Andar pelo interior de Portugal é muito parecido como me ver
ao espelho. Envelhecido, fechado, olhar sem esperança, sentimentos perdidos,
desejos escondidos no outro lado do espelho, vida sem sentido e dores
desconhecidas. O sorriso tipo “selfie” não existe, embora o mirar do meu olhar
se possa considerar como essa forma moderna de registar os acontecimentos da
vida.
Andei e vi tudo o que
começo a ver no espelho. O que me incomoda é o respirar, o sonhar, o aromatizar
e o chagar de almas desejosas de serem esquecidas por quem nunca as conheceu.
Deitado no banco, dormia. Não sei se sonhava, e caso andasse
pelo mundo dos sonhos, gostava de conhecer o filme do seu sono. Deveriam ser imagens
simples, pálidas, quentes e um ou outro anjo meio embriagado a prometer-lhe as
honras do divino.
Ei-lo. A imagem é uma espécie de porta a convidar a entrar
para o outro lado...
Em 1970 o grupo alemão de rock, Triunvirat, editou o álbum "illusions on a double dimple". Durante algum tempo (em "70" tinha 15 anos)ouvia o álbum, convencido que dimple se referia a uma marca de whisky. Ilusão minha, um pouco mais tarde, quando ouvi o tema com mais atenção, percebi tratar-se de ondas. Hoje, compreendo que muitas ilusões, são duplas. Que as imagens são duplas, que os seres são duplos. Talvez sejam efeitos do whisky… mas a sensação da duplicação não é má.
ResponderEliminarNo conto "Branca de Neve e os sete anões" Grimhilde, a madrasta, perguntava permanentemente ao espelho: haverá alguém mais bela do que eu? Será que existe em nós a necessidade claustrofóbica de saber se existe alguém mais bonito, com mais sucesso, mais virtuoso, com mais qualidades, ou mais simpático do que… EU!? ;-)
ResponderEliminarEntão não há? Às paletes, às paletes...
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