Tenho na minha posse uma bela e alongada jarra com um friso esmaltado a toda a largura na parte superior, representando velhos telhados onde se podem ver gatos pretos a passear pelos mesmos. Acompanhada da frase "Sobre os telhados de Lisboa" (J. Barradas, 31).
O que é teria passado pela cabeça deste grande artista, que se destacou em várias áreas, nomeadamente na arte da cerâmica? A peça, frágil, bela e intrigante capta a atenção, sobretudo a minha. Não me canso de a contemplar e acariciar. Sente-se um brilho e um calor difícil de descrever.
Numa tarde de Verão, durante uma interminável sessão de uma comissão parlamentar, tive que desligar do assunto em causa, devido ao cansaço e à insipidez do mesmo. Foi um dos momentos em que me apeteceu dar uma volta naquele fim de tarde. Não pude. Eis que, ao olhar pela janela, reparei com um quadro interessante. Os telhados das velhas casas ao redor do Parlamento estavam iluminados de um brilho intenso, contrastando com a sombra das paredes. A atmosfera brilhante que, confesso, só consegui até hoje ver na cidade de Lisboa, estava ali a escassos metros. Nunca pensei que, olhar para velhos telhados iluminados daquela maneira, fosse possível sentir tamanha beleza. Acto contínuo encontrei a "razão de ser" da obra produzida por Jorge Barradas. Ainda tentei ver algum gato, mas nada. Apesar de serem muito livres, às tantas, já devem estar demasiado "urbanizados" para andarem a passear pelos telhados de Lisboa! Na minha terra ainda andam por lá, aos montes. Alguns já não sentem grande atracção pelos telhados. Mas há especialistas que se movimentam com à vontade, desafiando as alturas, voando literalmente de um para outro, atacando qualquer pardalito mais distraído. Mas há, também, uns gatos que devem ser meio-parvos, porque conseguem subir, mas depois não sabem descer, esquecendo-se da entrada! Põem-se a miar de forma aflitiva obrigando a ir buscar escadas ou a retirar uma telha para os libertar da aventura. Mas não são bem agradecidos, porque quando se chega ao pé deles começam a bufar ameaçadoramente.
Ao olhar para os telhados obtemos uma visão interessante de uma localidade. Telhados novos, telhados velhos, muitos com telhas escurecidas, algumas partidas, outras com abundante musgo e, nalguns casos, verdadeiras florestas em que predomina o "arroz dos telhados". Quase que poderíamos traçar o perfil e a idade de muitas habitações e especular o que está debaixo delas. Alguns telhados comportam placas solares de uma época em que havia subsídios e financiamentos à sua aquisição por motivos de poupança energética e fins ecológicos. Não tiveram grande sucesso, pelo menos para as minhas bandas. Abandonadas, desfeiam as coberturas, a par de muitas antenas de televisão a caírem de podres. A aposta em novas tecnologias poupadoras de energia, poderá, muito provavelmente, no futuro, fazer com que as telhas venham a ser substituídas por placas fotoeléctricas e/ou placas solares, acabando de vez com os velhos telhados. Mas também se coloca agora a interessante hipótese de transformar os telhados em campos de relva, contribuindo para um melhor isolamento, poupança energética e efeito anti-estufa (mais uma medida contra o aquecimento global). Se um dia se materializasse esta iniciativa, as casas assemelhar-se-iam às dos contos infantis. Claro que muitos não se contentariam só com um telhado de relva. Já estou a ver roseiras, amores-perfeitos, cravos, tomateiros, malaguetas, espinafres, competições entre vizinhos, concursos, discussões sem fim em assembleia de condóminos, regulamentando a área de cada um, enfim, uma verdadeira revolução ecológica a nível dos telhados, com respectivos impostos a serem criados, novas profissões e novas oportunidades de negócio.
Quanto aos gatos, sobretudo os "gatos de telhado", adaptar-se-iam facilmente e até podiam contribuir com umas "regadelas" à borla!
E o brilho e a beleza dos "telhados de Lisboa"? Desapareciam para sempre...
O que é teria passado pela cabeça deste grande artista, que se destacou em várias áreas, nomeadamente na arte da cerâmica? A peça, frágil, bela e intrigante capta a atenção, sobretudo a minha. Não me canso de a contemplar e acariciar. Sente-se um brilho e um calor difícil de descrever.
Numa tarde de Verão, durante uma interminável sessão de uma comissão parlamentar, tive que desligar do assunto em causa, devido ao cansaço e à insipidez do mesmo. Foi um dos momentos em que me apeteceu dar uma volta naquele fim de tarde. Não pude. Eis que, ao olhar pela janela, reparei com um quadro interessante. Os telhados das velhas casas ao redor do Parlamento estavam iluminados de um brilho intenso, contrastando com a sombra das paredes. A atmosfera brilhante que, confesso, só consegui até hoje ver na cidade de Lisboa, estava ali a escassos metros. Nunca pensei que, olhar para velhos telhados iluminados daquela maneira, fosse possível sentir tamanha beleza. Acto contínuo encontrei a "razão de ser" da obra produzida por Jorge Barradas. Ainda tentei ver algum gato, mas nada. Apesar de serem muito livres, às tantas, já devem estar demasiado "urbanizados" para andarem a passear pelos telhados de Lisboa! Na minha terra ainda andam por lá, aos montes. Alguns já não sentem grande atracção pelos telhados. Mas há especialistas que se movimentam com à vontade, desafiando as alturas, voando literalmente de um para outro, atacando qualquer pardalito mais distraído. Mas há, também, uns gatos que devem ser meio-parvos, porque conseguem subir, mas depois não sabem descer, esquecendo-se da entrada! Põem-se a miar de forma aflitiva obrigando a ir buscar escadas ou a retirar uma telha para os libertar da aventura. Mas não são bem agradecidos, porque quando se chega ao pé deles começam a bufar ameaçadoramente.
Ao olhar para os telhados obtemos uma visão interessante de uma localidade. Telhados novos, telhados velhos, muitos com telhas escurecidas, algumas partidas, outras com abundante musgo e, nalguns casos, verdadeiras florestas em que predomina o "arroz dos telhados". Quase que poderíamos traçar o perfil e a idade de muitas habitações e especular o que está debaixo delas. Alguns telhados comportam placas solares de uma época em que havia subsídios e financiamentos à sua aquisição por motivos de poupança energética e fins ecológicos. Não tiveram grande sucesso, pelo menos para as minhas bandas. Abandonadas, desfeiam as coberturas, a par de muitas antenas de televisão a caírem de podres. A aposta em novas tecnologias poupadoras de energia, poderá, muito provavelmente, no futuro, fazer com que as telhas venham a ser substituídas por placas fotoeléctricas e/ou placas solares, acabando de vez com os velhos telhados. Mas também se coloca agora a interessante hipótese de transformar os telhados em campos de relva, contribuindo para um melhor isolamento, poupança energética e efeito anti-estufa (mais uma medida contra o aquecimento global). Se um dia se materializasse esta iniciativa, as casas assemelhar-se-iam às dos contos infantis. Claro que muitos não se contentariam só com um telhado de relva. Já estou a ver roseiras, amores-perfeitos, cravos, tomateiros, malaguetas, espinafres, competições entre vizinhos, concursos, discussões sem fim em assembleia de condóminos, regulamentando a área de cada um, enfim, uma verdadeira revolução ecológica a nível dos telhados, com respectivos impostos a serem criados, novas profissões e novas oportunidades de negócio.
Quanto aos gatos, sobretudo os "gatos de telhado", adaptar-se-iam facilmente e até podiam contribuir com umas "regadelas" à borla!
E o brilho e a beleza dos "telhados de Lisboa"? Desapareciam para sempre...