sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
Parabéns!...
Voltai, que estais perdoados!...
De partir o coração!
Depois de tudo o que se tem passado, de todas as confissões/declarações de desconhecimento de matérias que toda a gente conhecia e que foram em tempo oportuno denunciadas publicamente por um destacado banqueiro da nossa praça, esta notícia suscita uma dose de enjoo supra-normal...
É uma operação de “face-lifting” com contornos de mau gosto verdadeiramente dilacerantes! É de partir o coração!
Vale a pena voltar a ler o artigo de António Sampaio e Mello na edição do Público, de 27 de Janeiro último...não percam!
Sinais
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
Taxas de juro: BCE poderá não baixar...
Dados ontem divulgados pela Instituição (BCE, não o SLB...) mostram que o crédito às empresas não financeiras aumentou em Janeiro 14,6% em termos homólogos, a taxa de variação mais elevada desde o lançamento do Euro em 1999.
Por outro lado, as indicações recentes confirmam que a inflação elevada parece ter vindo para ficar por mais tempo do que se admitia – bem mais do que os inefáveis e omniscientes decisores económicos domésticos ainda há poucos meses nos asseguravam...(é claro que os sacrossantos 2,1% não estão em causa,não quero ofender a ordem constituída);
-Os preços das matérias-primas minerais, combustíveis e não combustíveis apesar de elevados continuam em alta;
- Os preços das matérias-primas alimentares não param de subir nos mercados internacionais, apesar das ameaças do Ministro da Agricultura português de colocar na rua as suas tropas para inspeccionar esses mercados e por na ordem os especuladores, desde Chicago até Shangai;
- Nas economias emergentes - China, Rússia e Vietnam muito em especial – a inflação tem vindo a subir acentuadamente nos últimos meses, acabando assim o contributo das suas exportações para a estabilidade dos preços nas economias desenvolvidas.
- Finalmente, e num registo algo favorável ao Prof. Ricardo Reis e às suas famosas previsões do Verão passado (quem ainda se recorda?) parece que o impacto da turbulência nos mercados financeiros será menor do que se supunha no que à economia europeia diz respeito – afirmação de Lucas Papademos, Vice-Presidente do BCE, esta semana.
Não me surpreenderá assim que o BCE meta na gaveta quaisquer intenções – se é que existiam – de baixar as taxas em Abril como os nossos laboriosos “media” da especialidade, com a sua conhecida argúcia, chegaram a dar como quase certo.
A ver vamos, manda a prudência acrescentar...À douta consideração de Pinho Cardão, Tonibler, André, Rui Fonseca e Outros ilustres comentadores...
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Eles são o alfa e o ómega do ambiente!...
Para qualquer ambientalista, todo o Governo e qualquer cidadão estão sob suspeita de atentar contra a ordem ecológica.
No sítio de qualquer eólica, o ambientalista avista sempre um morcego e ameaça com o Tribunal.
No sítio de qualquer linha eléctrica, o ambientalista vê sempre um ninho de pardal e ameaça com o Tribunal.
No sítio de qualquer auto-estrada, o ambientalista suspeita do lince da Malcata e ameaça com o Tribunal.
No sítio de qualquer ponte, o ambientalista observa uma ave e ameaça com o Tribunal
No sítio de qualquer barragem, o ambientalista adivinha uma gravura e ameaça com o Tribunal
No sítio de qualquer urbanização, o ambientalista inventa uma duna e ameaça com o Tribunal
No sítio de qualquer obra no litoral, o ecologista antevê o definitivo aquecimento global e ameaça com o Tribunal
E até no sítio de qualquer obra no interior desertificado, o ecologista consegue enxergar enorme pressão demográfica e ameaça com o Tribunal
A salvaguarda do ambiente tornou-se exclusivo dos ambientalistas. São eles o primeiro, o último e o único guardião da ética ambientalista. O alfa e o ómega, sem nada de permeio.
Eles são um verdadeiro Ministério do Vício e da Virtude!...
Preço do PÃO sobe mais 50%? Que felizes somos!
Este cenário, aparentemente preocupante, resulta do encarecimento constante do trigo, principal matéria-prima para o fabrico deste bem de luxo.
A cotação do trigo continua a subir nos mercados internacionais, num período em que convergem (i) o afrouxamento da oferta causada por más colheitas, (ii) medidas proteccionistas do consumo interno tomadas por alguns dos principais produtores – Rússia, Cazaquistão, Argentina – que resolveram agravar os impostos à exportação do cereal, e claro está, (iii) os incentivos à produção dos biocombustíveis, para combater o aquecimento global...
De acordo com informações da Associação dos Panificadores, uma tonelada de farinha de trigo que custava € 350 em 2006, custa actualmente à volta de € 450 e espera-se que em breve atinja € 500.
Em resultado desse encarecimento da matéria-prima, uma unidade de pão de 40 grs – vulgar “papo-seco” – que há 3 anos era vendido a 8 cêntimos, é actualmente vendida a 10 cêntimos e em breve terá de subir para 15/16 cêntimos, alegadamente para que “a industria possa sobreviver”.
Curiosamente fala-se sempre da sobrevivência da indústria – pouco relevando ao que parece a sobrevivência do consumidor...será que a indústria poderá sobreviver sem consumidores?
Em qualquer caso, volto a dizer que este cenário é preocupante apenas na aparência...para nós portugueses, é claro, que temos a garantia de que estas subidas dos preços de bens de primeira necessidade em nada poderão afectar a inflação em 2008, oficialmente e com grande firmeza cada vez mais colada/presa/acorrentada aos 2,1%...
E ainda poderemos ter o privilégio de assistir à transformação deste bem de primeira necessidade em bem de luxo, sendo-nos dada a faculdade de comprar “papos-secos” Armani, Versace, Moscchino, Yves Saint Laurent...A escolha é livre!
Que felizes somos!
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
A Grande Amiga
O telefone tocou à meia-noite menos um quarto...eu atendi, os números ainda não eram mostrados no visor dos telefones, estava longe de saber quem ligava àquela hora, tinha sido mais um dia como tantos outros habitualmente preenchidos, estava cansada, preparava-me para sair da sala e ir descansar.
Do outro lado da linha uma voz aflita: "menina, a Mãezinha está muito mal..."
"Como?"
"Não é possível, ainda há meia hora estivemos as duas a conversar ao telefone...até combinámos eu ir aí almoçar amanhã..."
"Menina, venha depressa..."
Não consegui que me dissesse mais nada.
Fui a correr, a guiar não sei como.
Cheguei.
A minha Mãe estava morta, sentada no sofá da sala...um enfarte fulminante.
Passei toda a noite na sala, a andar de um lado para o outro, a espreitar a rua pelas tabuinhas da janela, a aperceber-me, pela primeira vez, do "ritmo" daquela rua, da hora a que despejaram o lixo, do fim da carreira do autocarro, do vaguear dos noctívagos sós e dos bêbados no seu mundo, do silêncio que por fim e por completo adormeceu a rua, do meu silêncio...nasci naquela casa, vivi lá até aos 24 anos, nunca tinha dado por aquele silêncio, nunca tinha percebido como aquela rua adormecia e acordava, o retomar das carreiras de autocarros, o abrir da estação do Metro, a chegada dos jornais ao quiosque em frente (às 5h. da manhã!), a vendedeira das flores a montar a sua venda, o guarda-nocturno a dar por finda a sua tarefa, as esplanadas a montarem-se, os cafés a abrirem, a vida da rua, de novo aí, para um novo dia...um novo dia que eu não via, que eu não queria que acontecesse, só porque era o primeiro dia sem a minha grande Amiga.
Estava gelada, um gelo que não era de frio, um gelo que todos os anos sinto, neste dia...todos estes 12 consecutivos anos.
O segundo progenitor que parte deixa-nos a certeza de um irremediável corte umbelical com a geração anterior, põe-nos na linha da frente, deixa-nos num silêncio introspectivo, numa vontade frenética de agarrar o passado, numa irracionalidade que a consciência não vence, num registo confuso de sentimentos que a memória não apaga...
...embora saibamos que assim se cumpre a lei natural da Vida.
Enfarte do miocárdio. Cuidados com os homens da banca!
Agora, tudo aponta para a necessidade de acrescentar mais um à longa lista de factores de risco, fruto dos tempos. As crises bancárias! Nem mais.
Quem diria que um banco, quando entra em ruptura, pode aumentar os ataques cardíacos? Um estudo da Universidade de Cambridge revelou que se a crise do banco Northern Rock voltar a repetir-se é de esperar que ocorram milhares de ataques cardíacos.
O estudo assentou num historial de mais de quarenta anos, tendo os autores concluído que durante uma crise financeira os ataques aumentam na ordem dos 6,4%.
Trata-se de um estudo de epidemiologia social, cujos mecanismos ainda não estão perfeitamente esclarecidos, mas que apontam para a criação de situações stressantes devido à perda de confiança em estruturas que deviam ser impolutas, sérias e transparentes. Curiosamente, o fenómeno é mais preocupante nos países em desenvolvimento. Talvez, porque nestes países a “qualidade” dos responsáveis deixa muito a desejar. Mas nos outros países, caso do Reino Unido, a situação também atinge cifras preocupantes, tendo a crise do já referido banco sido “responsável” por cerca de 5.000 mortes por enfarte, sendo as pessoas de idade as mais vulneráveis, porque sentem que as suas economias, fruto de uma vida, estão em risco.
Não sei o que se passa em Portugal, por enquanto. De qualquer modo, a crise de uma instituição bancária de renome foi mais do que suficiente para levantar dúvidas sobre a idoneidade dos seus responsáveis e terá colocado em “alvoroço” as artérias de muitas pessoas. A estrutura bancária, talvez com medo de que pudesse prejudicar os “puros” corações de alguns dos seus ex-dirigentes acabou por os premiar com benesses de tal ordem que deverão estar, pelo menos em relação ao denominado “factor de risco cardiovascular bancário”, protegidos para meia dúzia de vidas, à vontade! Claro que em relação a milhões de portugueses este novo factor de risco cardiovascular, “crise bancária”, nem se coloca, porque são pobres, mesmo muito pobres, mas também não é por isso que deixam de morrer por doenças cardiovasculares devido à prevalência de outros factores. Mas neste caso a história é outra.
De qualquer modo aqui fica um alerta. Tenham cuidado com os homens da banca! Podem “matar” e de que maneira...
Arrefecer a engrenagem!...
Logo para começar, um investigador convidado, para mais catedrático, veio ensinar-me que essa noção de escola que aprova, reprova ou, mais modernamente, retém, está ultrapassada. Na escola moderna deve-se é falar de promoção. Os alunos têm que ser promovidos!... Foi a primeira lição: toma e vai-te deitar!...
Não explicou a que é que os alunos devem ser promovidos, mas não faz mal, eu também não entenderia facilmente…Mas parece-me uma tese suculenta e politicamente muito correcta. Vai ter seguidores.
Depois, uma outra alta autoridade ensinou-me que a escola moderna e democrática deve ensinar mal os carpinteiros e bem os doutores. Segundo a elaborada tese, as disciplinas têm que ser dadas de acordo com o futuro profissional de cada aluno, assim como a exigência do professor tem que se adequar a esse mesmo perfil. Se um aluno vai para carpinteiro, o inglês deve ser dado de uma maneira mais rasteirinha e a avaliação pouco exigente; mas se o aluno vai para doutor, aí outro galo cantará, quer no modo como se ensina, como na exigência. Foi a segunda lição.
Essa Autoridade também não explicou como é que se marca, à partida, o futuro profissional dos alunos, mas também não faz mal, eu julgo que não viria a compreender.
Por último, um professor ensinou-me que todos os alunos de matemática deviam passar, pelo menos com a nota 3, isto de acordo com as orientações do Ministério da Educação deixadas na escola através de um Inspector, enviado especial do dito Ministério. De forma a evidenciar o sucesso escolar!...
Considerei então que a minha cabeça já esquentava no esforço de compreender tanta sabedoria e fui-me deitar…não sem antes passar a cabeça por água, para arrefecer a engrenagem!...
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
Outra vez na cauda da Europa...
Esta pobre realidade está retratada num Relatório da Comissão Europeia hoje divulgado. Este retrato não apanhou de surpresa o País! Sentimos, percebemos, desconfiamos, suspeitamos, temos a certeza que por entre as famílias que nos rodeiam, nos bairros, nas vilas e nas cidades, há pobreza, ainda que, porventura, não contactando directamente com ela, ela está lá, silenciosa, envergonhada, discreta, disfarçada, escondida. Onde há pessoas, há crianças. Elas também estão lá.
Se os números e as estatísticas para alguma coisa servem é justamente para confirmarem o que muitas vezes aparentemente não se vê. O Instituto Nacional de Estatística tinha divulgado em Janeiro passado indicadores graves sobre o risco de pobreza e sobre a desigualdade dos rendimentos monetários aferidos ao ano de 2006: a população residente em situação de risco de pobreza era de 18% em 2006.
Este massacre de pobreza que rouba às crianças a possibilidade de serem crianças e condiciona o seu futuro como adultos é desesperante e deve ser motivo de tristeza.
Vivemos num País que não assegura os mais elementares direitos das crianças. Não podemos, ano após ano, constatarmos que não fomos capazes de atacar o problema e que os esforços para reduzir a pobreza infantil não foram suficientes. E, também, não devíamos, ano após ano, anunciar que foram tomadas todas as medidas necessárias para combater o fenómeno e que agora, sim, é que a situação vai melhorar.
Sejamos sérios e procuremos saber onde é que estão os erros cometidos e que medidas correctivas poderiam ser introduzidas nas actuais políticas de protecção social, num contexto de políticas fiscais sólidas, de modo a combater e a prevenir com maior eficácia a pobreza infantil. Discutamos estes assuntos com a mesma intensidade com que discutimos os “aeroportos” deste pobre País.
Ao escrever este pequeno texto, fui-me questionando sobre se alguém sabe, partindo do princípio que os nossos governantes e políticos sabem, quais são as medidas em vigor que incidem sobre as crianças mais desfavorecidas e sobre os resultados que se esperam em concreto atingir? Porque eu não sei, devo andar muito distraída!
Não é, certamente, Portugal…
E os resultados apresentados foram os seguintes:
- O investimento directo do estrangeiro em Portugal caiu de 5.9 mil milhões de euros em 2006 para 3.7 mil milhões em 2007 – uma queda de 37.2%;
- O investimento directo de Portugal no exterior subiu de 2.8 mil milhões de euros em 2006 para 5.2 mil milhões em 2007 – uma subida de 85.4%.
Quer dizer: os estrangeiros investiram muito menos em Portugal em 2007 do que em 2006; os portugueses investiram muito mais no exterior em 2007 do que em 2006.
Será esta a prova inequívoca da confiança dos investidores na nossa economia de que se gabava o Primeiro-Ministro na entrevista que concedeu à SIC faz hoje uma semana?... É que se os estrangeiros investem cá cada vez menos; e se os portugueses investem cada vez mais lá fora…
Não sei em que país vive o Engenheiro Sócrates, ou a que país se referia nessa entrevista – mas, em face desta desoladora realidade, só posso concluir que esse país não é, certamente, Portugal.
Entrevista do 4R a Santana-II: O Presente é o Futuro
-A minha intuição diz-me que sim. Sempre que não sigo a intuição, as coisas correm-me mal. Olhe o que aconteceu com o discurso da minha tomada de posse como 1º Ministro…
-De facto, a coisa aí correu mal. O que aconteceu?
-É que a minha grande virtude é a improvisação e na tomada de posse fiz tudo ao contrário.
-Como assim?
-Olhe, pedi ao Henrique Chaves para me fazer o discurso. Mas, como já andava de olho nele, depois dei-0 ao Rui Gomes da Silva, para o supervisionar. Ele introduziu mais umas folhas para explicitar melhor o meu pensamento. Na revisão final, incluí vários aditamentos para explicitar o pensamento do Gomes da Silva. Quando fui ler o discurso no Palácio da Ajuda, comecei a dar conta que tinha o dobro e nunca mais acabava. Logo que as pessoas começaram a desmaiar, e até eu ia tendo um chilique, tive que deitar o discurso fora e terminei a improvisar. Foi, aliás, a parte mais brilhante.
-Até porque foi a parte final…E então durante o seu governo continuou a improvisar ou pedia conselhos à Helena Lopes da Costa?
-Claro que improvisava, até nos conselhos. Sempre!…Aliás, o meu propósito no Governo não era ser 1º Ministro.
-Como assim?
-O meu propósito no Governo era substituir o Dr. Jorge Sampaio como Presidente da República…
-Então o Senhor era 1º Ministro para ser Presidente da República?
-Claro!... O Dr. Jorge Sampaio, manucumunado com o Cavaco é que não deixou e dissolveu-me. Sempre que ponho a cabeça de fora, começa o tiroteio...Se não fosse assim, eu era agora o Presidente!...
-Ah!...
-E se Cavaco faz agora os Roteiros, eu faço as Presidências Abertas…
-Bom, não estou a perceber!...Não disse que as Presidências Abertas eram para o catapultar para 1º Ministro?
-Claro!... Mas depois das eleições de 2009, virão as eleições para a Presidência. Não me estou a fazer entender?
-Percebi. Mas, se falhar, o que vai acontecer?
-Volto a fazer um Acordo Institucional com o líder do PSD, que até poderei ser eu mesmo, serei novamente o grande líder parlamentar, candidato a Primeiro-Ministro, à Câmara de Lisboa e a Presidente da República!...
-Boas e oportunas revelações. Muito obrigado pela entrevista, Dr. Santana Lopes!...
Ressurreição
Entrevista do 4R a Santana-I: O Presente
Como aconteceu com Sócrates, também o 4R obteve una entrevista exclusiva com PSL. Publica-se a 1ª parte.
-Depois de algum sedentarismo no Parlamento, o Senhor recomeçou a andar por aí: Presidências Abertas em Portalegre e C. Branco, reunião empresarial, em Braga, deslocação ao Oeste…
-Sempre disse que não gostava muito do Parlamento. Mas tendo que lá estar, tenho que arranjar algumas distracções…
-Mas tem que lá estar?
-Sim, porque a vida tem sido madrasta para comigo. Olhe o 1º Ministro Blair: tem a agenda cheia de conferências, a meio milhão de euros cada. A mim ninguém me convida…E o Clinton? E o Al-Gore? Ainda ganham mais!...Soares tem uma Fundação…Cavaco foi 1º Ministro e agora é Presidente. Guterres é Alto Comissário. E eu?
-Mas o Senhor tem dito que também é advogado. Não exerce?
-Mas então já viu algum 1º Ministro voltar a ser advogado? O antigo Chanceler Shroeder é consultor de uma empresa russa… A mim, nem uma empresa do Zimbabwe me convida…Mas há mais. Os clientes também não se convencem que eu sou advogado...
-Parece dramático, de facto..
-E é. Nem a Caixa Geral de Depósitos se lembrou de mim…
-Para a Administração?
-Não, pedia apenas para ser um simples Assessor, remunerado de acordo com o meu currículo de ex-1º Ministro. Só lhes custaria o ordenado e a secretária, pois nem teriam que me dar gabinete, para melhor me dedicar à política…Uma injustiça…
-Bom, assim compreende-se que tenha que estar no Parlamento, mesmo não gostando…
-Comparada com os Plenários da 24 de Julho, aquela casa é mesmo deprimente. Por isso, aceitei logo a escapatória das Presidências Abertas, oportuna sugestão do meu amigo Raul dos Santos. Mas essa é, apesar de tudo, a razão menor…
-Então qual é a razão maior?
-A razão maior e que quero voltar a ser outra vez 1º Ministro!...
-Mas não fez um Acordo Institucional com o Dr. LFMenezes, dividindo as águas? Ele é que é o candidato a 1º Ministro…
-Pois é, tudo na minha vida me puxa mais para longe do que para perto da vida política…mas não se podem fazer juras de não voltar…Por isso, tenho que estar preparado...Por outro lado, há dias passei os olhos por um livro de história e vi que os duunviratos terminam sempre com a morte de um deles…
-De modo que…
- E também passei os olhos por Maquiavel e aí vi que a melhor defesa é o ataque…
-Não estou certo de que tenha sido o Maquiavel…Mas está bem imaginado. Mas como é que vai utilizar as Presidências Abertas para ser 1º Ministro?
-Como o actual 1º Ministro vai quinzenalmente ao Parlamento, eu faço quinzenalmente Presidências Abertas para explicar aos militantes aquilo que não consegui dizer ao Sócrates. Foi até o Pedro Pinto que me inspirou para esta sagaz iniciativa…
-De facto, admirável. Mas o Dr. Luís Filipe Menezes não faz sempre uma Conferência de imprensa a seguir aos debates para dizer ao 1º Ministro o que o senhor se esqueceu de dizer, aproveitando também para explicitar qual era o verdadeiro sentido do seu pensamento?
-Pois faz, mas nunca consegue. O meu pensamento é muito denso e nada fácil de interpretar…
domingo, 24 de fevereiro de 2008
As leis e os filhos
Disse António Costa que as leis são como os filhos, ganham vida própria. É uma comparação curiosa.
O que me parece é que estamos demasiado habituados a fazer leis que, em princípio, não chegam a cumprir-se ou a ser aplicadas e por isso ficamos muito admirados quando acontece levar-se a sério o que ficou escrito.
Um dos grandes problemas da nossa democracia é a ligeireza com que se fazem, desfazem, corrigem e criticam as leis, que adquirem uma “plasticidade” que raia o absurdo. Legitima-se, desde tempos remotos, as mil e uma estratégias para lhes deturpar o sentido, como se elas já tivessem nascido tortas ou intoleráveis e convive-se bem com isso, do mesmo modo que se convive bem com leis drásticas, ditas exemplares, que não são mais que respostas mal humoradas à certeza de que ninguém vai cumprir coisa nenhuma. E depois, um belo dia, lá calha que a lei é aplicada, levada a sério, e aí vem à luz do dia o seu exagero, a sua injustiça, ou a sua inaplicabilidade. As leis não “ganham vida própria”, o problema está em não se ter previsto que vida se queria para elas, que obstáculos iriam encontrar e se eram ou não devidamente adaptadas para os enfrentar ou resolver. As leis não são, ou não deviam ser, barcos à deriva, velas largadas ao sabor dos ventos.
Nesse ponto, de facto, são um pouco como os filhos, não basta arranjá-los muito arranjadinhos, alimentá-los e deixá-los sair para a rua. É preciso calcular os riscos que correm, as probabilidades de terem êxito, os perigos que vão enfrentar, educá-los para serem um elemento positivo da sociedade, alguém que contribua para a tornar melhor vencendo as dificuldades sem atropelar ninguém nem deixar que a atropelem.
É difícil fazer leis que sigam o caminho que lhes estava previsto se não se perdeu tempo a preparar ou a avaliar esse caminho, ou a prever-lhe as consequências. Uma lei não é uma abstracção, em suma, uma teoria.
Nisso, de facto, são parecidas com os filhos, se lhes ditarmos regras sem contar com a reacção, é mais que certo que nos dêem problemas…
sábado, 23 de fevereiro de 2008
Estão bem uns para os outros!...
Passados 6 meses, a Câmara ainda não conseguiu os meios para pagar aos fornecedores, nem se sabe quando o conseguirá.
As dificuldades burocráticas e legais não podem ser desculpa, pois o próprio António Costa conhecia a lei como ninguém, por ter sido o seu principal progenitor. Como tal, para ser eficaz, o mínimo exigível seria actuar estritamente no quadro legislativo vigente.
O quadro legal limita o campo de actuação de todos, em geral, e não serve de desculpa para qualquer gestor, em particular. Os gestores competentes distinguem-se dos outros precisamente por atingir os objectivos, no quadro legal em que se inserem.
Tendo falhado o seu objectivo de pagar rapidamente as dívidas aos fornecedores, a Câmara de Lisboa não foi competente.
Não vale desculpar-se com o Tribunal de Contas.
Mas o paradoxo maior é que os credores, em vez de responsabilizarem a Câmara, responsabilizam o Tribunal de Contas. Não só não recebem, como desculpam o culpado, e culpam quem não devem. E, na acção, não faltou a natural solidariedade do culpado!...Cómico, não?
“À beira de uma crise social de contornos difíceis de prever”
A Sedes é provavelmente a associação cívica mais prestigiada entre nós, reunindo no seu seio um grupo de ilustres cidadãos que são certamente dos que melhor pensam em torno dos problemas da actuais da nossa sociedade e dos sistemas político e de governo que a incorporam.
No período ante-25/IV, a Sedes notabilizou-se pelas tertúlias que organizou e das quais saíram importantes contributos para o diagnóstico da acentuada decadência do sistema de governo que então vigorava.
A Sedes construiu uma reputação de barómetro dos acontecimentos políticos e sociais da sociedade portuguesa, mostrando-se capaz de prever, com grande sagacidade, mudanças sociais.
Sem embargo do que antecede, a análise ontem divulgada suscita-me duas reservas fundamentais:
- A primeira, quanto ao diagnóstico em si mesmo. Diz a Sedes que nos encontramos “à beira de uma crise social”. Pela minha parte, considero que nos encontramos “em plena crise” e não “à beira” de uma crise.
Os próprios sintomas destacados na análise da Sedes – (i) “mal estar difuso que mina a confiança essencial à coesão nacional”, (ii) “degradação da confiança, a espiral descendente em que o regime parece ter mergulhado”, (iii) “degradação da confiança dos cidadãos nos representantes partidários”, (iv) “tentacular expansão da influência partidária”, (v) “presença asfixiante do Estado sobre toda a sociedade”, (vi) “combinação de alguma comunicação social sensacionalista com uma justiça ineficaz”, etc, etc – são, tanto quanto percebo, provas claras da existência, hoje que não amanhã, de uma séria crise social e política.
- A segunda quanto ao estilo apocalíptico da premonição “emergirá, mais cedo ou mais tarde, uma crise social de contornos difíceis de prever”.
Este tipo de premonições é muito típico dos nossos analistas político/sociais, desde os mais vulgares aos mais brilhantes como é manifestamente o caso dos autores do documento da Sedes.
Não partilho esta visão apocalíptica no caso vertente.
Parece-me que o diagnóstico da Sedes está correcto, no essencial, com a primeira ressalva acima feita, mas não vejo que a próxima etapa seja o apocalipse social.
Inclino-me a pensar que a situação continuará (infelizmente) a degradar-se por mais alguns anos, sem por em causa o regime e o sistema de governo, no essencial – democracia política, de base parlamentar – embora admita que possam ocorrer em futuro não muito distante modificações orgânicas para reforço dos poderes presidenciais e também para um papel mais visível de alinhamentos sociais não partidários.
Não assistimos a uma sinal dessa mudança na famosa e recente controvérsia em torno da localização do novo Aeroporto, em que o Presidente e organizações sociais não-partidárias tiveram papel muit(íssim)o mais relevante do que o dos Partidos?
Quanto à tal “crise social de contornos difíceis de prever”, parece-me que, como acima disse, essa crise já existe e os seus contornos não só não são difíceis de prever como foram muito bem analisados e identificados pela Sedes…
Chamar as coisas pelos nomes...
A SEDES faz um diagnóstico corajoso que deixa antever uma sociedade de braços caídos, deprimida, desmotivada, sem esperança, descrente sobre a melhoria do País e sobre a possibilidade de alcançar uma vida melhor. Um cenário que se tem vindo a agravar e que os portugueses teimam em não inverter. O País apresenta-se preocupante!
Aqui deixo algumas passagens de grande clarividência:
“Ao nível político, tem-se acentuado a degradação da confiança dos cidadãos nos representantes partidários, praticamente generalizada a todo o espectro político. (...)
É uma situação preocupante para quem acredita que a democracia representativa é o regime que melhor assegura o bem comum de sociedades desenvolvidas. O seu eventual fracasso, com o estreitamento do papel da mediação partidária, criará um vácuo propício ao acirrar das emoções mais primárias em detrimento da razão e à consequente emergência de derivas populistas, caciquistas, personalistas, etc. (...)
É por isso preocupante ver o afunilamento da qualidade dos partidos, seja pela dificuldade em atrair e reter os cidadãos mais qualificados, seja por critérios de selecção, cada vez mais favoráveis à gestão de interesses do que à promoção da qualidade cívica. E é também preocupante assistir à tentacular expansão da influência partidária – quer na ocupação do Estado, quer na articulação com interesses da economia privada – muito para além do que deve ser o seu espaço natural. (...)
Estas tendências são factores de empobrecimento do regime político e da qualidade da vida cívica. O que, em última instância, não deixará de se reflectir na qualidade de vida dos portugueses. (...)
Outro factor de degradação da qualidade da vida política é o resultado da combinação de alguma comunicação social sensacionalista com uma justiça ineficaz. E a sensação de que a justiça também funciona por vezes subordinada a agendas políticas. (...)
Com ou sem intencionalidade, essa combinação alimenta um estado de suspeição generalizada sobre a classe política, sem contudo conduzir a quaisquer condenações relevantes. É o pior dos mundos: sendo fácil e impune lançar suspeitas infundadas, muitas pessoas sérias e competentes afastam-se da política, empobrecendo-a; a banalização da suspeita e a incapacidade de condenar os culpados (e ilibar inocentes) favorece os mal-intencionados, diluídos na confusão. Resulta a desacreditação do sistema político e a adversa e perversa selecção dos seus agentes. (...)
Por seu lado, o Estado tem uma presença asfixiante sobre toda a sociedade, a ponto de não ser exagero considerar que é cada vez mais estreito o espaço deixado verdadeiramente livre para a iniciativa privada. Além disso, demite-se muitas vezes do seu dever de isenta regulação, para desenvolver duvidosas articulações com interesses privados, que deixam em muitos um perigoso rasto de desconfiança. (...)
Num ambiente de relativismo moral, é frequentemente promovida a confusão entre o que a lei não proíbe explicitamente e o que é eticamente aceitável, tentando tornar a lei no único regulador aceitável dos comportamentos sociais. Esquece-se, deliberadamente, que uma tal acepção enredaria a sociedade numa burocratizante teia legislativa e num palco de permanente litigância judicial, que acabaria por coarctar seriamente a sua funcionalidade. Não será, pois, por acaso que é precisamente na penumbra do que a lei não prevê explicitamente que proliferam comportamentos contrários ao interesse da sociedade e ao bem comum. E que é justamente nessa penumbra sem valores que medra a corrupção, um cancro que corrói a sociedade e que a justiça não alcança. (...)
A regeneração é necessária e tem de começar nos próprios partidos políticos, fulcro de um regime democrático representativo. Abrir-se à sociedade, promover princípios éticos de decência na vida política e na sociedade em geral, desenvolver processos de selecção que permitam atrair competências e afastar oportunismos, são parte essencial da necessária regeneração. “
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
O record mundial da inflação!...
Tal significa que num ano os preços foram multiplicados por mil!...
Um jornal local diz que a economia vai estar no centro do debate eleitoral de para as Legislativas e Presidenciais de 29 de Março.
Economia? Eleições?
Uns optimistas, os redactores do jornal!...
Associo-me à festa!...
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Oh Costa!...Tem dó de mim!...
O Tribunal de Contas inviabilizou o empréstimo da Câmara de Lisboa, com base nas disposições da Lei das Finanças Locais, feita em nome do rigor da gestão, e de que António Costa foi o primeiro responsável.
Então não é que o DN de hoje (pág. 20, ao fundo, a 3 colunas) conta que António Costa, sustentando-se num parecer jurídico de Vital Moreira, defendeu junto do Tribunal de Contas a inconstitucionalidade das disposições que impedem o empréstimo nos moldes em que foi proposto?
Lei constitucionalíssima para António Costa, ministro; lei inconstitucional para António Costa, autarca!...
Por esta é que eu não esperava!...Tenham dó de mim!...
Os pontos nos iis sobre o emprego!...
A população desempregada era de 427,8 milhares em 2006 e de 448,6 milhares de pessoas, em 2007. O desemprego aumentou 20.800 pessoas, cerca 4,9%.
A taxa de desemprego define o peso da população desempregada sobre o total da população activa. Face aos números apresentados, a taxa de desemprego passou de 7,7% em 2006 para 8% em 2007.
Por seu lado, a taxa de emprego, que define a relação entre a população empregada e a população em idade activa (com 15 anos ou mais de idade), diminuiu de 57,7% em 2006 para 57,6%, em 2007.
Até aqui, não tem Sócrates de se vangloriar de nada, ao contrário do que fez.
Passando a análise do ano para o último período trimestral homólogo, 4º trimestre de 2007, versus 4º trimestre de 2006, a população activa aumentou 26,3 milhares, 0,5%, a população desempregada diminuiu 19,1 milhares, e a população empregada aumentou 45,4 milhares, 0,9%. Foram nestes números que Sócrates e o Governo abusivamente se propagandearam.
Acontece que as estatísticas não podem ser interpretadas tão simplisticamente como o Governo o faz, ignorando totalmente outros dados essenciais, como os valores médios de 2007 e a evolução mais próxima, a do último trimestre desse ano.
Com efeito, se compararmos o 4º trimestre de 2007 com o 3º trimestre desse mesmo ano, verifica-se que a população activa diminuiu 17.000 pessoas, -0,3%, a população empregada diminuiu 11.800 pessoas, -0,2%, e houve um aumento de 4.500 pessoas desempregadas, equivalente a -1,1%.
Deste conjunto de elementos, conclui-se que só comparando os últimos trimestres homólogos se verificou uma ligeira melhoria, situação que deve ser enquadrada por um agravamento da situação no decorrer de 2007 e no último trimestre do ano. Acontece que a taxa de variação anual é menos sensível do que as taxas trimestrais ou as homólogas a alterações esporádicas ou de sazonalidade, é o próprio INE que adverte do facto.
Por isso, um Governo responsável nunca seria tão demagogicamente primário, ao ponto de chegar a ver progresso na situação do emprego, quando se atingiu a maior taxa de desemprego de sempre. O governo não sabe ler os números.
Coleccionando
No entanto, é hábito antigo na minha família trazer-se uma pequena lembrança das viagens, possivelmente porque fazer uma viagem era, em tempos não muito longínquos, um grande acontecimento e os que ficavam a dizer adeus gostavam de ter uma prova palpável de que a aventura do longe da vista não tinha significado longe do coração.
É claro que os “não-me-esqueci-de-ti”, assim lhes chamava a minha avó, e assim ficaram, eram guardados, não pelo seu valor material, mas pelo inestimável preço de serem a confirmação de um pensamento dedicado, apesar dos estímulos ao esquecimento ou à distracção. E assim, porque estes bons hábitos resistiram às gerações e se propagaram também ao círculo de amigos, o facto é que tenho uma grande colecção de pequenos objectos que me foram trazendo de todos os destinos e, como qualquer coleccionar que se preze, sei dizer quem mo trouxe, quando e de onde, mesmo quando teimam em baralhar por completo a ordem pela qual os alinho.
Se venho aqui com esta conversa toda hoje, é porque fui muito agradavelmente surpreendida, por alguém que não sabia desta “tradição”, com duas lindas peças novas para a minha colecção, que assim se vê renovada nos objectos e confirmada no seu simbolismo.
Um é uma linda pedra branca apanhada nas margens do Rio Jordão, onde S. João Baptista lavou a alma, e outro um Comboloi, como lhe chamam na Grécia, ou uma Masbaha, como é conhecido no Oriente. Este último é uma espécie de terço, criado há milénios por mestres orientais e que muito me intrigou quando, há muitos anos, vi um arménio com um destes colares na mão, sempre a fazer girar as continhas. É usado para meditação ou simplesmente para ficar entretido a fazê-lo rodar entre os dedos, dizem que tira o stress e acumula energias positivas, estou a pensar que poderá ser muito eficaz para deixar de fumar, nunca se sabe o que um gesto amigo pode conseguir…
Afinal, sou uma coleccionadora muito privilegiada, não procuro, não escolho, apenas guardo e relembro estes gestos amigos que tenho a sorte de poder encontrar ao longo da vida.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
Explicações ambientalistas oportunistas!...
Os mesmos testemunhos também asseveram que, “mesmo assim, os valores são cerca de metade dos registados nas cheias em 1967".
Julgo que há uma enorme contradição nos termos.
Se as grandes chuvadas de domingo à noite se explicam pelo aquecimento global, e choveu menos de metade do que há 40 anos, cá a mim parece-me é que o pior já passou, e já estamos no meio de um fortíssimo arrefecimento global!...
Obama na frente, Clinton em "desespero"
A vantagem de Obama sobre Clinton cifra-se já em mais de 200 delegados, e só se o resultado no próximo dia 5 for muito favorável a Clinton, é que a corrida não ficará decidida aí.
Entretanto a campanha de Clinton entrou em turbulência, com substituição dos mais importantes responsáveis e com ataques pessoais de grande violência contra Obama.
O último destes ataques consiste na acusação de que Obama, num discurso recente de campanha, ter plagiado expressões utilizadas há dois anos por Deval Patrick, governador do Massachussets.
Obama esclareceu que se encontra muitas vezes com Patrick, de quem é amigo, sendo muito natural que utilize as expressões deste, sem que tenha de lhe pedir licença.
E ripostou, lembrando que a própria campanha de Clinton passou a usar expressões que ele, Obama, tinha criado na sua campanha – e que ele nem se queixou por isso.
Temos assim que Clinton, a super favorita à partida está em perda, e que Obama tem o caminho quase aberto para a nomeação.
Os episódios recentes mostram todavia que os Clinton, que se consideram titulares de um direito quase natural a ocupar a Casa Branca, não irão render-se facilmente e irão resistir utilizando todos os processos para tentar travar a onda Obama...
Quem merece parabéns é, mais uma vez recordo, António Sampaio e Mello, assessor de Obama para assuntos económicos.
E não só por isso, também pelo magnífico artigo de opinião publicado no jornal Público em 27 de Janeiro passado, em que com grande frontalidade analisa a história recente do BCP e em especial o “brilhante” papel nela desempenhado pelo BP.
Informação económica: intérprete precisa-se
PIB cresce 2% no 4.º Trimestre
“A expansão da economia nacional acelerou nos 3 últimos meses do ano passado, a reflectir o maior DINAMISMO DAS EXPORTAÇÕES.
No entanto, foi verificado uma continuação do ABRANDAMENTO DAS EXPORTAÇÕES”.
Depois da famosa invenção da fórmula que permite uma subida da inflação inferior à dos preços, temos agora esta não menos notável descoberta da aceleração da economia graças às exportações, apesar destas registarem um continuado abrandamento.
Por este andar, para decifrarmos as notícias económicas, será indispensável o apoio de um intérprete.
A recrutar, provavelmente, junto duma das agências de comunicação mais conhecidas...
Treinador de bancada!...
“Os filhos e os netos vão pagar as favas”...
Este aspecto é muito importante, porque levanta problemas de “ética transgeracional”. Deste modo, as afirmações do tipo “faço o que me apetece porque o corpo é meu” ou “ninguém tem a ver com o meu comportamento” não são tão lineares como parece. Será legítimo “obrigar” os descendentes a sofrerem devido aos nossos comportamentos? Se tivermos consciência deste fenómeno, não!
Um novo estudo, da Universidade de Idaho, alerta para o facto da exposição às toxinas ambientais provocarem defeitos nos espermatozóides os quais são passados às futuras gerações.
Beber e fumar, “exageradamente”, por exemplo, acabam por prejudicar os descendentes, filhos, netos e até bisnetos! A par destes tipos de excessos, relacionados com o comportamento, outros, nomeadamente a exposição a pesticidas, assim como a outros produtos poluentes, podem ter efeitos negativos nas futuras gerações.
Os espermatozóides são muito sensíveis e por esta razão o papel dos pais na saúde dos seus descendentes é muito maior do que se pensava.
Argumentos de peso para “contrariar” certas atitudes ou afirmações. A vida é considerada um continuum exigindo solidariedade que não se esgota no presente. É preciso projectá-la no futuro, começando pelos nossos próprios descendentes...
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
Costa, vítima de Costa
Impostos: até quando a saga da “irresponsabilidade”?!...
Pois. Percebo. É quando a economia estiver a crescer a 3% ou mais, que devemos ajudá-la com o estímulo fiscal… José Sócrates e o Governo estão, pois, a reinventar a Teoria Económica. Agora, que estamos (aliás, continuamos) em dificuldades, para quê a ajuda fiscal?!...
Nem com um défice que, em 2007, se terá situado bem abaixo dos fatídicos 3% (deve ter ficado em redor de 2.5%...), o Governo muda o discurso da irresponsabilidade…
Lá chegará a altura. Quem quer apostar que, no OE’2009, pelo menos o IVA será diminuído?... Mas pelas piores razões: eleições no próximo ano…
Até lá, o discurso será este. A economia precisa de ajuda? Oh, não precisa nada. Nem está afogada em impostos… Tomara que um dia, ao acordarmos, e dermos de caras com um défice bem baixinho, ao olharmos para o outro lado, reparamos que… já não existe economia…
E ninguém repara que isso é que é uma tremenda irresponsabilidade?!...
Comunicado do Gabinete do 1º Ministro
A diminuição de 1 desempregado verificou-se na população dos 15 aos 24 anos, o que traduz o bom resultado das medidas a favor dos jovens e o êxito do Programa Novas Oportunidades.
A Presidência do Conselho de Ministros e o Ministério do Trabalho congratulam-se com o facto e têm fundadas expectativas que, ao fim do dia, haja menos 1,2 desempregados em relação ao dia homólogo do ano anterior, correspondentes a 0,8 homens e 0,4 mulheres, de forma a cumprir plenamente a lei da paridade, que em Portugal, e conforme Lei da Assembleia da República, é de um terço".
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
Stôres
Obesidade...
Tentar explicar a obesidade com base no excesso de ingestão calórica e/ou na insuficiência no gasto energético começa a ser questionado. É certo que, segundo a primeira lei da termodinâmica, a energia não é criada nem destruída. Ou seja, as calorias que enfiamos deverão ser armazenadas, gastas ou excretadas. Sendo assim, se ficarmos mais gordinhos é porque estamos a ingerir mais do que gastamos, logo, estamos a comer demais. Aqui começam os tormentos, transferindo o ónus para o pretenso “comilão” que se vê, nalguns casos, vítima de juízos morais.
Esta noção estabelecida há muitas décadas, “ingerir demasiado e queimar pouco” é uma atitude reducionista que poucos se atrevem a por em causa. Podem ser acusados de heresia científica! Claro que se obrigarmos um obeso a passar fome, que remédio tem ele se não emagrecer. Querem melhor evidência? Dirão alguns. Mas também podem fazer outra demonstração do género obrigar um desgraçado a fazer exercício, fechando-lhe depois a boquita. Estão a ver que perdeu peso? Dirão os mesmos. Quanto à utilização das técnicas para “expulsar” as gorduras, “acelerar” o metabolismo, tirar o apetite, diminuir o “bandulho” ou curto-circuitar o tubo digestivo, nem quero falar, mas constituem para os defensores das explicações clássicas demonstrações evidentes de que têm razão.
O que é certo é que muitos obesos fazem exercício e dieta e ficam praticamente na mesma. São tantos e tantos nestas circunstâncias que valerá a pena perguntar: - Então como é? Os sucessos são tão fracos e muitos dos que conseguem emagrecer, passados menos de dois anos voltam ao mesmo! Será que deveremos continuar nestas linhas tradicionais de explicação?
A epidemia de obesidade é uma realidade inquestionável, em grande parte associada a outra doença bastante grave que é a diabetes.
Há muitas décadas, mesmo antes da Segunda Guerra Mundial, cientistas do centro da Europa consideravam que a obesidade era devida a transtornos hormonais e genéticos. Um dos argumentos aduzidos tinha a ver com o crescimento rápido das crianças que as levam a comer que nem uns desalmados. Não é por comerem muito que começam a crescer, mas sim o oposto. É fácil de compreender que um individuo obeso tem necessidade de comer mais para alimentar o corpito mais cheio!
Começam a surgir evidências científicas de que a epidemia de obesidade está relacionada com fenómenos hormonais em que os hidratos de carbono refinados deverão jogar um papel muito importante. Como? Ao provocarem um aumento da secreção de insulina que regula o armazenamento da gordura. Quando esta hormona aumenta ocorre o depósito de gordura. Se baixar a produção de insulina, então a gordura é libertada dos depósitos. Mas como a nutrição já se transformou numa religião, com sacerdotes, sacerdotisas, bispos, templos, rituais e muitos negócios à mistura, dificilmente iremos assistir a uma mudança de opinião, porque se não ainda pode ocorrer algum “colapso” da economia. Na prática, a simples redução de hidratos de carbono de absorção rápida poderia resolver grande parte deste problema, não descurando o que é racional em termos de ingestão calórica e de gastos energéticos, como é óbvio. O pior é que as fontes destes tipos de nutrientes são abundantes e publicitados ad nauseam.
É tempo de refazer um novo paradigma...
Um País a meter água...
Se chove é porque teria sido melhor que não chovesse! Para quê tanta água? Alguém que nos acuda!
Pois é, há alguma coisa melhor para descrever quem somos? As queixas são sempre as mesmas, o mesmo horror, os mesmos protestos inflamados, as mesmas lamúrias, os mesmos problemas, as mesmas fatalidades, as mesmas angústias, os mesmos prejuízos, o mesmo inferno… Depois vem a mesma inércia, o pior já passou, para a próxima logo se vê, cá estaremos porque não há-de ser nada…
Bastou uma noite de chuva intensa para o País ficar em estado de sítio. Rios imensos de água atravessando as cidades e arrastando tudo à sua frente, inundações por todos os lados, ruas intransitáveis e cortadas, habitações e comércio danificados, deslizamento de terras, derrubamento de árvores, quedas de cabos e linhas eléctricas, bens perdidos, sirenes num rodopio imparável, milhares de pedidos de socorro, bombeiros sem mãos a medir. Mas o mais importante e intolerável é a perda de vidas humanas.
E as culpas de quem é a culpa desta desgraça não tardaram. A culpa é do governo, não a culpa é das autarquias, não a culpa é da protecção civil, não a culpa é das pessoas e de mais outras entidades se existissem. A culpa é da falta de ordenamento do território, não a culpa é da falta de conservação e manutenção das infra-estruturas, não a culpa é da falta de limpeza das sarjetas, não a culpa é mesmo da chuva. Um jogo inacreditável. Enfim, o que já vem sendo habitual.
Que as cidades têm maus e inadequados escoamentos de água, situação que já vem de longe, já todos sabemos! São erros do passado mas que podem e devem ser corrigidos. Pelos vistos ninguém se entende. E se assim continuarmos, não nos continuemos a queixar! Certo mesmo é que as populações é que sofrem, é o País que se vai destruindo...
Sobre os males congénitos de um País com pouca saúde - I
- A insistente tendência para definir o ciclo das obras em razão do ciclo eleitoral, com a inerente execução de trabalhos à pressa ou o pagamento dos sobrecustos de recuperação de atrasos ou da antecipação do termo normal das empreitadas;
- A frequência com que, nos concursos públicos, se identifica "proposta economicamente mais vantajosa", com proposta de mais baixo custo, fruto de uma incapacidade de as comissões de avaliação das propostas perceberem que as mais das vezes o barato sai caro;
- A opção pelas empreitadas por série de preços em detrimento de opção que exige mais rigor na definição e pormenorização do projecto, como deveria ser o caso das empreitadas por preço global; ou mesmo o abandono da modalidade mais transparente de formação de preço das empreitadas, a chamada empreitada á percentagem que exige que á partida se conheça qual o preço-oferta dos factores a incorporar e aquilo que ao preço o proponente adiciona e que constitui a margem de lucro e a remuneração pela administração da obra;
- A incomodidade que provoca a muitos decidores o princípio da publicidade, coevo da transparência e da concorrência, traduzida na preferência pelo ajuste directo ou pela negociação simulada, que torna o dono da obra refém de uma só proposta e de um só prestador e lhe diminui a autoridade para impôr a equação honesta do contrato;
- O aviltamento frequente de preços com o propósito de vencer por qualquer meio concursos públicos;
- Os cambões nos concursos e a falta de escrúpulos de algumas empresas e empresários;
- A falta de preparação de muitos serviços públicos para desempenhar com competência as funções de fiscalização das obras que lançam;
- A promiscuidade entre as fiscalizações - incluindo as externas, contratadas - e as empresas executoras dos trabalhos, ou então a falta de autoridade daquelas perante a maior sageza ou preparação dos corpos técnicos das grandes empresas de construção;
- A ausência de verificação por parte do dono da obra sobre se a declaração que o empreiteiro faz de que detém os meios materiais e humanos para execução dos trabalhos a que se candidata corresponde à realidade do arranque da obra ou a uma perspectiva que nem sempre se confirma;
- A falta de controlo no planeamento inicial das obras, mas sobretudo a aceitação cega das alterações e adaptações permamentes dos planos de trabalho em plena pendência de execução;
- A inexistência de comissões arbitrais permanentes que apreciem e julguem os litígios surgidos no decurso da obra de modo a impedir a paralisação (consentida pela lei) quando ocorrem indefinições ou imprevistos;
- A dificuldade de distinguir o conceito de "trabalhos a mais" de "erros e omissões", dificuldade que é impeditiva de que operem os limites legalmente estipulados para o incremento de custos;
- A incompetência, patente em tantos e tantos casos com os quais tive contacto, na negociação e sobretudo na gestão dos contratos de obras públicas.
Poderia desfiar mais dez ou vinte factores responsáveis pelos decantados desvios nas obras púbicas. Não é possível fazê-lo aqui sem correr o risco de simplificar demasiado ou generalizar injustamente. O que me importa é contrariar o tom com que tenho visto tratada esta matéria. Um tom de escândalo conformista. Lamenta-se, por um lado, que o País seja onerado com biliões de euros de sobrecustos nas obras do Estado e de outras entidades públicas, responsáveis por um intolerável esbulho do contribuinte. Mas ao mesmo tempo encolhem-se os ombros, naquela atitude de quem diz que sempre assim foi e sempre assim será.
Não tem, porém, de ser assim. E para cada uma das razões acima apontadas, e todas as outras que não elenquei, existe um remédio, na maior parte das vezes nada dificil de conceber, ainda que para o ministrar seja necessário alguma prévia e depuradora sangria...
Vem o novo Código resolver o problema? É cedo para adiantar uma resposta. Para já, não alinho com aqueles que vaticinam que a maior complexidade da lei (que é um facto indesmentível) conduzirá a um agravamento da conflitualidade contratual com o inevitável prejuizo financeiro ou para o dono da obra ou para a empresa contratada para a executar.
O tempo dirá se as boas intenções que justificam algumas das soluções alegadamente inovatórias, terão correspondência com a realidade. Seja como for, continuo hoje, com o novo Código à frente, a pensar o que pensava á luz de uma grande lei, o velhinho Decreto-lei nº 48871 de 1969. Isto é, que o rigor que se exige só depende da escolha de gestores da coisa pública rigorosos.
Entrevista de Sócrates ao 4R-Parte 2: O Futuro
-Sem dúvida! Eu próprio sou um exemplo feliz de ter aproveitado a oportunidade de uma Universidade que ia fechar para me licenciar. Uma oportunidade única. Agora já não seria possível. Por isso criei as Novas Oportunidades!…
-As Novas Oportunidades também vão dar licenciaturas rápidas?
-Com certeza. Não descansarei, enquanto todos não forem licenciados como eu!...
-Haverá alterações na política de saúde?
-Não. Faremos é de forma diferente. Correia de Campos quis atingir os objectivos do Governo antes do tempo previsto.
-Mas quais eram esses objectivos?
-Naturalmente os de concentrar todas as maternidades numa mega Maternidade em Sines e todas as urgências numa mega Urgência na Ota, substituindo o aeroporto. É um propósito de que não abdicamos!…
-Então, mas uma parturiente de Vinhais tem que ir para Sines?
-Sim, e vemos também aí um incentivo à maternidade, propiciando às parturientes uma viagem a Sines. É uma cidade bonita.
-E quanto à política de educação?
-O Governo não desiste de levar para a frente a sua política de educação. É ponto assente.
-Mas qual é a política?
-Reprovar todos os professores e fazer passar todos os alunos. A segunda parte está conseguida. Quanto à primeira, estamos quase a conseguir, agora com a avaliação dos professores!...
-De facto, simplex, Senhor 1º Ministro!...Para terminar. O desemprego tem vindo a subir e atingimos o recorde em 2007, com uma taxa de 8%.
-Não é verdade. Nalguns dias o desemprego tem diminuído e o emprego crescido. O INE vai ter que comparar dias homólogos, em vez de trimestres ou anos. Por exemplo, ontem, dia 16 de Fevereiro, houve menos um desempregado do que no dia homólogo do ano anterior. É facto indesmentível!...
-Mas de 1 a 150.000 novos empregos vai uma grande diferença!...
-Mas vamos conseguir. O Governo é dinâmico e está a tomar medidas para fazer crescer as economias europeias. É a forma de criar emprego em Portugal.
-Muito obrigado, Sr. 1º Ministro!...
domingo, 17 de fevereiro de 2008
Entrevista de Sócrates ao 4R-Parte 1: O Passado
Dividimo-la em duas partes: o passado e o futuro. Como é natural, apresentamos primeiramente a parte referente ao passado.
-Sr. 1º Ministro, desde que foi eleito, já teve duas derrotas eleitorais, mas mantém-se à frente nas sondagens. Como explica?
-Duas derrotas? Que derrotas?
-Olhe, as Presidenciais. Escolheu M. Soares para Presidente e perdeu!...
-Não! Quem perdeu foi Soares; eu e o PS ganhámos um grande sossego. Repare que até tive que me lesionar no esqui, para não estar na campanha...
-Bom, mas perdeu as Autárquicas e candidatou João Soares a Sintra e tornou a perder...
-Não! Depois de ter perdido Lisboa e Sintra, de mais a mais contra o Seara, J. Soares deu o berro e já não chateia. Como vê, ganhei!...
-Mas Carrilho perdeu Lisboa...
-Não! Aí foi uma dupla vitória. Neutralizei Carrilho, que andava alvoroçado em candidatar-se e com pio a mais, e agora até consegui lá pôr o Costa, que andava a levantar a garimpa e já me enfastiava no Governo. Ele agora tem com que se entreter e eu fiquei à vontade!..
-Bom, então tudo premeditado... Mas os problemas com Alegre também estavam previstos?
-Completamente! Alegre vai entretendo o PS. Eles lá vão falando do socialismo e debatendo à esquerda, e eu fico livre para fazer o que me dá na gana. No fim, vêm sempre comer à mão!...
-Então também meteu o socialismo na gaveta?
-Que ideia! Nunca faria como Soares!...(Olhe, até lhe digo, mas estritamente off the record, que nem sei bem o que é isso de socialismo…).
-Confirma ter sido o responsável exclusivo pelos projectos da Guarda?
-Ah, nem sabe o que me custou!... Aqueles mamarrachos envergonham qualquer sujeito. Apesar de tudo, os trabalhos que assinei nem diferem assim tanto dos do Siza!... Mas não tinha por onde escolher. Até porque, se não fosse assim, teria à perna os desenhadores da Guarda. Nenhum deles se revê no que fez!...Sacrifiquei a estética e mantive a ética!...
Diz-me o que lês, ...
É uma das mais lidas e mais influentes obras de Guizot no liberalismo europeu do século XIX. Redigida sobre as suas lições na Faculdade de Letras de Paris em 1828, 1829 e 1830, foram livro de cabeceira da intelectualidade europeia de oitocentos e fonte de inspiração para homens como, entre nós, Alexandre Herculano. Ousar falar de uma civilização europeia e a partir da sua história encontrar um sentido para a compreensão do seu lugar no mundo foi, para a época, como que um grito ouvido do Atlântico aos Urais, quando os estados europeus já fervilhavam de nacionalismos e de revoluções e a industrialização ganhava uma expressão tão generalizada que o idealismo da paz, da ordem e do progresso, não poderia ser mais que uma utopia. Hoje, com a declaração de independência do Kosovo, a leitura de Guizot e da sua Histoire Générale de la Civilisation en Europe, depuis la chute de l' Empire Romain jusqu'a la Revolution Française, poderá ser tanto uma atitude de refúgio, quanto de inquietude perante os desafios que o futuro continua a colocar à União Europeia.
Precisamente na altura em que Guizot proferia as suas lições no Quartier Latin, um jovem engenheiro saído da Escola Politécnica iniciava a sua colaboração no jornal Le Globe que veiculava as grandes ideias dos herdeiros do Conde Saint-Simon, entre eles o pai do positivismo, Auguste Comte. Michel Chevalier acabou por ser preso no rescaldo da Revolução de 1830 e de alguns dos seus escritos que afrontavam a ordem estabelecida. Saído da prisão o jovem engenheiro decidiu-se a fazer uma visita aos Estados Unidos, entre finais de 1833 com regresso em 1835. Das suas crónicas e apontamentos de viagem resultou esta obra em dois volumes cujo título, Lettres sur l'Amérique du Nord, não deixa revelar a visão de um engenheiro e, ao mesmo tempo, de um economista perante o desenvolvimento que a sociedade americana demonstrava. A descrição é de uma extrema riqueza e constraste com o que se passava na Europa, mas também com o descrito na mesma época por Alexis de Toqueville na sua já famosa obra, De la Démocratie en Amérique (1835 e 1840). Depois de ler as duas, percebe-se melhor o que representa essa América para dois visitantes europeus de formações tão distintas e de quanto é longínqua essa imagem de terra de promessas e de liberdade.
As cartas da América raramente foram referenciadas em Portugal. Porém, quando em 1842 Michel Chevalier publica o seu Cours d'Économie Politique sobre as lições proferidas no Collège de France em 1841, as suas ideias são discutidas no nosso país (Oliveira Marreca é um dos primeiros a citar e a promover o autor e a obra) e foi com os escritos desse autor - "debaixo do braço" escrevia mais tarde Anselmo de Andrade - que Fontes Pereira de Melo entrou em 1852 no Governo e no novel Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, inaugurando o primeiro programa económico liberal que a história nem sempre destaca. São histórias para serem contadas mais tarde e com mais detalhe do que o adequado a um postal que já vai longo.
Até lá...
Grande Entrevista de Sócrates ao 4R!...
sábado, 16 de fevereiro de 2008
Melhoramento Humano
É muito provável que a cirurgia tenha sido a primeira técnica utilizada pelo homem. De facto, já foram descritas técnicas cirúrgicas e ortopédicas de correcção no Paleolítico.
Mais recentemente, no Antigo Egipto, foi utilizada uma prótese para substituir o dedo grande do pé numa mulher o que lhe permitia caminhar normalmente.
Na Índia, por volta de1500 a. C., já se faziam reconstruções dos narizes. A mutilação constituía uma prática comum de vingança de tal forma que o nariz era considerado o órgão de respeito e de reputação. Esta prática continuou durante o período colonial, e até nos nossos dias, sendo o adultério uma dos principais motivos. Deste modo, é compreensível a elevada capacidade técnica utilizada desde há 3.500 anos, contribuindo para o melhoramento humano.
É fácil demonstrar que desde os confins do tempo o homem procurou sempre “melhorar-se”, em termos técnicos, já que no restante mantém vivas chamas atávicas, prontas a manifestarem-se com violência, resistentes à evolução e aos diversos códigos de conduta entretanto produzidos.
Os três exemplos apontados representam, simbolicamente, o desejo de resolver alguns problemas funcionais em fases precoces da nossa existência. Desde então nunca mais parámos ao ponto das descobertas científicas e conquistas técnicas adquirirem uma velocidade exponencial que faz inveja ao efeito da energia escura na expansão do Universo.
A medicina surpreende-nos cada dia que passa. O desenvolvimento e a inovação tecnológica são notáveis, abrindo perspectivas jamais pensadas, mesmo há poucos anos. Técnicas de exploração imagiológica capazes de mostrar o funcionamento dos tecidos, diversos tipos de implantes, próteses cada vez mais sofisticadas, cirurgias menos “cirúrgicas”, “regeneração de tecidos”, entre muitos outros, não falando das potencialidades nanotecnológicas, e da emergência do futuro homem biónico, obrigam-nos a reflectir sobre o princípio da transhumanidade.
O homem não se preocupa apenas em melhorar as suas capacidades graças às novas tecnologias, procura algo mais profundo, a imortalidade. Mas a sua procura pode esbarrar em alguns problemas tão bem traduzidos no mito de Titonus. A procura da fonte da longevidade ou o elixir da vida é uma obsessão a que não é alheio o medo da morte empurrando-o à procura de um lugar próprio dos deuses.
Pensar o futuro é projectar o presente, satisfazendo os nossos anseios e desejos. Talvez a humanidade nunca tenha produzido tanto e ido tão longe como a de hoje, ao ponto de muitos sonhos se materializarem na própria geração, o que estimula e reforça mais a necessidade e a esperança de ir mais longe, cada vez mais longe, ao ponto de não saber se haverá um limite.
A criação de um aparelho de diálise portátil, recentemente publicitado, traduz uma evolução tecnológica face ao universo de cerca de 1,3 milhões de doentes cujas vidas estão bastante limitadas e condicionadas pelas terapêuticas actuais. Obviamente que a transplantação constitui a melhor das soluções e, por si, já reflecte uma área muito importante que tem contribuído para o “melhoramento humano”, mas que já não consegue resolver os problemas, não obstante todas as medidas que propiciam a colheita de órgãos de cadáveres e de dadores vivos, sendo por sua vez responsável pelo aparecimento de novas dificuldades que põem em causa valores éticos, como é o caso do tráfico de órgãos.
As recentes notícias sobre a possibilidade de, em breve, obtermos as nossas próprias bexigas constitui uma conquista das mais revolucionárias relacionadas com o fabrico de órgãos, criando expectativas muito fortes para a produção de outros, caso da criação de “novo” de um coração de ratinho pela equipa de Doris Taylor que, apesar da sua “fraquita” potência bombeadora, permite franquear com muita confiança as portas de uma modernidade inimaginável, mesmo para as mentes mais “delirantes” em termos de antecipação do futuro e de um homem muito diferente do actual.
Natalidade: sabemos o que queremos?
No plano político o assunto da natalidade é recorrente mas não propriamente pelas melhores razões. Explico-me.
O primeiro-ministro anunciou esta semana no debate quinzenal mais uma medida dita de “apoio à natalidade”, concretamente um programa de investimento em creches, especificamente dirigido às áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, e referiu que “o apoio à infância representa uma área fundamental para a política social. Por várias razões. (…) Em terceiro lugar, é um meio eficaz de incentivar a natalidade, assim contribuindo para a superação do problema demográfico”.
A verdade é que esta iniciativa e outras anteriormente tomadas apelidadas de “apoio à natalidade”, sendo positivas, são medidas que se inserem numa abordagem social e não constituem um incentivo à natalidade. Com efeito, a introdução de uma prestação social para grávidas a partir dos seis meses e o aumento da prestação do abono de família a partir do segundo filho durante o 2º e o 3º anos de vida das crianças, em função do rendimento das famílias, são medidas de apoio social, com uma função redistributiva que se destina a ajudar as famílias mais pobres. Ou o alargamento da prestação do abono de família às familias de imigrantes, reconhecendo-se nesta medida uma preocupação de equidade social.
Mas recorrentemente, continua a faltar uma política de natalidade que terá que estar, a meu ver, muito virada para questões que se prendem com a repartição do tempo entre a família e o trabalho, com a articulação entre a maternidade e a carreira profissional, com as opções de escolha dos pais no tipo de acompanhamento a dar aos filhos nos primeiros anos de vida, com o acesso facilitado aos infantários e às escolas e aos cuidados de saúde (custos, localização, horários, fiscalidade, etc.) e com o acesso a novas formas de trabalho (organização, flexibilidade de horários, etc.).
O tema da natalidade é demasiado sério para não justificar uma discussão alargada envolvendo toda a sociedade. É um daqueles temas em que a sociedade portuguesa necessita de assumir determinadas opções, muitas delas com impactos em importantes domínios como a organização da vida familiar e a organização do trabalho.
Veja-se o esforço que está a ser feito na Alemanha para mudar a sensibilidade social sobre os filhos, com origem na sociedade civil e a contribuição da comunicação social. "Precisamos de mais crianças" diz a Alemanha. Iniciou-se em Dezembro passado uma campanha que passa pela publicação até Maio próximo em toda a imprensa alemã de um conjunto de anúncios para fomentar uma mudança de clima mental que consiga uma maior aceitação das crianças na sociedade alemã. Além dos anúncios impressos, todos os dias pelas 20h surge um spot de dois minutos de duração nas televisões mais importantes do país (clicar aqui, para ver um dos spots).
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
Dados económicos: Coro dos Disparates
A semana que agora termina terá sido das mais férteis nesta matéria:
- Desde as histriónicas declarações do PM, já devidamente assinaladas na muito bem elaborada exegese de Pinho Cardão;
- Às obtusas considerações de um porta-voz da maioria que não se percebe porque motivo é escalado para tão humilhante tarefa;
- Até ao exuberante cortejo de mal-dizer dos vários – todos - representantes altamente qualificados dos Partidos com assento parlamentar, cada qual levando ao limite da sua imaginação o uso de palavras diferentes para dizerem todos a mesma coisa.
Estavam em causa:
- O magnífico crescimento de 1,9% do PIB (ninguém na Oposição se lembrou de referir como variou o PNB, curiosamente…), que ainda nem é dado final, estando sujeito a correcções;
- E a subida para uns, descida para outros, da taxa de desemprego em 2008, celebrada pelo Governo como sinal positivo (com 8% estamos acima da EU e da Zona Euro, pelo menos neste indicador, nem tudo é mau…) e desancada por outros, os da Oposição, acusando o Governo por não fazer mais…certamente acham que ainda é pouco…
Ninguém se lembrou – provavelmente estariam exaustos, depois do esforço oratório da véspera – de comentar a subida da inflação hoje divulgada, que em Janeiro atingiu 2,9%, valor totalmente incompreensível face aos prometidos, garantidos e inexoráveis 2,1% para o registo de 2008.
Mas seria importante que suas Excelências se pronunciassem sobre esta pungente novidade das estatísticas nacionais, até porque se atrevem a por em causa um objectivo que adquiriu contornos dogmáticos, para nossa felicidade colectiva.
É bem provável que os aparelhos de medida dos preços tenham de ser substituídos face a este inaceitável desvio da mais sã ortodoxia anti-inflacionista assumida em Portugal.
Mas talvez até seja melhor não dizerem mais nada…o Coro dos Disparates de ontem já foi suficiente!
Demagogia da mais degradante!...
Foi este "facto" que Sócrates ontem demoradamente referiu, salientando o enorme mérito do governo no significativo crescimento da economia: 1,9%, repetiu várias vezes. Com mérito ou sem mérito do Governo, o PIB cresceu e isso é boa notícia.
Também usando as próprias palavras do INE, “em 2007, a taxa de desemprego foi de 8%...". A população desempregada atingiu o maior volume de sempre, 448,6 milhares, contra 427,8 milhares em 2006, mais 4,9%, e em acréscimo percentual sobre os 7,7% de 2006, mais 3%.
Em coerência com as palavras de ontem sobre o PIB, que cresceu em volume 1,9% em relação ao ano anterior, e se tivesse uma atitude de seriedade, Sócrates deveria ter enfatizado que a população desempregada cresceu em volume 4,9% em relação ao ano anterior.
Mas não. Sócrates, iludindo a questão global, veio falar das variações trimestrais que lhe convinham, daí concluindo a diminuição do desemprego. Foi demagogo, tanto mais que se sabe que, e também usando as próprias palavras do INE, “ a taxa de variação anual é menos sensível (do que as taxas trimestrais) a alterações esporádicas na variável”. Aliás, o Ministro Vieira da Silva, enveredou pela mesma demonstração, nada séria, demagógica e mistificadora, que brinca com um dos maiores flagelos, o desemprego de muitos portugueses.
O Governo ganharia credibilidade se salientasse as dificuldades por que passamos, apesar das medidas tomadas. Ao pretender ser o exclusivo responsável pela retoma, vai acabar por ser o único réu pelas dificuldades globais da economia portuguesa. Injustamente, num caso e noutro, pois a evolução económica não é assim tão directamente condicionada, como por vezes se pensa e diz.
Também as Oposições, e nomeadamente o PSD, não estiveram melhor do que Sócrates. Ao modo como desvalorizaram o crescimento de 1,9% e como, simultaneamente, brandiram a “vingança” do crescimento do desemprego, só lhes faltou referir da sua alegria com a situação.
Nem sempre o quanto pior melhor, mesmo para uma Oposição com um mínimo de dignidade. E nunca para os portugueses.