segunda-feira, 31 de maio de 2010
Sardinhadas e piqueniques...
PSD muito preocupado com a notícia
domingo, 30 de maio de 2010
Afinal não é só em Portugal...
Portugal não é a Grécia e o politicamente correcto
2.O discurso “politicamente correcto “ é, na sua essência, o mesmo que no longínquo ano de 2000 insistia que era disparate falar do endividamento externo…essa preocupação não fazia sentido numa zona monetária como a do Euro, era a mesma coisa que falar da dívida externa do Mississipi, lembram-se?
3.Esse discurso foi depois evoluindo, enriquecido com novos temas, por exemplo minimizando a importância dos défices orçamentais ou insistindo no alto virtuosismo do investimento público – para dinamizar a economia, insistiam até à saciedade, lembram-se?
4.No momento actual, o “politicamente correcto” está bastante “encostado às cordas”, acossado por uma horda de adversários implacáveis – para além do Dr. Medina Carreira, os especuladores do mercado, as agências de rating, os americanos apostados em destruir o Euro, etc.
5.Por outro lado, o “politicamente correcto” foi obrigado a deixar cair algumas das suas mais queridas bandeiras:
- O endividamento externo, ao contrário do que diziam, tem afinal enorme importância, mesmo numa zona monetária – e até se dá ao luxo de estrangular financeiramente a economia portuguesa;
- Para além do défice orçamental já não há agora qq vida…é um deserto medonho, ao contrário do que proclamavam alto e bom som, por exemplo em Abril de 2003;
- Até os grandes investimentos públicos têm vindo a cair uns atrás dos outros, os últimos resistentes estão agora concentrados no "Alcazar" da linha TGV Poceirão-Caia-rumo a Madrid.
6.Mas o “politicamente correcto” tinha de sobreviver, a sua missão deletéria sobre
a pobre e indefesa economia não podia acabar assim, sem glória. Era preciso encontrar rapidamente um novo “paradigma” para fazer valer os seus enfraquecidos argumentos…
7.Ora aí está pois o “Portugal não é a Grécia”, sem necessidade de qualquer justificação, para ganharem mais algum tempo e prosseguirem a sua patriótica missão de não deixar nada de pé…
8.Que Portugal não é a Grécia pode também concluir-se de um interessante texto publicado na edição do F. Times de 26 do corrente, sob título “World dangerously exposed to default”, no qual é feita referência a uma recente e magnífica,segundo o jornal, nota de “research” assinada pelo economista-chefe do Royal Bank of Scotland.
9.Nessa nota é apresentado o valor das dívidas, públicas e privadas, de Espanha, Grécia e de Portugal, detidas por instituições financeiras externas – são € 2 mil biliões, o equivalente a 22% do PIB da zona Euro e a mais de 12 vezes o PIB português…
11.A mesma nota também compara as dívidas externas de cada um desses países com as respectivas economias:
- dívida de Espanha = 142% do PIB
- dívida da Grécia = 142% do PIB
- dívida de Portugal= 200% do PIB
12. À atenção pois dos "politicamente correctos", para que não deixem de proclamar
que Portugal não é a Grécia”…pode ser que, de tanto ouvir o refrão, a dívida
comece a emagrecer…
Alegre fuga para a frente
Acontece que a probabilidade está na ordem do infinitamente pequeno, pelo que o PS está nas vésperas de perder as presidenciais e sair do governo.
Castigo mais que merecido pelas políticas erradas que levaram a um definhamento da economia, a um agravamento das finanças públicas, a um desemprego sem exemplo. E os portugueses já por demais viram que não foram a crise, nem os especuladores, nem o euro, nem os gregos os culpados da situação. Os responsáveis moram aqui mais perto. Fazem parte do Governo. Nenhuma fuga para a frente pode iludir essa certeza.
sábado, 29 de maio de 2010
Um predador nato!
No que respeita às aves, desapareceram 132 espécies desde 1600 e 1240 estão em perigo de extinção.
As espécies que vão desaparecendo não são substituídas. De facto, não tenho conhecimento de ter aparecido uma nova espécie, exceto a descoberta de algumas até ao momento desconhecidas.
Um predador nato! Sem emenda? É o mais certo. Se ele é capaz, e tem fome, em inúmeras situações, de “extinguir” o seu semelhante, justificando os seus atos no racismo e na religião, então é de esperar o quê?
Bella Itália III
Despeçam-se os suicidas!
Quanto à extrema pressão psicológica para aumentar o ritmo de produção e ao estilo de gestão e métodos de trabalho, o responsável garantiu que paga as horas extraordinárias e que a empresa pagou indemnização às famílias dos suicidas. Quanto ao mais, é só assinarem a declaração e tudo fica garantido.
Compreende-se a dificuldade de competir com os produtos chineses, como se vê. O que já não se compreende é que produtos da moda, símbolos do ocidente moderno e tecnológico, ícones de uma empresa como a Apple que é idolatrada por sucessivas gerações de jovens, de artistas e de intelectuais, tenham a sua origem no trabalho pouco menos que escravo, pior que escravo porque disfarçado de produção moderna e só aparece nos jornais quando os suicídios passam das marcas. E, provavelmente, deixarão de preocupar a civilização quando a robustez psicológica for compromisso assinado pelo contratado e os suicidas passem a ter medo de ser despedidos.
A modernidade devia ser mais exigente para com os seus ídolos.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
“Afinal, o que fez Craig Venter?”.
Pudor religioso
As contas de Rosa
Estranha história, a deste sacrifício voluntário. Na verdade, esta mulher não se revoltou contra o destino, ela simplesmente propôs uma troca, dou a minha liberdade em troca da liberdade dele, ele que ande e que fique eu limitada nos meus gestos, ele que saia que serei eu a ficar aqui presa. Lá na sua contabilidade com o Divino, Rosa mediu o tamanho da pena do filho, mediu também o inferno que seria a sua vida de todos os dias, de uma vida inteira, a vê-lo ali, ao seu menino, a definhar na paralisia a que estava condenado. Mediu o seu amor e o tormento da criança e achou a troca justa, acreditou que o seu preço seria aceite e dispôs-se a pagá-lo com a determinação de quem paga uma dívida de honra. E cumpriu, limitando daí em diante os seus passos à pequena área da sua casa, um quarto, uma sala, uma cozinha, evitando até aproximar-se da janela não fosse a sua vontade fraquejar e abalar porta fora para encontrar os vizinhos, ir às compras ou simplesmente sentir na pele o calor do sol.
Não sabemos quantas vezes a terão tentado dissuadir mas o que sabemos, pelas notícias, é que os vizinhos partilharam, com respeito ou com temor, a sua decisão, e passaram a ajudá-la, fazendo as compras, levando-lhe o necessário, enfim, tratando-a com a solidária dedicação que às vezes existe para com os desvalidos, ou para com os santos que a tudo renunciaram.
Na aldeia montanhosa da Colômbia deve ter sido espantoso que aquela mulher ousasse baralhar a risca do que estava escrito, não aceitasse o que lhe calhara e tivesse gritado até ao infinito a dimensão do seu amor pelo filho, no desespero de ser ouvida. Aqui estou, terá dito com todas as forças da sua alma, faça-se em mim a Tua vontade, mas não nele, deixa-o a ele correr em liberdade. Não foi revolta, foi submissão com condições, foi um ajustamento ao qual fixou o preço de vinte anos de solidão. Pagou a sua dívida, num acto de amor e de orgulho para o qual a razão não encontra medida.
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Bella Itália II
O caminho mais fácil...
O que mudou de lá para cá que justifique afinal retirar as medidas de reforço da protecção social e de apoio ao emprego? De lá para cá se alguma coisa não mudou foram as razões que levaram o Governo e a Assembleia da República a decidirem pela necessidade de suavizar os efeitos da crise protegendo as pessoas mais vulneráveis.
Basta pensar, por exemplo, que tem crescido o desemprego de longa duração, aquele que à medida que a situação se mantém pelo decorrer do tempo acabará por deixar de ter acesso a qualquer prestação social de desemprego.
O Governo anunciou que vai poupar 151 milhões de euros com a revogação destas medidas. Não discuto a necessidade de fazer poupanças onde há desperdícios, mas discuto que o corte recaia sobre os portugueses que se defrontam com enormes dificuldades para assegurarem a sua sobrevivência e a dos seus filhos, que a crise, aliás, antecipa venham a aumentar.
Não haveria outras zonas da despesa pública por onde cortar? Haveria com certeza, mas sem o efeito de tesouraria tão imediato quanto a urgência da redução do défice. Estou-me a lembrar de várias medidas. Porque não acabar, por exemplo, com os Governos Civis?
“Povo suicida”...
Foi há muitos anos, numa altura em que viajar não era fácil, e mesmo que Salamanca fosse a máxima aspiração turística do banal português de então, que não conseguia ir mais longe, como motejava, soberba mas não soberanamente, Sttau Monteiro, por mim, ficaria satisfeito se não tivesse conseguido ido mais longe.
Caracterizar um português tem sido uma atividade que atraiu e continua a atrair autores nacionais e estrangeiros, como se houvesse algo de enigmático e de transcendente nos paridos neste pequeno recanto. Mas serão mesmo especiais ou não passam de uns pobres e tristes seres? Não serão eles amigos de António Nobre? Ao selar um soneto, o poeta lembrou-se deles e ofereceu-nos uma estranha e fria chave de ouro: ...Amigos, Que desgraça nascer em Portugal!
Será que somos capazes de nos caracterizar e criar a tal identidade? Não sei. O melhor é ler e ouvir os outros, sempre ouvi dizer que quem vê melhor é quem está por fora. Unamuno viu-nos de uma maneira ao mesmo tempo assustadora e com ternura. Classificou-nos como um povo suicida. “Portugal é um povo triste, e é-o até quando sorri. A sua literatura, incluindo a sua literatura cómica e jocosa, é uma literatura triste. Portugal é um povo de suicidas, talvez um povo suicida. A vida não tem para ele sentido transcendente. Desejam talvez viver, sim, mas para quê? Mais vale não viver.” Arrepiante a sua análise a quem associo a troca de correspondência com o médico e escritor Manuel Laranjeira, um entre muitos outros suicidas, que, ao antever o seu destino, desabafou um dia: “suicídio é um recurso nobre, é uma espécie de redenção moral. Neste malfadado pais, tudo o que é nobre suicida-se; tudo o que é canalha triunfa.”
Crises sociais, bancarrotas ou ameaças, foram e são uma constante neste Portugal. Ciclicamente emergimos durante algum tempo, o que nos permite respirar, mas logo de seguida mergulhamos nas frias sombras. Triste país que continua a perpetuar tragédias atrás de tragédias.
Uma forma de esquecer as misérias.
Endividamento pode valer a pena, afinal!
2. Analisando um pouco melhor, verifica-se que isto se deve ao facto de os juros e outros encargos da dívida neste mesmo período apresentarem uma redução de € 168 milhões em relação ao mesmo período de 2009, uma quebra significativa de -15,2%...sem isso, a despesa teria sido igual à do ano anterior...
3. Este montante representa mais de metade dos € 300 milhões de melhoria do saldo orçamental em relação a 2009, há poucos dias anunciado com grande alacridade...
4 Mas aprofundando um pouco mais esta análise conclui-se que o stock médio de dívida pública directa nos primeiros 4 meses de 2010 foi de € 136,2 mil milhões enquanto que no ano anterior tinha sido de € 120,9 mil milhões, ou seja em 2010 o stock da dívida é superior em 12,58%.
5. Ao mesmo tempo, se bem estamos recordados, as taxas de juro da dívida pública conheceram um sensível agravamento nos últimos meses pelas razões que todos conhecemos...
6. Assim sendo, cabe perguntar: como é que uma dívida 12,5% mais elevada que a do mesmo período do ano anterior, vencendo (pelo menos em parte) taxas de juro mais altas, pode produzir um montante de juros e encargos inferior, e logo em 15,2 %?
7. Haverá aqui algum mistério? Serão os insondáveis segredos da contabilidade pública? Será a aplicação de técnicas muito sofisticadas de contabilização intra-anual de encargos?
8. Qualquer que seja a resposta, uma conclusão parece desde já impor-se: o endividamento pode valer a pena, afinal...se com dívida mais elevada, vencendo taxas de juro mais elevadas, conseguimos o “milagre” de ter encargos menores, por que não aumentar ainda mais o endividamento?
9. Esperemos os próximos meses para ver se este “milagre” se confirma...
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Bella Italia I
É certo que por lá o país político não difere muito do nosso; lá, como cá, discutem-se as medidas contra a crise, e alimenta-se a controvérsia sobre escutas telefónicas. Lá, como cá, as Oposições e os media vêem nas escutas virtudes inestimáveis, enquanto os partidos do governo, a que não é alheia a conveniência, procuram salvaguardar os direitos fundamentais dos cidadãos. Por sinal, governo socialista em Portugal e governo de direita na Itália. Lamentavelmente, na luta política tudo parece servir e aí não há muita diferença entre direita e esquerda.
Mas, na festa, o país real é muito diferente do nosso Portugal. Os italianos parecem mais alegres do que nunca. As praças enchem-se de gente nas esplanadas; música, magia, comedores de lume, surgem do nada, provocando ajuntamentos e palmas. Há teatro de rua, feito por actores de fim-de-semana, longe das manifestações subsidiadas.
De repente, surgem pavilhões e aí está uma feira, daquelas que faria as delícias da nossa ASAE. Mas pitorescas e cheias de movimento.
As manifestações variam de cidade para cidade. Numa, como em Mântua, grupos musicais animam as ruas; noutras, como em Modena, exposições de Ferraris e de FIATs desportivos enchem as praças de bulício; e em Pádua pavilhões festivos enchem o maior largo da cidade.
Roma, Siena, Pisa, Firenze, Veneza estão, como sempre, cheias cheias de turistas. Mas, como nunca, era preciso esperar tanto tempo, mais de duas horas na bicha, para entrar na Basílica de S. Pedro. E esgotavam-se os bilhetes para subir à Torre de Pisa.
O espírito italiano via-se ainda nos restaurantes, com as jovens turistas alvo de uma atenção especialíssima e merecida por parte dos empregados mais marialvas, cujos sedutores trejeitos, só por si, eram mais um espectáculo.
Além do mais, o Inter ganhou a Liga dos Campeões. Mourinho foi a figura da semana. A forma de ouvir falar de Portugal.
E se pedirmos muito?
Brincadeiras sérias...
Estas "brincadeiras", que têm o seu quê de sério, sempre dão para desanuviar um bocadinho...
Por qué no te callas?
Efeitos da crise
terça-feira, 25 de maio de 2010
É só mais uma brincadeira VII
O "PEC" da saúde...
A pressão para a redução de custos desnecessários e para o combate ao desperdício pode constituir uma oportunidade de mudança que em situações normais parece ser mais difícil de conseguir.
Vem isto a propósito do “PEC” do ministério da saúde, com a ministra da saúde a determinar aos hospitais que apresentem planos de redução das despesas. Segundo a governante "Pretendemos baixar cinco por cento a despesa com horas extraordinárias, dois por cento a despesa com fornecimentos e serviços externos e assegurar o cumprimento da meta orçamental de crescimento de apenas até 2,8 por cento da despesa em farmácia hospitalar".
Este tipo de medidas levanta, no entanto, algumas dúvidas. Vejamos o caso das horas extraordinárias:
1ª Havendo falta de médicos, situação que tende a agravar-se com a oferta do sector privado e com o fluxo significativo de pedidos de aposentação antecipada, e havendo a necessidade de melhorar a acessibilidade e a qualidade dos serviços, não se entende como pode ser estabelecido um corte desta forma. Porquê 5% e porque não 10%?
2ª Se há desperdício no custo com o recurso a horas extraordinárias, então manda a boa gestão que, com ou sem crise, seja reavaliada e corrigida a situação.
Se há desperdícios – as “estatísticas dizem que os hospitais têm um desperdício na ordem dos 20 a 30 por cento” - é porque há problemas de gestão. É necessária uma crise para impor medidas para os combater?
Não estando em causa que o ministério da saúde contribua com um “PEC” próprio para o plano de austeridade, devemo-nos questionar porque é que as medidas agora anunciadas não fazem parte das preocupações de gestão corrente do Serviço Nacional de Saúde e, em particular, dos estabelecimentos de saúde.
Enfim, problemas que não são de agora e relativamente aos quais é fundamental encontrar boas respostas a bem da sustentabilidade do SNS.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Portugal ou exporta mais ou afunda-se na crise...
2.Este título é todavia bastante enganador, uma vez que só tem em conta um dos pratos da balança do nosso desequilíbrio externo. Falta o outro, bem mais importante – o excesso de despesa.
3.Com efeito, quando se faz a história dos desequilíbrios da economia portuguesa, uma história com cerca de 15 anos como Medina Carreira, por exemplo, tem assinalado, facilmente se conclui que a actual situação se ficou a dever a uma explosão da despesa, tanto privada como pública, que se arrastou ao longo de vários anos e que prosseguiu até aos nossos dias.
4.E que prossegue…
5.O desequilíbrio económico crónico que agora nos está a estrangular financeiramente, tem pois como causa fundamental o excesso de despesa.
6.A despesa de correcção mais difícil é a despesa pública: os particulares começaram a “apertar o cinto” há algum tempo e vão continuar a fazê-lo nos próximos anos já se percebeu.
7.É pura ilusão pensar que o desequilíbrio das contas com o exterior se pode resolver simplesmente exportando mais – com um “clique” os exportadores desatam a vender e “safamo-nos” desta aflição.
8.Não é assim, não pode ser assim.
9.Para exportar mais, são precisas pelo menos de duas coisas (i) produzir mais bens e serviços transaccionáveis; (ii) conquistar novos mercados ou ganhar quota nos mercados tradicionais.
10.A satisfação de qualquer destas condições é muito árdua, REQUER muito trabalho, investimento, confiança no futuro - e SUPÕE uma política económica que estimule o investimento e a produção.
11.Face a este enunciado, basta olhar à nossa volta para perceber que nos próximos anos não é por aqui que o problema se vai resolver.
12.A simples análise da balança de pagamentos com o exterior (por exemplo no 1º trimestre do corrente ano, recentemente divulgado) mostra que a correcção do desequilíbrio externo é um quebra-cabeças: o défice dos rendimentos absorve na totalidade os superavits dos serviços (turismo essencialmente) e das transferências unilaterais (remessas de emigrantes).
13.Assim, o défice comercial já não tem qq compensação nestas rubricas , está completamente NU, ao contrário do que sucedia no passado.
14.É bom termos presente que enquanto não houver uma redução “a sério” e não meramente cosmética na "monstruosa" absorção de recursos dos diferentes sectores públicos – Central, Regional, Local, mais o imenso cortejo de empresas adjacentes, tudo a devorar recursos e a produzir muito pouco – o défice externo não tem solução.
15.Assim, se o País se afundar, como sugere o Público, por favor não culpem os exportadores!
Para português ver...
Decidi dar um passeio pela comunicação social espanhola da última semana.
O motivo era o TGV, já que Espanha tem um plano muito ambicioso para a alta velocidade: criar uma rede com 10.000 Km até 2020 (em Espanha o TGV designa-se por AVE que quer dizer Alta Velocidade Espanhola).
Sucede que por lá a crise também obrigou a muitos cortes e vários adiamentos.
À medida que fui avançando nas pesquisas e nas leituras, encontrei algumas notícias que muito nos podem interessar.
A norte, no País Basco, as notícias da crise provocaram a reacção do Parlamento Basco já que estarão em causa as ligações de alta velocidade a Bilbao e Santander.
Um pouco a sul, na Cantábria, a bronca estalou devido a já anunciada paralização das obras em Palência.
As ligações da alta velocidade à Galiza previstas para 2015 não podem continuar a ser garantidas segundo fontes do próprio Ministério do Fomento.
Pelas bandas de Castilla Y Léon, Burgos vai ser afectada com a atraso na construção da alta velocidade.
No extremo oposto da Península o sonho da província de Almeria em ter alta velocidade também vai ter que esperar.
Ali ao lado, pelas bandas de Valência os protestos já se fazem ouvir.
E para os que queriam a alta velocidade em Múrcia a data de 2012 já se tornou uma miragem.
E em plena Andaluzia, Granada vai ficar à espera do comboio.
A ligação de Sevilha a Cadiz deixou de ser uma certeza imediata.
Nem a Catalunha escapa com o adiamento da ligação a Tarragona.
E em Badajoz, o Presidente da Câmara já fala num atraso de pelo menos três anos.
Por toda a Espanha sucedem-se os adiamentos dos projectos de alta velocidade, na maior parte dos casos sem nova data marcada.
Mas em Portugal não há dúvidas sobre as prioridades de Espanha!
Cabe então perguntar, porque é que teve que ser o governo português a garantir que, do lado espanhol, se mantêm os prazos de construção do TGV Madrid-Lisboa ?
Velhos são os trapos
Um dos meus tios, que tem agora 91 anos, foi médico cirurgião e viveu sempre com um entusiasmo extraordinário a sua profissão. Sempre me lembro de como ele falava das novas descobertas, da sua sofreguidão de saber, da quantidade de revistas que lia e das viagens que fazia para aprender com outros médicos e noutros hospitais o que por lá se passava. Foi sempre o médico da família toda e muitos lhe deveram mais anos de vida ou o atenuar de muitos sofrimentos. Deixou de operar muito antes de deixar a clínica, não fosse falhar a absoluta firmeza de mãos, mas manteve-se a dar consultas até aos 80 anos.
Hoje, no passeio que demos todo o dia, não se cansava de falar na descoberta que o pasmou, a criação artificial do genoma humano, uma descoberta impossível, uma coisa inimaginável, dizia ele, já viste as possibilidades que isto abre, é claro que vai trazer outros problemas, a ética tem que ser uma constante, não pode haver medicina sem ética, como é que o mundo vai saber lidar com isto? Mas é fantástico, fantástico, dizia ele, maravilhado como um jovem, grato por ainda poder assistir a tais prodígios.
- “ Gastrentrujice, é o que isso tudo é, grastrentrujices é o que o senhor andou a aprender, para que é preciso essa especialidade, há muito mais a fazer!
É claro que mais tarde a especialidade foi criada e ele foi dos primeiros cirurgiões a inscrever-se, e dentro dessa outras especializações foram chegando, numa evolução científica muito rápida, um médico que pare de estudar em poucos tempo fica na pré história, insistia ele. Depois parou um pouco e, como se falasse para si próprio, acrescentou: -“Eu só podia ter sido médico, não tinha valido a pena a vida se tivesse sido outra coisa qualquer. Fui sempre um apaixonado da medicina, e ainda sou, vê lá tu agora esta descoberta de um tal Venter, um americano, criar vida artificial, inimaginável, e eu a ver isto tudo…”
Velho, o meu tio, com 91 anos? Velhos são os trapos.
domingo, 23 de maio de 2010
Marcelo Rebelo de Sousa sempre em forma...
Já faziam falta os seus comentários, os seus pontos de situação semanais sobre o que de mais relevante, do seu ponto de vista, nos aconteceu, para concordar ou discordar.
Juízo e esperança
Um dia, ao acordarem, o casal, talvez depois de uma noite bem passada, sentiram uma sensação estranha: existiam. Deve ter sido um choque dos diabos, ou, então, foi mesmo uma malandrice do próprio diabo. Deus não gostou e não esteve com meias medidas: rua! Despejados do paraíso, sem direito a recurso, nem a indemnizações, nada. A força divina não teve mercê. E lá foram os dois pataratas, meio atordoados, a trabalhar e a ganhar a vida com o suor do rosto. Foram levados a comer o fruto da árvore do conhecimento. Mas devem ter comido muito pouco, porque foram precisam muitos comprimentos de um tempo que não sabiam que existia para adquirir o restante conhecimento que hoje demonstram de uma forma inequívoca. Mas também não deixam de ser ambos peritos em asneiras e em violências. Já se aperceberam que a sua criação não foi perfeita. Paciência! Agora não podem voltar atrás e se pudessem, às tantas, ainda poderia ser pior.
A sua sede do conhecimento é pior do que um diabético em pré-coma. Bebem muito, sem dúvida, mas precisam de domesticar as suas descobertas, caso contrário, ainda podem ficar sem a tal consciência, ao entrarem em estado de coma, quem sabe se irreversível. Muitas têm sido as situações de risco, mas, felizmente, têm conseguido ultrapassá-las.
Quando foram expulsos do Paraíso, estou convencido de que, ao passarem pela árvore da vida, chateados com o “patrão”, pifaram algum "fruto" e, bem escondido, andam agora a lambê-lo com uma satisfação dos diabos. Raio de palavra que está sempre associada às coisas que “não deve” fazer mas que lhe dão prazer!
Sabem onde está a vida, como nasceu, quais são os tijolos da mesma, como se transmite, sabem qual é a sua linguagem, sabem interferir nas suas falas e, agora, até já sabem como imitá-la, sintetizando cromossomas sintéticos e originar espécies inexistentes.
O cientista Craig Venter não criou vida desde o nada, limitou-se a sintetizar algo que depois passou a comportar-se como um ser natural.
As perspetivas que se abrem nestas técnicas para melhorar a vida dos homens e da mulheres são imensas, assim como os riscos de um mau uso. Mas nem tudo o que nasce das nossas mãos é intrinsecamente bom ou mau. O problema está na sua utilização, reflexo de uma natureza imperfeita, em que somos capazes do melhor e do pior.
Vamos entrar numa nova era em que irão surgir lutas “encarniçadas” entre os que defendem a nova descoberta e os que veem a mão do demónio.
Mas não há nada a fazer. Podem criar legislação, emitir pareceres éticos e outras coisas que tenham como objetivo travar a progressão de certas conquistas “perigosas” mas nunca irão impedir o seu percurso. Há muito que passámos o ponto de não retorno. Há muito, mesmo. Não sei onde precisar esse momento, mas não me incomodaria muito se o colocasse naquele bíblico momento da expulsão do Paraíso, em que Adão e Eva tiveram que ir à vida, e um deles, qual?, às tantas deve ter sido a Eva, porque já tinha alguma experiência, furtou o fruto da árvore da vida. Mas também pode ter sido o Adão, não digo que não. E agora? Agora? Juízo e esperança, coisas que, como muitos sabem, andam muito arredias nos tempos que correm...
sábado, 22 de maio de 2010
Vida sintética
Para já o incómodo começa a surgir. Domenico Mogavero, jurista da Conferência Episcopal Italiana, afirmou a este propósito: “O homem procede de Deus, mas não é Deus”. Pois, pode ser que não seja, mas não sei se não quererá ser! E depois? Se Deus, segundo alguns, “criou” o homem, então por que é que não vetou esta “ousadia”?
sexta-feira, 21 de maio de 2010
Dá pelo nome de "trapalhada"...
Que taxas vão ser aplicadas?
A que rendimentos se aplicam? A todos os rendimentos de 2010?
Mas vai haver retroactividade? Mas não é uma prática inconstitucional?
A partir de que mês são aplicadas? A partir de Maio, Junho ou Julho?
E como é que vão ser consideradas as taxas para efeitos do imposto a pagar no âmbito da declaração anual de IRS? Vai haver taxas diferentes para dois períodos distintos do ano, um antes e outro depois da sua entrada em vigor? Ou não?
Como é que é possível que numa matéria tão grave e sensível, que mexe com o rendimento disponível das famílias, não haja uma resposta inequívoca por parte do governo sobre o que se vai passar!
Sendo a receita adicional da aplicação das taxas adicionais do IRS uma parcela importante da redução do défice, tinha pensado que as regras de aplicação estariam bem estabelecidas. Como é óbvio as regras não são indiferentes no cálculo do nível da receita prevista, assim como são determinantes no nível da carga fiscal.
“A Morte de Portugal”
Já comecei a ler. Vale a pena. Para já fiquei a saber que existem quatro complexos que atingem os portugueses!
Por uma questão de comodidade, e com base numa transcrição de uma recensão (sempre evito ter que repetir o que já foi feito), cito uma passagem.
“OS QUATRO COMPLEXOS DE PORTUGAL
Desenhando os quatros pontos cardiais por que Portugal se tem movimentado na sua História, Miguel Real apresenta quatro complexos culturais. O primeiro, da ORIGEM EXEMPLAR, é o complexo viriatino, que «emerge na segunda metade do século XVI», radicado na imagem de Viriato, «herói impoluto, puro, virtuoso, soldado modelo, chefe guerreiro íntegro, homem simples, pastor humilde que se revolta contra a prepotência do ocupante estrangeiro» que só pela traição é derrotado.
O segundo, o da NAÇÃO SUPERIOR, o complexo vieirinho, que irrompe depois de D. João III, Alcácer Quibir e a decadência do Império, com o Padre António Vieira a semear a esperança, anunciando-nos o Quinto Império «dourando-nos o futuro com o regresso anunciado às glórias do passado», e que «nos determina a desejarmos mais do que nos pedem as forças e nos exigem as circunstâncias, pulsão social que orientou as caravelas portuguesas;»
O terceiro, da NAÇÃO INFERIOR, o complexo pombalino, radicado no ímpeto de Pombal, o da nação humilhada pelo seu atraso e sequiosa das luzes europeias, «hoje acefalamente política dominante do Estado português, que a segue como “bom aluno”.
Por fim, o do CANIBALISMO CULTURAL, o complexo canibalista, «que alimenta o desejo de cada pai de família portuguesa de se tornar súbdito do chefe ou do patrão, “familiar” do Tribunal da Inquisição, sicofanta da Intendência-Geral de Pina Manique, “informador” de qualquer uma das várias polícias políticas, carreirista do Estado, devoto acrítico da Igreja, histrião da claque de um clube de futebol, bisbilhoteiro do interior da casa dos vizinhos, denunciador ao supremo hierárquico», aludindo-se, na actualidade, à «perseguição a funcionários públicos rebeldes pelos poderes partidários instituídos pelo governo de José Sócrates/Cavaco Silva.».
«Se a vitória europeia de Portugal se consumar, terá sido a geração nascida entre 1940 e 1960 a matar D. Sebastião pela segunda vez», diz, sem que, no entanto, antes desafie:
«Resta aos homens de bem virarem as costas a esta nova elite tecnocrática que assaltou e se apoderou do Estado português (..) e, se puderem, emigrarem, clamando que aos homens-técnicos leva-os o Tejo e o Douro nas enxurradas de Inverno, os homens-cultos, esses, permanecem, recriando a nova imagem literária, estética e cultural por que Portugal posteriormente se reverá no espelho da História.».
Já não há pachorra!
O Euro precisa ou não de ajuda? Quid juris?
2. Ontem o Comissário Europeu das Finanças Almunia declarou que o Euro não precisa de ser ajudado...
3. Estamos pois perante posições antagónicas, duas visões distintas sobre a necessidade de ajuda ao Euro, que justificam breve reflexão.
4. De um lado o PM de um País generoso e confiante no futuro – levando a sua generosidade ao ponto de estar disponível para suportar sacrifícios para ajudar o Euro – do outro lado um Comissário Europeu convencido da auto-suficiência do Euro que, segundo ele, viverá bem sem essa e porventura outras ajudas.
5. Não sei o que deve merecer mais o nosso encómio: se a visão internacionalista e solidária do PM luso, se a exibição de confiança do Comissário Almunia.
6. No meio dessas duas posições temos um Euro cujo estatuto de moeda forte, ao que parece, muito fica a dever à ajuda das políticas de restrição financeira de Portugal, da Grécia e da Espanha, sobretudo.
7. Julgo que Almunia não tem razão: não fora o contributo da Grécia, de Portugal e também da Espanha, o Euro não seria o que é hoje.
8. E também custa ver que muitos comentadores domésticos (para não falar de Roubini, Rogoff, Krugman e outros) - já esquecidos de que tem sido exactamente a preocupação de defender o Euro que tem comandado a nossa política económica e se não fosse isso até poderíamos estar muito melhor do que estamos - não reconheçam esse sofrido contributo para reforçar a credibilidade da moeda única europeia.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Para levar a sério...
Há mais problemas para além do défice...
São números que nos deveriam fazer reflectir sobre o que justifica este estado de coisas e conduzir a uma actuação séria que contrarie esta perigosa dimensão.
O estudo vem também revelar que nos últimos cinco anos triplicou o número de crimes cometidos com recurso a armas de fogo. No ano passado, houve um total de 7.060 casos com este grau de violência - a uma média de quase um crime por cada hora - enquanto em 2004 esse número foi de 2. 546.
Não conhecendo o estudo, não sabendo se o mesmo conclui sobre os factores que explicam estes sinais de “violência”, acho que não é demais concluir-se que o País está doente e que as pessoas estão inseguras. Será legítimo questionar se este fenómeno não terá que ver com a percepção que as pessoas têm de não eficácia de actuação das autoridades policiais.
Já tenho mais dificuldade em estabelecer uma correlação directa entre este surto de armas de fogo e o número de crimes com recurso às mesmas. É claro que alguém com intenções criminosas na posse de uma arma de fogo poderá mais facilmente passar da intenção à prática.
Os novos "Certificados do Tesouro"...
O vendedor de fruta e os efeitos do marketing
Até que um dia, há poucos meses, parei mais uma vez, cumprimentei os dois que nem se mexeram nas cadeiras, e nem reparei nos preços, toca de escolher e pedir para pesar. Quando perguntei quanto era, o velhote, meio hesitante, ditou um preço absurdo. Fiquei espantada e ainda comecei a calcular de cabeça, olhando os sacos, com receio de ofender o homem a dizer-lhe assim de repente que ele se teria enganado. Mas ele percebeu logo a minha hesitação e avançou: “Agora as maçãs são dois euros e meio, a senhora leva 3 quilos, mais as cenouras, que são tanto, e os espinafres…” e cada preço era uma exorbitância, mesmo sem comparar com o que era habitual. “Mas o que é que aconteceu?, perguntei, estas coisas já não são do seu terreno, teve que as comprar?” – Não senhora, é que são produtos biológicos, agora é o que toda a gente quer e valem muito, se for ali ao supermercado veja lá os preços na prateleira dos biológicos! Se tiverem bicho ainda valem mais, é a prova que não foram tratados!” E lá fui eu carregada de marketing biológico servido num tractor à beira da estrada e vendido a peso de ouro, nem consegui protestar com medo de largar a rir com aquele inesperado exemplo de capacidade de adaptação à modernidade.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Surdo e “duro” que nem uma porta!
A segunda notícia diz respeito ao aumento do risco de surdez nos homens que andam a tomar medicamentos para a disfunção erétil. Pois é! Uma chatice. Já estou a ver um dia destes um diálogo do género: - Eh pá, estás cada vez mais surdo! – Ah? Não ouço! – Estás surdo que nem uma porta! – Pois estou. – É da idade? – Ah? – É da idade? – Não. É do Viagra! Surdo e “duro” que nem uma porta!
Imparidades
O mundo, afinal, não mudou em 24 horas...
Os novos "Certificados de Aforro"...
terça-feira, 18 de maio de 2010
Sócrates
Promulgar ou não promulgar?
Administrações Públicas e Competitividade
A avaliar pelos narizes torcidos, houve quem não tivesse gostado da modesta prédica. Mas aos poucos, infelizmente, se vai despertando para a realidade. E o que é pior, não pela doutrina mas pelos efeitos sentidos na pele...
Dívida pública dispara, Certificados em evaporação...
- A dívida pública total passou de € 132.746 milhões no final de 2009 para € 139.947 milhões no final de Abril, um aumento de € 7.201 milhões, ou seja € 1,8 milhões/mês;
- O “stock” de Certificados de Aforro caiu em Abril € 82 milhões, acumulando uma perda de € 258 milhões em 2010 e prolongando uma quebra quase ininterrupta desde o início de 2008, cifrando-se agora em € 16.613 milhões, equivalente a 11,87% da dívida directa total (16,24% em Janeiro de 2008).
2. Quanto ao primeiro dado, da dívida directa total, deve admitir-se que o padrão de crescimento do 1º quadrimestre não se vai prolongar até final do ano...se assim fosse, teríamos um crescimento da dívida superior a € 20.000 mil milhões, muito acima da previsão do OE/2010...aguardemos para ver.
(Um parêntesis para dizer que leio agora mesmo uma declaração de F. Ulrich, segundo o qual os valores porque o Estado se quer financiar até 2013 “são impossíveis, não poderão ser financiados”...e também que “o dia em que batermos na parede não está muito longe, talvez por semanas”...)
3. Relativamente ao fenómeno da evaporação dos Certificados de Aforro, a situação já se afigura um tanto caricata, depois de tanta gente – também nós aqui no 4R – ter chamado a atenção para a incongruência da política de remuneração deste tipo de dívida de longo prazo.
4. Impressiona sobretudo a insensibilidade e o aparente desinteresse dos responsáveis face à necessidade de incentivar a poupança interna e de recorrer tanto quanto possível à emissão de dívida pública subscrita por residentes.
5. No contexto actual, a hemorragia dos Certificados de Aforro só pode ser compensada por outras formas de dívida, dirigidas em boa parte a subscritores não residentes, agravando o já “alarmante” fenómeno do endividamento externo.
6. Mas pior do que isso: esta substituição de dívidas significa também amortizar dívida interna mediante a emissão de nova dívida (muito) mais onerosa...
7. Em artigo de opinião recente, um responsável governativo pretendeu sustentar esta estranha política afirmando, entre outras coisas, que não faria sentido o Estado subsidiar mais do que já faz as poupanças de particulares...
8. Confesso que me intriga bastante ver como é que os particulares renunciam tão voluntariamente a um generoso subsídio do Estado, desfazendo-se a este ritmo dos Certificados de Aforro...
9. E também se for verdade que o Estado subsidia os subscritores de Certificados quando lhes paga um juro anual de pouco mais de 0,7% nas condições actuais de emissão, acrescido de um prémio de permanência anual (cumulativo) de 0,25%...então o que dizer da emissão de obrigações (a 10 anos) a taxas de 5%, dirigidas a não residentes sobretudo?
10. É nestas incoerências da política económica que a credibilidade, tal como os Certificados, se vai evaporando...
Lágrimas de crocodilo
As queixinhas e o dedo em riste
Os mesmos que se queixaram das queixinhas de Paulo Rangel fora do País (Parlamento Europeu) queixam-se agora da minha falta de queixinhas… também para fora do País. Muitas queixinhas, portanto. Tenho sentimentos mistos quanto a este assunto. Por um lado, fico agradado com a importância que os reports do ES Research merecem. Por outro, gostava que essa importância não fosse utilizada para fins indevidos.
Tudo começou na passada sexta-feira, durante a gravação do programa Parlamento, quando fui surpreendido pelo dedo em riste do deputado do PS João Galamba. A determinada altura, julgou oportuno lançar mão de um relatório destinado a agentes (investidores, analistas, clientes) externos (e redigido em inglês).
Entre acusações e, para meu pasmo, insultos, tratou de prosseguir a sua demanda acusatória sem sequer ouvir o que tinha para dizer. Pensei que se tratava de entusiasmo pueril, próprio de quem tem imensas certezas. E, por isso mesmo, assim que terminou a gravação do programa, entrei em contacto com o Dr. Francisco Assis, Presidente do Grupo Parlamentar do PS.
Fiquei à espera de uma retractação por parte de Galamba, mesmo em privado, e sabendo eu que o mal, em termos públicos, tinha já sido feito. Estava enganado. E de que maneira. A actuação no programa era só o princípio. A reportagem do Diário de Notícias era o fim.
Para efeitos de memória futura deixo aqui algumas notas que podem ser úteis ao deputado Galamba:
1. Subscrevo integralmente o relatório do ES Research (como, aliás, seria de esperar). Trata-se de um documento para promover a economia portuguesa no exterior. E se é difícil encontrar aspectos positivos para a nossa economia, devido à forma como temos evoluído!...
2. Trata-se de um documento que em nada colide com o que tenho afirmado em termos internos e na esfera política. Muitas vezes disse que “Portugal não é a Grécia”. E outras tantas vezes acrescentei “mas para lá caminhamos se não arrepiarmos caminho muito rapidamente”. Tal como muitas vezes disse que o défice foi efectivamente reduzido entre 2005 e 2008. Mas da maneira errada. Sobretudo aumentando os impostos e cortando no investimento público. Mas foi reduzido.
3. Na próxima semana estarei em Wall Street numa acção de promoção da economia portuguesa organizada pela Euronext Lisbon, integrado numa comitiva em que também estará o Ministro das Finanças. Ora, nas reuniões que irei manter com investidores e analistas norte-americanos, passa pela cabeça de alguém que eu faça alguma coisa que possa objectivamente prejudicar o nosso país?... Pela minha não passa de certeza.
4. Por todas estas razões estranhei a reportagem do Diário de Notícias. Desde logo, é estranho que o jornalista que assina a peça nem sequer tenha assistido ao programa. Confiou excessivamente na fonte. De tal maneira que tratou de esquecer a esmagadora maioria das minhas declarações...
5. Obviamente, não confundo o comportamento do deputado Galamba nem com o Partido Socialista, nem com a esmagadora maioria dos seus quadros e deputados.
Que o deputado Galamba fique admirado por me recusar - sobretudo no perigoso contexto que vivemos - a dizer mal do meu país diz muito do próprio. E diz ainda mais da sua maneira de estar nestas coisas da política e na vida.
Recuperação de serões
De modo que a zelosa desarrumação da minha estante obrigou-me a uma severa atitude crítica em relação à televisão, agora vejo no jornal o que me interessa e só ligo para ver exactamente o que pretendo. Foi abolido o zapping tão irritante e tenho-me poupado às sucessivas dissertações sobre a crise, as causas agora evidentes da mesma e às novas ondas de certezas que o mundo de repente descobriu para lhe por termo. E estou a ler um livro fantástico, “A Ponte sobre o Drina”, de Ivo Andric, que recomendo vivamente que procurem, não vá dar-se o caso de estar esquecido na estante lá de casa à espera que acabem os Prós e Contras…
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Sorriso dourado
Os anos passaram-se. A folha de vencimentos pouco ou nada mudava e não oferecia passagem para o El Dorado. Foi então que num ápice se meteu num negócio. Nunca tinha feito nada na área em questão, mas isso não era impeditivo, porque o que tinha a fazer era muito pouco, apenas disponibilizar os produtos a troco de dinheiro vivo, cheques e transferências bancárias. Manteve sempre o mesmo estilo, agora reforçado pela necessidade de aumentar o negócio, o que não foi difícil, como se compreende. De súbito, os maços de notas tornaram-se verdadeiros troncos, as gavetas abarrotavam de cheques e a conta bancária crescia, quase que me atreveria a dizer, desmesuradamente. Como corolário do novo status passou a pavonear sinais de riqueza. Estes sinais expressavam-se sob as mais variadas formas. Mais do que os bens materiais, o que mais me chamava a atenção era a forma de querer resolver os diferentes tipos de problemas, utilizando expressões do género: “Eu pago, o que for preciso”, “Não se preocupe com as despesas”, “Dinheiro não é problema”. Conseguia reduzir quaisquer necessidades ou problemas ao denominador dinheiro. E fazer ver que muitas coisas não tinham nada a ver com mais ou menos dinheiro? Impossível. Quando se alcança o El Dorado, o mundo vira de cor e de cheiro. Ao transpirar ouro pelos poros levou, naturalmente, alguns amigos a invejar a sorte ou a audácia em negócios que contrastavam com os seus, muito mais duros e menos bem cheirosos. Até que um dia, sempre solícito, e atento às necessidades e gula dos amigos, abriu-lhes a possibilidade de ganhar alguma guita com o negócio. Com o pretexto, maníaco, de aumentar a empresa com mais unidades não lhe foi difícil obter empréstimos os quais seriam compensados chorudamente com mais-valias de truz. E, assim, os troncos de notas engrossavam como se fossem milenares sequoias. Ao mesmo tempo, as promissórias, algumas avultadíssimas, eram assinadas de cruz pelos crentes. Afinal, precisava de dinheiro porque se “esquecia” de pagar os produtos que vendia, além de ter enveredado por falsas vendas. O que é certo é que continuava a ser uma pessoa bem-parecida, de voz suave, e não muito alta, expressando-se constantemente com sorrisos que jorravam felicidade mais do que suficiente para criar confiança aos recém-financiadores. Nunca mostrou qualquer sinal de insegurança e muito menos de preocupação. À medida que o tempo ia passando, os subscritores das promissórias começaram a sentir que tinham caído a um poço. Para um deles o poço era tão fundo que, para evitar a longa queda, preferiu tomar a vida nas suas mãos libertando-se da fantasia de um El Dorado que teimava em chegar. O promotor desta viagem apressada para um outro mundo, o do esquecimento, continuou sempre com a sua simpatia e fala suave. Passou pelo purgatório da justiça, acabando por entrar, mais tarde, num qualquer reino extraterrestre, talvez o verdadeiro El Dorado, muito provavelmente, com o seu sorriso dourado. Um sorriso que recusou sempre tratar...