domingo, 31 de maio de 2009

A estratégia ganhadora para a Saúde e Bem-Estar ao longo da Vida

O texto é longo pelo que o enfiei no “ O Quarto da Quarta República”...

De todas as dúvidas e males que nos afligem a doença é o denominador comum aos seres humanos. Haverá alguma sociedade que tenha posto em causa o valor supremo da saúde? Presumo que não. Acredito mesmo que nos primórdios da nossa existência como espécie a morte e as doenças associadas constituíram os nossos maiores dramas. A preocupação em as tratar, e até prevenir, datam dessa altura. Mas adoecer é uma fatalidade a que só escapam os que morrem subitamente ou por qualquer tipo de violência. Mesmo assim, serão poucos os que morrem sem terem apreciado os seus efeitos. E há uma razão, quase que diria um fatalismo. A evolução e a manutenção da vida fez-se e continua a fazer-se à custa da doença, a qual é simplesmente a outra face da moeda, já que é impossível separar a saúde da doença.
....
Um país como o nosso, em que dois milhões de pessoas vivem na pobreza, logo desprovidas de “empoderamento económico”, a que podemos associar ausência de “controlo das suas vidas” (neste caso serão muito mais dos que os dois milhões), e a dificuldade em usar a “voz” por motivos variados, “explica” muito da patologia que infelizmente grassa por aí.
Os responsáveis governamentais “esquecem-se” das chamadas terapêuticas políticas. O enfoque dado às medidas curativas, embora úteis, sem sombra de dúvida, não consegue ir ao cerne da questão. As desigualdades sociais que estão na base do “síndroma do status” têm que ser tomadas em consideração, de outro modo continuaremos a adoecer e a morrer de forma desigual impedindo o desfrutar de algo semelhante ao “efeito do filósofo”, mas com saúde, logo é tempo dos políticos e dos cidadãos mais empenhados nestas áreas darem os seus contributos para construírem uma verdadeira estratégia ganhadora para a Saúde e Bem-Estar ao longo da Vida. Está perfeitamente ao nosso alcance, mas ultrapassa a mera capacidade interventiva dos diferentes profissionais de saúde. Estamos prontos para diagnosticar e propor as medidas mais adequadas, mas não temos capacidade na sua implementação. É altura de invertemos a situação, ou seja, por os políticos no terreno a trabalhar em prol da sociedade.

Eleições europeias: o habitual prognóstico do 4R/tm

1. A uma semana das eleições europeias, vai tardando o habitual palpite do 4R™ como tem sido hábito sempre que se verificam disputas gerais de votos…e não nos temos saído mal, cumpre recordar…
2. Propomo-nos assim cumprir a tradição e avançar nosso prognóstico para o próximo Domingo.
3 Arriscando nosso vaticínio, não seguimos pois a famosa máxima “prognósticos só no fim”, de João Pinto (FCP) que o Governo resolveu adoptar este ano para o saldo Orçamental, uma vez que tudo indica só teremos orçamento rectificativo no final do ano…quando já nada haverá a rectificar, quando já tudo estará rectificado!
4. Vamos então ao prognóstico, que compreende a abstenção e as votações nas 5 principais forças políticas concorrentes:

- Abstenção: 55 a 60%
- PS : 34 a 36%
- PSD : 33 a 35%
- Bloco : 8 a 10%
- CDS-PP : 8 a 10%
- CDU-PCP: 8 a 10%

5. Este prognóstico é bastante dificultado pela enorme incerteza que temos de confessar em relação à abstenção…admito que a previsão seja optimista para o "incumbente" caso a abstenção se venha a mostrar mais elevada do que a aqui admitida…
6. No próximo Domingo à noite veremos se os justos pergaminhos do 4R em matéria de previsão eleitoral se mantêm…ou se ficam esfrangalhados!

“O galo da torre”...

Diz uma lenda que a única vez que um galo cantou à meia-noite foi quando nasceu Jesus. É capaz de não ter sido, se dermos fé a Henrique Lopes de Mendonça, o pai da letra do nosso Hino, na sua obra “Santos de Casa”. Inicia-a com um conto sobre o “galo branco de Azoia”; um galo intrépido que fazia frente a qualquer alimária bravia com as “modulações do seu canto, heroico e soberbo como um peão da Hélade”. A sua audácia devia provir “mais da fortaleza do coração do que pedra na figadeira”.
O barulho e a claridade de uma noite atrapalhou-o, porque pensou que se tinha esquecido de anunciar o novo dia. Curioso, foi até uma clareira onde estava Frei Gil de Santarém a perorar para uma multidão de fiéis. O galo sentiu uma enorme responsabilidade a subir até à crista, a qual se empertigou de imediato. Bateu as asas como se fosse o pigarrear de um cantor de ópera e começou a cantar uma estridente e bela melodia que apanhou de surpresa todos os circunstantes que pensaram estar perante mais uma manifestação do maligno. Frei Gil não gostou da intromissão e arremessou o seu bastão com uma pontaria de tal modo certeira que o animal nem um pio deu nem um simples esbracejar de asas. O galo morreu. Ermesinda, a dona, surpreendida com a presença do galo, ficou triste e abespinhada com o sucedido. Apanhou-o e, gentilmente, acolheu-o debaixo da sua capa.
Frei Gil de Santarém retomou a sua prática, afirmando que “cada benefício feito na Terra às criaturas mais humildes era um passo dado no caminho do paraíso, e como cada iniquidade praticada era um peso a mais que nos puxava para os abismos”. A partir deste momento a voz começou a claudicar e os dizeres passaram a ser titubeantes e muito confusos. Todos se entreolhavam estupefactos perante tão inusitada situação. Foi então que o frade começou a confessar que tinha cometido um pecado infando, porque lhe faltou “o ânimo da paciência”. Dirigiu-se a Ermesinda e perguntou-lhe o que escondia debaixo da capa. Com lágrimas nos olhos entregou-lhe o belo corpo branco do galo. Frei Gil invocando Deus conseguiu que o galo voltasse a viver, ofertando-lhe os anos que ainda lhe restavam de vida terrena. Foi o momento do galo se erguer de pronto, para espanto de todos, e prorrompeu um cântico que era mais um hino de glória.
Recordei-me desta história, ao repousar, propositadamente, os meus olhos na paisagem que ladeia a linha do Norte. Cansado e, por que não dizer, incomodado com a forma e os conteúdos dos discursos e comentários de algumas alimárias políticas.
Querem ser galos, mas muitos não têm classe para isso. Falam alto, insultam, humilham, desprezam, mas não conseguem anunciar um novo dia. Decerto que nunca terão o privilégio de se alcandorarem às torres dos campanários. Torres que se vão sucedendo umas atrás de outras na paisagem. Muitas. Cada terra, cada lugar, cada aldeia com a sua igrejinha. Campanários diferentes, alguns são mesmo belos. Chamam-me a atenção e procuro descortinar no alto se têm ou não um galo.
Sempre me seduziu o galo da torre da igreja da localidade que me viu nascer. Achava piada haver um galo lá em cima, na torre muito alta, muito alta mesmo, porque naquelas idades o corpo é a medida de todas as coisas e, como somos pequeninos, tudo parece ser gigantesco. Perguntava por que razão havia um galo no alto da torre de uma igreja. Diziam-me que era para saber donde soprava o vento. Realmente, nunca estava na mesma posição, mas, mesmo sendo criança, sentia que não deveria ser essa a razão, digo sentia, porque não sabia explicar nem traduzir o que pensava. Sempre que ia à vila, olhava fascinado para o galo.
Houve um dia, ou melhor, uma noite de tempestade em que um raio se lembrou de matar o galo da torre. Disseram-me que o sino tinha sido partido e o galo fulminado. Nessa manhã acerquei-me da igreja e vi no jardim fronteiro o galo de ferro, chamuscado, lindo e sem vida. Fiquei triste durante muito tempo até que o recolocaram aquando da aquisição de um sino novo que, infelizmente, não tinha o som do antigo. Fiquei todo o dia embasbacado a ver as manobras para os colocar na torre.
O galo representa muita coisa, o nascimento do dia e de uma vida nova, o chamamento diário e o renascer anual do sol, a luz verdadeira para a humanidade, o canto de uma nova esperança, o espantador de demónios, o símbolo da vigilância, fidelidade e testemunho de valores cristãos, razão que o levou, há mais de mil anos, ao lugar mais cimeiro das igrejas. Mas o galos que andam por aí, ao contrário do “galo de Azoia” ou do “meu” galo vítima de um raio, não merecem ser “ressuscitados” nem têm categoria para subir à torre de um campanário, por mais humilde que seja, como são todos aqueles com os quais começo a ter alguma intimidade nas muitas viagens à capital dos provincianos. Entretanto, sempre que posso, como hoje, não deixo de olhar o belo galo da torre da igreja que um dia um raio quis roubar a beleza e a dignidade.
A muitos galitos políticos que andam por aí, quase que me apetecia dizer: “Vão para o raio que vos partam”, porque não conseguem anunciar um novo dia, nem uma nova esperança, nem transportar a luz da verdade...

sábado, 30 de maio de 2009

Barroso: 2º mandato praticamente garantido...

1. Muito interessante o artigo do colunista do Finacial Times, Tony Barber, publicado na edição de ontem e que dá como praticamente assegurada a recondução de Durão Barroso à frente da Comissão Europeia “In EU game of poker Barroso is player others allow to saty in”.
2. Para Barber, a única dúvida poderia residir na necessária confirmação do Parlamento Europeu, caso este viesse a apresentar, após as eleições do próximo dia 7, uma composição em que socialistas, verdes, comunistas, nacionalistas de direita e anti-europeistas detivessem maioria.
3. Na opinião de Barber, no entanto, a possibilidade de isso vir a acontecer é ainda mais remota do que era a de John McCain bater Barack Obama nas presidenciais americanas de Novembro passado…
4. Não acontecendo isso, Barroso goza neste momento de uma larga vantagem para ser reconduzido pois a maioria dos Chefes de Estado e de Governo dos 27 apoiam a recondução de forma aberta ou pelo menos como a menos má das opções, sendo que quase ninguém a contesta abertamente.
5. Num balanço dos méritos e deméritos do Presidente da Comissão, Barber é bastante positivo, atribuindo mesmo a Barroso a qualidade de melhor Presidente desde Delors.
6. Barber parece não ter atribuído assim muita importância a determinadas opiniões domésticas, com relevo para Mário Soares, Vital e M. Portas que abertamente têm contestado a recondução de Barroso (assumo a heróica hipótese de ele as conhecer, claro)…
7. Confesso que me impressiona bastante a hostilidade manifestada por estes Cidadãos em relação ao actual Presidente da Comissão…será que eles têm melhor escolha? Duvido, mas no mínimo deveriam ter sido claros quanto a esse ponto, deveriam ter apontado o seu candidato preferido…
8. Não o tendo feito, fica-se com a impressão de que essa hostilidade deriva tão somente de razões de família política, o que francamente me parece um argumento extremamente frágil e até de um certo mau gosto…

A política do chip!...

Os velhos socialistas desprezavam a tecnocracia e privilegiavam a política. Em nome da política, metiam o socialismo na gaveta, numa atitude do mais louvável bom senso. Perdia o socialismo, mas ganhava o país.
Os novos socialistas, que dominam o poder no governo e no Estado, descobriram na tecnocracia a forma mágica que lhes pode dar a imagem de modernidade, que o vazio da sua preparação e a vacuidade das ideias jamais poderiam suportar. Ao darem-lhe o estatuto de política, promovem activamente interesses muito particulares, em detrimento do interesse público.
Os mais recentes exemplos são o número único, já parcialmente materializado no cartão do cidadão e, agora, o chip nas matrículas. Criações tecnocráticas, justificam a necessidade com atraentes objectivos de pretenso conteúdo político, mas que são verdadeiras falácias. Como, por exemplo, a de determinar o número de veículos que circulam nas vias… Isto para não falar em meros objectivos comerciais, como o universalizar o pagamento das portagens!...
Toda a informação sobre a saúde, sobre as relações com o fisco e a segurança social podem fazer parte de uma gigantesca base de dados, dando à sua administração, aos governos e a todos os que a ela tenham acesso o poder de ilegitimamente intervir na vida de cada qual. Adicionalmente, o chip nas matrículas vai permitir o seguimento das viaturas e das pessoas, onde quer que estejam, e onde e aonde quer que vão. E não são as limitações de acesso que o irão impedir.
A tecnocracia socialista reinante não conhece nem princípios, nem valores, nem ética, nem mesmo a lei, na utilização das modernas tecnologias. Nem conhece, nem mede e, porque a ignorância é atrevida, nem sabe medir, as consequências do que promove.
A adopção do número único e do chip, pela enormidade de informação que podem acoplar, são potencialmente mais nocivos do que os arquivos da KGB, da Gestapo e da PIDE todos juntos.
Os direitos invioláveis da pessoa humana tornaram-se um mero joguete nas mãos da tecnocracia socialista vigente.
Começo a ter saudades dos velhos socialistas!...

Manipulação e afeição, o difícil equilíbrio


A manipulação é uma arma terrível e quem sabe utilizá-la tem uma vantagem brutal sobre os outros. A capacidade de manipular resulta, pelo que se pode observar, da conjugação de vários atributos, como a inteligência, a perspicácia, a ousadia e a vontade de dominar e, quando é conjugada com o egoísmo ou a falta de escrúpulos, torna-se um pesadelo para as vítimas. Verdade se diga que do lado dos manipuláveis também há uma certa debilidade, em geral correspondente à força dos que manipulam, se podemos chamar fraqueza ao desejo de agradar, à cobardia de decidir ou assumir responsabilidades, à falta de auto estima, à imaturidade ou, muitas vezes, ao desespero de não querer ficar sozinho.
A chantagem psicológica, que é o sinal exterior da manipulação, leva as pessoas a submeterem-se à vontade alheia, a moldarem-se sucessivamente aos desejos, às ordens ou às súplicas imperativas dos que os dominam, mesmo muito depois de sentirem o peso desse domínio e de concluirem que seriam muito mais felizes se se libertassem dele. Mas o grande trunfo de um verdadeiro manipulador é que se apresenta com falinhas mansas, começa por cativar ou, de algum modo, capturar os sentimentos da pessoa que lhe interessa, e age insidiosamente, devagarinho, conquista palmo a palmo o seu terreno, como quem tece uma teia paciente até que o outro deixa de lutar e se entrega sem resistência. A manipulação é um processo de desgaste antes de ser uma conquista, é uma espécie de cerco que vai sendo montado à custa da credulidade, da confiança ou da dependência, afectiva ou material, da pessoa mais fraca, sugando-lhe as forças, destruindo-lhe os argumentos e colocando-a sempre, mas sempre, no papel ingrato do culpado, do desleal ou de quem não sabe amar.
Conheço alguns casos em que o manipulador é, aos olhos de todos, a parte mais fraca, suscita compaixão, faz-se de vítima ou distorce as histórias que o colocam invarialmente na posição de credor. Em regra, o manipulador consegue a condenação da sua vítima, sai por cima, ri-se para dentro e cobra o seu triunfo com mais poder sobre o outro, que só vê aumentar a sua solidão, o seu desamparo ou, com alguma sorte, a sua revolta. Quando os chantagistas têm pouca habilidade, são principiantes, pouco inteligentes ou pouco pacientes, acabam descobertos e o povo tem mesmo o seu retrato quando fala nos que “fazem o mal e a caramunha”. Mas quando são hábeis e determinados, podem destruir a vida dos outros que lhes caiam nas mãos e não faltam os exemplos, seja entre namorados, entre casais, entre pais ou mães e filhos, ou entre irmãos que querem conquistar a preferência dos pais.
Mas é claro que o ascendente que se consegue ter sobre os outros pode ser virtuoso, usado para o bem, para dar ânimo, esperança ou para aconselhar, como fazem os médicos, os padres, os professores ou os políticos bem sucedidos na realização do interesse comum. Ou os pais e as mães, quando querem educar os filhos e formar-lhes o carácter. Como quase tudo o que se conquista exige alguma dose manipuladora, a capacidade de influenciar os outros pode ser um remédio ou um amparo, se for altruista e sincera, pode mesmo ser uma bênção se der origem ao amor mútuo e ao respeito, mas pode ser um veneno poderoso se usada em doses maciças, que asfixiam, paralisam e anulam por completo uma pessoa que acabará, uma vez destruída, por deixar de interessar ao conquistador. É que um manipulador, uma vez satisfeito, sente desprezo pela fraqueza da sua vítima.
Como dizia o meu avô, enquanto houver duas pessoas no mundo, uma há-de querer dominar a outra, e o mundo só sobrevive se conseguirem entender-se em equilíbrio de forças É esse difícil equilíbrio a chave da felicidade no relacionamento com os outros, é isso que permite o respeito, a confiança e a lealdade e é esse o fundamento dos afectos duradouros.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Provedor da democracia, precisa-se com urgência

O Provedor de Justiça cessante, Dr. Nascimento Rodrigues, terá anunciado que renuncia e abandona o cargo perante a situação hoje criada no Parlamento e o seu preclitante estado de saúde. Compreendo-o, e espero que não apareça por aí alguém a dizer que não é legítimo o gesto.
O antigo Provedor de Justiça, Dr. Meneres Pimentel não poupou nas palavras e disse hoje que o infeliz desfecho da não eleição do novo Provedor, é um "insulto" aos portugueses. Não posso estar mais de acordo.
O senhor Presidente da República também reagiu. Entende que ficam em causa as instituições democráticas. Não posso aceitar esta ideia porque é excessiva.
O facto é, na verdade, insultuoso para os cidadãos. Mas não põe em causa as instituições, põe em causa o parlamento e só o parlamento. Não faltaram candidatos, bons candidatos, prestigiados e isentos, que numa prova de respeito pela Assembleia da República não hesitaram em sujeitar-se às regras democráticas mesmo na falta de consenso partidário. Não faltou a intervenção de muita gente interessada em poupar a democracia a mais esta prova de mediocridade e de falta de sentido de responsabilidade da actual geração de dirigentes políticos. Não faltou a intervenção do Chefe do Estado que, segundo o próprio anunciou, tentou influenciar no sentido de se encontrar uma solução. Não faltou uma opinião pública severamente crítica da omissão parlamentar, que para além de tudo o mais, obrigou o actual Provedor a manter-se no cargo, contra a sua vontade, quase um ano, perante a olímpica indiferença das direcções partidárias e parlamentares.
Não se diga, pois, que são as instituições que estão em causa, mas aponte-se o dedo a quem efectivamente é responsável: a Assembleia da República e as direcções de quase todos os grupos parlamentares (com excepção do CDS/PP, manda a justiça dizer). Condene-se o presidente da Assembleia da República pela indiferença com que, tanto quanto se percebeu, encarou a questão e se recusou a desempenhar o seu papel arbitral, apesar dos vários apelos. Condene-se esta classe política pelo desprezo que manifestou pela instituição Provedor de Justiça, sendo que alguns dos que a constituem contribuiram, em tempos, para lhe conferir a dignidade de órgão constitucional e agora fogem a defendê-la, não vá a rebeldia fazer perigar um precioso lugar na próxima lista de candidatos às eleições.
Este desfecho torna mais evidente a verdadeira dimensão dos dirigentes que temos, mas também mostra que é urgente que alguém se assuma como provedor da democracia, evitando que o problema se transfira para a próxima legislatura.

Vital & Capoulas, ou uma triste forma de fazer política

Ontem, numa acção de campanha, o cabeça-de-lista ao PS às eleições europeias, Vital Moreira, associou o PSD à autêntica roubalheira do BPN: “Certamente por acaso, todos aqueles senhores são figuras gradas do PSD. E estamos à espera que o PSD se pronuncie sobre essa vergonha, que é justamente a roubalheira do BPN”. Na mesma ocasião, o candidato socialista ao Parlamento Europeu Capoula Santos, qualificou o PSD como “trupe laranja”.

Felizmente, hoje, Maria de Belém, que além de Deputada do PS à Assembleia da República é Presidente da Comissão Parlamentar de Saúde e ainda Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito ao BPN, referiu que não se revia “neste tipo de declarações” e que “não” usa “determinados termos” em política.

E mais adiantou que o PSD “tem tido uma participação activa” e “contribuído para os consensos" na Comissão Parlamentar de Inquérito a que preside.

E concluiu que “aquilo que devo testemunhar como presidente da Comissão do BPN é a colaboração do PSD no exercício das suas funções”, "a todos os títulos louvável".

Concordo inteiramente com Maria de Belém e penso que ontem, quer Vital Moreira, quer Capoulas Santos utilizaram uma linguagem pouco própria, roçando o insulto e que, para além de os deixar (aos próprios) muito mal na fotografia, também coloca muitíssimo mal o PS (José Lello, que veio depois condenar Maria de Belém e concordar com Vital Moreira, não percebeu isso?...). E contribui para afastar ainda mais os cidadãos da classe política.

Já todos percebemos que a escolha de Vital Moreira para cabeça de lista do PS às europeias se tem revelado desastrosa para o Partido Socialista.

Quem não se lembra, entre outras questões, da polémica à volta da possível recandidatura de Durão Barroso à frente da Comissão Europeia, apoiada por José Sócrates, mas não por Vital Moreira?...

Ou a defesa da disciplina de voto para os deputados na Assembleia da República (certamente por causa de Manuel Alegre) – mas a liberdade de voto no Parlamento Europeu?...

Ou a criação de um imposto europeu para tributar transacções financeiras – mas que depois não aumentava a carga fiscal? (então mas não é um novo imposto? O que significa a palavra “criar”?)… e que até já podia ser uma maior contribuição para aumentar o orçamento comunitário?... Isto além de os pormenores perante tão delirante ideia (e apresentada num momento oportuníssimo, como todos percebemos…) ficarem para depois de 7 de Junho, isto é, para depois das Europeias!...

Não admira que José Sócrates tenha arrepiado caminho e entrado a sério na campanha: perante as gaffes de Vital, a situação começava a ficar dramática para o PS…

Enfim, espero bem que quer Vital Moreira, quer Capoulas Santos se moderem.

Que contribuam para elevar o nível da campanha – em vez de contribuírem para a empobrecer.

Se estão desesperados porque crêem que a sua mensagem não está a ter os efeitos desejados, existem certamente outras formas de actuar diferentes (para muito melhor…) daquela com que, infelizmente, fomos ontem presenteados.

O fim da AutoEuropa?...

O sector automóvel tem sido dos mais duramente atingidos pela crise, com quebras brutais nas vendas a nível global. Naturalmente, ninguém esperaria que a AutoEuropa pudesse escapar ao impacto da crise: vai longe o período entre 1997 e 2002 em que a produção superou, em média, 130 mil unidades anuais, estimando-se uma produção de cerca de 80 mil veículos em 2009. E, perante esta realidade, a Administração da empresa instalada em Palmela propôs à Comissão de Trabalhadores a manutenção de todos os postos de trabalho mediante a utilização do conceito de “banco de horas”, que implica trabalhar ao sábado sem pagamento extraordinário para trabalhadores com menos de 208 dias anuais – sendo que, para os restantes, o sábado continua a ser remunerado como trabalho extraordinário.

Para grande surpresa minha, a Comissão de Trabalhadores recusou. E, no momento em que escrevo, as negociações continuam suspensas, embora tenha já sido admitido pelas duas partes a possibilidade de ainda se poder chegar a um acordo.

A minha surpresa perante esta situação reside no facto de a AutoEuropa ter sido, pelo menos até agora, um exemplo em matéria de acordos de empresa. O que me levou, em escritos passados, a elogiar quer a Administração, quer a Comissão de Trabalhadores – sobretudo estes que, até agora, tinham, em minha opinião, mostrado um bom senso e realismo absolutamente raros (em Portugal), face à globalização da economia e à cada vez maior facilidade com que as localizações das unidades produtivas são alteradas. O que, em minha opinião, foi decisivo para que a unidade de Palmela pudesse ser considerada uma das melhores do universo Volkswagen (VW), e para que novos modelos tenham sido canalizados para produção em Portugal, afastando o cenário (trágico) da deslocalização da fábrica para outras paragens.

Ora, por mais que a proposta agora apresentada pela Administração implique algum sacrifício para os trabalhadores – e implica –, ela não me parece constituir nada de extraordinário, para mais na dificílima conjuntura que atravessamos, em que todos os dias ouvimos notícias de empresas a fechar e do desemprego a aumentar, quer no país, quer a nível internacional. E a sua não-aceitação implicará, como a Administração da AutoEuropa já referiu, a dispensa de cerca de 250 trabalhadores contratados a prazo e alguns efectivos até ao fim de 2009.

O meu espanto foi ainda maior porque, pouco antes de se ter chegado ao impasse em Palmela, a VW anunciou a produção de um novo carro na sua fábrica de Bratislava na Eslováquia, ao mesmo tempo que o chairman do Grupo afirmava que a equipa a laborar naquele país estava preparada com a flexibilidade necessária para receber as novas encomendas… Não terão os trabalhadores da AutoEuropa percebido o aviso?... É que a flexibilidade laboral é um conceito absolutamente interiorizado noutras paragens, como a Europa Central e de Leste (de que a Eslováquia é um bom exemplo). Flexibilidade funcional, horária e mesmo geográfica. Já por cá… apetece perguntar: não é melhor passar a trabalhar ao sábado sem remuneração adicional (o que só se aplica a quem tem menos de 208 dias de trabalho anuais) e garantir os empregos existentes?…

É preciso perceber que estamos a falar de uma empresa que pertence ao top 3 das exportações nacionais, e que é responsável por cerca de 9 mil postos de trabalho (3 mil directos, na própria fábrica, e 6 mil de empresas que fabricam componentes para automóveis). O que significa que o seu eventual encerramento seria catastrófico para economia portuguesa, e colocaria em xeque a existência de um cluster industrial (o automóvel) que utiliza muita tecnologia de ponta (criando, por isso, relativamente, mais valor) e é responsável por cerca de 11% das exportações (dos quais uma parte substancial provém da AutoEuropa). Ou seja, é também por razões estruturais (para além das conjunturais evidentes) que seria muitíssimo importante evitar este cenário – no que os trabalhadores têm uma palavra fundamental. Porque nem creio que, aqui e agora, o Governo possa fazer mais do que já fez (ajudou a indústria de componentes automóveis com o plano de apoio ao sector, o que também é importante para a AutoEuropa, que só é competitiva com uma cadeia de fornecimento em Portugal).

Mesmo sem crise, já a globalização da economia não se compadeceria com a inflexibilidade mostrada pelos trabalhadores da fábrica de Palmela… imagine-se, agora, os danos colaterais na conjuntura de dificuldades que atravessamos!... Quando a prioridade das prioridades devia ser salvar os empregos (sobretudo num dos sectores mais expostos à crise, como o automóvel), a Comissão de Trabalhadores da AutoEuropa resolve prender-se por… detalhes e não revelar um bom senso que, nesta altura, mais do que em qualquer outra, seria fundamental. Até porque, mesmo que agora se chegue a um acordo (e oxalá que sim), o mal em termos de imagem (para a empresa-mãe) já está feito… Com que danos, é o que falta perceber. Mas arrisco concluir que, infelizmente (e oxalá que não…), as probabilidades de manutenção da AutoEuropa em Portugal parecem já ter sido bem mais elevadas…

Nota: Este texto foi publicado no jornal Sol em Maio 29, 2009.

Uma escola nos arredores de Lisboa

Fui a uma escola nos arredores de Lisboa, situada no centro de vários bairros de realojamento, uma zona inóspita, sem ajardinamento, com muitos prédios ainda em construção à mistura com velhas casas decrépitas e desmazeladas, com lixo nos quintais e muros caídos. Essa escola tem 5 anos e é um excelente edifício, com salas amplas, ginásio, refeitório e um pátio grande, onde até cabe uma horta que os alunos cultivam. Os alunos vieram de vários bairros difíceis e convergiram ali, foi difícil ao princípio evitar que os ódios de estimação que progrediam entre os bairros não se transferissem para a escola mas hoje, segundo diz a directora, “não temos nenhuns problemas”. Os alunos têm pequeno almoço, almoço e lanche, têm regras de comportamento escritas e lembradas em vários pontos dos corredores, que são limpíssimos e cuja decoração, generosa e colorida, é da inteira responsabilidade dos alunos de todas as idades. Dá gosto ir ao longo dos corredores e apreciar os desenhos, as colagens, as pinturas os recortes ou mesmo os poemas que se alinham e dão vida a todos os espaços da escola.
A escola tornou-se o centro da vida de muitas daquelas crianças, havendo até muitos casos em que é ali que tomam banho ou aprendem as mais básicas regras de higiene, havendo ainda um “banco de roupa”, uma iniciativa dos professores que reparavam como muitas crianças careciam de roupa limpa ou menos gasta.
O que vi foi uma comunidade que soube criar a sua identidade, que em vez de sofrer com as variáveis do exterior conseguiu diluí-las e transformar a escola num mundo diferente do de cada um dos alunos, um mundo onde se educa, ensina e cuida, onde todos sabem o que lhes cabe fazer e como é importante que o façam.
Um excelente exemplo, como haverá muitos outros. Pena que só se fale do que não se consegue…

A subtileza de um passarinho...

(What is that?)

Chegou-me às mãos este vídeo. Simplesmente fantástico!
Primeiro porque prova como é importante sensibilizar as gerações mais novas para a necessidade da tolerância e importância do carinho nas relações com as gerações mais velhas. Assim como se fazem spots publicitários para suscitar o consumo de tudo e mais alguma coisa, como seria bom que um vídeo com esta “dimensão humana” nos entrasse regularmente pelas casas dentro.
Segundo porque é extremamente rico na descrição que faz sobre as fragilidades, mas também sobre as virtudes, do ser humano. O vídeo mostra, por exemplo, como é fácil o egoísmo e a intolerância e como é triste a solidão e a incompreensão. Mostra-nos também como a geração mais nova também é humana e generosa, quando descobre como a geração mais velha precisa do seu amor e carinho, e como os velhos sofrem na pele a indiferença dos mais novos que julgam, pela sua juventude, que a vida é eterna.
O homem é um ser complexo, capaz, contudo, de ser simples nas coisas aparentemente mais difíceis!

Nota: o filme leva um bocadinho de tempo a começar, mas vale a pena esperar.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Guerra de punhos!...

Vital Moreira, candidato do Partido Socialista, propôs o imposto europeu.
O Partido Socialista rejeita o imposto europeu.
Elisa Ferreira também rejeita o imposto europeu.
Vital Moreira, candidato do Partido Socialista, diz que não vota a recondução de Durão Barroso
José Sócrates, Presidente do Partido Socialista, diz que o PS vota a recondução de Durão Barroso.
Vital Moreira, candidato do Partido Socialista, mostra o punho esquerdo, quando grita PS
José Sócrates, Presidente do Partido Socialista, mostra o punho direito, quando grita PS
Guerra de punhos à vista?

COSEC; projecto CHAVISTA foi para a gaveta?

1. Depois das entradas de leão, com a promessa arrojadíssima, típica do grande líder bolivariano, de nacionalizar a COSEC a qualquer preço, parece ter-se entrado numa fase de silêncio sobre essa aventura...deixou de se falar no assunto desde o início da pretérita semana o que, para o ritmo crepitante dos acontecimentos da actualidade, equivale a uma eternidade…
2. O último episódio conhecido data de inícios da semana passada, quando foi noticiada a ameaça de nacionalização “forçada” – já não “amigável” como na primeira e fantasiosa versão – caso os actuais titulares do capital da COSEC quisessem receber um valor “excessivo”
3. Não deixa de ser irónica a referência a um “valor excessivo” depois de o próprio Governo ter afirmado antes que um dos titulares de 50% do capital havia aceitado as condições oferecidas...!
4. Acontece que o outro accionista é germânico, conhece o negócio do seguro de crédito como muito poucos, disse que não quer vender – alguém vai acreditar que o Governo pode impor a esse accionista as condições que entender?
5. E a retaliação do lado da Alemanha, já se pensou nisso?
6. Será esta a melhor altura para desencadear um conflito de nacionalizações de tipo “chavista” com a Alemanha? Estará Portugal nas melhores condições para se meter num sarilho desse tipo?
7. Tenho a percepção de que o Governo terá finalmente percebido que iria envolver-se numa aventura muito mal calculada, talvez mesmo uma desventura dolorosa, se fosse por diante com seus intentos “chavistas”…só para fazer a vontade aos Presidentes da AEP e da AICEP…que, por sinal, nunca mais falaram do assunto…
8. Poderá ser esse o significado do silêncio que agora se abateu sobre este dossier...
9. Se assim for, só posso dizer: ainda bem!...Apesar da enorme insensatez de todo o discurso governamental em torno deste tema, sempre é preferível que a insensatez se fique pelo discurso e não suba ao plano das decisões irreversíveis...até para não punir ainda mais os tão sacrificados contribuintes...
10. Parece pois, salvo pior, que o dossier COSEC, na sua versão “chavista”, terá finalmente entrado na fase da gaveta…a ver vamos.

"Um país de estúpidos burocratas…."

Vale a pena ler este texto publicado no Blasfémias.

Um país de estúpidos burocratas….

Publicado por Gabriel Silva em 27 Maio, 2009

"Hoje, o meu mais velho (5ºano), entregou-nos uma simpática carta da sua professora de ciências, informando que tendo ela solicitado a passagem à reforma em Dezembro passado, há dois dias tinha recebido comunicação deferindo positivamente o seu pedido, com efeitos a partir de 31 de Maio.

Como se está em final de ano, ela manifestou a sua disponibilidade, que foi aceite de bom grado pela Comissão Executiva, para assegurar as aulas das suas turmas por mais três semanas, ou seja até ao final do ano escolar, a 19 de Junho.

Contactada a Direcção Regional de Educação do Norte, foi-lhe no entanto indicado que se teria de retirar obrigatoriamente do serviço no final do mês de Maio, informando-nos a professora que, embora lamentando, não poderá ignorar tal directiva.

Não haverá substituição de professor, nem os alunos terão aulas, nem darão por inteiro o programa, nem terão o último teste, nem se sabe como serão lançadas ou por quem as notas da disciplina."


Se a estupidez pagasse imposto o Vital evitava propor o tal imposto europeu, ou qualquer coisa parecida...

O voto compulsivo e a desresponsabilização dos políticos

Intriga-me porque é que em Portugal sempre foram poucas e pouco audíveis as vozes que reclamaram pelo voto obrigatório, sendo tantos os que concordam com a imposição de limites à liberdade de expressão política e em especial à liberdade de escolha pelos eleitores, de que o exemplo mais evidente é a limitação dos mandatos dos que são escolhidos pelo povo.
Pois apareceu Carlos César a defender, abertamente, o voto obrigatório. Gabo-lhe pelo menos a franqueza de confessar que, para si, a liberdade política é relativa. O silogismo que desenvolve está, porém e a meu ver, profundamente errado. Diz César que o voto compulsivo é necessário para aumentar a responsabilidade dos políticos. Eu penso exactamente o contrário. O voto obrigatório e a abstenção sancionada são as formas mais acabadas de desresponsabilização dos políticos. Não custa a perceber porquê. É que assim desoneram-se do dever de extraír as consequências da recusa massiva do voto.
Veremos isso muito em breve...

A estranha satisfação do Ministério da Justiça

Os responsáveis pelo Ministério da Justiça, pela voz do secretário de Estado João Tiago Silveira, vieram hoje congratular-se com as medidas que tomaram para a redução das pendências judiciais. Estranho este júbilo manifestado pelo Dr. João Tiago Silveira, que conheço e a quem reconheço as boas intenções que o movem. Primeiro, porque fica sempre mal o auto-elogio que no contexto soa a propaganda sobre assunto que a deveria, sempre, dispensar. Se existisse alguma razão para rejubilar, não seria certamente com as medidas do governo. Seria com o facto da redução das pendências, a ter ocorrido, se dever também e sobretudo ao esforço dos operadores. Ficaria melhor uma nota de humildade e outra de reconhecimento do papel que outros desempenham. Mas a propensão para o foguetório é mais forte do que a sensatez.
Esta efusiante declaração é ainda mais estranha porquanto contrasta vivamente com o estado real da justiça, que aos olhos de todos anda pelas ruas da amargura. É esquisito que só os responsáveis do Ministério da Justiça vejam aquilo que ninguém mais vê. Menos espanto causa a tendência para fazer ouvidos moucos ao descrédito geral na justiça portuguesa, descrédito que preocupa até sectores insuspeitos de não serem afectos à maioria.
Este governo acostumou-nos à medição dos sucessos pelas estatísticas e não pelos resultados reais e concretos na vida das pessoas. Sobre o que valem as estatísticas, sobre a sua fiabilidade e utilidade para perceber a verdade, já todos tivémos provas há dias a propósito dos números oficiais do desemprego. A validade dos dados que segundo o Ministério apontam para um maior número de decisões judiciais em relação ao número de processos entrados foi de imediato contestada por quem, no "terreno", tem de lidar com os fluxos processuais. Seja como for, eu estou mais preocupado com a resposta qualitativa do sistema de justiça às necessidades dos cidadãos, do que com as estatísticas. E nesse plano não há números - e muito menos este ensaiado "número" mediático - capazes de erguer a justiça da lamentável situação em que decaiu. Infelizmente. As estatísticas, essas, servem para justificar observatórios e dar emprego a quem continua a dedicar-se a apontar as maleitas que estão à vista de todos...

“Colesterolfobia”

Quando penso nos responsáveis pela atual crise económica e financeira mundial, imagino homens, e mulheres, de meia-idade ou já entradotes com os problemas usuais de saúde: hipertensão arterial, colesterol elevado, diabetes, obesidade, sedentarismo, excesso de consumo de álcool e de tabaco, enfim, um conjunto de características próprias daquelas idades.
Mas por que raio é que embarcaram nessa aventura que acabou por nos atingir, sobretudo os mais desprotegidos? Só pela ganância? Foram atacados por algum vírus desconhecido? Alguma questão psiquiátrica? Andaram a consumir “drogas”? É muito pouco provável que se trate de algum destes motivos, tantos e tantos são os safardanas que nos meteram neste buraco. No entanto, há um fator comum a todos que é o facto de serem especuladores compulsivos acreditando que as tais “mais-valias” (nem sei se devo chamar isso!) nunca mais iriam acabar.
Mas o caráter impulsivo não é mais próprio dos jovens e das pessoas saudáveis? O pessoal já entradote caracteriza-se pelo equilíbrio, por atitudes racionais e é parca em aventuras. Às tantas, alguma das medicações que andam a fazer para tratar a saúde poderá ter tido um papel importante. E foi precisamente um colega norte-americano que começou a especular como sendo um “efeito” das estatinas, as tais drogas miraculosas que reduzem o enfarte do miocárdio, que tanto receio provoca nos decisores. Esta tese, que é original e meramente especulativa, baseia-se no facto de estas drogas terem, também, efeitos secundários, entre os quais, tudo aponta, perturbações cognitivas, que vão desde a simples perda da memória à demência, nalguns casos, e a tendências impulsivas, além de outras mais conhecidas. Mas haverá alguma conexão entre o crush mundial e o uso, ou melhor, o abuso das estatinas? Não sei, nem me interessa de momento, até, porque vão ser necessários mais estudos para provar essa associação. O que interessa aqui focar é o comportamento “colesterolfóbico” que anda por aí.
É sabido que as pessoas com colesterol elevado correm riscos de virem a sofrer um acidente cardiovascular. Sob o ponto de vista científico é inquestionável, mas o problema que se começa a colocar é se “todas” as pessoas com colesterol normal ou não muito elevado necessitam ou não desta terapêutica. Posso já adiantar que não, outras atitudes de caráter preventivo tais como a dieta, o exercício físico e o abandono do cigarro são mais do que suficientes. Estas poderosas armas terapêuticas deverão ser guardadas para os que já sofrem de doença vascular e para os que apresentam valores francamente anómalos. Mas o que está em jogo é muito mais do que propriamente o interesse pela saúde pública, é sobretudo o interesse financeiro. De facto, a principal fonte de lucro das empresas farmacêuticas prende-se com este grupo de medicamentos que só em 2006 propiciou qualquer coisa como 26 mil milhões de dólares! Quanto mais pessoas tomarem este produto mais lucro a indústria obtém.
Médicos e cidadãos entraram no jogo. Com base em inúmeros estudos, e através da informação, diria mais “publicidade”, prestada à comunidade, passámos a mamar estatinas como se fossem tremoços ou amendoins.
Sendo assim, e devido à falta de autorregulação farmacêutica, começa a surgir uma corrente de opinião contra o uso indiscriminado, ou, se preferirem, “excessivamente alargado” das estatinas.
Recordo que há ainda poucos anos, acompanhei uma campanha pública nos jornais, revistas e outdoors que tinha como objetivo informar o público, mas que acabou por ajudar a criar, e a estimular, uma verdadeira “colesterolfobia” com o beneplácito de associações científicas. Nesta campanha o colesterol era apontado como o mafarrico da saúde. Claro que faz mal, mas é preciso ter tento no juizinho e não reduzir o colesterol para valores cada vez mais baixos, caso contrário, as tais alterações cognitivas, a segunda complicação mais importante provocada por esta classe de drogas, podem aumentar de forma assustadora. Não podemos esquecer que todas as células do nosso organismo, que se contabilizam por dezenas de triliões, necessitam desta substância e que só o cérebro, que representa 2% do nosso peso, “consome” 25% de todo o colesterol. Ora, sem colesterol o cérebro não funciona como deve ser e se não funcionar corretamente deve sair asneira. Deste modo, aconselho, para já, os “especuladores” a deixarem de tomar estatinas, a comerem bons presuntos, mariscos, ovos, caviar, ovas, enchidos, mioleira, queijos, carnes vermelhas, enfim tudo o que seja mais rico possível em colesterol de modo a diminuir os seus “impulsos”, e se morrerem de ataque cardíaco, paciência, pelo menos evita que nós, os outros, entrem em stresse poupando-nos a eventuais enfartes fulminantes.
Isto anda mesmo bonito! Anda, anda!

O labirintíco mundo das leis...

Os números divulgados no colóquio “A Qualidade da Legislação” realizado pela Assembleia da República são impressionantes: a má qualidade legislativa custará ao Estado cerca de 7,5 mil milhões de euros por ano, ou seja, pelo menos 4,5% do PIB, de acordo com estudos tradicionais.
Não sendo em si uma novidade a informação sobre a má qualidade da legislação, não deixa, contudo, de impressionar o seu impacto económico. Muitas perguntas ficam, no entanto, por esclarecer.
Seria, igualmente, importante conhecer quanto custa à economia a má qualidade legislativa e que custos sociais são arrastados por esta situação. Assim, como ficam por esclarecer quais são as justificações que explicam um quadro tão negativo.
Segundo li, a propósito do mencionado colóquio, as contradições de leis que regulamentam as mesmas realidades, os regimes transitórios, a sobreposição legislativa, a ausência de regulamentação das leis e o mau funcionamento da justiça são apontados como causas da falta de qualidade legislativa.
Tenho para mim que a própria fúria do processo legislativo, que tem que ver com a pressa de legislar e de tudo regulamentar, tem culpas no cartório. O divórcio tantas vezes existente entre o fazedor e o decisor da lei e o conhecimento da realidade sobre a qual a lei vai actuar é, certamente, um factor que muito pesará na inadequação e ineficácia das leis.
A legislação deve ser instrumental e não constituir um fim em si mesmo. Mas às vezes ganho a sensação de que se está a legislar para uma realidade virtual ou ficcional, num puro exercício jurídico.
Tão ou mais importante que a aderência da lei à realidade é a estabilidade da lei e previsibilidade da sua aplicação. A profusão de leis e a intensidade da sua produção afectam negativamente aqueles valores, que se afiguram fundamentais. É o que acontece, por exemplo, em relação à actividade económica. A legislação fiscal é disso um bom exemplo, ou melhor, um mau exemplo de qualidade legislativa.
Por fim ficam duas questões básicas. A primeira porque é que não corrigimos este “estado da arte” e a segunda porque é que gostamos de tudo legislar. Será que a tradição é mais forte que a necessidade?

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Despreocupação, que a vida é bela!...

Hoje arrumava vária documentação antiga, quando deparei com uma entrevista ao então Presidente da Comissão dos Valores Mobiliários (CMVM), Prof. Teixeira dos Santos, publicada no Suplemento Negócios do DN, datado de 7 de Fevereiro de 2004. A entrevista versava genericamente sobre os problemas da supervisão e terminava da forma seguinte:
Jornalista: "Em Portugal nunca tivemos casos como o da Eron ou da Parmalat..."
Teixeira dos Santos: "Felizmente nunca aconteceu um caso deste tipo. Mas estamos atentos. Até agora não se identificou nenhuma situação. E de acordo com a informação de que dispomos não existe nenhum caso em Portugal que nos cause preocupação".
Pois é: nunca tivemos casos, estamos atentos, nada de preocupações...A vida é bela!...

O genial Vital

Vital tem ideias: agora propôs um novo imposto. Não sabe bem o quê, e pormenores só quando for eleito. Mas o importante é mesmo criar mais um imposto. Criar impostos é, aliás, a coisa mais natural para um socialista que se preze!...
Genial, Vital afirma “querer sublinhar a necessidade de aumentar os recursos”, ao mesmo tempo que diz que o novo imposto “não tem nada a ver com aumentar a carga fiscal”!...
Isto é, um imposto que aumenta os recursos de quem o cobra, sem aumentar o esforço de quem o paga!...
E andam estes gajos, à solta, em plena via pública!...

terça-feira, 26 de maio de 2009

Afinal, quem ajuda quem?

-É muito fácil votar em nós, mas damos-lhe uma ajuda: é no último símbolo do boletim de voto que deve pôr a cruzinha…-diz um candidato em campanha, no Café Vianna, em Braga.
-Dá-me uma ajuda, não, eu é que o estou a ajudar...se lá puser a cruz... responde o interlocutor.

Um belo exemplo de como o povo vê o serviço e a ajuda que os políticos lhe dão!...

Uma nova bolha especulativa?


O El País traz um interessante artigo sobre o crescimento do negócio das energias renováveis. Um relatório do Ministério da Indústria espanhol alerta para o surgimento de nova e perigosa bolha especulativa, insustentável como todas as outras. No país de nuestros hermanos observam-se crescimentos da ordem dos 450%/ano no sector das energias renováveis (por exemplo, no fotovoltaico), sem que isso se reflita no preço da energia ao consumidor. Pelo contrário. Segundo o governo espanhol (que recebeu o apoio de alguns partidos para além do PSOE) "determinadas tecnologías encarecen el recibo de la luz, fomentan la especulación y dificultan la circulación de la energía por la red eléctrica".

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Morreu Maria Amelia, a avó "bloguera"


Nasceu no dia 23 de Dezembro de 1911, em Murcia, na Galiza. Quando tinha 95 anos os seus netos criaram-lhe um blogue, e, segundo ela, a sua vida mudou, porque passou a poder comunicar “com todo o mundo”. O seu blogue teve 1 703633 visitas de todo o mundo que lhe “alegraram a velhice”.
Da sua nota biográfica, escrita no blogue, consta também a data da sua morte: “Me marche el 20 de Mayo 2009. 35578 dias de vida, ni más, ni menos”.
O último post é da família, que agradece a todos os 880 dias de carinho e apoio fundamental para que Maria Amélia “disfrutasse como nunca estes seus últimos anos”.
Quem convive com pessoas de muita idade sabe que um dos maiores prazeres que lhes podemos dar é ficar a ouvi-los contar as histórias da sua vida, vezes sem conta, ou então contar-lhes pequenas histórias do dia a dia, episódios que possam depois contar ao telefone ou ficar a matutar quando ficam sozinhos.
Os dias são muito compridos quando as pessoas vivem sozinhas e ainda pior quando já não têm autonomia para ir à rua comprar o que precisam, altura em que sempre podem socializar um pouco. Resta-lhes o telefone, a televisão, as visitas de quem se lembra deles e…maravilha!, a blogosfera, para os que ainda tenham a vivacidade de espírito para explorar os mistérios da modernidade – e netos com a paciência e o interesse para lhes despertar esse gosto. A blogosfera também tem essa magia, a de ligar em rede os que vivem isolados, formam-se círculos sem fronteiras onde a conversa segue animada, com risadas e escândalos, alguns segredos espreitados, vidas inventadas, sei lá, o mais importante é que se quebre a solidão.
Quem sabe se o blogue não a ajudou a viver mais tempo só porque tinha companhia e falava pelos cotovelos com quem a queria ouvir?

Saloíces jornalísticas: reescrever a história!...



No dia seguinte à vitória do FCPorto no Campeonato, aí está a notícia nos gloriosos desportivos da capital!...

...Mas o FCPorto ganhou alguma coisa?

domingo, 24 de maio de 2009

A emoção do Tetra!...


É nos estádios que concitam as emoções dos adeptos e deixam para outros as primeiras páginas de glórias virtuais...
Sabem que o futebol é um jogo e procuram com afã que a sorte lhes sorria...
Dão sempre o melhor de si para alcançar a vitória, pois sabem que o azar próprio ou os erros alheios não desculpam a derrota...
Não se julgam os melhores do mundo, mas dão sempre o melhor de si para alcançar a vitória...
Sabem que ninguém ganha sozinho e unem-se para tudo ganhar...
Por isso são tetracampeões e dão alegria a muita gente!...
Parabéns FCPorto!...
E parabéns também aos leais adversários, sem os quais não haveria vitórias!...

Perfeccionismo

Quando entrei pela primeira vez no seu gabinete fiquei boquiaberto pela forma surpreendentemente organizada do mesmo. Cadeiras alinhadas, secretária arrumada de forma geométrica, livros dispostos nas estantes como soldados de um batalhão a apresentar armas. Tudo certinho. Nada fora do sítio. Sentia-se no ar algo que não era muito habitual. A própria figura seguia no mesmo sentido, materializada na forma de vestir e no próprio penteado, o qual, por artes mágicas, nunca se apresentou curto, comprido ou despenteado, como se cada cabelo soubesse qual o seu lugar e comprimento. As palavras eram pausadas, previamente pensadas, assim como a expressão dos sentimentos, não muito efusivos em caso de satisfação nem muito tristes no caso de incómodo, sempre dentro de uma certa escala decididamente estudada. Verdadeiro diplomata, era incapaz de exteriorizar qualquer expressão ou som menos apropriados. Quando escrevia, as letras saiam bem desenhadas e percetíveis, povoando o papel branco, que parecia ter linha invisíveis, de palavras e frases bem construídas, tamanho era o seu rigor pela língua. Praticamente não rasurava e, quando o fazia, a palavra ou frase eliminada tinha um encanto especial. Não sei como conseguia, mas quase que me apetecia afirmar que deveria ter uma pequena régua com a qual matava com dois riscos simétricos a frase a abater.
No laboratório, as experiências seguiam o mesmo princípio. Demorava tempos infinitos a pesar os reagentes com uma precisão incrível. Combinava todos os tempos num ritual sem comparação. Quando, por qualquer motivo, falhava, ficava a meditar e a analisar todos os procedimentos efetuados na expectativa de encontrar os motivos. Depois enunciava-os e voltava ao princípio esperando que dessa feita corresse tudo bem. Mas não era tão linear como isso, por vezes tínhamos que repetir várias vezes as experiências até acertarmos com todos os passos. Durante todo o tempo, horas, dias ou semanas, nunca mostrava sinais de contrariedade. Superorganizado, o seu perfeccionismo estendia-se a tudo o resto, fosse na correção dos pontos, na sua elaboração, na contagem da pontuação (mais do que uma vez), no lançamento das notas, na revisão das provas tipográficas, na preparação das aulas e dos projetos, nas comunicações, nos relatórios, nas reuniões e até nos atos sociais, em que, apesar de mais descontraído, não conseguia evitar de revelar o seu perfeccionismo.
Tentava imitá-lo, mas não conseguia. Era muito doloroso gastar tanto tempo a arrumar as coisas. Ficava cansado, com dores de cabeça e com uma sensação de tempo perdido. Decididamente não conseguia competir com a sua “entropia negativa”. Durante um dia ou dois as “coisas” ficavam mais ou menos arrumadas, mas, de repente, a reação de desorganização instalava-se com uma fúria silenciosa e quando dava conta estava tudo fora do sítio. Uma tragédia. Perdia os apontamentos, deixava tudo desalinhado, não conseguia escrever as palavras de forma percetível para os outros e, às vezes, até para mim, o que me provocava uma certa raiva. Muitas vezes tirava um livro de uma estante e, depois, já não conseguia colocá-lo no local original. Sabia que lhe provocava um certo incómodo, mas não dizia nada. Ao fim de algum tempo passei a ser, praticamente, o culpado de tudo o que acontecia de “anormal”, entre o restante pessoal sénior e auxiliares. Se faltava alguma coisa ou estava fora do lugar a explicação “científica” chegava com determinação: - Ah! Deve ter sido... E, na maior parte dos casos, não era o responsável, mas acabava de pagar as favas!
Muitas vezes pus-me a pensar se as células do seu corpo estariam, também, sujeitas a tanto rigor, e se não correria riscos de saúde. Diabo, o rigor é necessário mas também é preciso uma certa versatilidade e abertura. Aquele esforço, se é que era esforço, devia ser muito perigoso. Tentava, assim, justificar a minha eterna tendência para a desorganização, qual forma de entropia acelerada, que ainda hoje se manifesta, como sendo a mais saudável e natural. Penso eu! E parece que sim, porque o risco de morrer aumenta de forma significativa nos que apresentam um comportamento do tipo perfeccionista. Num estudo canadiano, a que tive acesso, os indivíduos que são mais otimistas, extrovertidos e “inconscientes” (está entre aspas, para que não haja confusão!) apresentam risco de morrer significativamente mais baixo. Os mecanismos começam a ser esclarecidos, envolvendo vários intervenientes fisiológicos.
Atendendo ao que se passou, morte prematura, a minha opinião de que aquele comportamento era perigoso para a saúde, afinal, poderia estar correta...

sábado, 23 de maio de 2009

Receber sem trabalhar, trabalhar sem receber!...

Os profissionais do Estrela da Amadora passaram toda a época, repito, toda a época, sem receber um mês que fosse de salário. Apesar disso, conseguiram, no campo, e findo o campeonato, uma classificação que permite ao clube manter-se na Liga maior do futebol nacional.
Tal situação prende-se com as dívidas do clube, particularmente com as dívidas fiscais e à segurança social, o que levou à penhora de todas as receitas.
Para regularizar a situação, o Estrela da Amadora apresentou ao IAPMEI, há um ano,antes do início da época futebolística, um Procedimento Extrajudicial de Conciliação (PEC), instrumento legal a que podem recorrer entidades em situação semelhante. Para o efeito, deu como garantias diversos activos que cobrirão o valor das dívidas.Passado um ano, segundo notícias não desmentidas, o IAPMEI ainda não se dignou responder.
Independentemente do julgamento quanto à suficiência ou insuficiência desses activos e à viabilidade do clube, é de lamentar, e é condenável, que o IAPMEI demore todo esse tempo a decidir se o PEC é aplicável ou não à situação proposta.
Merecem todos os elogios os atletas do Estrela, que trabalharam, e bem, sem receber.
Merece completa reprovação a intoleravelmente desleixada atitude burocrática do IAPMEI, cujos responsáveis, pelos vistos, não trabalham, sendo bem pagos para o fazer. E que assim desprezam quem dignamente trabalhou.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

“Confraria da Punheta de Bacalhau”

Não pertenço a nenhuma confraria, nem nunca fui convidado para esse efeito. Provavelmente não me devem considerar como uma pessoa adequada, ou, então, talvez se tenham apercebido, não da minha hostilidade, mas, da minha desconfiança quanto aos eventuais efeitos. Dizem que é uma forma de preservar a cultura e de divulgação dos produtos. Talvez seja. É capaz de ser muito útil para a cultura, gastronomia e cultura do país, e em último caso, que é o mais certo, uma forma de convívio e de passatempo entre os confrades!
Já tinha comentado em tempos que começa a haver confrarias a mais. Volta e não volta aparece mais uma. Hoje, li que vai ser constituída a Confraria da Punheta de Bacalhau. É um prato que sempre gostei muito. O fundador afirmou que esta confraria é mais importante do que a do “pastel de nata”. Bom, em termos de saúde e para quem não é diabético, não tenho qualquer dúvida.
Como cada confraria tem os seus rituais e vestes próprias, estou como uma curiosidade dos diabos para conhecer um pouco melhor como vão ser entronizados os futuros ... confrades!

Os Jacarandás da Pimavera...

Todos os anos espero, invariavelmente, pela Primavera dos jacarandás floridos, com as suas copas transbordantes de lilás, adornando jardins e ladeando avenidas e ruas, praças e pracetas. Nunca me canso de esperar!
Os jacarandás de Lisboa são um património valioso que reflecte um tempo de requinte e de muito bom gosto. Desfrutemos, pois, da sua envolvente, sentindo Lisboa mais bonita, charmosa e sedutora pintada de lilás...

”Com 60 anos obrigam-me a ser profissional da PSP”

O Público de hoje traz uma reportagem com fotografia da manifestação que ocorreu ontem em Lisboa. Não vou dissertar sobre as razões do protesto. Devem andar desagradados com a sua situação. Nada de novo neste pobre país com tanta gente descontente.
Mas não foi esta a razão que me levou a escrevinhar este pequeno apontamento. Foi a fotografia. Pois bem, a fotografia mostra um polícia com “boné” e casaco policial, sentado numa cadeira de rodas, empunhando um cartão vermelho a ser empurrado por um colega a preceder o resto da coluna de manifestantes. Curiosamente, ou não, o senhor agente aconchega no seu regaço um cartaz com os seguintes dizeres:” Com 60 anos obrigam-me a ser profissional da PSP”.
Mas qual é o problema do senhor? Quer ir para casa? Sente-se velho? Não tem capacidades para trabalhar? Aos 60 anos? O seu trabalho é penoso, desgastante física e intelectualmente? Oh senhor agente deixe-se disso! Faz-lhe muito bem trabalhar aos 60 anos. Nunca ouviu dizer que trabalhar faz bem à saúde? Se a quiser proteger, trabalhe. A não ser que seja mesmo um inválido de verdade. Ai é obrigado? Imagine se todos começarem a contestar que estão a ser “obrigados” a trabalhar aos 60 anos!
Sabe que lhe diga? Diga obrigado por ter emprego e... trabalho.

E chamam-lhe matemática!...


Realizaram-se mais algumas provas de aferição, entre elas as de Matemática, 6º ano.
Mais uma brincadeira, para passar tempo, pensei eu. Até porque os alunos, entrevistados pelas televisões, acharam as provas “muita fáceis”…
Mas não. As provas foram a sério e os alunos, se acharam os pontos fáceis, é porque estavam muito, muito bem preparados.
Veja-se um exercício de grande complexidade matemática que os alunos tiveram que resolver: “temos uma pizza dividida em 9 partes iguais. Pinta com o teu lápis dois nonos da pizza”.
É indecente que tal sabedoria se exija a alunos de tenra idade. Para mais, dizendo-lhes que é matemática!...

“Natal deve ser todos os dias”

O relatório irlandês sobre o que se passou em algumas instituições católicas relativamente às agressões e violações das crianças acaba de ser apresentado, depois de nove anos de investigação.
As notícias revelam situações muito graves e impensáveis se considerarmos que estavam à guarda de religiosos.
À noite, no telejornal, uma dessas vítimas fez um comentário que merece ser realçado e que me perturbou: “A única coisa que o Natal tinha de bom era porque não praticavam abusos sexuais” Incrível! O único momento de paz para os pequenos corpos e atormentadas almas era o Natal.
Os relatos de abusos sexuais praticados “dentro” da Igreja são demasiados. É certo que o Papa já reconheceu esta situação. É certo que já foram pagas indemnizações astronómicas por esse mundo fora.
Ouço com muita atenção as explicações dos responsáveis da Igreja. Afirmam que tais condutas são reprováveis. Concordo, são repugnantes. Dizem que a Igreja não tem a ver com esse comportamento. Claro que a doutrina da Igreja não convida a esta conduta, nem para lá caminha. É óbvio. Mas a Igreja não é um conceito abstrato é feita pelos seus fiéis e tem responsáveis. Aqui chego a um ponto que me deixa muito confuso e para o qual não consigo encontrar explicação. Por que razão as autoridades da Igreja, sabendo o que se passava, não denunciaram os seus malfeitores demoníacos? Porque é que não os entregaram à justiça “secular”, a fim de serem exemplarmente punidos, evitando, deste modo, a perpetuação de práticas de agressões e violações sexuais?
É pena que a amorosa expressão, “Natal deve ser todos os dias”, não tenha sido aplicada às crianças irlandesas, porque elas, assim como todas as outras, merecem viver o seu dia-a-dia como se fosse o dia do Menino...

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Já?!

"Obama escorrega", por Ana Gomes.

(disse-me um passarinho que a Casa Branca está muito incomodada com este desgosto madrugador da nossa deputada europeia)

O descaramento do Ministro!...

Ontem, o Ministro das Finanças mostrou-se preocupado com o futuro, ao referir que o défice ocasional hoje tem um efeito fixo na dívida pública e esta permanece no futuro. Assim, nesse tal futuro, os esforços devem ser orientados no sentido de reduzir os níveis da dívida.
O perfeito espelho do Ministro das Finanças.
Durante estes anos do presente, de 2004 até hoje, mais não tem feito do que aumentar a despesa pública corrente (mais 12,4 milhões de euros, não incluindo 2009), aumentar os impostos (mais 12,8 milhões de euros, não incluindo 2009) e aumentar a dívida pública, devido aos sucessivos défices orçamentais, que o Ministro chama ocasionais…
Durante estes anos, o Ministro das Finanças demitiu-se das suas funções. Mas, em fins de legislatura, permite-se dar conselhos ao seu sucessor, incumbindo-o de reduzir a dívida que o próprio lhe vai deixar.
Descaramento!...

A gripe A deve ser mesmo perigosissima!

Não sei se a gripe agora A é muito perigosa ou não, confesso que não percebo, porque há imensos suspeitos mas os confirmados não são nenhuns, pelo menos em Portugal, e contabilizam-se umas centenas na América e umas dezenas no Japão. Da América Latina já não se ouve falar. No entanto, nunca se viu um aparato tão grande nas cautelas com os supostos infectados, ao ponto de um desesperado cidadão de Viseu ter tido honras de telejornal para contar, de forma muito impressiva, os tormentos que padeceu quando acompanhou a sua mulher ao hospital, porque esta tinha queixas de mal estar. Talvez também tivessem vindo dos EUA, não sei mas admito que sim. O certo é que foram mantidos sozinhos, numa salinha isolada, com os enfermeiros com máscara, a bater do lado de fora da porta a perguntar se ainda lá estavam, a passar comprimidos por uma frincha, a não deixar a mulher ir à casa de banho, enfim, como o homem dizia, sentiram-se “leprosos” (ao tempo da Idade Média, digo eu). Assim foram mantidos largas horas, até chegar a ambulância do INEM, toda equipada, vinda de Coimbra, onde voltaram e onde a senhora foi atendida 9 horas depois de se ter apresentado no primeiro hospital! O Director hospitalar informou laconicamente”que se seguiram todos os procedimentos protocolados” e podemos imaginar o que seria se, por azar, tivéssemos mesmo uma epidemia!
Já tem havido imensos situações de propagação de doenças perigosas, como a meningite, por exemplo, ou como outras gripes que causam pneumonias e matam os mais debilitados e não me lembro de alguma vez ter havido este pânico por parte dos serviços de saúde. Esta gripe deve ter mesmo algum perigo fora do comum. Safa!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

COSEC: Novela ganha contornos surrealistas?

1. Editei na pretérita semana um Post no qual alinhei alguns comentários ao anúncio da “renacionalização” da COSEC.
2. Como não foram dadas explicações claras (se algumas...) sobre os motivos fundamentais de tão estranha decisão, admiti duas: (i) fazer a vontade aos Presidentes da AEP e da AICEP que alguns dias antes teriam sugerido tão ousada iniciativa ou (ii) piscar o olho à esquerda, acenando com uma “nacionalizaçãozita” sempre do agrado dos ideólogos dessa secção.
3. Essas explicações sabiam a pouco, muito pouco mesmo, face a uma operação presumivelmente muito dispendiosa para os exauridos cofres públicos e também na perspectiva de custo-benefício (o benefício é mesmo misterioso…).
4. Acresce que, tanto quanto se sabia, o Governo tinha anunciado a decisão de comprar antes de ouvir os detentores da Companhia em causa.
5. A evolução recente deste dossier mostra que a situação, para além de dificilmente explicável se pode vir a invadir rapidamente o domínio do caricato : um dos accionistas detentor de 50% do capital social, não-residente e especializado em seguro de crédito, já anunciou que não quer vender, não vai vender.
6. O Governo, em dificuldade perante o cenário, vem agora dizer que tem ou já tinha o acordo do outro accionista (em que condições ninguém sabe...), detentor dos restantes 50% do capital - na circunstância, um residente...
7. A prosseguir esta aventura não calculada, perspectiva-se pois o Estado ficar com 50% continuando os outros 50% nas mãos de uma entidade estrangeira altamente conhecedora do negócio.
8. Em tal quadro, ocorre perguntar que vai o Estado/Governo fazer para a COSEC? Alterar as regras ou o modelo do negócio para facilitar a tomada de riscos menos aceitáveis, só justificável pela aplicação do velho critério “político”?
9. Alguém no seu normal juízo acredita que o outro accionista vai entrar “nesse jogo”, arriscando-se a desvalorizar o capital investido?
10. Esse estranho e surreal conúbio entre o Estado e um accionista estrangeiro altamente profissional do ramo parece assim reunir as condições ideais para acabar mal - se o Estado/Governo quiser cumprir qq promessa de “popularizar” as condições de seguro dos riscos de crédito…
11. Não será que tudo isto pode ainda desabar numa factura bem mais elevada para o contribuinte?
12. Porque carga de água foi o Governo meter-se em mais este sarilho, se já tem tantos para resolver? Não será isto uma forma de surrealismo político?

Imagens dos linces que fizeram a alegria do nosso Professor Massano Cardoso

Eis as imagens da "Adelfa", uma fêmea capturada na Sierra Morena e dos filhotes nascidos em Abril, esperança da recuperação da espécie. O pai chama-se "Cromo". Nada de associações a outros lynces, como imediatamente fizeram em comentário ao post do Professor Massano Cardoso.

Alegrem-se!

Meus caros amigos

Alegrem-se.
Façam um pequeno intervalo nessas coisas do Freeport, do Eurojust, da professora do “sexo”, da diretora dos professores do Norte, da crise económica, das más-línguas, do pobre do Benfica e do seu treinador, da tareia do sportinguista, eu sei lá que mais, olhem até do Darwinius masillae ou do famoso myzeneiro Pinho Cardão!
Alegrem-se.
Nasceram dezoito linces em cativeiro. A Junta da Andaluzia tem um plano em curso para ceder linces a Portugal.
Alegrem-se perante boas notícias. Pelo menos vamos ter linces!

Mantém-se em funções o procurador e suspende-se o Eurojust. Pode? Pode, pois.

O senhor Procurador-Geral da República (PGR) entendeu hoje divulgar que decidiu prescindir da colaboração do Eurojust nas investigações do caso Freeport logo que se iniciou o inquérito às alegadas pressões exercidas pelo presidente daquela instituição. Decisão que o PGR terá tomado, pois, antes de conhecer as conclusões do inquérito disciplinar e, logo, antes de ser confrontado com a questão da suspensão preventiva do senhor procurador-geral adjunto em causa, pela qual muitos reclamaram.
No momento em que escrevo esta nota, ainda não ouvi ou li qualquer reacção a esta decisão do PGR. Mas não me custa a crer que serão muitos os que se insurgirão ou, no mínimo, acharão estranho que perante uma decisão tomada antes da abertura do inquérito não se tenha determinado em coerência com esse gesto de cautela, a suspensão de funções de magistrado (e, por decorrência, as de presidente do Eurojust) do Sr. Dr. Lopes da Mota logo que conhecidas as suas conclusões. Acontece, porém, que vigorando nesta matéria o princípio da legalidade, não é a vontade do Procurador-Geral ou do Conselho Superior do MPº que relevam, é a vontade da lei que prevalece. E o que diz a lei que contraria a lógica de quem entende que não faz sentido suspender a colaboração do Eurojust em vez de determinar a suspensão do senhor Procurador visado? Transcrevo-a. O art. 196.°/1 e 2 do Estatuto do Ministério Público dispõe o seguinte sobre a suspensão preventiva do arguido em processo disciplinar:
  • "1 - O magistrado arguido em processo disciplinar pode ser preventivamente suspenso das funções, sob proposta do instrutor, desde que haja fortes indícios de que à infracção caberá, pelo menos, a pena de transferência e a continuação na efectividade de serviço seja prejudicial à instrução do processo, ou ao serviço, ou ao prestígio e dignidade da função.
    2 - A suspensão preventiva é executada por forma a assegurar o resguardo da dignidade pessoal e profissional do magistrado".
O que significa que, nos termos da lei - e são só estes que interessam - o PGR só poderia propor a suspensão do magistrado em causa ao Conselho Superior do MPº, desde que: existisse proposta do instrutor + os indícios recolhidos no inquérito apontassem para pena de transferência ou mais grave + a manutenção em funções fosse susceptível de condicionar o processo disciplinar ou causar dano ao serviço, ao prestígio, à dignidade da função ou ao próprio procurador arguido.
Se não propôs a suspensão preventiva, isso só pode significar que o que foi apurado no inquérito não aponta para falha tão grave que justifique proteger desde já a instituição, o processo disciplinar ou o próprio arguido. E se assim é, perante a decisão do senhor PGR de prescindir da colaboração do Eurojust, uma de duas: ou o PGR entende, pessoalmente, que a continuidade de funções do senhor Procurador-Adjunto é perturbadora e só não propôs a suspensão porque a iniciativa cabe ao instrutor e a gravidade do apurado nesta fase não lho consente, mas afastou qualquer hipótese de interferir na investigação do caso Freeport o que está no domínio da sua competência segundo a sua livre convicção; ou, diversamente, entende que, apesar de não exisitirem razões para à luz da lei propor a suspensão, a necessidade de despoluir o processo Freeport levou-o a, profilaticamente, remover um factor de futura suspeição.
Se a intenção da decisão agora revelada foi esta última, ainda que possa haver quem diga que o PGR prepara a opinião pública para assistir ao parto do rato pela montanha, entendo-a e aceito-a perfeitamente. Face ao clima instalado no País e à irracionalidade com que estes casos são vistos, analisados e sempre instrumentalizados, muito me admiraria se aparecesse muita gente a compreendê-la.

Fim de ciclo!...

A Directora Regional de Educação do Norte que não sabe escrever português, que utiliza ad-hoc os sinais de pontuação, que tem da vírgula a ideia de ornamento para separar o sujeito do predicado e para quem as regras da concordância são uma nebulosa distante e desconhecida...
A professora de história que, hard-core, ensina sexo às alunas de 12 e 13 anos...
Os Deputados para quem o sexo não é suficiente, nem talvez necessário, para distinguir os homens das mulheres...
Os Deputados que pomposamente legislam sobre segurança no trabalho, mas se esquecem das sanções em caso de não cumprimento. E que, para remediar a lei, utilizaram habilidades e expedientes tão grosseiros que levaram à sua rejeição pelos Tribunais e estão a configurar uma verdadeira amnistia...
Os Deputados que fizeram tábua rasa da sua própria argumentação unânime que reduzia drasticamente o recebimento de dinheiro vivo e, de uma penada, instituíram a entrada de milhões nos cofres partidários. E que, depois de aprovada a lei em Plenário, a vieram a alterar em sede de Comissão Parlamentar, chamando às alterações aperfeiçoamentos. E a votar que as alterações eram aperfeiçoamentos...
O Instituto de Emprego para quem o abate de desempregados, quando saem as estatísticas, é mera rotina...
Crise económica? Muito resiste a economia!...

terça-feira, 19 de maio de 2009

Apagar os "apagões"...

A polémica em torno do "apagão" dos 15 mil desempregados dos números de Março apresentados pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) é, a meu ver, extremamente nociva para a confiança da informação produzida por esta entidade sobre uma matéria da maior importância.
Mas as dúvidas e as suspeitas sobre o caso são legítimas quando estão em causa "erros" que põem em causa a credibilidade e a segurança de informação nacional, a que acresce a gravidade do período de crise económica e social que o País atravessa. Logo o presidente do IEFP veio assumir ter ocorrido um erro no cruzamento de dados com a Segurança Social, recusando a ideia de que possa existir uma manipulação de dados sobre o desemprego.
As acusações de manipulação permanecem e as explicações oficiais estão estafadas de insistir que não há razão para especulações. Ficar no ar a suspeita de que as estatísticas não são seguras e que nelas não se pode confiar é qualquer coisa de inaceitável.
Face à gravidade desta situação, fico admirada que o governo não tenha ordenado e a oposição não tenha solicitado a realização de uma auditoria independente à qualidade e ao controlo do sistema de tratamento e gestão dos dados sobre o desemprego implementado no IEFP.
Esta auditoria poderia, porque não, ser solicitada ao Tribunal de Contas. Sem uma intervenção desta natureza continuará a pairar a desconfiança sobre a estatística do desemprego e, em particular, sobre o IEFP. É que este "apagão" não foi o primeiro!

Episódios deste manicómio em que se transformou a justiça lusa

Acordei com a promessa de declarações bombásticas do bastonário da Ordem dos Advogados no noticiário que se seguiria. Não foram, afinal, bombásticas. Foram só o habitual no Dr. Marinho Pinto, nada mais.
No escritório confrontei-me com mais uma daquelas decisões judiciais que, não fora o dano que provoca num dos seus destinatários, daria para uns saborosos momentos de diversão, tal o anedótico da coisa. Fiquemo-nos por aqui por que o sigilo profissional é para ser encarado a sério e aproveitemos o bom humor para umas alegações de recurso à medida da sentença.
Mas protegido pelo segredo não se encontra o episódio que o JN relata, envolvendo o ex-deputado do PND da Madeira, José Manuel Coelho, o tal da bandeira nazi. Fiquei a saber que a criatura estava a cumprir pena substitutiva de prisão quando entrou para a Assembleia Legislativa da Madeira, suspendendo a sua execução por este facto. Agora, ao que parece, não quer mais cumprir o trabalho a favor da comunidade em que o condenaram - pintar as paredes da sede de uma autarquia. O que quer é mesmo cumprir pena de prisão efectiva. Recusa-se a sujar as mãos com tinta, mas o tribunal não o remete à prisão porque faltou o relatório do Instituto de Reinserção Social. Entretanto, abordado por dois polícias que o detiveram para o levar à presença de um juiz num outro processo, acabou na esquadra, de onde foi solto. Como termina a estória? Pelos vistos como a Lusa conta, em discurso directo:

- Eu estava a vestir-me para ir ao julgamento das 14:00 quando apareceram dois polícias com o mandado de captura. Acompanhei-os e fiquei na esquadra de Santa Cruz, onde acabei por almoçar com os dois agentes um magnifico bacalhau à Gomes de Sá.

Darwinius masillae


Fóssil de primata com 47 milhões de anos. O elo perdido entre humanos e macacos. Uma espécie de Santo Graal da evolução...

O “acquis communautaire” de Paulo Rangel

Interessante, mesmo muito interessante, a blogtúlia de ontem, com Paulo Rangel, no Nicola.
Muitos blogs presentes, incluindo o 4R, de gente afecta e desafecta, de cores matizadas, da esquerda à direita, de correntes a pender para o socialismo a sociais-democratas e liberais. E muitos mais “bloguistas”, que se entretiveram, durante 2 horas e meia, a questionar, de forma pertinente, o cabeça de lista do PSD às Europeias.
O candidato não foi poupado e houve-se com brilho nas respostas dadas, prontas e equilibradas: o papel da Despesa Pública, o Federalismo, a Turquia, os Eurobonds, o Exército europeu, a Harmonização Fiscal, o Modelo Social Europeu, etc, etc.
Também foi possível saber mais sobre o candidato: à esquerda do PPE, na Europa, mas à direita do PSD, em Portugal; conservador nos valores, liberal na economia.
Paulo Rangel revelou estar preparado. Não com um “acquis communautaire” de ocasião e feito à pressa, mas profundo, por bem assimilado.
Estão de parabéns os promotores e está de parabéns Paulo Rangel.

“Que estranha forma de amar!”

Um fim de semana ansiosamente desejado, não propriamente pela expectativa do descanso, mas mais pela mudança de ambiente, já que tenho que o aproveitar para complementar as tarefas inacabadas e arrancar para outras.
A televisão apresenta uma pequena reportagem em que uma mulher, magra, de pele castanha, cabelos descuidados e esbranquiçados, chorava com lágrimas de sangue a tragédia que se tinha abatido sobre a sua comunidade naquela zona do Sri Lanka sujeito a guerra desde há muitos anos. Clamava alto por ajuda para as crianças que sofriam naquele contexto desgarrado, típico de luta armada. Passado algum tempo caí num outro canal onde uma mulher, indiferente a tudo o que se passava no seu horizonte, empunhava a carcaça de uma criança resumida naqueles enormes órgãos que teimam em resistir a qualquer fome, procurando algum alimento nas mamas desleitadas. Melhor sorte tinham as moscas que o beijavam asquerosamente. Segundo incómodo da noite e eis que tropeço com uma senhora bonita, de muita idade, falando uma língua áspera que não lhe retirava a alegria do olhar e o encanto do sorriso. Era uma poetisa judia que proclamava o seu amor e adoração pelos bosques, por todos os bosques do mundo. Sempre que entrava num apetecia-lhe beijar a terra. Mas porquê tanto amor? Eis que a explicação surge com a imagem de um bosque polaco que tinha servido em tempos de vala comum a muitos judeus, entre os quais se encontravam os seus familiares. Ao beijar a terra do bosque homenageava os seus, os homens, as mulheres e as crianças. Ao beijar a terra de outros bosques beijava a vida de todos os seres humanos. A sua bela explicação foi apenas a introdução para aquele episódio horrível em que centenas ou milhares de corpos foram lançados numa vala. Um estranho fenómeno ocorreu então. Durante uma semana a terra parecia que se mexia. Eram os corpos de muitos moribundos a nadarem naquela extensa massa gelatinosa em decomposição misturada com terra e lama, como se fossem vermes presos da morte que obscenamente lhes recusava abrir a porta, prolongando o sofrimento. A reportagem, rica de iconografia e de opiniões, descreve um momento em que as crianças perguntavam onde estava Deus, porque é que não vinha ajudá-los. Deviam ser os únicos que O invocavam perante o silêncio dos mais velhos.
Dormi mal. Sonhei com os gritos desesperados da mulher do Ceilão, com as moscas a alimentarem-se do pobre corpo da criança africana, com soldados a esmagarem a cabeça de bebés contra as árvores e pedras, vi o campo de corpos gelatinosos a movimentar-se silenciosamente, entrecortado com as perguntas secas, frias e inaudíveis das crianças. Na encosta sobranceira à vala um sacerdote de longas barbas e vestes ricas olhava para a sepultura coletiva e fazia proclamações de braços abertos. Aproximei-me e perguntei-lhe onde estava Deus, que O fosse chamar rapidamente para salvar as pessoas, sobretudo as crianças que tinham perguntado por Ele. Olhou-me e soberanamente afirmou: - “Deus ama infinitamente os seres humanos”. Disse-lhe que sim. - Está bem, está bem, mas vá chamá-Lo depressa! E repetia sempre a mesma frase. Entretanto, as crianças iam desaparecendo uma a uma como se tivessem sido tragadas por um poço esfomeado, enquanto o sacerdote continuava na sua lengalenga, que só acabou quando a última criança desapareceu e a terra deixou de se movimentar. Antes que virasse as costas, agarrei-lhe nas vestes, obriguei-o a olhar para mim e disse-lhe: - Que estranha forma de amar! Com desprezo, virou-me as costas e desapareceu, não sei se ia para outra vala comum ou se ia falar com Deus.

Papamyzena

Como apoio à candidatura do PSD às Europeias e ao seu cabeça de lista, Paulo Rangel, aí está um novo blog, o papaMyzena.
Convidado a participar no banquete, fiquei honrado e não neguei umas colheradas.
Porque a Myzena dá um excelente leite creme. Também porque o objectivo é honesto e os candidatos são credíveis. E o PSD, apesar de muitas insuficiências e até de alguns vícios, ainda congrega o que há de melhor, em termos de ideias e de políticas para este país. E porque é um Blog circunstancial.
A Quarta República é o meu blog de estimação. E um desígnio de muitos, face a esta terceira tão decadente.

A blogotúlia teve a concorrência do Prof. Adriano Moreira...

... mas a preocupação foi a mesma, pensar Portugal pensando a Europa.
Os valores são o eixo da roda, diz o Prof. Adriano Moreira hoje, no Prós e Contras. A roda vai andando mas o eixo, que a sustenta, não muda de posição. Falou também na gravidade de se ter quebrado a confiança no sistema de justiça, a confiança nos políticos, a confiança nas instituições. E que o sistema democrático é criado precisamente para garantir que a confiança existe, baseada na separação de poderes, no limite dos mandatos, no sufrágio eleitoral como forma de confirmação, ou não, da confiança em quem governa. Logo, a quebra generalizada da confiança leva a desconfiar da eficácia da organização democrática que a tal conduziu.
Já ouvimos isto tudo? É verdade, mas dito e explicado por ele, recusando entrar em tricas e episódios, insistindo em pensar sobre as coisas, apercebemo-nos da dimensão dos males de que nos queixamos. Nós, mas também a Europa...

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Pinho Cardão. “The myzeneiro”

Esta coisa do Twitter é mesmo interessante. Meti-me nesta onda há pouco mais de uma semana e não estou arrependido. Antes pelo contrário. Sabe-se tanta coisa em tempo real. Vejam lá que eu fiquei a saber que o Pinho Cardão estava a intervir na “Blogtulia”. A sua intervenção foi alvo de um comentário no Twitter. O autor, "vascocampilho", informou o mundo: #blogtulia cheguei! atrasado mas ainda deu para ouvir o final da intervenção do maizeneiro pinho cardão...
Nem mais! Depois do Paulo Rangel temos mais um “maizeneiro”. Desta feita o meu amigo Pinho Cardão. Como nunca vi o Pinho Cardão a comer papa Maisena, respondi ao autor de tamanha prosa o seguinte: “O Pinho Cardão é maizeneiro? Hum! Não me parece. Pelo menos nunca vi a comer papa maizena. Outras coisas sim! Maizena, não!”
Afinal “vascocampilho” tinha-se enganado. Pinho Cardão não é maizeneiro mas sim “myzeneiro”! Quem diria!

Aprendermos com os nossos próprios "study cases"...


Para ler o artigo de opinião de Mário Crespo no Jornal de Notícias que começa assim: “Um líder europeu disse-me que no passado a justiça em Portugal tinha a fama de ser lenta mas séria e que agora continua lenta, mas perdeu a imagem de seriedade. (…)
E eu diria mais. Se juntarmos à injustiça da nossa justiça as manifestações de falta de honorabilidade e Ética do Estado, não custa a perceber que esteja ferida de morte a confiança dos cidadãos nos poderes democráticos e que a recuperação do País se afigure uma obra cada vez mais difícil, mas também cada vez mais necessária e com sentido de urgência.

Blogotúlia

Paulo Rangel junta hoje à noite, no Café Nicola, animadores de blogues para a discussão sobre a Europa e o interesse nacional. O 4R vai lá estar, pronto para participar.
Depois contamos como foi.

domingo, 17 de maio de 2009

Grávida de 66 anos diz que "idade não é problema"!

Elizabeth Adeney, do condado de Suffolk, está grávida de oito meses depois de ter passado por tratamento de fertilização in vitro na Ucrânia, segundo informações do jornal Sunday Mirror”. A senhora diz que “a idade não é problema”. Pois não! O problema é de quem lhe “fez” o filho. Devia ter mais juízo e não aplicar as técnicas de fertilização in vitro a avozinhas. Podia ter-lhe oferecido em alternativa um Kamasutra. Sempre era mais inofensivo...

"Kama sutra católico"

“Padres de São Paulo aprovam kama sutra católico para fiéis”!
Originalidade eclesiástica.
Só gostava de saber onde o padre Ksawery Knotz se baseou para tão esclarecidas práticas!