque, sobre umas alegadas instruções para ocultar prejuízos do BPN.

    Até aqui, tudo mais ou menos, trata-se de uma acusação que pode (e deve) ser investigada. Apure-se, portanto, a verdade.

    A coisa ganha contornos mais "estranhos", quando "reparamos" no seguinte (notícia na ESQUERDA,NET + cessação de funções de assessor parlamentar do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda)...E não é que o Frederico Pinheiro é o MESMO e foi assessor parlamentar do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda!!!!

    http://www.esquerda.net/do…/o-esc%C3%A2ndalo-dos-swaps/29234"

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  4. Sim, a notícia foi escrita por um jornalista ligado à cúpula do Bloco e referia uma administradora da Parvalorem como dando uma resposta claramente truncada e uma "fonte" que transformava a resposta da administradora em "martelada nas contas". Maravilhosa, no entanto, a resposta do MF: as impedirdes não entram na contabilidade pública pelo que são irrelevantes para o défice :)

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  5. Caro Henriques Pereira dos Santos,

    Descoberto, por suposto, o inspirado autor da caridosa notícia, nem todo o enigma fica decifrado: falta ainda descobrir o fornecedor da matéria prima...está na hora de convocar Hercule Poirot!"

    Caro Pires da Cruz,

    Confesso que não estive atento às explicações das Finanças que, pelo que refere, não terão sido as mais brilhantes...um "Very light" actua sempre de surpresa, deixa o alvo perturbado! O objectivo terá sido cumprido, pois, aguarda-se que o autor da notícia seja condecorado pelo próximo PR!

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  6. Caro Tavares Moreira,

    Porquê a preocupação? Não passa de um very light.

    O importante é as políticas do PS + PSD + cds nos trouxeram cornucópias de riqueza e abundância para todos. Basta olhar à nossa volta.

    Cumprimentos e a continuação de posts tão lúcidos...

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