A ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social tornou público um relatório, cujo sumário executivo pode ler aqui, sobre o pluralismo politico-partidário na televisão pública. Ou melhor dito, o tratamento noticioso dado aos partidos políticos.
Chegou a ERC a duas conclusões. A primeira, que o PSD é sistematicamente subrepresentado nos blocos noticiosos da RTP1, RTP2 e RTP-N. A segunda, a de que «a presença do Governo apaga a presença do PS enquanto partido da maioria, na informação do serviço público de televisão».
Uma no cravo. E para compensar - não fossem as coisas ficar desequilibradas -, outra na ferradura.
É notória a preocupação de desvalorizar a desigualdade de tratamento dado pela televisão do Estado ao PS/Governo em relação ao PSD (56,23% - 17,78%), com a ideia de que, tendo o Governo muito tempo noticioso, o PS "enquanto partido autónomo do Governo" tem uma expressão reduzida!
Extraordinária ilacção. Como se o PS aparecesse com pouca expressão noticiosa porque é vítima de tenebrosa discriminação noticiosa. A benefício, calcule-se, do Governo enquanto entidade autónoma do PS...
Além disto, o estudo tem na base um critério assaz curioso. Para medir e comparar, baseia-se na quantidade de presenças dos partidos nas peças informativas diariamente transmitidas. Para aferir se há pluralismo ou não há pluralismo compara as presenças com os níveis de referência, definidos pela própria ERC, em função, creio eu, da representatividade eleitoral de cada partido.
Pois bem, não há nada mais falseador da realidade do que este critério supostamente neutro e objectivo.
Como é evidente, não é a presença de um dirigente partidário ou a cobertura de uma iniciativa de um partido que contam para a pluralidade informativa. O que conta é o tratamento dado à entrevista, muitas vezes o comentário em off, a edição, a qualidade da imagem ou do som, ou mesmo o critério de selecção do momento captado.
Por este critério, pasme-se, a aparição de Fernando Ruas a prometer correr a calhau os inspectores do ambiente, contou a favor do PSD. Ou a aparição de Telmo Correia explicando-se sobre os seus despachos a propósito do caso do Casino de Lisboa, contou a favor do CDS. Ou ainda as intervenções de Socrates a justificar a questão da sua licenciatura, contaram a favor do Governo/PS!
A apreciação analítica, a única que poderia tornar útil e sério um estudo desta natureza, não é deliberadamente feita porque em boa verdade só o poderia ser por uma autoridade, não por uma entidade. Uma autoridade, acima dos interesses que regula e dos poderes que supostamente deveria controlar.
Uma entidade como é a ERC, destina-se a produzir estes atentados à inteligência, justificativos desta democracia de papel, feitos destes aparentemente inocentes compromissos, que agradam, apesar de tudo, a gregos e a troianos.
Imagino já o PSD a clamar contra o vergonhoso controlo da comunicação social pelo PS; e o PS a lamentar ter sido tão brutalmente discriminado, com taxas de aparição próximas do Bloco de Esquerda.
Tudo tão convenientemente equilibrado e democrático!
Pela minha parte não perdi a esperança de também neste domínio aparecer por aí alguém que queira contribuir para a diminuição do deficite público e deite fora este berloque da nossa democracia reguladora.