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terça-feira, 31 de julho de 2007

"Sobre os telhados de Lisboa"....

Tenho na minha posse uma bela e alongada jarra com um friso esmaltado a toda a largura na parte superior, representando velhos telhados onde se podem ver gatos pretos a passear pelos mesmos. Acompanhada da frase "Sobre os telhados de Lisboa" (J. Barradas, 31).
O que é teria passado pela cabeça deste grande artista, que se destacou em várias áreas, nomeadamente na arte da cerâmica? A peça, frágil, bela e intrigante capta a atenção, sobretudo a minha. Não me canso de a contemplar e acariciar. Sente-se um brilho e um calor difícil de descrever.
Numa tarde de Verão, durante uma interminável sessão de uma comissão parlamentar, tive que desligar do assunto em causa, devido ao cansaço e à insipidez do mesmo. Foi um dos momentos em que me apeteceu dar uma volta naquele fim de tarde. Não pude. Eis que, ao olhar pela janela, reparei com um quadro interessante. Os telhados das velhas casas ao redor do Parlamento estavam iluminados de um brilho intenso, contrastando com a sombra das paredes. A atmosfera brilhante que, confesso, só consegui até hoje ver na cidade de Lisboa, estava ali a escassos metros. Nunca pensei que, olhar para velhos telhados iluminados daquela maneira, fosse possível sentir tamanha beleza. Acto contínuo encontrei a "razão de ser" da obra produzida por Jorge Barradas. Ainda tentei ver algum gato, mas nada. Apesar de serem muito livres, às tantas, já devem estar demasiado "urbanizados" para andarem a passear pelos telhados de Lisboa! Na minha terra ainda andam por lá, aos montes. Alguns já não sentem grande atracção pelos telhados. Mas há especialistas que se movimentam com à vontade, desafiando as alturas, voando literalmente de um para outro, atacando qualquer pardalito mais distraído. Mas há, também, uns gatos que devem ser meio-parvos, porque conseguem subir, mas depois não sabem descer, esquecendo-se da entrada! Põem-se a miar de forma aflitiva obrigando a ir buscar escadas ou a retirar uma telha para os libertar da aventura. Mas não são bem agradecidos, porque quando se chega ao pé deles começam a bufar ameaçadoramente.
Ao olhar para os telhados obtemos uma visão interessante de uma localidade. Telhados novos, telhados velhos, muitos com telhas escurecidas, algumas partidas, outras com abundante musgo e, nalguns casos, verdadeiras florestas em que predomina o "arroz dos telhados". Quase que poderíamos traçar o perfil e a idade de muitas habitações e especular o que está debaixo delas. Alguns telhados comportam placas solares de uma época em que havia subsídios e financiamentos à sua aquisição por motivos de poupança energética e fins ecológicos. Não tiveram grande sucesso, pelo menos para as minhas bandas. Abandonadas, desfeiam as coberturas, a par de muitas antenas de televisão a caírem de podres. A aposta em novas tecnologias poupadoras de energia, poderá, muito provavelmente, no futuro, fazer com que as telhas venham a ser substituídas por placas fotoeléctricas e/ou placas solares, acabando de vez com os velhos telhados. Mas também se coloca agora a interessante hipótese de transformar os telhados em campos de relva, contribuindo para um melhor isolamento, poupança energética e efeito anti-estufa (mais uma medida contra o aquecimento global). Se um dia se materializasse esta iniciativa, as casas assemelhar-se-iam às dos contos infantis. Claro que muitos não se contentariam só com um telhado de relva. Já estou a ver roseiras, amores-perfeitos, cravos, tomateiros, malaguetas, espinafres, competições entre vizinhos, concursos, discussões sem fim em assembleia de condóminos, regulamentando a área de cada um, enfim, uma verdadeira revolução ecológica a nível dos telhados, com respectivos impostos a serem criados, novas profissões e novas oportunidades de negócio.
Quanto aos gatos, sobretudo os "gatos de telhado", adaptar-se-iam facilmente e até podiam contribuir com umas "regadelas" à borla!
E o brilho e a beleza dos "telhados de Lisboa"? Desapareciam para sempre...

“Medo de viver em Coimbra!”

Nunca fui ao Brasil. Não por falta de oportunidade, mas por uma questão de medo, medo de ser assaltado, medo de ser alvo de qualquer ataque num país em que o valor da vida é dos mais baixos do mundo. Poderei estar a ser injusto, mas as frequentes notícias, associadas aos relatos de amigos, familiares e conhecidos, que já foram vítimas, alimentam os meus receios. Pelo sim, pelo não, prefiro andar pela Europa e pelo meu país. Não quer dizer que não há, também, violência, entre nós, mas, desde que se tomem as necessárias medidas preventivas, “podíamos” orgulhar de uma sensação de segurança verdadeiramente invejável para muitos povos e comunidades. Podíamos? Mas já não se sente a tal segurança? Não!
Coimbra, por exemplo, é uma cidade encantadora, cuja qualidade de vida é propalada aos quatro ventos. As suas preocupações ambientais são bem conhecidas através de várias iniciativas e acontecimentos suficientemente relatados ao longo dos tempos. É óptimo ter jardins, parques verdes, praias fluviais, controlar e evitar a poluição atmosférica, ter água de qualidade, fomentar iniciativas culturais, promover a investigação científica, desenvolver cuidados em matéria de saúde, enfim, tudo o que possa contribuir para o crescimento e bem-estar de uma comunidade. Mas há aspectos muito preocupantes, para os quais são precisas medidas urgentes e sem as quais o conceito de qualidade de vida cai numa porca valeta. A segurança!
Relatos pessoais de pessoas assaltadas, roubos e vandalismo começam a preocupar as pessoas. Se adicionarmos as notícias veiculadas pela imprensa regional e a experiência pessoal, é fácil de concluir que se está a criar um clima muito negativo, causando mal-estar e insegurança nos cidadãos.
Ser assaltada numa rua movimentada, dentro da própria viatura, junto à porta de casa, por um cobarde criminoso, acolitado por um cúmplice estacionado num jeep, pronto a fugir, é humilhante. À sensação de impotência sucede-se a desconfiança numa sociedade em que a falta de segurança está num crescendo assustador. Claro que as autoridades registam os casos, e neste caso concreto, até disseram: - Ah esses devem ser os mesmos que já assaltaram nas últimas semanas!
Acredito que as autoridades policiais deverão estar empenhadas na identificação destes, como de outros criminosos. Mas será que têm meios necessários para esse efeito? A vigilância da cidade é suficiente? Haverá necessidade de proceder à vídeo-vigilância pública? Claro que aqui começam a levantar-se problemas de direitos e de liberdades individuais. Mas os ladrões, os vândalos e os marginais não deverão vir a público para que se impeça a instalação de câmaras por essas ruas. Estou perfeitamente convicto que ficarão muito satisfeitos se os defensores dos direitos e liberdades individuais contestarem a sua aplicação. Deste modo, sempre podem exercer o seu mister mais à vontade...
Confesso, tenho medo de ir ao Brasil, mas começo a ter medo de viver em Coimbra...

Assessores, assessores aos molhos!...

De acordo com o novo Regimento da Assembleia da República, cada Deputado tem direito a um Gabinete exclusivo e a um Assessor pessoal.
Como os Deputados estão alojados dois a dois em cada gabinete, terão que se criar 230 novos gabinetes para Deputados. E aí mais uns 100 gabinetes para os Assessores, supondo que eles ficam aos pares e os existentes passam a estar directamente afectos aos representantes do povo.
Como as actuais instalações já são apertadas, terá que ser construído de raíz um novo edifício.
Custa bom dinheiro, mas o tempo não é de apertos e a engenharia nacional é bem capaz de fazer obra condigna.
Como a assessoria pessoal exige intimidade e confiança política, a medida permitirá emprego digno a uma série de familiares próximos, com a enorme vantagem de tal contribuir para o equilíbrio físico, psíquico e emocional de cada Deputado.
Subsiste um problema, para mim o mais importante. É o de muitos Deputados saberem o que fazer dos seus Assessores, esgotados que estejam os requerimentos sobre o estado do novo quartel de bombeiros ou do posto da GNR de qualquer povoação do seu distrito.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Mas que raio de governo!...

O Fisco calcula e exige ao cidadão o pagamento de determinado imposto. O cidadão não concorda e reclama, pedindo uma revisão do mesmo. Ai reclamas? Reclama à vontade, mas para ti acaba já o sigilo bancário!...
É esta a anormalidade que resulta das recentes alterações à lei fiscal há dias aprovadas pela Assembleia da República e que o Governo enviou a Belém para promulgação. O Presidente fez o mínimo dos mínimos. Enviou para o Tribunal Constitucional.
Então o exercício de um direito transforma-se, de imediato, numa punição, que é ser arredado de outro direito? Em que Estado estamos? Num Estado de direito, não, com toda a certeza!...

O sofrimento não tem tabela de preços!

“Como se calcula o custo de perder alguém que se ama?”, é o título de um artigo publicado hoje no Público.
É notícia, então, que Economistas ingleses inventaram nova fórmula porque indemnizações estipuladas pelos tribunais são “inacreditavelmente baixas”.
Este é um tema de grande complexidade, polémico, muito difícil de tratar. É um daqueles assuntos sérios da vida em que a “quantificação” – que hoje em dia tudo parece querer tabelar – não compensa, não reconhece e não alivia o sofrimento e a dor da perda de sentimentos eternos e muito queridos como o amor e a amizade ou de bens essenciais à aspiração de uma vida normal como é a saúde.
Hoje a tentação é a de tudo quantificar. Tudo é medido em função de interesses, da sua utilidade ou inutilidade, dos seus custos ou benefícios. Tudo se reconduz a uma função matemática em que a variável determinante parece ser a contrapartida, de geometria muito variável.
Acontece que há coisas na vida que não são quantificáveis e que, quando traduzidas em números, redobram o sofrimento, pelo resultado de um exercício que se demonstra tantas vezes inútil por “não pagar” a perda.
Evidentemente que a perda de vidas provocada por situações de intervenção negligente, como acontece na prestação de serviços de saúde, num acidente de automóvel ou num acidente de trabalho, podem e devem dar lugar a indemnizações financeiras, seja para substituir perda de rendimento, seja para castigar o infractor, havendo aqui uma função correctiva e castigadora e, também, dissuasora. Há, com efeito, comportamentos que têm que ser reprimidos.
A definição de “valores” (usando tabelas matemáticas “para compensação emocional”) em ordem a contabilizar a perda “preciosa” de coisas tão intangíveis como o amor, a amizade ou a saúde significa, portanto, admitir que aquela perda tem um preço.
Ora, o sofrimento sentido nunca tem preço. Uma atenuação financeira constitui uma espécie de “justiça”, que parece ser, no entanto, a única saída… É por isso que o montante das indemnizações financeiras tem vindo a agravar-se na Europa. Assim se demonstra que a quantificação nunca paga – porque nunca chega!
O que está em causa é uma infelicidade e a infelicidade que se lhe segue nunca é mensurável. Há coisas na vida que infelizmente não têm mesmo solução. Há acontecimentos na vida de efeitos irrecuperáveis. Há coisas na vida que não se substituem nem se repõem!

Remova-se para bem longe!...




Antes de férias, a Assembleia da República concluiu mais uma reforma do seu Regimento.
Não penso que daí tenha saído coelho da cartola, pois não haverá nunca uma verdadeira reforma do Parlamento enquanto alguns dos seus ícones não forem de vez reformados. Um desses ícones é José Estêvão, símbolo da oratória brilhante, mas balofa e sem conteúdo, cuja estátua se exibe em lugar nobre, frente aos Gabinetes dos Deputados, no jardim lateral ao Palácio de S. Bento.
José Estêvão foi agitador, revolucionário, jornalista e político. Bacharel em direito, passou do primeiro para o terceiro e último ano do curso, dispensado que foi do segundo ano como prémio por ter militado no exército liberal. E foi eleito deputado às Cortes por influência do pai, médico, filantropo e um importante deputado por Aveiro.
Nas Cortes, o seu nome não ficou conhecido como Deputado, mas como orador parlamentar dado o seu talento dramático, que impressionava quem o ouvia, dando a sensação de falar sempre com o coração e de defensor intrépido da verdade, mesmo quando se tratava de descaradas mentiras.
Por isso, a primeira grande medida de reforma do Parlamento que eu preconizo é a remoção, para muito longe, da estátua de José Estêvão, de forma a evitar aos Deputados a visão diária do exemplo de agitador e revolucionário, qualidades que lhe ajudaram a terminar o curso, do exemplo de quem foi deputado graças à influência familiar, e do símbolo da oratória barata e sem sentido.
A questão é que há muitos que se revêem na figura!...

domingo, 29 de julho de 2007

Das bolas de berlim ao medronho

O bom senso é coisa cada vez mais rara. Por vezes, também não abunda na ASAE.
Texto de Helena Matos no Blasfémias

"Teste laboratorial canino"

Foi noticiado que um gato, que vive num centro para idosos, consegue prever o aproximar da morte dos doentes. Nas últimas horas da existência aparece o Óscar.
A taxa de “sucesso” é de tal modo elevada que os médicos já o utilizam para anunciar o fim.
Discute-se as razões de ser do comportamento do felino.
Ao ler esta notícia, vasculhei os meus textos, repescando um em que é posto em evidência a capacidade de diagnóstico de cancro por parte dos cães.



A comunidade médica tem vindo a chamar a atenção para o cancro da próstata, devido ao facto de estar a aumentar de uma forma preocupante e em idades cada vez mais baixas. Sendo relativamente comum em idades avançadas, é passível de prevenção e de diagnóstico precoce, desde que os homens se submetam a exames periódicos, sobretudo a partir dos cinquenta anos. Infelizmente, na maior parte dos casos, cursa de uma forma muito silenciosa, e quando se manifesta, apresenta-se sob formas graves.

Hoje, dispomos de vários meios para efectuar a detecção deste tipo de cancro. Mas, apesar dos exames laboratoriais actuais serem cada vez mais fidedignos, mesmo assim ocorrem, com uma frequência relativamente elevada, falsos positivos (e também falsos negativos), o que leva à realização de biópsias, a fim de confirmar ou não a presença da doença.

A descrição de casos de tumores cutâneos "detectados" por cães de companhia (farejavam com frequência o local de lesão), levou alguns investigadores, sobretudo britânicos, a iniciarem estudos sobre a possibilidade de farejarem na urina, substâncias produzidas pelo tumor. As capacidades em detectar substâncias são 1.000 a 100.000 vezes superior aos seres humanos!
Tudo aponta - aguardamos os resultados da equipa da Universidade de Cambridge - para mais uma vantagem destes simpáticos animais (estão a ser utilizados labradores e pastores alemães). Além da companhia e ajuda em diversas situações, tais como busca e salvamento, guias de cegos, guarda e detecção de droga, perspectiva-se mais uma eventual utilidade.

No mundo da tecnologia sofisticada, utilizar um recurso desta natureza que, ao cheirar a nossa urina, poderá permitir avisar para situações anómalas, é algo para o qual não estamos preparados. Mas, mesmo que não se confirme esta hipótese, não há dúvida, que os nossos companheiros já deram provas das suas capacidades e amizade, merecendo a nossa atenção e respeito.

E, já agora, enquanto não dispomos do nosso "teste laboratorial canino", o melhor é socorrermo-nos do nosso "médico amigo", para diagnosticar o mais cedo possível, o cancro da próstata que, curiosamente, atinge apenas o homem e o cão...

“Bestialidade líbia"

Hoje, as autoridades líbias criticam o perdão concedido pelo presidente búlgaro aos seis profissionais de saúde recentemente extraditados. Afirmam que vão pedir à Interpol para os capturar!
A Líbia é um país governado por corruptos e terroristas que não respeitam os direitos humanos. É confrangedor que os estadistas europeus dêem confiança ao esquizofrénico Kadaphi e seus lacaios que mereciam ser presos e condenados.
No El País, uma reportagem sobre o médico palestiniano ilustra bem a “bestialidade” jurídica que impera naquele país…

Antes...e agora!...

Marcelo Rebelo de Sousa, na sua página de ontem de o SOL, em comentário um tudo nada auto elogioso, o que nem faz mal, referindo-se ao PSD dos primórdios: “Era outro tempo, era outro partido…”. De facto era.
Ao correr da pena, aqui vão alguns nomes que fizeram parte da primeira leva de deputados.
Professores Universitários: Mota Pinto, Alfredo de Sousa
Jovens assistentes universitários, agora catedráticos: Jorge Miranda, Costa Andrade, Marcelo Rebelo de Sousa
Juristas insignes: Barbosa de Melo
Advogados ilustres: Nuno Rodrigues dos Santos, Cunha Leal, Olívio França, Montalvão Machado, Miguel Veiga, Artur Santos Silva (pai)
Iintelectuais, escritores e jornalistas: Vasco da Graça Moura, José Augusto Seabra, Norberto Lopes)
Isto para não falar de Sá Carneiro ou Balsemão e não indicar muitos outros jovens ou menos jovens talentos como Joaquim Lourenço, Furtado Fernandes, Carlos Macedo, Sá Borges e tantos outros.
Nenhum deles viveu da política, nenhum deles precisou da política para se catapultar profissionalmente e todos deram, alguns continuam a dar, muito de si em prol da política e do bem comum. Na altura, em tempos difíceis.
E agora?

A Flor do Bairro

Antes de deixar as férias para trás, ainda fui hoje à Flor do Bairro, Agroquímicos, Drogaria e Adubos e Produtos Vários, onde o Senhor Manecas atende os clientes que procuram as coisas mais extraordinárias que se possa imaginar. Na Flor do Bairro, que tem aquele cheiro das antigas drogarias, uma mistura de produtos de limpeza, creolina e ranço, há desde ratoeiras, pulverizadores, vassouras, prateleiras com tintas, diluentes, rolos de corda, produtos para a lavoura, sacos com rolhas, sementes, enfim, um deslumbramento de coisas que já nem nos lembramos que existem.
O Senhor Manecas é o meu consultor para os assuntos de jardinagem, matéria de que é um devoto.
A primeira vez que lá fui, ainda a começar a aprender a arte, disse-lhe que queria um remédio para a ferrugem das roseiras, maleita que detectei à custa de umas leituras para curiosos na matéria.
O Senhor Manecas olhou-me com desprezo. “– Como é que sabe que é só ferrugem? Não será oídio? Ou pulgão? Não lhe vou dar remédio nenhum sem saber a doença da planta, traga mas é umas folhas para se fazer o diagnóstico!”
Fiquei desconcertada. Oídio e pulgão nas minhas roseiras? E eu não dava por isso? Engoli o rancor, que remédio, e lá fui meter no bolso umas folhinhas doentes, aproveitei e levei outras do pessegueiro que me levantavam suspeitas, não fosse o diabo tecê-las!
A consulta, como todas as que lhe pedem, demorou largo tempo. Explicações detalhadas, cautelas, prescrição. O homem é um profissional que gosta do que faz, e além disso ensina quem quer aprender, uma raridade. No fim da consulta, escreve tudo minuciosamente num papel, sublinha várias vezes as partes importantes, como o "alternar com". Dessa vez, tive que trazer também um pulverizador – “De 20 litros? Nem pensar, como é que ia aguentar com isso às costas? Leve um de 5 l que já lhe chega!” E refez o papel das prescrições, com as quantidades para 5 litros…
Tornei-me cliente assídua daquele guru.
Hoje estava lá num canto a velha tia, uma sombra sempre vestida de preto, cara pálida como cera, muito quieta e calada, a gastar o tempo a ver quem entra e quem sai.
Já estava eu com os frasquinhos todos no saco quando me lembrei de perguntar se ele tinha cera acrílica para o chão, e uma esfregona para puxar o lustro, com as férias no fim é altura de deixar a casa a brilhar.
Ao ouvir isto, a velha saltou como uma mola.
- Ai minha rica filha! Então vai-se matar a trabalhar? Olhe para mim, aqui onde me vê, tenho 87 anos! 87, e sabe porquê? Porque me poupei. Toda a vida me poupei muito, nunca saí de casa para trabalhar, uma vez que fosse! Fui muito estimada, hoje já não há quem estime as mulheres, é só trabalho, trabalho, para quê? Para morrerem cedo! Deixe-se de ceras, passe uma vassourinha e vai ver que fica um brinco. Ele há lá quem dê o valor! Faça como eu, menina, estime-se!, se quer chegar a velha!” E deu-me uma beijoca na cara…
Cheguei a casa a rir-me.
– “Então o consultor? Sempre tinha a cera que querias?”
- "Não, em vez disso trouxe o elixir da juventude e da longa vida!"
A Flor do Bairro é um lugar extraordinário.

sábado, 28 de julho de 2007

Ainda a preguiçar...


Acontece-me sempre o mesmo. Quando faço faço a mala para ir de férias de Verão, acho impossível deixar para trás algumas coisas que fazem parte do meu dia a dia, algumas roupas, acessórios, pequenos objectos que parece impossível sair de casa sem precisar deles.
Faço o mesmo com os livros, vou recuperar os que adiei ao longo dos meses, agora é que vou ler este ensaio tão importante, vou aproveitar para conhecer este autor, deixa-me cá levar este sobre política...
Faço ainda alguns planos para ir visitar isto e aquilo, para ir à praia todos os dias, quando estivermos de férias é que vamos, ...
É claro que sai tudo trocado e ainda bem, a verdade é que detesto coisas muito combinadas e adoro o imprevisto quando não tenho obrigações a cumprir, só me sinto em férias quando vejo um dia inteirinho à minha frente para ocupar ao sabor da inspiração, mesmo que desse modo fiquem por realizar alguns projectos que antes tinha achado tão interessantes.
Uma boa parte da roupa de cidade ficou na mala, os objectos essenciais não serviram para nada, os livros cinzentões foram rapidamente substituidos por belos romances daqueles que se lêem sem parar, debaixo do alpendre, a aproveitar bem os últimos raios de sol a deixar o céu cor de rosa e a sentir a brisa fresca que chega com o entardecer. A praia, pouca, o tempo não esteve pelos ajustes, a água gelada e um ventinho agreste quando levantava a neblina, paciência, também é agradável preguiçar pela manhã dentro...
É incrível como precisamos de tão poucas coisas nas férias para nos sentirmos bem. Este ano nem fomos aos restaurantes aqui à volta, optámos por refeições simples, coisas compradas no mercado, fruta fresca, sem conhecer frigorífico, o peixinho arranjado pelo Senhor Luis, que maravilha!, reparámos que durante o ano passamos a vida em restaurantes, no meio do barulho ou a comer à pressa, sem tempo para conversar ou para apreciar o silêncio.
Vou agora sacudir a preguiça com um pequeno passeio a Angoulême, ver uns amigos que alugam uma casinha camponesa, perdida no campo, e depois desafiam os mais atrevidos para irem animar a conversa! não resisti ao convite e a decisão foi na hora.
Mais uns dias e estou de volta, com um suplemento de alma e de boa disposição para rever toda a gente e retomar o trabalho.
Aos que vão agora descansar, desejo uns dias bem tranquilos, uns belos passeios, óptimas conversas, boas leituras. Enfim, que as férias sejam, para todos, um bom momento...

sexta-feira, 27 de julho de 2007

“O melro do senhor Lopes!”

Tenho um amigo que vive com a mulher num local isolado na margem esquerda do rio Dão. Em boa verdade é uma de três famílias que lá habitam, sendo uma delas o filho e uma nora. Zona paradisíaca, onde guardo a minha gaivota com a qual pretendo fazer algum exercício durante as férias, vasculhando recantos maravilhosos do rio e desfrutando momentos únicos num pretenso silêncio natural em comunhão com as mais diversas aves e animais cujos hábitos acabei por conhecer ao longo do tempo.
Na quinta do Sr. Lopes há de tudo. Mimoseia-me à sua maneira com a simplicidade de homem do campo. Tem várias aves, entretendo-se a capturá-las com as suas criativas armadilhas. Ao redor de uma árvore construiu uma gaiola avantajada e tosca onde vive um melro.
- Oh Sr., Lopes, tem aqui um melro muito interessante! Dá-se bem aqui? - Oh se dá! Sabe há quanto tempo tenho este melro? Há 12 anos. - Coitado do pássaro estar preso há tanto tempo! Não é justo. Nem sabia que duravam tanto tempo. Riu-se e vendo que tinha ficado preocupado com tamanha clausura, apressou-se a dizer: - Mas este melro é especial. - Especial?! - Sim. Quer ver aqui em baixo junto da terra? E mostrou-me uma pequena escavação. - Foi o gajo que fez isto. – O melro? - Sim! Fugiu por aqui. Mas depois voltou, coloquei-o na gaiola e tapei o buraco. - Oh senhor Lopes o melro deve ser parvo! - Mas passado algum tempo fez o mesmo e depois voltou. - O quê? Não acredito! – É verdade! Deixei de tapar o buraco. Volta e não volta vai dar uma curva e depois regressa. - Vai às “melras”, não? - Hum, não me parece, porque já lhe arranjei uma, está a ver ali? E mostrou-me uma ave mais pequena, cinzenta e nada bonita, mas mesmo assim continua a dar as suas escapadelas. - Oh senhor doutor essas coisas também antinge os animais? Disse-lhe que sim, mas nas aves não sabia. - Cá me parecia. O que o gajo quer é dar uns passeios e depois casa. – Mas, Oh senhor Lopes, o animal tem por aí tanta comida, árvores de fruto, insectos e vermes, logo não tinha razão para regressar. - Aí é que o senhor doutor se engana. Procurar comida dá trabalho, muito trabalho, ao passo que aqui a comidinha está sempre à mão. Julga que os melros são parvos? - Oh senhor Lopes, então talvez venha daí aquela frase: “Fulano é um grande melro. Sabe-a toda”! Usar o bico para depenicar a papinha feita é obra de passarão. - Quem sabe, quem sabe?
Ao ler a crónica de um destacado politico, que deve estar de férias, divinamente inspirado pelo canto dos rouxinóis, e que ameaçou “picar” (talvez quisesse dizer “bicar”) em defesa da sua propalada e amada esquerda (até o "moldador" colocou o coração à esquerda!), fez-me recordar o melro do senhor Lopes. Um grande melro que sabe onde está a comidinha...

Custou!


A justiça encontrou, finalmente, o seu espaço.

Falta de homem!

A ingenuidade é uma constante que afecta muitas pessoas. Por vezes, somos surpreendidos com a forma como interpretam as doenças ou alguns sintomas.
Há tempos, uma senhora que sofre de ligeira disfunção comportamental, mas nada de grave, acabou por me sugerir que as suas queixas poderiam ser devidas a falta de relações sexuais! Não estava à espera, mas nem me deu tempo para comentar, adiantando que estando “associadas” a certas hormonas, que seriam deste modo estimuladas (já tinha lido sobre o assunto!), poderiam explicar os seus sintomas, rematando que mesmo fosse esse o caso, tratar-se-ia de uma opção individual que iria manter. Pessoa com nível cultural superior e com filhos já crescidos, saiu da consulta convicta do que acabava de dizer.
Este episódio fez-me recuar muitos anos atrás, quando uma senhora negra, na casa dos trinta e poucos anos, me consultou por causa de dores na coluna. As queixas eram sérias e levou-me a questioná-la sobre a sua actividade profissional. Confessou que andava a colher ramagens de eucaliptos para serem usadas numa destiladora para obter óleo de eucalipto. Claro que não foi difícil estabelecer um nexo de causalidade entre a actividade profissional, longas horas dobrada, e as queixas. Mas antes que eu lhe explicasse as razões das dores, adiantou a seguinte pergunta: - Oh senhor doutor, acha que é falta de homem? – O quê?! – Falta de homem?! Aqui fiquei de boca aberta, porque a forma humilde e sincera com que a senhora fez a pergunta tocou-me de sobremaneira. Respondi-lhe que não, mas ao mesmo tempo, curioso, perguntei-lhe a razão de ser de tamanha preocupação. Disse que foram as colegas que lhe explicaram que as dores nas costas eram devidas a falta de homem. A senhora era muito simples e talvez tivesse sido alvo de chacota por parte das colegas que assim queriam divertir-se à sua custa. Mas a forma como me interpelou e aceitou as minhas explicações tiveram o seu quê de emocionante. Mediquei-a de acordo com a situação e temi que se não melhorasse, as explicações das colegas poderiam levar a melhor.
Passado uns dias cruzei-me com um tractor, rebocando um atrelado cheio de ramagens de eucalipto com várias mulheres em cima, todas na galhofa. A minha doente acenou-me toda satisfeita e pela expressão era visível que estava bastante melhor..

Não sei, não!...

Depois de ter optado por equipamento cor de rosa, o Benfica contratou um tal di Maria.
Não sei, não!...

quinta-feira, 26 de julho de 2007

A qualidade de gestão das nossas empresas...

Bem sei que o tema é recorrente. Mas nunca é demais assumirmos os erros e omissões do passado e pensarmos em fazer as coisas bem feitas no futuro. Refiro-me à qualidade das nossas empresas.
A qualidade das empresas é o espelho, entre outros factores, da qualidade da sua liderança, isto é, das competências e capacidades dos gestores que se ocupam dos seus destinos, responsáveis pela estratégia e mudança, pela organização, inovação e marketing, pelo investimento na formação e motivação dos trabalhadores.
Não é surpresa para ninguém, aliás é uma evidência recorrente, que é, em média, fraca e inadequada a formação dos nossos gestores, em particular, das PME. São estas estruturas que constituem a malha principal do nosso tecido empresarial. É aqui que está o (potencial) coração do investimento, do emprego e da criação de riqueza do País.
A formação da gestão reflecte-se naturalmente nas práticas da gestão, desde o desempenho e gestão por objectivos, passando pela gestão dos talentos, até a operação de eliminação do desperdício e, também, nas práticas organizacionais, designadamente ao nível da autonomia de decisão e do modelo de estrutura hierárquica.
Um estudo recente realizado pela Mckinsey junto de quatro mil empresas nos EUA, Ásia e Europa, recentemente divulgado, vem confirmar tudo aquilo que já sabemos. Atesta as consequências das desastrosas políticas de fraca aposta na qualificação dos portugueses, fosse pela via do ensino, fosse pela via da formação profissional, que se perpetuaram de forma cega nas últimas décadas. Portugal regista um défice grave educativo que prejudica o desempenho das empresas.
Segundo o estudo, Portugal está no fim da tabela no indicador "Média de trabalhadores com licenciatura" com 3,5% e no quartil inferior no indicador "Média de gestores com licenciatura" com 51,9%.
A melhoria da produtividade e competitividade do País está também dependente do aumento da qualidade de gestão nas empresas. Sem bons gestores dificilmente conseguiremos progredir... Com facilitismos na educação não iremos longe. E a exigência começa nos bancos da escola, em que os baixos níveis de aproveitamento das disciplinas da matemática e do português não deixam, no contexto descrito, de ser indicadores muito preocupantes!

“Obesidade e amizade”...

Um dos aspectos mais sedutores do estudo não é só conhecer coisas novas, mas, sobretudo, por em causa aquilo que pretensamente já “sabemos”. O efeito provocador da novidade causa-me uma certa sensação de bem-estar ao antever um futuro que “ridicularizará” o presente à semelhança do que acontece hoje relativamente ao conhecimento do passado. Ainda bem!
Esta pequena reflexão prende-se com um artigo que revela o carácter “contagioso” da obesidade entre amigos e familiares.
Não entrando em pormenores sobre as múltiplas causas de obesidade já conhecidas, agora, apareceu mais uma, de facto, muito curiosa. Ou seja, um indivíduo tem mais probabilidade de ser obeso por influência da obesidade dos seus amigos e familiares. Este efeito é superior ao determinado pelos efeitos dos genes. Nem mais! Parece que os laços de amizade influenciam, mesmo à distância, este efeito obesógeno. Os efeitos, curiosamente, são muito mais intensos entre elementos do mesmo sexo, caso de amigos, mas também existe um efeito similar entre os membros do casal. Neste mesmo estudo, os autores não verificaram este fenómeno com os vizinhos, nem com outros comportamentos, descartando o papel dos factores ambientais. Parece que as influências sociais, desenvolvidas pela amizade, têm um papel preponderante. Sendo assim, talvez a magreza possa tornar-se, também, contagiosa!
Há alguns anos, quando andei pela Assembleia da República comecei a ficar mais “gordinho” o que me surpreendeu. Ouvir a minha secretaria, ao fim-de-semana, a comentar: “Ah! A Assembleia está a fazê-lo mais gordo”, irritava-me! Mas era verdade, porque comecei a enervar-me com os colares das camisas. Claro que os meus hábitos alimentares foram alterados. Passei a fazer mais refeições fora de casa e não comia a horas. A estas alterações adiciono as sandes de ovo e de atum com que atulhava o estômago. Deste modo, tentei justificar o aumento de alguns quilos, apesar de todos os esforços para evitar o excesso de peso. Mas ao fazer as minha contas, em termos de ração calórica diária e do esforço físico dispendido, conclui que não havia motivos para este fenómeno. Às tantas, pensei, bom, mais uma das consequências da idade! Alteração do metabolismo. A idade paga tudo, como devem saber!
Agora, ao ler este artigo, comecei a raciocinar: será que o facto de ter feito novos amigos, alguns deles com excesso de peso, um deles, por exemplo, o meu companheiro de gabinete, que, em boa hora, deixou de fumar e por esse motivo engordou, poderão ter induzido a adquirir mais uns quilitos? Não sei, mas o que é certo é que estamos perante uma nova “forma” de medicina a que os anglo-saxões denominam “network medicine”, através da qual se pretende estudar os mecanismos da doença e o desenvolvimento de novas terapêuticas.
A obesidade constitui um dos mais importantes factores de risco, sobretudo, cardiovascular, mas a amizade é sem sombra de vida o mais importante factor de “protecção” e de satisfação. Sendo assim, passarei a ser mais condescendente com os meus amigos, nomeadamente os mais barrigudinhos. Viva a amizade! Mesmo que seja à custa de mais uns quilitos de gordura....

Caramba...fale verdade, Sr. 1º Ministro!...

Para além de ter um procedimento ético, julgo que o 1º Ministro, nomeadamente nesta altura do ciclo governamental, teria toda a vantagem em dizer a verdade aos portugueses sobre as contas públicas. Não o tem feito e ainda ontem perdeu mais uma oportunidade de o fazer. Pelo contrário, o que o 1º Ministro enfatizou foi a diminuição do défice, o controlo da despesa e o bom resultado das contas públicas do 1º semestre de 2007. O que não é manifestamente verdadeiro.
Basta consultar, com olhos de ver, a Síntese da Execução Orçamental de Junho de 2007, publicação oficial do Ministério das Finanças.
1. a diminuição do défice não se deveu nada ao controle da despesa, mas ao aumento da receita. As receitas aumentaram 1,780 mil milhões de euros, a despesa corrente aumentou 870 milhões de euros, a diferença foi de 910 milhões de euros, precisamente igual ao valor da diminuição do défice, que foi de 923 milhões de euros.
2. Em impostos, os cidadãos foram esportulados em mais 1.360 milhões de euros, um aumento de 8,6%.
3. a despesa pública total não está a diminuir; pelo contrário, vem aumentando em termos nominais e reais. Aumentou 3,9% no 1º semestre deste ano. Um aumento real, já que a inflação foi menor.
4. a agravar a situação, a despesa pública corrente está a aumentar a um ritmo superior, já que o acréscimo foi de 4,5%.
5. o que significa que o governo, não tendo podido ou querido estancar a despesa corrente, diminuiu o investimento público. O decréscimo foi de 2,9%.
Continuar a aferir a evolução da despesa em termos de PIB é um logro nas actuais condições das finanças portuguesas. Basta que haja uma diminuição do PIB, estagnação ou mesmo um aumento pouco significativo, para que o défice suba. E novos impostos serão precisos para o fazer baixar, com adicional e irreparável prejuízo da economia. É por isso que é sempre mais fácil aos governos actuar sobre o défice do que sobre a despesa. Não têm o trabalho de cortar na despesa e justificam com o défice a sobrecarga de impostos.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

"Insultos"...

“O insulto é a arma dos fracos”
(Sócrates 25 de Julho de 2007)

Concordo perfeitamente!

Frase de um homem que nunca insulta, nem insultou!

Como neste país não se faz outra coisa, está perfeitamente justificada a fraqueza lusa…

Nova polémica

Ao que parece Sócrates quer o tratado reformador seja conhecido como Tratado de Lisboa. Durão Barroso discorda. Entende que baptizada a estratégia gizada na última presidência lusa da União como Estratégia de Lisboa, é Lisboa a mais. Vai daí, relata a imprensa, pretende que o tratado reformador venha a ser conhecido por Tratado de Sintra.
Sugiro que, sendo bem sucedido o esforço da presidência portuguesa na condução das negociações finais, se aposte num compromisso e o acordo venha a ser conhecido por Tratado do Casal do Cotão, por ter sido aí assinado, nesse lugar da freguesia de S. Marcos, exactamente a meio caminho entre Sintra e Lisboa.
Alemães, franceses e ingleses, checos, espanhóis ou suecos, habituados à fonética do ditongo pela habituação ao apelido do José Manuel, adorarão esta solução que, além do mais, põe termo a esta nova polémica que ameaça por em causa o cumprimento do famoso mandato...

A feitora, o patrão e a charrua


Por indicação de um olheiro, a feitora pensou ter descoberto um naco de boa terra fértil que, bem lavrada e semeada, lhe concitaria a eterna gratidão e as benesses do patrão. Tratou a terra com desvelo e investiu todos os seus recursos na sementeira. Mas, por mais que tivesse sido lavrada e revolvida, a terra era ruim e não foi capaz de dar fruto. O patrão viu que o investimento efectuado se estava a revelar ruinoso, lhe delapidava recursos e sobretudo fazia desviar as atenções de projectos mais importantes noutras áreas. Decidiu abandoná-lo, por isso. Entretanto, para dar visibilidade ao investimento e salientar a excelência do mesmo, que deveria ficar como exemplo perene para as gerações vindouras, a feitora tinha castigado um trabalhador qualificado, por falta que não cometera, deportando-o para outras terras.
Terminado o projecto sem honra nem glória, a feitora continuou a ser considerada e, apesar do erro grosseiro, foi mantida no seu lugar, com todas as honras inerentes.
Em vários quadrantes, logo se ouviram os maiores elogios ao patrão pelo rasgo, magnanimidade, coragem e autoridade evidenciadas na decisão que tomou.
O trabalhador deportado não mereceu qualquer palavra do patrão. Continua a mourejar no exílio.
Assim termina uma história exemplar. Termina?

terça-feira, 24 de julho de 2007

Fim da Bioconspiração Líbia....


Ao fim de oito anos, as cinco enfermeiras búlgaras e um médico palestiniano, condenados à morte por terem “deliberadamente”(!) infectado crianças líbias, ganharam a liberdade, depois de ter sido comutada a pena de morte pela prisão perpétua. Assim que chegaram à Bulgária, o presidente Georgi Parvanov concedeu-lhes de imediato o “perdão”, terminando uma das mais negras páginas do terrorista líbio Kadaphi.
Graças a Deus que terminou este pesadelo para os profissionais de saúde...

“Hinduísmo politico”...

Foi detectada a um boi, Shambo de seu nome, com seis anos, uma tuberculose activa. De acordo com as leis britânicas tem que ser abatido, o que parece mais do que razoável. Na prática, as coisas são muito complexas, correndo o risco de ir parar a tribunais. Shambo é um boi sagrado, e pertence a um templo hindu. Os seus adoradores opõem-se ao seu abate. Presentemente está isolado e, presumo, a ser tratado. Foi lançada uma petição, que já recolheu mais de 17.000 assinaturas, além da colocação de uma câmara para que possam acompanhar os seus movimentos.
Os hindus, que adoram quem lhes apetece, apelaram à Justiça do Pais de Gales para que seja impedido o abate sanitário de tão fulgurante entidade.
A leitura desta notícia fez-me recordar os recentes episódios em que estiveram envolvidas várias personagens vítimas de “bufonaria” e, mesmo, de perseguição. Têm sido considerados, na opinião de muitas pessoas, como verdadeiras lições de “intolerância”, ou, segundo outros, como perfeitos “exemplos” para os seguidores de uma nova ordem social, em que o respeitinho e a lealdade para com os comandantes do povo deverão ser tomados em linha de conta sejam quais forem as circunstâncias e locais. A tendência para uma certa sacralização política é uma realidade, fazendo emergir o conceito das “vacas sagradas”. Tudo aponta para isso.
De facto, as notícias sobre exonerações, ameaças de processos disciplinares e queixas-crime por motivos vários, mas que se encaixam naquilo que podemos catalogar de delito de opinião, começam a ser sinais muito preocupantes com reflexos negativos na sociedade e, até, nas próprias hostes socialistas.
O caso do Charrua, que já fez correr muita tinta e gente, - e cujo processo foi hoje arquivado pela senhora Ministra da Educação - fez-me recordar uma conversa com um simpático, expansivo e vozeirão colega que, a propósito da expressão "filho da p.", me disse há pouco tempo: - Estou tramado! Perguntei-lhe: - Estás tramado?! Por quê? - Agora já não posso utilizar o "meu filho da p. desportivo" com que gosto de mimosear as pessoas. Ora gaita! Queres ver que ainda vou ter chatices! - Dei uma gargalhada e disse-lhe: - Ai vais, vais! Tens que ter muito cuidado, olha sempre para os lados, vê se estás nalgum “território perigoso”, e, se mesmo assim, te sair a tua frase "favorita", tens que acrescentar de imediato: "É pessoal eu disse isso mas foi na desportiva"! Não te esqueças que o “hinduísmo politico” já anda por aí e com seguidores à farta...
Agora, segundo o despacho da senhora Ministra da Educação, tenho que avisar o meu colega de que já pode utilizar a sua expressão coloquial predilecta, filha dos velhos tempos da academia, desde que não seja dirigida a nenhum superior hierárquico...

A "second life" do Ministério da Educação!...


O episódio de ontem, em que Sócrates e Ministra da Educação deram início ao “plano tecnológico da educação”, e a que me referi no meu post de ontem, O figurão e os figurantes, acaba por ser o exemplo mais perfeito do modo como é gerido o ensino em Portugal.
Uma sala, que não era sala de aulas, professores que não eram professores, e alunos que eram figurantes!...
O Ministério da Educação vive numa completa realidade virtual, em que a sala de aulas é salão de exposições, professores são substituídos por demonstradores e os alunos pagos à peça pelas empresas fornecedoras e, no fim, pelo orçamento.
Não acabem com ele, não!...

A Velha das Vacas


Reconheço que é indecente a mulher ter ficado com o nome de Velha das Vacas, mas aquela primeira impressão foi tão marcante que, mesmo passados vários anos, não conseguimos deixar de a referir dessa forma.
A nossa casa na aldeia estava já pronta, com o murete à volta e a cancela de madeira, mais para marcar território do que para impedir a entrada, não gosto de muros altos nem de portas trancadas. Foi nessa altura que decidimos que ficava bem uma barra de calçada portuguesa à volta da casa, começando por um carreirinho desde a cancela e depois uma barra larga à volta, o espaço sobrante ficava para a relva e para o jardim que me desse na inspiração ir fazendo crescer. Naquela altura as ervas e o mato chegavam ao joelho, só depois da obra feita é que se ia tratar de limpar e pôr terra nova.
Contratámos a obra, aquilo era caro, mas já agora, é sempre o já agora que desgraça os défices, mas enfim, o homem garantiu que ficava bem feito, lisinho, resistente, uns 15 dias e estava pronto a estrear com a casa.
Quando fomos ver a obra pronta caiu-nos a alma aos pés! De facto lá estava o carreiro, lá estavam as pedras da calçada à volta da casa, mas lisinhas?? não! Pelo contrário, pareciam postas por um louco, passo sim passo não afundavam-se na terra, outra saídas do lugar como se alguém tivesse andado aos pontapés às pedras, não havia meio metro de calçada escorreita! O calceteiro estava perplexo, jurava que tinha deixado tudo direitinho, ele sabia que o chão havia de ceder mas não era assim, ainda nem tinha chovido uma gota, que diabo!?! Notei também umas clareiras no matagal do terreno, aqui e ali estava raso, como se alguém tivesse começado a limpar ao calhas, e tivesse desistido a meio...
Foi então que vimos a velhota, cabelo curto e cara redonda, muito vermelha, a acenar para mim do lado de fora da cancela “- Ó Dona, ó Dona!” e fui ao seu encontro.
- A Dona é que vem pra esta casa? É que eu moro aqui ao cimo da rua, costumo trazer a vaca a pastar e a Malhada teve um vitelo, gosta muito dessa erva, a mim dá-me jeito, ela fica aí e eu vou à minha vida, é só encostar a cancela de madeira e ela não vem cá para fora...e de um modo limpa-lhe o terreno, já não tem que cortar o mato. É para lhe pedir que não deite veneno nas ervas...
Num relâmpago esclareci o mistério. As pedras afundavam ao ritmo dos passos da vaca, assim se explicava a profundidade a que cada uma se tinha enterrado e a relativa regularidade com que os estragos se desenhavam E a erva roída...
Mas a candura da velha desarmou-me por completo, ela nem tinha percebido nada, parece que ela não se atrevia e entrar, só deixava que a vaca empurrasse a cancela!
Combinei então um acordo original: ela não deixava o animal entrar e eu comprometia-me a apanhar a erva e a deixá-la num grande monte ao pé do muro para a Malhada comer quando passasse. E assim foi, durante uns tempos, mal via o mato mais espigado eu apanhava-o zelosamente e deixava o monte junto ao muro, na vez seguinte já nem havia rasto, mas tinha um saquinho de figos à porta, ou meia dúzia de ovos.
Com isso aprendi a reconhecer várias espécies de ervas daninhas e as melhores técnicas para as arrancar pela raíz, na esperança de não voltarem a crescer. além disso ganhei uma amiga e o homem ficou tão admirado com este entendimento que decidiu repor a calçada sem cobrar a dobrar!
Mas nem com as ervas as técnicas são infalíveis, as de má raça voltam a nascer por muito cerce que se cortem e, mal nos distraímos, aí estão fortes e arrogantes.
As coisas que se aprendem no campo...

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Uma tartaruga em cima de um poste...


Recebi hoje uma pequena "fábula" que circula na Internet. E como acontece com as fábulas, o seu desenlace reflecte normalmente uma lição moral... Achei muita piada à fábula que vou contar, porque encerra justamente uma grande verdade...
O seu autor - desconhecido - sabia bem o que estava a escrever. É afinal uma "fábula" com muito de real no mundo da (real) política... E não só!

Enquanto suturava um ferimento na mão de um velhinho, cortada por um caco de vidro, o médico e o paciente começaram a conversar sobre o país, sobre o governo e sobre a oposição.
O velhinho disse:
- Bom, o senhor doutor sabe, os governantes são como as tartarugas em cima de um poste...
Sem saber o que o velhinho quis dizer, o médico perguntou o que significava uma tartaruga em cima de um poste.
E o velhinho respondeu:
- É quando o senhor doutor vai por uma estrada, vê um poste e lá em cima tem uma tartaruga a tentar equilibrar-se. Isso é uma tartaruga em cima de um poste.
Diante da cara de interrogação do médico, o velhinho acrescentou:
- Você não entende como ela lá chegou;
Você não acredita que ela esteja lá;
Você sabe que ela não subiu para cima do poste sozinha;
Você sabe que ela não deveria, nem poderia lá estar;
Você sabe que ela não vai fazer absolutamente nada enquanto lá estiver;
Você não entende porque a colocaram lá.
Então, disse o velhinho, tudo o que temos a fazer é ajudá-la a descer de lá e providenciar para que nunca mais suba, pois lá em cima definitivamente não é o seu lugar!

Depois desta pequena história, cada um fará o exercício de pensar quantos velhinhos sabem o que é uma tartaruga em cima de um poste, quantos médicos ainda não descobriram essas tartarugas e quantas tartarugas estarão, neste momento, em cima de um poste!

O figurão e os figurantes!...


Acabei de ver num telejornal das 20 horas e juro que não sonhei.
De forma solene e com pompa e circunstância, Sócrates e a Ministra da Educação deram início ao denominado creio que “plano tecnológico das escolas”.
Numa sala, perante uma turma com alunos, aí dos seus dez anos, e vários circunstantes, Sócrates e a Ministra discursaram. Um aluno foi chamado e fez uns rabiscos no quadro electrónico, a exemplificar o seu potencial pedagógico.
Toda a gente sorria e tudo terminaria em bem, se o jornalista não fosse demasiado abelhudo. É que se lembrou de perguntar a um aluno por que razão estava ali. Ingenuamente respondeu que a mãe tinha recebido uma chamada de uma empresa para o contratar e recebia 30 euros pela presença. Assim como os outros.
Assim é que é bonito, profissionalismo acima de tudo. Não mais haverá vaias nem assobios. Preserva-se o figurão e ganham os figurantes!...
Adenda: Acabei de aprender agora que os figurantes foram contratados pela agência de casting da NBP, produtora de programas de televisão, especialmente novelas...

Sinal dos tempos

"Ali, senta-se o Quarto Estado, e é o mais importante de todos eles". - Edmund Burke, observando a Galeria da Imprensa da Câmara dos Comuns.

A imagem chocante de dois assessores do Presidente Lula da Silva a manifestarem gestualmente a sua satisfação por uma notícia que responsabilizava a companhia de aviação pela tragédia de do aeroporto de Cangonhas em S. Paulo, é um preocupante sinal dos tempos. Não tanto pela baixeza do carácter revelado por aquelas duas criaturas que se regozijavam pela desresponsabilização do Governo ao manter em funcionamento um aeroporto sem condições de segurança e se mostravam insensíveis ao horror de tantas vidas perdidas. Mas sobretudo porque aquele comportamento de pessoas próximas do núcleo do poder central brasileiro, mostra como a governação é orientada não pelas preocupações de prosseguir o bem comum, mas pela obsessão, por vezes extrema, de passar bem na opinião publicada.
Infelizmente não é um fenómeno localizado em terras de Santa Cruz. Por cá é o mesmo. A agenda política, e bem assim como a agenda de alguns actores da economia fora do círculo do Estado, também são determinadas pela comunicação social, pelo mainstream confundido com senso geral ou opinião pública.
O verdadeiro poder está cada vez mais sediado aí, nas redacções de jornais, das rádios e sobretudo de televisões.
A luta pela manutenção do poder deixou de se passar nas arenas políticas tradicionais, designadamente nos Parlamentos cuja actividade pouca atenção suscista. Deixou (definitivamente?) de depender do combate entre os desacreditados partidos políticos cuja razão de existirem assenta justamente na luta pela conquista e manutenção do poder. Deslocou-se para as páginas dos jornais, para os espaços noticiosos e de análise política de rádios e sobretudo televisões. Poder que reclama para si nenhum outro controlo que não o da auto-regulação (de que no Estado talvez mesmo só as magistraturas beneficiam, e mesmo assim limitadamente).
É o poder efectivo detido pelas instâncias mediáticas que hoje condiciona verdadeiramente os actos de governo pela influência que tem nos governantes. Fá-los cegos a responsabilidades, tornando-os exclusivamente sensíveis aos ditâmes das conveniências mediáticas.
Tenho ouvido apelos no sentido da premência da melhoria da qualidade da democracia. Justificados apelos. Pena é que, no diagnóstico, não conste este que é dos fenómenos mais corrosivos da vida colectiva.

Intervalo!...

As manas Carolina e Ana Maria Salgado, antes tão ligadas, desentenderam-se. E cada uma descreve os mesmos factos de forma diferente. O assunto pelos vistos é transcendente e volta a ocupar, a letras grossas, as primeiras páginas dos jornais. Mesmo dos ditos de referência.
Como sempre, muita imprensa e muitos jornalistas, às claras ou de forma mais obscura e velhaca, já escolheram. A mana pura é a Carolina e a sua versão a verdadeira; a mana pérfida é Ana Maria e a sua versão obviamente falsa. A primeira é credível, a segunda oportunista; a primeira fonte jorra água límpida e cristalina; a segunda não é mais que um chafurdo.
Um episódio sem importância de maior, se não constuísse um exemplo acabado do rigor que muita da nossa comunicação social empresta a outros factos, esses verdeiramente relevantes.

domingo, 22 de julho de 2007

Nem as Descobertas nos podem valer...

Diariamente, pelo menos, de manhãzinha e ao anoitecer, percorro a zona ribeirinha entre Alcântara e a Torre de Belém. A zona ribeirinha de Lisboa é-me muito querida. Sou sensível à beleza natural que se desenha na relação entre a cidade e o rio, em particular na zona em que a terra e o rio se encontram, e à beleza e riqueza artísticas das obras culturais e da história de Portugal que se abeiram do rio numa relação de cumplicidade única.
A proximidade do meu quotidiano à zona ribeirinha reflecte-se na atenção que dispenso à sua paisagem, não me passando despercebidas as intervenções que vão sendo feitas naquela zona. As boas e as más...
A zona ribeirinha é um ex-libris de Lisboa e deveria ser tratada como tal. Tratada com pinças!
O novo modelo de gestão para a zona ribeirinha está na agenda política do Governo e não houve candidato à presidência da CML que se prezasse que não tivesse trazido para o discurso eleitoral o tema da intervenção na zona ribeirinha: com promessas disto e daquilo, com ideias luminosas, com anúncios recorrentes de ideias e realizações aqui e ali, mais para norte ou mais a sul, sem que, muito francamente, os lisboetas tivessem verdadeiramente compreendido o que poderão esperar, eles e os visitantes de Lisboa, da actual zona ribeirinha.
O que certamente não queremos é que a zona ribeirinha seja transformada numa zona de promoção imobiliária. Sim, o imobiliário é um dos grandes perigos que fustigam a zona ribeirinha, ou melhor, constitui uma tentação para as várias entidades que têm responsabilidades no seu ordenamento, designadamente a Administração do Porto de Lisboa.
Vem tudo isto a propósito da construção em curso de um hotel – Hotel Altis de Belém – na Doca do Bom Sucesso, na frente ribeirinha entre o Monumento Padrão das Descobertas e a Torre de Belém. Uma obra de volumetria apreciável, pelo menos à vista de um cidadão normal. Uma construção, em meu entender, criminosa, injustificável, quaisquer que sejam as razões que queiram apontar, sendo inaceitável o argumento da necessidade de oferta/promoção hoteleira/turística.
Uma vergonha o que se está a fazer, com consequências irremediáveis na beleza do recorte paisagístico da frente ribeirinha, constituindo um duro golpe no já de si frágil equilíbrio existente, num total desrespeito pela vocação da zona.
Coincidência ou não o arquitecto responsável de mais esta aberração é Manuel Salgado, o número dois da lista do futuro presidente da CML. Pena que, durante a campanha, não tenha sido confrontado com esta encomenda. Provavelmente, encontraria uma qualquer importante desculpa ou um qualquer sofisticado argumento para explicar o inexplicável. E tudo não passaria de mais um equívoco!
A conclusão a retirar de mais este lamentável erro urbanístico e ambiental, para não lhe chamar outra coisa, é que não há, mesmo, quem nos defenda! Nem as Descobertas nos podem valer...

Os Computadores e os Professores

O 1º Ministro procedeu à primeira distribuição de computadores, programa em que estão incluídos professores do ensino básico e secundário.
Durante muitos anos, vi os professores como uma elite, com lugar destacado na sociedade. Davam-se ao respeito, eram respeitados e mereciam geralmente esse respeito.
Com o 25 de Abril, “proletarizaram-se”, muitos profissionalizaram-se nos sindicatos e estes envolveram-se em manifestações de protesto, gerais ou corporativas, desenvolveram greves, e nessas acções cometeram os mesmos excessos que classes profissionais menos preparadas.
Os professores deixaram de ser elite e passaram a ser iguais. E a terem, obviamente, um tratamento igual, por parte dos pais, camaradas e "tu-cá-tu-lá" em tantas manifestações, e também dos alunos, que os ouvem e vêem aos gritos na televisão como quaisquer outras massas trabalhadoras.
Agora, são tratados como indigentes e passaram a ser objecto de caridade do Governo, que lhes faculta computadores, a desconto e a prestações, e abatimento na assinatura da internet.
Outrora uma elite, agora às migalhas do Governo.
Desculpem-me os verdadeiros professores, mas esta é uma forma de lhes prestar a minha solidariedade por tudo o que vêm sofrendo com o actual estado do nosso ensino. E que nem quinhentos mil nem dez milhões de computadores resolverão.

“Dores”...

O significado e a interpretação das dores relacionadas com a desfloração e o parto têm sido objecto de muitas análises. Não há sociedade que as não tenha incorporado na sua cultura. São inúmeras as explicações. No entanto, uma explicação evolutiva concede-lhes um significado especial. A dor física, e o aspecto emocional associado, promove e reforça os laços entre os indivíduos, a nível do casal e dos mais próximos dentro da comunidade, contribuindo para melhorar as capacidades humanas.
O medo e a dor associados a estes dois momentos, aparentemente, não batem certo, porque contrariam o prazer indispensável a um dos actos mais importantes: estimular a procriação! Sendo assim há necessidade de encontrar razões para estas dores.
Relativamente ao hímen, alguns evolucionistas interpretam-no como consequência da selecção de mulheres que apresentavam esta membrana face às que não a tinham, possibilitando a criação de “garantias” e “atributos”, aproveitados ao longo dos tempos para vários fins, dos quais se destacam o domínio por parte do sexo masculino e, em certas circunstâncias, a humilhação do ser humano.
As dores de parto são consideradas como um castigo. Basta ir ao Génesis e ler: - Depois, disse à mulher: «Aumentarei os sofrimentos da tua gravidez, entre dores darás à luz os filhos. Procurarás apaixonadamente o teu marido, mas ele te dominará.» (G. 3,16).
Os partos de outras espécies, sobretudo selvagens, decorrem com uma simplicidade estonteante, contrastando com a nossa.
Foi num dia de Agosto, precisamente o da Assunção de Nossa Senhora, tinha dez anos, quando “ouvi” o meu primeiro parto. Eram 10 horas da manhã. Na rua principal, não havia ninguém, nem passava um carro. O Sol aquecia de forma particularmente violenta, obrigando-me a procurar a sombra da casa dos Arcos. De repente, comecei a ouvir gritos de dores numa cadência crescente, espaçados de curtos períodos de calmaria, como se fossem cólicas, mas de uma intensidade tal que fiquei aflito. Sabia de onde vinham, quem os emitia e, também, a razão de ser. Só não sabia que era acompanhado de tamanho sofrimento. Ainda aguentei algum tempo, mas a ressonância na rua deserta era assustadora, obrigando-me a fugir para casa. Não disse nada. A meio da tarde, acompanhei a minha mãe que foi fazer uma visita de cortesia à senhora. Inchada, com ar desleixado e bastante suada, pegava ao colo o rebento. Havia um sorriso feliz que contrastava com a gritaria da manhã. “Mas esta mulher sofreu tanto para ter o filho”... Por que é preciso sofrer tanto?
Em casa, perguntei as razões de tantas dores. Lá me disseram qualquer coisa para me calar. Um dia, mais tarde, uma prima do meu pai disse-me que as mulheres tinham que ter dores e quanto mais dores melhor, porque assim passavam a gostar mais dos filhos. Fiquei de boca aberta. Lembro-me de lhe ter ripostado que as cadelas e as gatas não sofriam assim. Quase que me insultou pela comparação com os animais. Tive que arrepiar caminho e lembrar-lhe que a J., mulher solteira com muito filhos e que vivia num miserável barracão, tinha tido, recentemente, mais um, ou melhor, mais uma, sozinha. De manhã, passou pela minha casa com uma cesta à cabeça – ia para uma fazenda onde a deixavam cultivar algumas coisitas –, e, ao princípio da tarde, desta vez sem barriga, trazia a cesta debaixo de um braço, e no outro, embrulhado no pano da rodilha, a filha. Ainda ouvi perguntar-lhe como é que tinha acontecido e se tinha tido muitas dores... Sentiu qualquer coisita, e quase que não teve tempo de deitar-se no chão. Esperou um pouco, e, depois, com a faca de cortar as couves, separou-se da filha. O que a incomodou mais foram as secundinas que demoraram a sair mais tempo do que o habitual. A seguir, enterrou-as na leira, bem fundo, para que os animais não as comessem.
Pode ser que as dores de parto, com o seu poderoso efeito emocional, tenham tido um papel muito importante ao estimular a solidariedade e o reforço entre os próximos, ajudando a mulher num momento particular e tão sensível para a comunidade: o nascimento de mais um ser. Mas, também, é certo que algumas não sentem grande coisa. Hoje, graças aos meios que dispomos, podemos e devemos minimizar esse sofrimento, até, porque, em termos evolutivos, precisamos de outros motivos para estimular e reforçar a solidariedade...

sábado, 21 de julho de 2007

Nem sei!...

Santana pondera criação de novo partido à direita, refere o Diário de Notícias.
Nem sei que mais lamentar: se Santana, se o novo Partido!...

Perplexidades

Ouvi ontem, da boca do senhor Presidente da República, estas palavras: "Quando a legislação não é aplicada, os cidadãos podem recorrer a instâncias próprias, ao sistema de justiça". Não me apercebi de imediato que se estava a referir à recusa por parte dos órgãos de governo da Madeira em aplicarem - leia-se, criarem as condições para aplicação - a lei que consente a interrupção da gravidez a pedido da mulher e o direito de o realizar no sistema público de saúde.
Só me dei conta que era esse o móbil da declaração presidencial quando o locutor o referiu. Confesso que fiquei perplexo. E mais perplexo fiquei quando ouvi o senhor Presidente da República, primeiro garante do respeito pela Constituição e pela regularidade do funcionamento de todas as instituições democráticas, declarar ainda que é "às instâncias próprias, judiciais, que compete analisar se há ou não cumprimento da lei e, se não há, aquilo que deve ser feito".
Não foi um momento particularmente feliz do senhor Presidente da República.
Sem discutir o acerto das opções vertidas na lei, o que está em causa é recusa de aplicação de uma lei da República numa parcela do território nacional, por deliberado acto de rebeldia de um governo regional. E a isso o supremo magistrado não pode nem deve ficar indiferente. Nem muito menos dar a entender que esse é um problema que se resolve com o recurso aos Tribunais pelas grávidas que não virem reconhecido um direito que - concorde-se ou não - lhes é outorgado pela vontade da Nação expressa em letra de lei!
Já agora, porque parece que de repente os mais elementares princípios são subvertidos da forma grosseira que a falta de crítica facilita, diga-se que a explicação dada pela Assembleia e pelo Governo Regional da Madeira para se recusarem a aplicar a lei é absurda e intolerável. A razão invocada, recordo, é esta: levantaram-se dúvidas sobre a constitucionalidade do diploma aprovado pela Assembleia da República, promulgado pelo Chefe do Estado e publicado no jornal oficial. Em vigor, portanto. Mas porque se levantaram essas dúvidas aguardam que o Tribunal Constitucional se pronuncie. Ora, as leis não deixam de ser leis - e de obrigar como tal - porque se requereu a fiscalização da sua conformidade constitucional. Beneficiam, como é óbvio, da presunção da sua constitucionalidade, desde logo em homenagem à legitimidade democrática de quem as fez. E é assim até que essa presunção seja elidida por decisão do órgão próprio.
Imaginam o que seria se cada um de nós se pudesse furtar ao cumprimento da lei por via da mera alegação da sua inconstitucionalidade? Alguém cumpriria as que consentem que o Estado nos vá constantemente ao bolso?

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Tem piada...e não ofende!...

Com a devida vénia ao 31 da Armada e a Rodrigo Moita de Deus:
"No debate do Estado da Nação, Sócrates repetiu várias vezes que não recebia "lições" de ninguém. Não precisava de dizer. Desde o caso da Universidade Independente que sabiamos disso".

Os tiques de que se fala

Leio e ouço alguns dos nossos comentaristas e analistas chamarem a atenção para a injustiça que é imputar-se ao Primeiro-Ministro a responsabilidade directa por alguns episódios de intolerância. Ou pelo clima instalado nalguns sectores da Administração Pública. Se é exagerado dizer-se que o clima é de medo generalizado, não o será se se disser que são reais as condicionantes à liberdade de dizer (pelo menos). E, correlativo, o estímulo aos que vendem barato a alma para agradar ao poder instituído pelo preço de uma pequena participação.
Alguns militantes socialistas nunca perceberam que o grito do Dr. Jorge Coelho "quem se mete com o PS leva!" tinha um sentido e um alcance meramente metafóricos. E obedecem à letra!
O clima é, de facto, propício à assumpção dos "bufos", à proliferação dos "engraxadores" do poder e dos "lambe-botas" daqueles que o exercem.
Não resisti a esta nota porque acabo de ouvir, num dos telejornais, as inadmissíveis respostas do Primeiro-Ministro às questões e comentários do Dr. Marques Mendes no debate parlamentar sobre o estado da Nação. A sobranceria, a roçar desde logo a má-educação na forma e no gesto como se dirigiu ao líder da oposição, revela talvez a faceta mais desagradável de Sócrates: a sua dificuldade de conviver com a crítica, o seu quase nulo poder de encaixe.
Podem dizer-me que outros chefes do governo, outrora, tiveram comportamentos parecidos no Parlamento e fora dele. Será verdade, ainda que me não lembre de um primeiro-ministro que reaja tão mal à crítica. Mas o que também é indesmentível é que, os mesmos que levam à letra e à prática as palavras só metaforicamente incendiárias do Dr. Jorge Coelho, se sentem hoje caucionados, quando assistem a estas prestações do chefe, a dar largas à sua genética tendência para o autoritarismo...
Terá o Primeiro-Ministro consciência que a sua postura intolerante vai gerando, por esse País fora, criaturas que se tornam mais Sócrates que o próprio Sócrates?

Gato escondido...com tudo de fora

1. Na AR foi ontem aprovado (só PS) um diploma que, ou estou bastante enganado ou vai dar ainda muito que falar daqui por alguns meses.
Trata-se do “novo sistema de financiamento da rede rodoviária nacional”, despesa pública pura e dura, a cargo das Estradas de Portugal e que pela via do mecanismo ontem consagrado em Lei vai sair do orçamento.

2. Por trás desta pomposa expressão “novo sistema de financiamento da rede rodoviária...”, o que está em causa é a desafectação de uma parte da receita do imposto sobre produtos petrolíferos (ISP) para constituir receita própria das Estradas de Portugal, agora convertida em entidade pública empresarial EPE, depois de ter sido serviço autónomo.

3. Trata-se de uma violação clara do princípio da “Não Consignação”, estipulado no artigo 7º da Lei de Enquadramento Orçamental: não pode afectar-se o produto de quaisquer receitas à cobertura de determinadas despesas.
E não existe qualquer “razão especial” que pudesse ser invocada, ao abrigo da excepção prevista na alínea f) do nº2 daquele artigo, para justificar este desvio ao princípio.
Se fosse criada uma nova contribuição rodoviária, o assunto ainda poderia ser discutível.
Mas não é disso que se trata, do que se trata é de retirar uma parcela de receita ISP que já pertence ao orçamento.

4. Numa primeira leitura, reduzindo a receita do ISP em X e reduzindo a despesa com as estradas em X também, o saldo do orçamento ficaria na mesma.
Só que não é assim, pois a receita de ISP que é transferida para as Estradas de Portugal, vai permitir que esta EPE consiga fazer muito mais despesa do que a receita orçamental que lhe foi afecta, recorrendo a empréstimos bancários e outras engenharias financeiras.
Ou seja, com uma receita X retirada do ISP para ser afecta às Estradas de Portugal isso vai permitir a esta EPE realizar despesa 2X ou 3X, que deixa de ser despesa orçamental.

5.A questão foi abordada em debate ocorrido há dias em audição do Gov. BP em comissão especializada.
Ficou então a saber-se aquilo que já se tinha percebido: o objectivo desta operação é dotar as Estradas de Portugal de um nível de receitas próprias (+50% do total das suas receitas) que justifiquem a sua não inserção no chamado “perímetro orçamental”.
Mas isto, como o próprio Gov. BP foi obrigado a reconhecer, é uma operação muito difícil, que o Eurostat não deixará de analisar à lupa.
Mas até lá, “folgam as costas” que é como quem diz folga o Orçamento.

6. Estamos perante uma operação de desorçamentação em grande escala, não parece possível outra interpretação.
Mas nem é isso que mais preocupa.
7. O que mais preocupa é que se acumulam sinais de que o tão propalado “controlo” da despesa pública está a revelar-se pouco eficaz - e com a aproximação do período eleitoral esta situação dificilmente vai melhorar.
O anúncio recente de que o défice de 2007 não deverá ser melhor do que 3,3% do PIB inicialmente previsto - quando todos os países europeus estão conseguindo fazer muito melhor do que a respectiva previsão (a Alemanha talvez consiga mesmo saldo positivo, quando a previsão era deficit de 1,7% do PIB) - é mais um importante sinal.

8. Por isso o recurso a estes artifícios. Que irá dizer o Eurostat a este “gato com tudo de fora”?

Ainda novos...mas já tão antigos!...

Poderosa análise, a de Pedro Lomba, no seu artigo de opinião de ontem, no DN, Herdeiros sem Herança. Não se aplica só ao PSD. Mudados os nomes, o PS está também aí retratado. Aliás está lá quase toda a classe política profissional que nos vem governando.
"...Uma geração que chegou cedo a cargos de Governo: Mendes ou Durão não tinham 30 anos quando se tornaram secretários de Estado e, desde então, não pararam. Uma geração que criou e apadrinhou o seu artista trágico, o próprio Santana, até ele resolver cumprir o seu destino. Uma geração que só podia acabar mal .... Foi o poder que os fez, que os inventou e reinventou. Mas, precisamente, uma educação política não se faz no poder. O poder comprime, deforma, vicia. O poder ilude. Uma verdadeira educação política tem de anteceder o poder...Ao contrário disso, uma geração inteira de líderes do PSD, amigos e inimigos cíclicos, aprendeu tudo o que sabe passando pelo partido e pelos governos. Jantou e intrigou, como insiders à mistura com outros insiders. Visitou concelhias. Viveu mais por dentro do que por fora. Infelizmente para ele, Marques Mendes pertence demasiado a uma geração que não teve nunca independência para criar um pensamento político próprio, nunca reflectiu sobre o mundo em que vivia nem sobre as transformações desse mundo, nunca passou pelo choque de realidade que a personalidade exige..."
Poderosa análise, a de Pedro Lomba!...

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Uma Choldra: resposta de Rui Tavares

No meu post de ontem Uma Choldra, critiquei um artigo de Rui Tavares, no Público, sobre Carmona Rodrigues, depois de citar um excerto do mesmo.
Rui Tavares respondeu em comentário sereno e educado, que o honra e honra o 4R. Como citei expressamente o nome do articulista, e muitos visitantes poderão não ter lido a sua “defesa”, ela aqui vai, porque respeitamos as opiniões alheias, com um brevíssimo “recomentário” meu.
muito boa noite a todos. vamos esmiuçar frase a frase.
Carmona..."...envergonhou Lisboa e a sua Câmara Municipal"
é a minha opinião. senti vergonha ao ver Lisboa ser sujeita a estas diabruras. outras pessoas, incluindo o autor do post, não terão sentido. creio que, visto do exterior, Lisboa e a CML saíram envergonhadas.
"...mergulhou-a em suspeições"
uma constatação, aliás incontestável.
"...favoritismos"
o que foi o episódio que deu origem à saida de Maria José Nogueira Pinto, por causa de um mero administrador?"
...e velhacarias"
idem. e as insinuações entre vereadores? e a falta de autoridade sobre a sua equipa? e a guerrilha interna? e a maneira como tramou marques mendes?
"...destruiu o PSD na capital"
palavras para quê?"
...está ainda amarrado a processos judiciais…"
e não está? será isso um pormenor, agora que a câmara começa uma fase nova? ou queremos passar outra vez pelo mesmo?
"Ninguém duvida de que Carmona e os seus vereadores colocariam ao serviço do PS os mesmos talentos que usaram com o PSD"
aqui confesso o meu erro; pelos vistos ainda há quem duvide!
"...envenenando a próxima vereação com a sua incompetência, os seus processos pendentes…"
quanto à incompetência é uma conclusão minha, que eu assumo: penso que está abundantemente provada pelos factos. quanto aos processos pendentes: serão eles uma mais valia? imagine que carmona (e gabriela) ganham pelouros importantes na próxima câmara. não seria essa vereação contaminada pelos processos?
não confundo arguido e condenado; sempre disse que Carmona (para mim) era como se fosse inocente. sempre escrevi (enquanto ele foi presidente) que ele era um péssimo presidente. desde que a sua equipa se desfez que eu defendo que ele teria de se demitir. são avaliações políticas, (e não jurídicas, que essas não me cabem).
para avaliações políticas a primeira condição é: cair na real. ainda me espanta que alguém tenha ilusões sobre carmona e não queira tirar as lições disto tudo.
Um abraço e obrigado pela atenção.

Caro Rui Tavares:
Não pus em causa qualquer avaliação pessoal ou política, de competência ou incompetência ou de falhas de carácter que tenha feito sobre Carmona. É a sua avaliação e não tenho nada com isso. O público do Público a apreciará ou não. Mas critiquei o facto de aludir, no meio de todos esses e outros aspectos negativos, a processos judiciais pendentes, que podem envolver a prática de crime, mas que ainda nem foram validados para serem presentes a juízo. Diz o Dr. Rui Tavares que eles existem. Não se nega a evidência. Mas as frases não se entendem apenas pelo seu valor facial, mas pelo contexto. E, no contexto, são mais uma acha para a fogueira de um julgamento popular, à margem de qualquer decisão dos Tribunais. Os líderes de opinião têm especiais responsabilidades em não atear labaredas que podem queimar, mesmo que acusadas e arguídas, pessoas inocentes, que o são até serem declaradas culpadas pelos Tribunais da República.
Obrigado pela sua visita. Esperamos que venha mais vezes!...

Caducidades

Há dias foi José Saramago a profetizar a absorção de Portugal pela Espanha. E a considerá-la tão natural como inevitável.
Hoje é o Dr. Mário Soares quem, numa entrevista dada a um periódico de esquerda alemão (Tageszeitung), vem revelar que não acredita que Portugal – leia-se, o Governo chefiado pelo senhor Engº José Sócrates – tenha condições para fazer aprovar o tratado europeu reformador.
A acreditar no que a imprensa anuncia, Soares terá dito que «a Alemanha, como maior país da União Europeia, passou a bola a um país pequeno e relativamente fraco, em vez de a enfiar na baliza».
Mais do que a falta de fé no partido do qual continua a ser a maior referência; mais do que a ausência de confiança no primeiro-ministro português e secretário-geral do Partido Socialista (que há bem pouco tempo lhe fez vontade de o apoiar num capricho que se transformou no desaire das presidenciais, desde sempre escrito nas estrelas), o que mais choca é esta falta de confiança no País e nas suas potencialidades, na capacidade dos actuais dirigentes, um mal disfarçado azedume para com a Pátria que o tem como um dos pais, sentimentos que aliás comunga com Saramago.

Pinho Cardão defendia aqui que a sabedoria chega sempre tarde. Mas nestes dois casos é duvidoso que alguma vez chegue...

API(CEP): oásis no deserto?

A Administração Pública em Portugal é globalmente uma fonte de enorme desperdício de recursos.
Encontram-se significativas franjas da Administração, a nível central (incluindo aqui serviços integrados e serviços/fundos autónomos) e local, onde as utilidades produzidas não correspondem ao elevado preço que os cidadãos, através dos seus impostos, pagam pela manutenção desses serviços.
Existem mesmo serviços cuja existência só se justifica pelo erro de os ter criado e cuja extinção total – mesmo que todos os funcionários continuassem recebendo seus vencimentos - representaria um ganho líquido para o País.
Tudo isto que aqui digo, em forma muito resumida, tem sido objecto de aturados estudos e de apreciação por vezes apaixonada em numerosos textos publicados.
Mas também é justo reconhecer que há serviços que justificam, e bem, a sua existência.
Por diversas razões de índole profissional tenho mantido contactos, nos últimos tempos, com a (agora denominada) APICEP, agência que resultou da fusão da Agência Portuguesa para o Investimento (API) e do ICEP, em consequência do PRACE.
Pois quero deixar aqui o meu testemunho do imenso e válido trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pela API, junto da qual os investidores encontram um tipo de acolhimento e interesse no acompanhamento das suas pretensões que posso reputar excepcionais.
Devo mesmo confessar que fiquei surpreendido com a eficiência, o empenho e a atenção com que a ex-API dsempenha as tarefas que se integram na sua missão.
Sem exagero, creio poder afirmar que se todos os serviços públicos colocassem no desempenho das suas missões idêntico espírito de serviço, o País em que vivemos seria bem melhor – talvez fosse mesmo irreconhecível.
Infelizmente não acredito que isso seja possível.
Creio que a API, agora APICEP, continuará a ser um oásis (admito que não único) no árido terreno da Administração Pública.

Gastar da botica e da mulher!...




“…quebrou três costelas a um cirurgião que lhe gastava da botica e da mulher...”
Camilo Castelo Branco, em Eusébio Macário

Camilo Castelo Branco continua a ser dos maiores. Emociona e diverte como nenhum.
No ano passado, dava por mim a rir-me na praia com as histórias do Cego de Landim. Este ano, fui mais uma vez ao Eusébio Macário, por onde perpassa um retrato vivo do país, da ruralidade de Montalegre, à Corte de Lisboa, dos brasileiros, barões e comendadores aos cónegos da Sé do Porto, da fadistagem popular aos teatros burgueses da Invicta Cidade, dos conventos onde as ingressas, culpadas de adultério ou obrigadas pelos pais, não dispensavam nem jóias nem criadagem, onde tudo se mistura, numa admirável ironia.
Eusébio tinha uma botica. Sabia tudo sobre ervas, medicinas, mezinhas, xaropes, unguentos, que meticulosamente preparava e vendia. A mulher “era uma doidita que fez para aí tontices, adultérios, asneiras, uma desgraça”, dizia o padre ao comendador. Mas o Eusébio não se ficou: quebrou três costelas a um cirurgião que lhe gastava da botica e da mulher!...
Poderosa síntese, só possível em Camilo!...E um aviso, para quando os meus amigos forem à farmácia!...

quarta-feira, 18 de julho de 2007

FlyPink, uma chatice...

Chamou-me a atenção o título "Nova companhia FlyPink só aceita mulheres" da edição de hoje do Diário de Notícias.
Fiquei algo intrigada? Será que se referem ao pessoal de bordo, ao pessoal de terra? Não, não é possível, pensei eu! Mas, então a que mulheres se referem?
Pois é, trata-se de uma nova companhia aérea totalmente vocacionada para mulheres, que se diferencia das outras por apenas permitir mulheres. Um nicho de mercado muito "exótico", para clientes na faixa etária entre os 26 e os 40 anos.
Tudo está pensado para que as mulheres vivam e sintam exclusivamente um clima cor-de-rosa a bordo de um avião cor-de-rosa.
Os aviões FlyPink são pintados rosa-choque e as hospedeiras vestem fardas cor-de-rosa e até o champanhe, um pormenor que uma mulher que se preze deve exigir num voo cor-de-rosa, é rosé! Não sei se a comida é cor-de-rosa? E fiquei sem saber se os pilotos são no feminino e vestem camisa e calças cor-de-rosa?
E depois, a bordo tudo está pensado para ajudar na beleza e satisfazer os caprichos das mulheres, com serviços de cabeleireiro, manicure e pedicure e outros serviços, inteiramente femininos, possivelmente massagens, tudo para deleite exclusivo das mulheres coquetes.
É já a partir de Agosto que a nova companhia oferece – salvo seja – este sonho cor-de-rosa às mulheres.
Não acredito no sucesso desta inovação, algo forçada, até ridícula, explorando de forma exagerada os atributos femininos, que francamente vão muito para além do gosto pelas coisas cor-de-rosa. Há muitas mulheres que não gostam de ambientes exclusivamente cor-de-rosa. É um estilo que muitas mulheres não apreciam, mesmo sendo femininas e bonitas.
Deve ser uma grande chatice voar num FlyPink... E quer me parecer que em vez de um FlyPink ainda podemos vir a ter um ElefantePink!

“No Kid!”...

Os dados referentes à taxa de fecundidade em Portugal são cada vez mais preocupantes, atingindo, neste momento, 1,36 filhos por casal, a mais baixa da Europa, e muito longe do mínimo necessário à renovação das gerações, ou seja, 2,1.
Parece que toda a gente anda preocupada com este fenómeno, desde o Senhor Presidente da República até ao mais obscuro bloguista.
As razões para este fenómeno, altamente previsível há mais de um quarto de século, não foram tomadas em linha de conta pelos responsáveis de então.
Começam a ser feitas contas e mais contas, e os entendidos concluem que não vai ser possível garantir as reformas no futuro. Grande novidade!
Ontem, na TV, foi noticiado as conclusões de um estudo - que demorou três anos a ser realizado -, segundo o qual para conseguirmos assegurar as reformas no futuro será necessário aumentar o IVA para 25% e (e/ou?) aumentar os descontos para a Segurança Social em mais 10%! Os autores aconselharam, inclusive, os activos a pouparem mais, caso contrário, poderiam sofrer consequências não muito agradáveis. A jornalista disse que estas medidas, reconhecidamente gravosas, já são aplicadas nos países do Norte da Europa. Como quem que diz: “Não é novidade”! Pode não ser, de facto, mas vai uma distância louca entre as regalias usufruídas nesses países e as nossas. Mas em termos de contribuição temos de ser idênticos!
Ter filhos, hoje em dia, é muito complicado. Os casais adiam e quando optam por os ter têm que fazer contas e contas. Criar um filho não é só altamente dispendioso, como é muito difícil. Se associarmos a falta de emprego, a falta de estabilidade e a falta de segurança, então, os mais jovens devem sentir calafrios e angústias indescritíveis. Nem a tentativa de “suborno” estatal, pagamento de um subsídio de nascimento, como já se faz em certos países, e que querem, também, aplicar entre nós, é, na minha modesta opinião, uma medida capaz de resolver tão grave problema.
Muitas actividades estão dependentes dos jovens, correndo muitos profissionais o risco de cair no desemprego, porque o seu mercado de trabalho se processa num grupo etário cada vez mais reduzido.
O “desânimo demográfico” - medido através da baixa taxa de fecundidade - é a expressão da incúria e da falta de políticas adequadas, tendo como alvo os mais jovens.
Começam a surgir correntes sociais que não têm qualquer pejo em manifestar a sua oposição a ter filhos. Veja-se o que aconteceu com o lançamento, em França, do livro “No Kid: Quarante raisons de ne pas avoir d'enfant” da autoria de Corinne Maier, psicanalista e economista, que já tinha causado polémica, anteriormente, com o seu livro “Bonjour Paresse!”, onde fazia a apologia de como manter o emprego trabalhando o menos possível.
O seu último livro, numa França com as mais elevadas taxas de fecundidade, está a ser um verdadeiro best-seller. Eis algumas das frases escritas pela autora: “as crianças são o inferno”; “custam caro, poluem e afundam a existência das pessoas”; “quanto mais aumenta a natalidade menos as pessoas dizem que são felizes” e “por que é que devemos matar a trabalhar por alguém que será excluído no futuro?”.
Há quem interprete este ensaio como uma mera provocação eivado de ironias. Não sei se deveremos considerá-lo como um poço de ironias, porque, relativamente à última frase, por exemplo, já a ouvi de forma mais e menos explícita, o que me provoca certa confusão, face às poderosíssimas forças biológicas e evolutivas. Quanto à penúltima, não acredito mesmo nada, porque se assim fosse, Portugal, com a taxa de fecundidade mais baixa da Europa, seria mais feliz! E felicidade é coisa que não abunda por estes lados....

Uma choldra!...

"Carmona…envergonhou Lisboa e a sua Câmara Municipal; mergulhou-a em suspeições, favoritismos e velhacarias; destruiu o PSD na capital; está ainda amarrado a processos judiciais…
Ninguém duvida de que Carmona e os seus vereadores colocariam ao serviço do PS os mesmos talentos que usaram com o PSD, envenenando a próxima vereação com a sua incompetência, os seus processos pendentes…"

Rui Tavares no Público de 16 de Julho, comentando os resultados eleitorais no artigo Derrotados e indecorosos. RT é comentarista residente, com direito a fotografia a encimar o comentário.

Juízo arrogante, abusivo e sem apelo de quem ocupa espaço nobre de um jornal de referência. E assim os arguidos continuam a passar a condenados, sem que os verdadeiros Tribunais se pronunciem. Assim se promovem e ampliam os julgamentos populares.
Aí temos os nossos líderes de opinião.
Uma choldra, já dizia o Eça!...

terça-feira, 17 de julho de 2007

“Bioterapias”....

A medicina surpreende-nos cada dia que passa. O desenvolvimento e a inovação tecnológicas são notáveis, abrindo perspectivas jamais pensadas, mesmo há poucos anos. Técnicas de exploração imagiológica capazes de mostrar o funcionamento dos tecidos, diversos tipos de implantes, próteses cada vez mais sofisticadas, cirurgias menos “cirúrgicas”, “regeneração de tecidos”, entre muitos outros, não falando das potencialidades nanotecnológicas, e da emergência do futuro homem biónico, obrigam-nos a reflectir sobre o princípio da transhumanidade.
A par destas conquistas, existe ainda espaço para manter ou fazer reviver técnicas clássicas, através das quais se podem obter algumas soluções ou, então, uma melhor compreensão de certos fenómenos. É o caso das bioterapias.
Quem diria que, no mundo do turismo médico, em que se vendem pacotes para tratar as mais variadas maleitas, através de meios sofisticados, haja, por exemplo, uma correria à Turquia para alimentar uns simpáticos peixinhos, cientificamente designados por Garra gufa? Os interessados que sofrem de psoríase, doença da pele em que se formam placas espalhadas pelo corpo, são os beneficiários desta técnica. O sol e certos medicamentos são úteis no tratamento. Mas, neste caso concreto, os doentes mergulham em determinadas águas a 35º e são logo procurados pelos esfomeados peixinhos (10 cm de comprimento) que se deliciam com este petisco. Combinando com a luz ultravioleta, os doentes conseguem manter-se livres do mal durante cerca de oito meses.
Mas as bioterapias comportam outras técnicas, também, interessantes, tais como, colocar larvas de certas moscas (não infectadas) em feridas para limpar os tecidos mortos, usar as “velhas” sanguessugas para estimular o crescimento de vasos após cirurgia ou parasitar propositadamente certos doentes com doenças inflamatórias dos intestinos.
Não deixa de ser curioso esta mistura de novas e velhas tecnologias.
Ao ler tão interessante notícia, não deixei de fazer algumas associações. Seria tão útil mergulhar certas pessoas num lago semelhante onde pudessem ser limpos de certas excrescências! Mas não existem peixes para isso. E se houvessem, estes, ainda corriam o risco de morrer envenenados! Em termos práticos, essas mesmas pessoas chegam a comportar-se, algumas vezes, como larvas, sanguessugas ou parasitas, mas desprovidos de qualquer acção terapêutica, bem pelo contrário...