Os nossos Robins usam “médias”, invocam a Pordata (nunca pensei que a Pordata pudesse tornar-se perigosa!) como podem invocar a Wikipédia, fazem somas e divisões com a maquina de calcular e concluem coisas estrondosas como “bolo total”, “fosso”, “cortar”e “redistribuir”, tudo apimentado com milhões para cá e para lá. Para estes justiceiros o sistema de Segurança Social não tem qualquer lógica, embora presumam, por economia da equação, que as receitas não deixarão nunca de chegar ao ritmo atual, e conseguem mesmo propor “soluções” a partir de “contas rápidas” – realmente, para quê pensar muito? Entre os inúmeros Robins que por aí florescem, para quem o sistema de Segurança Social se apreende – e se corrige! - com as aritméticas do mercado da fruta, tudo se resume a um sistema de vasos comunicantes que deve fluir livremente, a partir de uma fonte de alimentação olimpicamente ignorada mas que garantirá, seguramente, uma justiça eterna: quem pagou muito, terá pouco, e quem não pagou, ou contribuiu pouco, estará garantido com o mesmo, assim se conseguindo equilibrar as colunas das estatísticas de modo a não ferir sensibilidades epidérmicas dos curiosos que lá vão dar uma olhadela. É caso para dizer que é fácil, é barato e dá milhões… Pelo menos enquanto houver para “redistribuir” sem falar do esforço para juntar, não faltarão os pressurosos Robin dos Bosques.
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Os Robin dos Bosques a cada esquina
Os nossos Robins usam “médias”, invocam a Pordata (nunca pensei que a Pordata pudesse tornar-se perigosa!) como podem invocar a Wikipédia, fazem somas e divisões com a maquina de calcular e concluem coisas estrondosas como “bolo total”, “fosso”, “cortar”e “redistribuir”, tudo apimentado com milhões para cá e para lá. Para estes justiceiros o sistema de Segurança Social não tem qualquer lógica, embora presumam, por economia da equação, que as receitas não deixarão nunca de chegar ao ritmo atual, e conseguem mesmo propor “soluções” a partir de “contas rápidas” – realmente, para quê pensar muito? Entre os inúmeros Robins que por aí florescem, para quem o sistema de Segurança Social se apreende – e se corrige! - com as aritméticas do mercado da fruta, tudo se resume a um sistema de vasos comunicantes que deve fluir livremente, a partir de uma fonte de alimentação olimpicamente ignorada mas que garantirá, seguramente, uma justiça eterna: quem pagou muito, terá pouco, e quem não pagou, ou contribuiu pouco, estará garantido com o mesmo, assim se conseguindo equilibrar as colunas das estatísticas de modo a não ferir sensibilidades epidérmicas dos curiosos que lá vão dar uma olhadela. É caso para dizer que é fácil, é barato e dá milhões… Pelo menos enquanto houver para “redistribuir” sem falar do esforço para juntar, não faltarão os pressurosos Robin dos Bosques.
Viva a justiça portuguesa!
Questão de preferência
Pobre país!
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
Discriminação
A exploração
Arménio Carlos, no Congresso da Intersindical.
Na Soflusa, eles estão em greve. A Soflusa é uma empresa pública e os donos são todos os portugueses. Muitos milhares que precisam do transporte, e até já o pagaram, são explorados com a greve. Tem toda a razão o Arménio Carlos.
"Cavaquistas"anônimos estarão lançando pânico nos mercados ?
2.É absolutamente extraordinário como entre nós se fabricam notícias destas, sem necessitar de um único endereço dos conjurados, e que essa fantasia “pegue”, constituindo motivo de conversa abundante, nomeadamente pelos mais distintos comentadores da nossa praça...
3.Mais impressionante ainda é que os mesmos órgãos noticiosos que lançaram essa emocionante novela não se tenham dado ainda conta do forte agravamento que hoje se verifica nos juros da dívida pública portuguesa em mercado secundário, com a taxa de juro da dívida a 3 anos já muito próxima dos 25%...
4.Segundo os analistas da especialidade, estamos a assistir a um fenómeno de punição do “elo mais fraco”: face à incapacidade da Grécia chegar a acordo com os credores privados, para reestruturar (e reduzir) a sua dívida de € 200 mil milhões detida por privados, chegando de “mãos vazias” à Cimeira informal de hoje em Bruxelas, aumentam os receios de um “default” grego...sendo Portugal o próximo na linha de fogo...
5.Mas, cá para mim, suspeito que por trás deste brutal agravamento dos juros da dívida portuguesa em secundário andará a “mãozinha” dos cavaquistas anônimos que, desta forma, procuram desacreditar o Ministro ultra-liberal...
6....e surpreende-me como é que os inefáveis “media” que lançaram a notícia da conjura “cavaquista” para derrubar o Ministro ainda não se deram conta de mais esta operação dos mesmos conjurados para mostrar o falhanço da política ultra-liberal do Ministro, agitando os bastidores e conseguindo lançar o pânico nos mercados...
7. Certamente que caso o Ministro abandonasse a estratégia ultra-liberal e abrisse os “cordões à bolsa” para permitir a VIRTUOSA expansão da VIRTUOSA despesa pública, nada disto estaria a acontecer...e os anônimos poderiam sair da clandestinidade para festejar sua vitória...
domingo, 29 de janeiro de 2012
Domingo
Afundar Portugal
“…O que o Governo e o grande patronato pretendem é cavalgar na crise, para alterar aspectos essenciais das políticas e da organização económica e social…"
"…O recente acordo de concertação social constitui uma monstruosidade económica e social…”
A luta não é pelos trabalhadores, mas é pelo pleno triunfo das ideias colectivistas ultrapassadas e rejeitadas e pela destruição da democracia burguesa, servindo-se dos trabalhadores.
Dizem que vão aprofundar o trabalho da anterior equipa. Tremenda contribuição para afundar Portugal.
sábado, 28 de janeiro de 2012
Porque não pomos os olhos na (e falamos) da Irlanda, em vez de falarmos da Grécia?
2.Passado pouco mais de 1 ano, o que nos mostra a situação da Irlanda? Muito em resumo, o seguinte:
- A sua economia, em vez de contrair como a grega (-6%) e a portuguesa (-1,6%), terá crescido em 2011 um pouco mais de 1% segundo as mais recentes previsões do Eurostat, devendo continuar a crescer em 2012 apesar da ligeira contracção que se espera ao nível da zona Euro (e das severas contracções em Portugal e na Grécia);
- Segundo o último relatório do FMI de revisão do PAEF irlandês, a Irlanda, em total contraste ao que se passa na Grécia, tem vindo a cumprir todas as medidas e metas estabelecidas no Programa;
- A taxa de juro da dívida irlandesa a 10 anos, segundo a cotação mais recente dada pelo mercado secundário, já é inferior a 1/2 da taxa de juro da dívida portuguesa (7,33% versus 15,1%), e à volta de 1/5 da taxa da dívida grega.
3. Mais notável ainda, sabe-se que a Irlanda está de volta ao mercado internacional de capitais, pela primeira vez desde Setembro de 2010, tendo conseguido interessar investidores para uma operação de troca (swap) de dívida com vencimento em Janeiro de 2014, no montante de € 3,52 mil milhões, por dívida com vencimento em Fev/2015 vencendo juro de 5,15%.
4. Esta troca de dívida insere-se numa estratégia que visa aliviar o serviço de dívida nos primeiros meses de 2014 quando deverá terminar o Programa de Assistência e a Irlanda tiver de voltar a financiar-se no mercado.
5. Em Portugal, curiosamente, tanto a classe política como os opinion-makers, de uma forma geral, quando querem encontrar um paralelo com a dificílima situação em que nos encontramos citam, invariavelmente, o exemplo da Grécia e das sua desgraças, omitindo sistematicamente o caso da Irlanda...
6. …às vezes para se ufanarem (tristemente, direi) da nossa situação, podendo afirmar que a Grécia é um caso à parte, que não podemos ser equiparados à Grécia, estamos numa divisão superior (isolados, embora…), e não sei que balelas mais...
7. É mais uma manifestação da mediocridadezinha generalizada que para aí se instalou, tanto na classe política como nos comentadores que ocupam lugares cativos nos telejornais, nos frente-a-frente, nos lado-a-lado, no inevitável "prós-e-prós", etc…
8. Porque razão omitimos a Irlanda, como se não fosse tb um país sujeito a um Programa de Assistência, preferindo voltar-nos sempre para a infeliz Grécia? Porque não olhamos antes para a Irlanda e utilizamos um discurso do tipo: a Irlanda está muito melhor que nós, mas aquilo que nos cumpre é tudo fazer para conseguir, pelo menos, atingir idênticos resultados?
9. Quem sabe se o motivo não estará em saberem que a Irlanda evitou subir impostos (sobretudo os directos) e concentrou todos os esforços na redução de despesa?...
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Classe desconforto
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
São Sebastião
Um colossal passivo
Durante 25 anos, a Intersindical de Carvalho da Silva reproduziu um sindicalismo velho e revelho nos conceitos e no pensamento, como nas palavras e na acção. Ouvir a Intersindical era o mesmo que ouvir um sindicalista ocidental do tempo da ditadura soviética ou de há cem anos atrás. Ortodoxa na defesa integral do princípio da luta de classes, a Central nunca viu bondade em qualquer lei do trabalho, nunca reconheceu qualquer acordo de concertação social. A Intersindical sempre viu na greve a suprema forma de justificar a sua existência e de fazer prova de vida.
As ideias e a política sindical da Intersindical de Carvalho da Silva constituíram um verdadeiro passivo para os trabalhadores, pelo desemprego que favoreceram e pelo emprego que desincentivaram.
Completamente desfasada do seu tempo histórico e das novas relações de trabalho, a Intersindical veio a perder força e associados. A avaliar pelas greves gerais que convocou, deixou de ter o apoio dos trabalhadores do sector privado, reduzindo a sua influência ao sector do funcionalismo público. Uma contradição nos termos, porquanto, num regime democrático em que o governo resulta da vontade do povo, é difícil de perceber contra quem ou contra quê se dirige uma luta de funcionários públicos. Mas a luta da Intersindical é luta política pura e dura, sob a capa sindical.
Na despedida, e hoje, todo o dia, Carvalho da Silva está a ser beatificado pelos media, comentadores e analistas. E, como não podia deixar de ser, por Mário Soares. Mas não deixa nem milagre que, aliás, não se pedia, nem obra virtuosa. Pelo contrário, a sua política deixa um colossal e irremediável passivo. A suportar por todos e pelos trabalhadores que jurava defender.
"Revolução" na economia: Balança de Bens e Serviços a caminho do equilíbrio?
2.Um desses factos consiste na notável redução do défice da Balança de Bens e Serviços com o exterior que, no período de Janeiro a Novembro de 2011, caiu cerca de 50% ( de € 10 mil milhões para € 5 mil milhões) em relação ao período homólogo de 2010...
3....sendo que, nas previsões económicas de Inverno, há poucos dias divulgadas pelo BdeP, essa Balança deverá ficar equilibrada em 2012, podendo mesmo exibir um pequeno “superavit”, equivalente a 0,3% do PIB.
4. A acontecer o cenário admitido pelo BdeP em 2012, o qual resultaria de uma subida das exportações de 4,1% e de uma queda das importações de - 6,3%, estaremos perante uma mudança radical de comportamento da economia portuguesa...
5.... Uma viragem fundamental depois de mais de 15 anos em que arrastando sucessivos e elvadíssissimos défices chegamos à situação de sufoco financeiro em que hoje lamentavelmente nos encontramos.
6.Apesar de ser ainda cedo para retirar conclusões de cenários que, apesar de prudentes são também contingentes, podemos dizer desde já que se trata do resultado mais importante da alteração de política económica adoptada nos últimos tempos.
7.Poderão dizer-me que é uma política económica comandada do exterior...direi que, quando não existe classe política com capacidade para perceber que políticas adoptar, como exuberantemente demonstramos ao longo dos anos – com um “finale” em “andante vivíssimo” e DESVAIRADÍSSIMO nos últimos 6 anos até Junho/2011 – bem pouco me importa que a política económica seja comandada do exterior...
8.Essa alteração não será ainda suficiente para equilibrar a Balança Corrente, em virtude do elevadíssimo défice dos Rendimentos - resultado do altíssimo endividamento que os sucessivos défices nos impuseram (“apesar de o desequilíbrio externo ser irrelevante numa União Monetária" com nos foi ensinado...) – que as transferências dos emigrantes mais as oficiais da União Europeia não chegam para tapar...
9. ...cabendo assim a função equilibradora à balança de capitais, o que mostra a extrema importância de sabermos atrair capitais privados - investimento estrangeiro, via privatizações e outras - para conseguir, finalmente, travar o endividamento externo.
10. Assim, muito a custo (mas muito mesmo), certamente, será que estaremos a caminho de uma “revolução” económica em Portugal? Lá para o 3º trimestre falaremos...
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
"Três de copas"
Parlamento em sinal aberto, democracia com sinal de fecho
Assunção Esteves quer o Canal Parlamento em sinal aberto. Os Deputados ficar-lhe-ão gratos, com toda a certeza. Mas, com não menos certeza, querer o Canal Parlamento em sinal aberto é enorme atentado à democracia. Pela exibição pública que irá fazer da despudorada retórica dos nossos deputados, verborreia vazia de senso, mas abundante de acusações, insultos e violência verbal. Porque é esta que vingará na memória e que apagará a palavra responsável daqueles Deputados que vêem no Parlamento uma forma de serviço à nação e aos portugueses. Quando em circulação, a má moeda expulsa sempre a boa moeda.
Diz-se que o Parlamento é o símbolo da democracia. Não o nego. Sem Parlamento não há democracia. Mas se for um Parlamento onde os deputados se respeitem, enquanto pessoas e enquanto eleitos, onde procurem os consensos necessários ao país, onde afirmem as suas convicções sem menosprezar as alheias. Onde os deputados não se insultem, dia a dia, debate a debate, minuto a minuto, onde não usem linguagem violenta e grosseira, onde não façam da mentira o seu ideal político, onde não usem da mais boçal e desavergonhada demagogia para minar credibilidades e apoucar adversários, no fim, enganar quem os elegeu. Onde se promova o mérito, se enalteça quem cria riqueza, em vez de louvar o demérito e a mediania.
Onde os Deputados fossem elites pensantes e não servos da gleba mendicantes, sempre prontos a mostrar serviço ao suserano, atropelando correligionários e adversários por qualquer pedaço de terra, um lugar em S. Bento ou numa qualquer autarquia ou serviço central ou regionalizado.
Retóricas boçais de quem se acha senhor absoluto da verdade e da razão, como se outras verdades e outras razões também não tivessem sido sufragadas é atentado à democracia diariamente praticado no Parlamento. Querer exibi-las por grosso e por inteiro é colaborar nesse atentado. Por melhores que sejam as intenções. Já bastam os excertos que as televisões nos dão.
Os bons Deputados não merecem ser enxovalhados pela sub-mediania reinante.
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
Comentador Doutor
Revele o próprio a lugar e o nome e terá lá o 4R em peso. Para aplaudir o Doutor e vaiar qualquer questão mais capciosa do júri!…
Vá a eles, caro Doutor!
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
Empresários e patrões...
Ainda o caso da Sicasal, que correu o País como um caso exemplar - não por acaso - que viu parte das suas instalações fabris destruídas por um grande incêndio, deixando 160 trabalhadores sem trabalho. Álvaro Santos Silva, o empresário patrão da empresa, garantiu que não haveria despedimentos, expressou que todos os trabalhadores eram necessários e todos deitaram mãos à obra para ajudar a empresa a levantar-se. Álvaro Santos Silva, em entrevista ao Expresso, diz: “Nos maus momentos, vem ao de cima tudo o que há de bom entre as pessoas. Os trabalhadores vivem realmente a empresa, não é só vir aqui ganhar dinheiro. Isso vale quanto? Não se consegue quantificar?"
E à pergunta da jornalista sobre o que acha o empresário das medidas que o Governo quer impor aos trabalhadores, com menos feriados e mais meia hora de trabalho, Álvaro Santos Silva responde: “Os trabalhadores não podem ser todos tratados como calões. Está provado que os portugueses estão dispostos a fazer sacrifícios. Mas querem um país decente e que lhes ofereça futuro, não um Portugal sem sentido. É esta a minha visão, até pela solidariedade que estou a sentir na pele. Nunca acredito no método que existe em Portugal de luta de patrões contra empregados". Empresários e patrões não falam a mesma linguagem, faz toda a diferença...
Uma morte anunciada
As culpas da Europa: o novo canto da sereia
Claro que para sair da crise tem que haver crescimento. Mas o crescimento em Portugal não vai depender da ajuda da Europa, nem de mais despesa pública, pelo contrário; depederá, sim, da concretização de medidas aque só a nós compete tomar, que tragam um bom ambiente à actividade económica e propiciem investimento e emprego.
O crescimento passa pela desburocratização, pela redução dos custos de contexto, por políticas estruturais viradas para a competitividade, políticas que tragam efectiva concorrência, melhorem o mercado de trabalho, dinamizando o emprego, políticas fiscais que incitem ao investimento e não o afastem, políticas energéticas que tornem a energia mais barata para particulares e empresas, mesmo que acometam os poderosos lóbis eólicos, ecológicos e ambientalistas. Uma política económica virada para a economia dos bens transaccionáveis e da exportação, em vez da política favorecedora das grandes obras públicas. Uma justiça rápida, licenciamentos rápidos, fim do “condicionamento industrial” burocrático que tolhe a nossa economia e afasta investimento.
Estas são as medidas, que são eficazes e não custam dinheiro aos contribuintes, custarão apenas muita impopularidade política. Caso nos fosse mais uma vez permitido continuar com as mesmas políticas centradas nos gastos do Estado, pelas quais novamente se propugna, nunca faríamos as reformas necessárias. E a crise seria permanente. A um nível que nem imaginamos.
domingo, 22 de janeiro de 2012
Um pouco de bom senso
É muito? Só por demagogia ou má fé pode ser considerado, seja por quem for, que um homem que é PR, foi primeiro-ministro, foi ministro das finanças, professor catedrático, alto quadro do Banco de Portugal, tem rendimentos invejáveis.
Mas é dessa demagogia e má fé que se alimentam, frequentemente, os media em Portugal. Ignorar essa gula carnívora de alguns jornalistas, se não é ingenuidade ou distracção que, no caso de um PR, dá no mesmo, não sei o que é..."
A diferença
Aldous Huxley
O engenheiro tinha entrado para a empresa muito novo. Estudara com uma bolsa e fora o melhor aluno do seu curso, por isso mesmo conseguira emprego na fábrica, um começo da carreira que havia de ser a sua vida inteira, subindo na hierarquia das responsabilidades sem outro apoio que não o do trabalho árduo e escrupuloso e da aceitação dos postos por esse país fora, até poder finalmente assentar arraiais em Lisboa, já os filhos mais velhos estavam a terminar o liceu.
Orgulhava-se muito da sua afirmação profissional e do modo como tinha conseguido, à custa do seu trabalho, deixar para trás a infância pobre, as intermináveis horas de estudo à luz do candeeiro de petróleo que ainda guardava em cima da cómoda do quarto, como símbolo do que tivera que vencer. Orgulhava-se também de ter sempre procurado ajudar os operários, lutar pelos seus direitos quando os sentia justos, quantos aborrecimentos isso lhe tinha causado, dizia mais tarde, com um riso amargo, chegara a ter fama de comunista nos finais dos anos 50, quando tinha a direcção de uma fábrica numa zona crítica do país, e chegou a temer pelo seu emprego quando um dia a PIDE lhe invadiu o escritório para lhe fazer perguntas sobre um contestatário.
Quando, em princípios dos anos 70, o patrão decidiu escolher um administrador de entre os directores da casa, escolheu-a a ele, e ninguém se surpreendeu com isso, eram consensuais o seu prestígio e a sua dedicação à empresa. Ele sentiu um orgulho imenso nessa recompensa de uma vida e passou a chegar a casa ainda mais tarde, ainda mais cansado, redobrando o escrúpulo que sempre pusera no seu desempenho.
Naquele dia de 1975 ia a entrar na sede da empresa para subir ao andar da administração. Atravessou sem problemas o magote de gente que desde a madrugada se aglomerava com bandeiras no passeio em frente à porta, gritando os slogans da época, muitos conheciam-no e todos sabiam também que, sem ele assinar os papéis, não receberiam os ordenados desse mês.
Mas, quando passou pelo porteiro, que há anos ocupava aquela secretária, o homem não lhe dirigiu os bons dias, antes lhe lançou um olhar de ódio e desatou a gritar:_ Eu queria era vê-lo aqui no meu lugar, a ganhar esta miséria, e eu no seu lugar, a ganhar um dinheirão! Isso sim, é que eu queria ver, eu ficava com o seu cheque e você com o meu, para ver como é!
O engenheiro parou, sentindo a agitação crescer na rua com os aplausos entre os manifestantes. Voltou-se para o porteiro e disse:
_ A diferença não é só nos cheques, a diferença é que eu podia sentar-me aí na sua cadeira e fazer o seu trabalho, enquanto o senhor não seria capaz de fazer o meu. E agora, se me dá licença, vou tratar do pagamento dos ordenados a todos os que trabalham na empresa.
Enquanto a porta do elevador se fechava ainda ouviu o porteiro gritar, enfurecido:
- Fascista!
O engenheiro atravessou o corredor, passando pelos gabinetes vazios dos outros administradores, sentou-se à secretária e trabalhou até tarde, para que os pagamentos pudessem ser feitos a tempo e a horas. Quando saíu, há muito que o porteiro tinha arrumado a cadeira e terminado o seu turno.
sábado, 21 de janeiro de 2012
Qual "fruta", qual carapuça!...
http://www.youtube.com/watch?v=zjunk_14Cnw&feature=youtube_gdata_player
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
A culpa é da crise?
Sou visita habitual do Jardim Botânico Tropical. Fica perto do bairro onde vivo e sabe-me bem ir até lá admirar e contactar com a natureza, respirar ar puro, fazer exercício percorrendo os caminhos do jardim, há sempre mais alguma coisa para descobrir. É de facto um jardim lindíssimo, que reúne centenas de espécies vegetais, frondoso pelas árvores e arbustos tropicais que o decoram e recortado com muito bom gosto por belos lagos, caminhos e estufas artísticas, sem esquecer a variedade de patos e os imponentes pavões. Faz pena assistir à degradação dos jardins ex-líbris de Lisboa. São espaços fundamentais de bem-estar e qualidade de vida, mas constituem também património natural, histórico, cultural e turístico que se perde. Será assim tão difícil encontrar uma saída para reunir recursos que assegurem a manutenção destes jardins? Gasta-se tanto dinheiro mal gasto! A culpa é da crise?
Cautela com os optimismos, ainda que compreensíveis..
2.Compreendo perfeitamente que estes membros do Governo, dada a pressão brutal da agenda de trabalho a que se estão sujeitos bem como a extremíssima dificuldade das tarefas que tiveram e continuam a ter de enfrentar – para não falar da tremenda pressão mediática que enfrentam diariamente - procurem valorizar qualquer sinal positivo que o mercado proporcione, interpretando-o como sinal de uma mudança mais fundamental da economia...
3.No caso das declarações de optimismo do Ministro das Finanças, elas derivam do facto de o Tesouro português (IGCP) na última 4ª Feira ter conseguido colocar dívida pública de prazo superior a 6 meses, pela primeira vez desde Abril de 2011 quando o País, vítima de uma governação que esteve próxima do delírio absoluto, se viu forçado a solicitar um resgate financeiro à EU e ao FMI – concretamente dívida ao prazo de 11 meses e com bastante sucesso.
4.Não deixo de reconhecer que se tratou de um acontecimento positivo que, a confirmar-se, pode marcar uma fase de transição em que o Tesouro/IGCP terá possibilidade de se afoitar um pouco mais no recurso a operações de mercado e, quem sabe, reduzir o recurso em 2012 aos empréstimos da Troika o que lhe permitiria deixar até uma almofada estratégica para 2013...
5.Mas, infelizmente e quase em simultâneo, os juros implícitos (yields) da dívida pública portuguesa de prazos mais longos – 2 anos em diante – começaram a agravar-se e têm continuado a agravar-se atingindo hoje valores “record” da era do Euro, o que não deixa de constituir motivo de preocupação quanto à efectiva confiança dos investidores.
6. É certo que este agravamento terá explicação, que pode estar nos efeitos (i) de contágio da situação periclitante em que a Grécia se encontra - sendo que Portugal se encontra logo a seguir na “linha de fogo” - e também (ii) da revisão em baixa do “rating” da nossa dívida pública, que a atira para baixo do “investment grade”, forçando muitos institucionais a desfazer-se de dívida nacional...
7....mas também mostra que os sinais positivos como aquele que motivou a reacção dos governantes devem ser recebidos com bastante cautela e que não se pode LER neles mais do que aquilo que efectivamente são – positivos sem dúvida, mas apenas do momento, ainda não, infelizmente, conclusivos...
8.Seria bom que pudéssemos falar já de uma fase de viragem, mas parece preferível deixar esse comentário para mais tarde; esse momento chegará, por certo, mal de nós se assim não fosse, mas convirá que o cenário se clarifique um pouco mais, sendo ainda cedo para expressar certos optimismos...lá para o 3º trimestre, talvez, e se tudo correr bem...até lá há que continuar a trabalhar, com afinco...
Democracia invertida
Pensar-se-ia que seria dada a devida ênfase ao facto de se ter chegado a um acordo, tão necessário ao país. Mas não. O que a comunicação social logo farejou foi quem o pudesse contrariar, denegrindo o esforço feito. Logo na manhã seguinte, e não perdendo tempo, a RDP não viu melhor para exercer o seu serviço público, do que desencantar quem, nos Sindicatos filiados na UGT, se opusesse ao documento assinado. Vozes acaloradas que, ultrapassando os seus filiados, falavam em nome de todos os trabalhadores e apelavam a um poderoso levantamento contestatário.
Depois, vieram as entrevistas cirúrgicas. Uma delas, com Torres Couto, há tempos imemoriais afastado das lides sindicais, e que fez prova de vida ao prever que a assinatura iria provocar o desaparecimento da UGT.
Pelo meio, e ocupando qualquer espaço livre, sindicalistas da Inter, deputados do PCP e do Bloco, independentes e o inefável Mário Soares vão aparecendo à exaustão, abafando os subscritores do Acordo, no fundo quem procura criar condições para o desenvolvimento, promover o emprego e criar riqueza.
A maioria não conta. Quem vai dando as cartas são as minorias, que criam o ambiente para contestar, uma a uma, todas as reformas necessárias. No fim, e sem precisar de eleições, mas com o suporte permanente e atento da comunicação social, são elas que marcam o caminho. A democracia do país está invertida.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
A arte do possível e a pureza da ciência
Podia tratar-se de uma “guerra” no PS, uma vez que a direcção partidária veio a terreiro confirmar as razões que tinha aduzido durante o debate e votação da lei. Mas acontece que nenhum deles parece pretender o lugar do actual líder, refugiam-se em argumentos jurídicos, em grandiloquentes declarações de princípios mas, quanto a condenarem a liderança, nem nada. Portanto, não é uma guerra interna.
Podia tratar-se de políticos muito contrariados com o rumo e grau de austeridade, com a surpresa pela violência da austeridade. Mas, se bem me lembro, esses mesmos deputados foram grandes apoiantes do governo anterior, incluindo defenderam os sucessivos Pec’s, o Pec IV também, não gritaram contra o pedido de resgate nem arrepelaram os cabelos perante a assinatura do acordo com a troika pelo Governo que apoiavam. Portanto, não se trata de discordarem das políticas que têm, forçosamente, que ser executadas. Sabiam que ia ser assim.
Podia também considerar-se que estes deputados não esperavam ter pela frente neste mandato situações de grande exigência política, como a de terem que aprovar orçamentos difíceis que tentam desesperadamente corrigir em curto tempo os desvarios que apoiaram durante largos anos. Mas integraram as listas, aceitaram os mandatos e tencionam cumpri-los. Não é, portanto, por defenderem outras soluções, não é por quererem rasgar o acordo, nem por diferentes visões estratégicas.
Não será também por terem alternativas realistas às eventuais inconstitucionalidades que agora argúem, uma vez que essas alternativas não constam dos argumentos que adiantam perante as câmaras. Portanto, não se vislumbram que medidas com efeitos semelhantes imaginam sem mácula para substituírem, em concreto, as que consideram violadoras da lei fundamental.
Talvez a explicação deste mistério seja a de se tratar de deputados que são também docentes universitários e constitucionalistas. Parece, pois, uma iniciativa ditada pela dificuldade em conciliar a arte do possível com a pureza da ciência. O dilema do País segue dentre de momentos.
Muito bem, Baião. Viva a greve infantil!
Eu acho muito bem esta greve infantil. Se o trabalho infantil está proibido, não se pode, nem deve, trabalhar na escola. Obrigar a aprender é uma violência e vai contra os direitos da criança. Sobretudo no inverno; uma greve quer-se quente e no exterior até se está mais protegido da intempérie. Além do que falar aos microfones aquece.
Mas há uma outra razão de fundo para achar muito bem esta greve infantil. É preciso preparar o povo, desde o berço, para fazer greve. A escola tem esse dever patriótico. A miudagem do básico tem que ser habituada a contestar tudo e todos, os professores e a cantina, o peso dos livros e o formato da caneta, o frio no inverno e o calor no verão.
Têm que assimilar que a contestação e a greve são um modo de vida como os outros. E têm que aprender que há muitos que não querem outra forma de vida, para além de serem profissionais da contestação. Com as televisões sempre ao lado, importantíssimo para a garotada que quer ser gente.
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
Um caso à portuguesa...
Várias entidades oficiais que estão no circuito dos numerosos pareceres prévios à emissão da licença de utilização da fábrica dizem que não têm responsabilidades. Ninguém tem responsabilidades, ou melhor, ninguém as quer assumir, porque a culpa, à portuguesa, é sempre do vizinho. Mas há quem aponte o dedo ao Terreiro do Paço. É que falta a autorização do Ministério das Finanças, e muito provavelmente falta o dinheiro, para lançar a obra da ligação do Porto a uma ETAR que permitirá o tratamento dos esgotos.
O Porto do Olhão, zona onde está situado um pólo de indústria de pesca, não possui tratamento de esgotos, os efluentes são despejados directamente na Ria Formosa.
Entretanto, está prevista a abertura de mais uma fábrica de conservas, mas já está feito o aviso, não vai poder funcionar. As razões são as mesmas. Não há saneamento básico adequado, portanto, não há licença de utilização.
Foram feitos vários milhões de investimentos em fábricas de conversas que estão encerradas por falta de infra-estruturas básicas. Os investimentos estão parados. Não geram actividade económica, não geram emprego, não geram riqueza.
Assim se vão desbaratando recursos económicos e financeiros. Faz algum sentido? Estes casos - onde não faltam o esbanjamento de recursos, as falsas expectativas e a burocracia, a incompetência e a desresponsabilização e várias entidades públicas viradas de costas umas para as outras, assim parece – demonstram bem o muito que há para mudar. É toda uma cultura de estar e fazer que precisa de ser reformada…
Os linces da economia
Mas não ficam por aqui. Dizem eles que o “peso da informalidade” teve um aumento absoluto de 0,6% entre 2009 e 2010. Zero, vírgula seis por cento! Rigor absoluto.
Claro que este rigor científico nunca poderia alcançado se a “informalidade” se medisse por números redondos. Mas não, a informalidade nunca é redonda, tem arestas e as décimas são essenciais para a medir.
Temos pois verdadeiros especialistas da gestão da fraude, assim se chama o Observatório. Recrutados certamente pelo olho de lince que revelam. E ainda dizem que os linces desapareceram. Não! Eles estão activíssimos. E observam-nos a todos.
A irresistível (inútil) tentação de clamar contra as agências de "rating"...
2.Um dos mais destacados comentadores foi mesmo ao ponto de dizer “lixo não somos nós, são eles”, como se a classificação dada pela S&P tivesse alguma coisa a ver com pessoas e não com a qualidade da dívida que a República emite...
3....mas compreendo que para um republicano de excelência e crente incondicional nas virtudes axiomáticas desta República, o gesto da S&P até possa ser tomado como ofensa pessoal...
4.Desta vez nem o Governo escapou às manifestações de indignação, tendo um dos seus mais destacados membros sugerido a necessidade de uma “resposta europeia” às decisões da S&P...
5....no que entedi tratar-se quiçà de uma sugestão para mega-manifestação em Bruxelas, reunindo milhares de burocratas (eurocratas à cabeça), políticos e outras notabilidades, munidos de bandeiras e de cartazes com frases de protesto contra a malvadez imperialista, ao pior estilo “Yankee”, das agências de “rating” que atentam contra o Euro...
6. Felizmente, o Presidente da República manteve desta vez prudente silêncio, percebendo provavelmente que caberia em última análise aos mercados dar às agências de “rating” a única resposta com sentido útil.
7.E os mercados aí estão a responder, de forma inequívoca e sem perda de tempo; hoje aceitando tomar dívida pública portuguesa por um montante elevado - € 2,5 mil milhões – e a taxas bem inferiores às de anteriores leilões: € 496 milhões a 3 meses, taxa média de 4,346% (igual à de há 2 semanas, muito inferior à do último leilão de Dezembro); € 754 milhões a 6 meses, taxa média de 4,74% (anterior 5,25% em Nov/2011); € 1.250 milhões a 11 meses, taxa média de 4,986%.
8.Note-se que o IGCP já não realizava leilões de dívida por prazo superior a 6 meses desde a altura em que foi celebrado o acordo com a Troika, em Maio de 2011, o que confere especial (positivo) significado à colocação de dívida a 11 meses, a qual reflecte uma curiosa aposta dos investidores, ou seja do mercado (execrável criatura, para os nossos comentadores) na dívida portuguesa.
9.Com este resultado, adicionado ao sucesso da colocação de dívida espanhola ontem e de dívida francesa na 2ª Feira, está dada a resposta dos mercados ao anúncio da S&P, da última 6ª Feira, de baixar os “ratings” das dívidas da França e da Áustria de AAA para AA+ e de outras dívidas para “lixo”...
10....é a única resposta possível, face à considerável inutilidade das reacções dos nossos patrióticos comentadores... cujo patriotismo, suspeito, terá mais a ver com a ameaça de perda de vantagens e mordomias pessoais/grupo que esta República bendita lhes proporciona do que com a defesa da independência nacional ou da honra nacional...
11....mas tenho de admitir que essa suspeita será infundada/injusta, os ditos comentadores lá no fundo até serão grandes patriotas...
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
A "lei da cópia privada", uma aberração mais...
Findava o ano de 1937 quando foi promulgado o decreto para valer como lei que recebeu o nº 28219. Estabelecia uma licença anual obrigatória, pesadamente paga pelos cidadãos que pretendessem deter "isqueiro" ou outros "acendedores". O Estado mostrava-se implacável com quem pretendia aproveitar-se dos avanços da tecnologia, e fazia pagar por essa liberdade quem se propunha empobrecer a protegida indústria do fósforo. Lembro-me da preocupação de meu avô, fumador compulsivo, em andar permanentemente acompanhado da licença do isqueiro, tão apertado era o controlo dos "fiscais das finanças" e da polícia mesmo a quem não o exbindo, era suspeito de possuir um desses objetos.
Sem conserto!
Supremo eufemismo de linguagem. Pois como é que uma coisa sem conserto pode concertar o que quer que seja?
E péssima utilização do português. Pois quem está fora de tudo pode alguma vez ficar de fora de alguma coisa?
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
Mercado baixa o rating da Standard & Poor’s
O meu momento oriental
sábado, 14 de janeiro de 2012
"O Poder do Nada"!
O cronómetro da mudança...
A China e a Índia com os seus modelos de economia low cost em crescente internacionalização estão em vias de obrigar os países ocidentais a um retrocesso civilizacional.
Depois, temos os países industrializados do Ocidente que se deixaram desindustrializar e que se adoptarem todos simultaneamente políticas de combate aos défices poderão conduzir a uma depressão à escala mundial.
Restam os maus alunos, como Portugal, que há muito perderam toda a capacidade de influenciar o que quer que seja e onde a soberania real é mínima desde há algum tempo, constituindo hoje mais territórios do que Estados - o que se aplica, aliás, à larga maioria de médios e pequenos países desprovidos de matérias-primas significativas.
A mitigação da tragédia anunciada apenas se poderá fazer com doses significativas de disciplina colectiva, coesão social, melhoria da formação e sobretudo com alterações nas formas de pensar das pessoas. Há que produzir mais bens e serviços que tenham crescente procura no mercado internacional.
Mas poderão e terão os nossos empresários (todos nós) capacidade para responder de facto a este desafio? E os trabalhadores vontade de aumentar a sua produtividade? Haverá inteligência e bom senso para isso?
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
As nomeações e os seus riscos políticos...
2.A agitação é muito grande e mesmo figuras públicas da área do Governo, como é o caso do Dr. Marques Mendes, discordam abertamente de algumas das escolhas feitas.
3.Trata-se de um problema que não é novo, que de resto se repete ciclicamente com a chegada de um novo Governo de cor política diferente do cessante.
4.Há sempre um enorme “exército de reserva” nos partidos chegados ao poder, e na sua órbita de influência - a famosa “clientela partidária” – constituído por elementos desejosos (alguns famintos, mesmo) de se apoderarem dos despojos que a vitória política lhes pode proporcionar, que são os lugares de nomeação política na administração pública (segurança social e saúde, por exemplo) e nos órgãos sociais de empresas públicas ou de outras para os quais o Estado tem o direito ou poder de nomear membros.
5.Essa gente é mais ou menos conhecida, ou pertence aos aparelhos partidários ou aparece normalmente a frequentar as reuniões partidárias, ainda em tempos de oposição, quando o “cheiro a poder” começa a ganhar intensidade...
6.Só que, desta vez, o ambiente de intensa crise em que o País se encontra mergulhado torna este exercício muito mais visível e delicado, alvo fácil de crítica e destruidor de CAPITAL POLÍTICO, por isso parece recomendável que o Governo adopte especiais cautelas nesta matéria...tem-se a noção generalizada de que se está a “rapar o fundo do tacho” e isso socialmente é muito censurável ...
7.Com efeito, a nomeação de pessoas com carreira essencialmente política para cargos empresariais, com a simultânea divulgação das condições de remuneração desses cargos, em alguns casos principescas, um momento de tão grave crise em que são exigidos sacrifícios muito significativas a uma boa parte da população, arrisca-se a derreter, rapidamente, o CAPITAL POLÍTICO de que o Governo tanto carece para prosseguir a ciclópica tarefa de corrigir os desequilíbrios da economia e das finanças públicas...
8. ...e não é preciso ser um génio para perceber que com esse CAPITAL POLÍTICO derretido ou em rápido derretimento, o risco de os objectivos fundamentais do Programa de Assistência Económica e Financeira virem a derrapar pode tornar-se incontrolável...
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
"Stayin' Alive"
Vinho tinto!
A influência deve ser igualitária?
- "A sociedade igualitária também aprecia a finalidade agencial para a atividade política: que os cidadãos devem ter o maior espaço possível para estender à política a sua experiência moral e de vida. Contudo, as pessoas que aceitam a igualdade de influência como uma restrição política não podem tratar a sua própria vida política como agência moral, pois essa restrição corrompe a premissa suprema da convicção moral: que só a verdade importa. As campanhas políticas sob limites de influência auto-impostos não seriam uma agência moral, mas apenas um inútil minueto de deferências" (p. 273).
Os erros do Estado...
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
Euro mais fraco? Pois que seja bem-vindo!
2.Concretamente, desde um pico em Maio último, o Euro perdeu em relação ao USD 14% e 8% em relação às divisas dos principais parceiros comerciais, em média ponderada pelo valor das trocas comerciais (“trade weighted basis”).
3.Empiricamente, admite-se que uma desvalorização de 10% em “trade weighted basis” propicie um ganho de 1% no PIB da zona Euro...caso essa desvalorização seja duradoura, claro está.
4. As notícias mais recentes sugerem que o Euro tem vindo a ser utilizado para as conhecidas operações de "carry-trade", nas quais os operadores se endividam numa moeda considerada em tendencial desvalorização e com taxa de juro mais baixa, para a seguir aplicarem os fundos em activos expressos em moedas com potencial de valorização e vencendo taxas de juro mais elevadas (dólar australiano, por exemplo).
5.Supostamente, os famosos “hedge-funds” terão vindo nas últimas semanas a intensificar esse tipo de transacções, as quais pressionam o Euro para a baixa, e, com o Euro a baixar aumenta o incentivo para que mais operações dessas se efectuem...
6.Direi que estamos perante boas notícias neste início de 2012, que poderão contrariar os cenários mais pessimistas que para aí se vão desenhando em relação ao desempenho das economias do Euro no novo ano...
7.Paradoxalmente, estas boas notícias são “filhas” de más notícias, pois esta fragilidade do Euro decorre em grande medida da especulação que tem sido feita em torno da crise da dívida soberana e do próprio risco de desintegração da zona Euro...
8.Considerando a lista dos nossos principais 10 parceiros comerciais, que representam mais de 75% das nossas exportações, verificamos que existem quatro que não pertencem à zona Euro – Angola (4º), Reino Unido (5º), EUA (8º) e Brasil (10º) – para os quais se dirigiram 15,3% das nossas exportações no período de Janeiro até Novembro do corrente ano.
9.Temos aí um ganho directo significativo, embora não possamos ignorar que uma boa parte das nossas importações de matérias-primas minerais são expressas em USD...
10.Tudo ponderado, a fraqueza do Euro é uma boa notícia, em tempo de vacas tão magras de boas notícias...façamos votos para que os "carry-traders", sobretudo os temíveis especuladores dos Hedge-Funds, prossigam essa acção de bem-fazer e levem o Euro, se possível, até à paridade com o USD...
A importância do grau
Ouvir um mero “aprendiz” é diferente de ouvir um “companheiro” e, sobretudo, ouvir um “mestre” é diferente de ouvir qualquer dos dois primeiros. O conhecimento, a autoridade, a sabedoria são muito diferentes. Como não sabemos quem é “mestre” ou “aprendiz”, vemo-nos agora completamente incapazes de enquadrar o verdadeiro significado das palavras proferidas. Mas a dificuldade vai mais além. É que, havendo na hierarquia 30 categorias de mestres, certamente que um Secretário Íntimo tem uma autoridade e um saber diferente de um mero Mestre e um Cavaleiro do Sol tem certamente um discurso mais sólido do que um Cavaleiro da Serpente de Bronze.
A questão revela ainda maior acuidade quanto aos três líderes parlamentares. Pois se um tiver o grau máximo 33 de Soberano Grande Inspector-Geral, outro o grau 31 de Inspector Inquisidor Comendador e o terceiro apenas o grau 26 de Escocês Trinitário, certamente que palavra mais sábia e autorizada é a do líder com grau 33.
De modo que o melhor é deixarmo-nos de partidos. As votações no Parlamento deverão seguir a dos “irmãos” com grau mais elevado. Cumprindo a “obediência”, seremos todos irmãos. E assim aperfeiçoados, haverá finalmente harmonia entre os homens. Basta seguir o grau!
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Caminhos indignos...
Será possível?
Uma pessoa que vive algures no centro do País andava com umas indisposições insistentes e decidiu consultar um médico, que o aconselhou a fazer uma colonoscopia para despistar uma suspeita. O exame foi feito com urgência numa clínica privada, sem comparticipação, e demonstrou haver um polipo já com algum grau de desenvolvimento, a aconselhar uma cirurgia sem demoras. Foi então ao hospital da zona, viram o exame, confirmaram o diagnóstico e a necessidade de intervenção, podiam marcar a operação para os próximos dias mas era preciso que a pessoa fosse primeiro ao respectivo centro de saúde, onde o encaminhariam então para o hospital. Assim fez, obteve a consulta em poucos dias, viram o exame, confirmaram o diagnóstico mas havia um problema, o exame médico tinha sido feito numa clínica privada e não servia para fundamentar o envio para o hospital. Era preciso fazer outro igual, desta vez através do centro de saúde, mas infelizmente só havia vaga para daí a quatro meses, sim, era urgente, claro, era igual, claro, não havia razões para duvidar, mas é a regra e acabou-se. A pessoa viu-se assim devolvida à estaca zero, com o exame na mão, a preocupação acrescida e uma longa e arriscada demora à sua frente. Aparentemente, esta é a regra, a saúde pública faz muita questão de pagar os exames ela própria, de fazer o doente sofrer novo exame, por muito invasivo que seja, e de aumentar a lista de espera, tudo a saldar-se em prejuízo, sofrimento e perda de tempo, incluindo dias de trabalho, para não falar no provável agravamento da doença. Será possível que a saúde tenha mundos incomunicáveis, em prejuízo de todos, ou será mais um erro de zelo interpretativo, desperto para a regra e cego para os resultados?